De mãe para filha

Por Henrique Barum 

O começo da prática de Yoga em Pelotas e a reabilitação espiritual a partir da técnica de Yoga Terapia

Pioneira na prática de Yoga em Pelotas, Débora de Almeida Weingärtner, nascida na cidade de Uruguaiana, teve um primeiro contato com essa atividade na cidade de Porto Alegre através de uma conversa de elevador. Curiosa em entender o que era essa prática, Débora frequentou uma aula e acabou se apaixonando pelo que tinha acabado de vivenciar. Depois desse contato, ela detectou que essa prática poderia auxiliar não somente ela, mas o vínculo profissional também, diversificando o meio empresarial rural que ela trabalhava e acabaria gerando saúde para a família.

Foto: divulgação (http://www.consciousconnectionmagazine.com/2013/05/growing-a-business-with-yoga-alliance/)

Foto: divulgação (http://www.consciousconnectionmagazine.com/2013/05/growing-a-business-with-yoga-alliance/)

Esse contato com a Yoga foi estabelecido entre 1963 e 1964, e não parou por aí. Débora se profissionalizou, passou em morar em Porto Alegre com a família e um dia resolveu visitar Pelotas para ver alguns parentes. Em uma conversa, ela comentou que estava fazendo aula de Yoga para a irmã, que morava em Pelotas. Por pedido da irmã, que era professora de Educação Física, Débora deu uma aula para que outras pessoas tivessem contato com a prática. Um grupo formado pela irmã e suas amigas deu início à prática de Yoga na cidade. Por fim, a família Weingärtner se mudou para Pelotas e então a professora estabeleceu-se como professora na cidade por volta de 1968.

Cláudia, a filha mais nova de Débora e hoje professora, conta que no começo da prática na cidade sofreu discriminação, principalmente pelas famílias, por Débora ter se separado. A comunidade religiosa também não aprovava a prática, já que achava que se tratava de um tipo de rito espiritualista. Com o tempo, esse preconceito dissipou-se e Débora passou a dar aulas em cidades próximas, mas mantendo-se em Pelotas na maior parte do tempo que trabalhava.

O contato de sua filha com a Yoga veio através dessa interação com a mãe. Sendo a mais nova, Cláudia tinha que acompanhar a mãe para não ficar sozinha, então a prática de Yoga acabou se tornando parte da rotina das duas. Como as mães das colegas de Cláudia praticavam, o contato entre as amigas era fácil, pois todas iam juntas para a prática. No começo, não existia um espaço fixo, as aulas eram dadas nas residências, até que Débora conseguiu alugar uma sala na Igreja Metodista, encontrada na Osório, e em 1976 mudaram-se novamente, adquirindo um espaço fixo na Rua Doutor Amarante, que ainda é utilizado para aulas de Yoga.

Hoje, Cláudia é a proprietária do espaço, onde dá aulas desde 1987. Diferentemente de seu início, o Espaço de Práticas Corporais Cláudia Weingärtner não se concentra somente na prática de Yoga. Além da prática da Yoga Terapia, outras dinâmicas foram incorporadas para que fosse possível garantir a qualificação da saúde dos alunos. O treinamento físico funcional, a dança, as habilidades cognitivas e outra prática de Yoga que é ensinada pela filha de Cláudia, que hoje segue os passos da mãe e da avó. Ao todo, cerca de 120 alunos estão inscritos nas diversas funções que o espaço oferece e cerca de 80 alunos estão matriculados para as aulas de Yoga.

A ousadia de Débora abriu o mercado de Yoga em Pelotas, que é muito procurado na cidade hoje em dia. Cláudia descreve a mãe como uma visionária, que era aficionada pelas pessoas e diz também que herdou isso da mãe: “As pessoas são mais do que um ser que formam uma comunidade, um país. Elas são constituídas de processos que muitas vezes nem elas sabem, e na época em que minha mãe teve a ousadia de começar esse processo, quando nem se falava muito em energia, espiritualidade, nem de culto ao corpo, mas de consciência corporal, ela já pensava que as pessoas eram constituídas de muito mais que seu corpo e uma estética. O objetivo é buscar a saúde física e mental, então a ousadia já foi incorporada e pressentida por ela.”

A prática de Yoga acaba sendo muito mais do que um passatempo ou uma forma de melhorar a postura. A professora diz que se anteriormente as pessoas já eram introvertidas, tinham a tendência de se fechar em seu próprio mundo, hoje em dia as coisas estão piores. Com o advento da internet e do computador, problemas que vão desde a saúde ou a postura até o comportamento estão tornando-se cada vez maiores. Além das crianças de hoje serem consideravelmente mais agressivas, o fato de estarem, na maior parte do tempo, fechadas em quatro paredes assistindo televisão ou utilizando o computador o dia inteiro afeta na postura e até mesmo na flexibilidade.

“Anteriormente, as crianças brincavam na rua. Hoje elas ficam em casa utilizando o computador. Isso afeta no comportamento, as crianças apresentam severos déficits de atenção e também problemas de coluna, postura e quadril, o que afeta nas articulações corporais, salienta Claúdia.”

Se anteriormente não existia grande conhecimento sobre a prática, hoje as coisas mudaram positivamente. Muitos médicos já indicam para seus pacientes o tratamento ou reabilitação corporal através da Yoga. Cláudia acredita que essa reviravolta em relação à discriminação dessa prática se deu de cerca de 15 anos para cá.

O espaço conta com a técnica da Yoga Terapia, que é baseada no uso de técnicas da Yoga, para a prevenção de doenças e qualificação de vida. Alguns consideram tal prática uma cura, mas Cláudia diz que acha o termo muito forte, e que ela vê o processo como uma prevenção de saúde. Através de posições físicas, exercícios respiratórios e técnicas de relaxamento e meditação, é que se exercita essa prática. Existem casos de pessoas que procuram a Yoga Terapia sem apresentarem nenhum tipo de problema, mas esse tipo de acontecimento é raro. Nesses casos, verifica-se a real intenção dessa técnica, que é a prevenção.

Nos casos em que os alunos procuram a prática por apresentarem alguma patologia, há uma série de fatores que influenciarão na mudança do quadro da patologia apresentada. Não é possível prever em quanto tempo essa melhora será apresentada, já que cada doença exige um tempo de tratamento. Além disso, a dedicação do aluno é fundamental. As práticas precisam ser utilizadas além da sala de aula. Geralmente, os alunos do centro de Cláudia apresentam um quadro diferenciado em cerca de 20 dias. A professora lembra que esse esforço é constante e que as pessoas têm tendência de achar que a mudança de quadro é permanente, então diminuem o esforço apresentado anteriormente, e isso não é recomendado.

“Quando o corpo começa a se movimentar, ele também libera as emoções”, diz Cláudia, ao ser questionada sobre o relacionamento entre ela e os alunos. Mesmo sem ser formada em psicologia, os alunos e alunas do espaço brincam que, muitas vezes, o espaço se torna um consultório de psicologia, onde todos conversam, contam sobre seus problemas, coisas que aconteceram ou desabafos. “É comum os alunos estarem no meio de uma aula e então aparecer uma pessoa sentadinha ali do lado de fora, esperando pra conversar”, diz Cláudia. Na verdade, ela adora essa relação estabelecida com os alunos, faz parte do processo da prática de Yoga.

Cláudia conta também um caso que a marcou durante todos esses anos, que ocorreu durante a correção de uma coluna cervical. O aluno apresentava grande torcicolo, que o impedia de dirigir, mexer os braços ou movimentar a cabeça. Obviamente, isso causava um desconforto na pessoa e a deixava irritada. Um dia, durante uma das sessões, o aluno perguntou exaltado se ela era casada. Sem entender, ela respondeu que sim e então recebeu uma réplica, dizendo que o marido devia respeitá-la muito por ser forte. Nesse mesmo dia, a reabilitação apresentou mudanças no quadro e o homem conseguiu se mover sem grande desconforto. “‘E ainda é bruxa!’, ele disse”, conta Cláudia, dando risadas. O aluno até hoje está no espaço, e hoje em dia ele diz que Cláudia é um tipo de fada madrinha, e graças ao tratamento ele consegue mover-se normalmente, sem a ajuda da família.

Os interessados podem se informar no local, na Rua Doutor Amarante nº 342, ou pelos telefones: (53) 3227-4520 (53) 3222-0607 e (53) 8117-0758.

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