Crítica de Tick, Tick… Boom! – Ótimas músicas e muita ansiedade

Com uma narrativa de várias camadas, a obra presta homenagem a Jon Larson e seu legado na Broadway enquanto gera reflexões sobre a sociedade e suas expectativas

Por Letícia Vieira

Pôster do filme Tick, Tick… Boom!/ Foto: Divulgação Netflix

Imagine estar vivendo uma vida boêmia, curtindo seus amigos e basicamente aproveitando sua juventude, quando um dia acorda e se da conta… Você vai fazer 30 anos e não conseguiu conquistar nada do que esperava ter até esse marco. Essa é a premissa indutora de ansiedade do filme Tick Tick… Boom!

Dirigido por Lin-Manuel Miranda e baseada na vida e obras do compositor Jonathan Larson, criador do musical Rent, o filme é um exclusivo Netflix e conta, através de cenas dramatizadas e números musicais, como foi o período de criação de seu primeiro musical, Superbia. Uma peça que, por ser muito complexa, nunca chegou a ser apresentada ao público.

Através de um roteiro metalinguístico, Lin-Manuel Miranda e o roteirista Steven Levenson usam a narrativa da obra Tick, Tick Boom, musical que Larson criou antes de lançar seu maior sucesso, Rent, e que conta a história de sua batalha para lançar Superbia, para contar uma terceira história, a do filme Tick, TIck…Boom

Jon Larson é ao mesmo tempo o autor, o narrador e o ator da narrativa, tornando-se assim um personagem cativante apesar de sua teimosia./ Foto: Divulgação Netflix

Mesmo musical não sendo um gênero que agrada a todos, o filme consegue juntar as três narrativas (Tick, Tick, Boom, Superbia e a do próprio filme) de uma forma que não cansa o telespectador, mas que pode confundir em alguns momentos se não estiver prestando bastante atenção à história. Para quem é fã de musicais da Broadway, o filme presta diversas homenagens para os grandes nomes desse seguimento, a dica é tentar reconhecer todos os participantes do número Sunday

No quesito atuação, Andrew Garfield rouba a cena do primeiro minuto até o último, com uma performance que consegue reproduzir todos os trejeitos e energia caótica de Jon Larson, além de o ator revelar um talento para o canto que até então o grande público desconhecia. Os outros atores principais: Alexandre Shipp e Robin de Jesús também entregam uma atuação de tirar o fôlego em suas cenas mais emocionais. Vanessa Hudgens (nossa eterna Gabriela de High School Musical) está presente no filme, mas é apenas como figurante (aviso porque passei o filme todo esperando sua personagem ter mais destaque na trama e isso não acontece).

As musicas presentes no longa são todas criações de Jon Larson e demonstram sua genialidade para criar melodias envolventes e reflexivas. Para quem quiser continuar ouvindo, as músicas estão disponíveis no Youtube e no Spotify. 

Como um todo, Tick, Tick… Boom! aborda a crise dos 30 anos com um realismo impiedoso e mostra como a vida não é algo saído de um conto de fadas, gerando reflexões sobre qual deveria ser o nível de importância que concedemos para o número que define nossa idade, o quanto nos comparamos aos outros e quanto tempo vivemos tentando atender as expectativas alheias, preocupações que, no final, talvez não importem tanto assim.

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