O encanto da arte de Madu Lopes na Fenadoce

Segunda participação do artista na feira retrata o doce do processo artesanal à industrialização

Por Lucian Brum

A uma semana da abertura da 26º Fenadoce encontrei o Madu Lopes na Cidade do Doce. Num fim de tarde em que poucos operários transitavam no centro de eventos, as réplicas dos casarões históricos davam ares de um cenário de velho oeste hollywoodiano. Sentado num banco de praça, com o calcanhar apoiado no joelho, vestindo preto dos sapatos ao boné, o artista contou sobre sua experiência com a feira e a tradição do doce.

“Um processo de transmutação de energia mágico”, declara o artista – sobre a força em que a mão feminina desenvolveu a cultura doceira. Contrastando a um momento tão difícil para cidade que foi a quebra do comércio do charque. As doceiras estabeleceram o açúcar em contraposição ao caldo de sangue e dor que proporcionou o sal.

Manoel Eduardo ou, Madu. É natural de Dom Pedrito. Inicialmente, encarou a arte como necessidade: “Eu era uma criança muito quieta, a arte era meio que um refúgio para mim”. Influenciado por seu pai apicultor, o artista começou a fazer escultura usando cera de abelha para modelar. Sua formação vem do processo experimental: “Meu ensino é uma questão de contato com o material e descobertas minhas”, explica. Com 40 anos de idade, morando a 27 em Pelotas, para contar a história do doce Madu pós em igualdade todas as mãos que mexeram caldeiras e criaram a pompa confeiteira pelotense.

É o segundo ano em que irá expor na Fenadoce. Em 2017, no tema Doce – A Nossa Grande História, Madu realçou a importância das culturas africana, portuguesa, francesa, alemã e italiana, que caracterizaram a tradição doceira. Esse ano com o tema Nosso Mundo Mais Doce, o artista vai trazer um olhar para o espaço que envolve sociabilidade: “Quando você vai a uma confeitaria você está com seu espírito em pausa de questões turbulentas. É um lugar de convivência onde as pessoas estão com seus sentidos aflorados em um momento conjunto. Para crianças é muito lúdico. Tento criar com minhas obras um pouco desse estar junto, dessa transformação”, explicou o artista.

De 30 de maio a 17 de junho, os visitantes poderão transitar sobre três tempos da realidade do doce. A cozinha artesanal, onde ocorre o processo primário de elaboração das receitas. A Confeitaria, espaço onde são compartilhados os sabores. E a fábrica do doce, onde a produção em série ganha caráter industrial.  Esse ano algumas obras estarão espalhadas pela feira e, novos personagens foram criados para expressar a tradição pelotense como o poeta Antônio das Rosas.

Com um pavilhão expondo as peculiaridades do doce, a feira relembrou suas origens provocando encantamento artístico. Segundo Madu Lopes, nessa 26º edição “o encantamento vai revelar-se na memória: de cheiros, colheres de pau, panelas velhas, ramalhetes de fores – inseridos nesse universo fantástico da cozinha”.

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