“Ingresso para o Paraíso” é ótimo no que se propõe a ser

Com elenco estrelado e comédia leve, “Ingresso para o Paraíso” desenvolve seu potencial para se tornar um novo clássico da “Sessão da Tarde”.

Por Luis Collat

George Clooney e Julia Roberts esbanjaram o carisma já conhecido pelo público/Foto: Universal Pictures – divulgação

A comédia romântica dirigida por Ol Parker tem como ponto de partida a viagem de formatura de Lily (Kaitlyn Dever) para a ilha de Bali, na Indonésia. O contato com a vida simples e fortemente ligada à natureza, somado ao fato de ter conhecido e se apaixonado  pelo jovem Gede (Maxime Bouttier), faz com que Lily se questione sobre sua vontade de atuar em um escritório de advocacia. Após tomar a súbita decisão de se casar e permanecer na ilha, a advogada recém formada vê seus pais divorciados viajarem até a ilha para tentar impedir seu casamento.

David e Georgia, interpretados por George Clooney e Julia Roberts, demonstram ter uma relação nada amigável desde a separação, mas em prol de um objetivo comum, precisam se unir apesar de toda a dificuldade em sua relação. Em uma ideia compartilhada mas com autoria reivindicada por ambos, decidem adotar uma postura amigável e compreensiva com a filha para poderem sabotar o casamento sem que Lily perceba.

A partir daí, a trama trabalha as questões pendentes entre o casal divorciado, como o fato de Georgia ter largado uma oportunidade de carreira fora de sua cidade após o pedido de casamento de David e o fato de terem sido pais ainda muito jovens. Esses e outros assuntos da vida dos dois formam o conteúdo das constantes discussões cheias de sarcasmos e muita troca de farpas, sendo o ponto onde a comédia é mais explorada na produção.

Para a estudante de cinema e criadora do “Rodada de Cinema” Maria Clara Souza, as interações entre os personagens de George Clooney e Julia Roberts acabam sendo sustentados pela boa química existente entre os atores, que também “supre a ausência de uma profundidade no roteiro”, apesar das cenas conseguirem entregar diálogos “até que bem dinâmicos e engraçadinhos”. “Me parece que os 15 anos de separação poderiam nunca ter acontecido caso eles tivessem sentado e tido uma conversa. Os problemas entre os personagens cresceram de um jeito semelhante a  um ‘telefone sem fio’”, opinou Maria Clara sobre o conteúdo das discussões entre os protagonistas.

A escolha de atores para os papéis principais foi um fator importante também para a graduanda em cinema Julia D’avila, que destacou Clooney e Roberts por serem “icônicos no gênero” e pelo fato de formarem um casal mais velho do que nos familiarizamos nessas produções, visto que a maioria das comédias românticas atuais costumam apresentar casais de faixa etária entre 20 e 30 anos.

Como ponto criticável do filme, Julia comentou a falta de diversidade na formação do elenco, que surpreende considerando que estamos falando de uma produção de 2022 que se passa na Indonésia em quase toda sua totalidade. “Apesar da história envolver personagens asiáticos, senti que, em grande maioria, eles foram colocados ali como exemplificadores do ‘exotismo’ do local onde o filme é ambientado, e não como verdadeiros personagens que compõem a narrativa”.

Julia ainda apontou uma evolução no trabalho do diretor Ol Parker em relação ao filme “Mamma Mia: Lá Vamos Nós de Novo”, de 2018. A estudante identificou muitas semelhanças nas produções como o fato de serem comédias românticas ambientadas em ambientes paradisíacos e que retratam casais maduros, mas como fundamental diferença, notou uma grande diferença na direção de atores entre os filmes. “Os personagens de Mamma Mia, no geral, agem com muita imaturidade em relação à verdadeira idade e possuem expressões demasiadamente exageradas (quase como se fossem personagens de teatro ao invés de personagens de um filme). Nesse quesito, acredito que o diretor tenha evoluído consideravelmente na orientação dos atores, mostrando agora conhecer seus personagens melhor do que previamente”. 

Em conclusão, ambas acreditam que o filme entrega exatamente o esperado, apresentando “semelhança com produções do gênero nos anos 90 e 2000”, assim se aproximando de filmes com o status de clássico moderno. “É um filme bem ‘sessão da tarde’, mas ainda assim, bem divertido. Você pode ir ao cinema num domingo tranquilamente, comer uma pipoca e se divertir”, concluiu Maria Clara Souza. 

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