A possibilidade de uma cultura atual

por Vinicius P. Colares

Sempre que leio um Norman Mailer, assisto algum Scorsese ou ouço um Bob Dylan, penso no tamanho da influência do movimento de contracultura norte-americano – na década de 1960 – em suas obras.

Um movimento que, mesmo sem uma unidade ideológica, tenha alcançado tamanhas proporções – inimagináveis naquele contexto específico – deve incitar um artista a produzir. Buscar uma definição de realidade é necessário em um período onde o medo é constante e a incerteza é o complemento do amanhã.

Tinha inveja de Dylan, Mailer e Scorsese. Sempre os vi, de certa forma, como beneficiados por seu contexto histórico. Não seria possível escrever Os Nus e os Mortos em 2015. Compor Desolation Row pensando em uma era pós-moderna também não teria a mesma força.

Ou teria?

The Times They’re A Changin’

Há um perigo em romantizar as décadas de maior agitação do século XIX e XX. Não perceber as movimentações de hoje é, evidentemente, não perceber o que se produz como reflexo desse contemporâneo.

O facebook e a capacidade de uma interação imediata, a velocidade da informação e a integração (ou falta de) entre identidade e comunidade. Essas particularidades modernas em relação à décadas anteriores são suficientes para o nascimento daquelas suposições impossíveis e, de certa forma, bobas.

Imaginem Charles Dickens escrevendo em um período de alto capitalismo. Ou então, quais seriam as criticas do cinema de Pasolini nos dias de hoje?

Com poucas mudanças estéticas, talvez fossem as mesmas que eram.

Apocalypse Now e o horror da guerra. Imagem: Google Imagens

Apocalypse Now e o horror da guerra.
Imagem: Google Imagens

Atualidade

O poder de um artista, independentemente de seu campo de atuação, não mora apenas na atualidade de sua obra. Um exemplo é a qualidade perene, estética e crítica, de uma obra como Apocalypse Now.

Ao adaptar O Coração das Trevas, de Conrad, Coppola conseguiu criar uma obra que eternizou o horror da guerra. É um filme que não perde sua contemporaneidade com o passar do tempo – mesmo que tenha sido pensado em um contexto de Guerra do Vietnã.

A ascensão do ISIS, os descasos em relação aos refugiados por toda a Europa e os regulares casos de corrupção são “material” suficiente para o nascimento de obras críticas e profundas.

Essas relações vão mais além, é claro. Giram em torno, também, da facilidade de acesso a um número maior de artistas e de seus interesses e motivações pessoais (pós-modernas?).

O que não pode ser feito, porém, é evitar a complexidade de um período onde movimentações populares estão acontecendo e é possível, com um olhar diferenciado, refletir o contemporâneo – pensando no hoje e na posteridade.

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