A herança do título mundial alemão

Por Mateus Bunde

Nunca uma final foi tão repetida em Copas do Mundo. Alemanha e Argentina fizeram o seu terceiro confronto pela decisão de um mundial. Em 1986, a Argentina de Diego Maradona, se sagrou campeã do Mundo. Em1990, Mattaüs levantou a taça para os Alemães, um ano depois da queda do muro de Berlim. Era como uma volta da Alemanha ao planeta. Em 2014 não foi diferente, a Alemanha, mais uma vez ganhou da Argentina, por 1 a 0, gol de Götze, na prorrogação e devolveu a Alemanha ao mundo da bola.

Time alemão é o grande campeão. Foto: Divlgação/Portal EBC

Time alemão é o grande campeão. Foto: Divlgação/Portal EBC

O Trabalho

“Com organização e tempo, acha-se o segredo de fazer tudo bem e bem feito.” Pitágoras não era alemão, tão pouco amante de um esporte que nem existia na época, mas sua frase parece se encaixar perfeitamente nas páginas do livro que a federação alemã produziu ao longo dos últimos 12 anos.

30 de junho de 2002, no Estádio Yokohama, no Japão, Brasil e Alemanha se enfrentavam pela final da Copa do Mundo daquele ano. O time de Felipão era conduzido por seus três craques: Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho. Um futebol leve, de troca de passes, marcação forte e um meio campo consistente. A Alemanha tinha o mesmo jogo que praticara nos anos 90, e que a fez conquistar por três vezes o título mundial. Força física, bola área e uma defesa quase impenetrável. Eram os conceitos do antiquado futebol alemão praticado na época. Resultado: Brasil 2 a 0 na Alemanha.

Foi ali que a Federação Alemã percebeu que o futebol evoluía e as chuteiras dos jogadores alemães ficavam fincadas na grama. E assim, a Alemanha projetou um título mundial à longo prazo. Investimentos nas categorias de base, no futebol local e num planejamento mais consistente de sequência a ser dada no trabalho de um técnico na Seleção. Resultado: O título mundial de 2014.

 Os jogadores com as características de força física dos anos 1990 foram preteridos aos jovens franzinos e habilidosos da nova safra. A exemplo do autor do gol da final, Mario Götze, de estatura baixa (1,76 m), velocista e habilidoso. Seria um jogador sem futuro no futebol alemão que preservava a ligação direta e a bola aérea. A bola no chão era apenas para bater o tiro de meta.

Sebastian Deisler. Foto: Divulgação/DFB

Sebastian Deisler. Foto: Divulgação/DFB

A nova safra

Com Sebastian Deisler (Foto) que tudo começou. O jovem meio-campista que surgia no Bayern de Munique era tudo o que um jogador alemão não era. Ambidestro, técnico e rápido (Devido aos problemas de lesões, foi obrigado a interromper uma promissora carreira com apenas 27 anos). Hoje, Deisler é considerado o marco do início da talentosa geração de jogadores alemães.

Kross, Götze, Reus, Özil, Schürrle… E por aí vai. A federação alemã realizou um trabalho de base com o intuito de formar jogadores com características semelhantes, que, juntos, formassem um coletivo que pudesse superar qualquer brilho individual. A técnica, velocidade e habilidade são as novas características que se impõe ao futebol alemão.

Lição para a Seleção Brasileira

“O Brasil dormiu nos louros de 2002”, Paul Breitiner, ex-jogador da Seleção Alemã, em entrevista ao programa Bola da Vez, dos canais ESPN, definiu com exatidão a seleção brasileira. Desde o pentacampeonato de 2002, a Seleção coleciona fracassos atrás de fracassos na busca pelo penta.

 A Seleção parou no estilo de jogo ultrapassado que deu o título em 2002. Dependendo apenas de destaques individuais, a Seleção ficou estagnada num estilo de jogo que preserva a individualidade de um jogador de 22 anos. Talvez seja por isso que o jornalista alemão Thomas Kistner, do jornal Süddeutsche Zeitung de Munqiue, criticou veemente o trabalho realizado pela Seleção nesta Copa do Mundo. A seguir, alguns fragmentos do texto publicado no site “Bundesliga.com”:

“Para começo de conversa: em nenhuma outra Copa do Mundo anterior, esta seleção brasileira teria passado da fase de grupos. (..) O Brasil não tem apenas uma geração fraca de jogadores – é a pior geração de atletas dos últimos 50 anos.

Os técnicos veteranos Luiz Felipe Scolari e Carlos Alberto Parreira baseiam o seu trabalho numa disciplina intransigente e elementos táticos rudimentares e nada mais.”

Talvez com a proximidade do título alemão aos olhos da CBF, o futebol brasileiro possa ter uma “revolução” e, à longo prazo, bordar mais uma estrela verde na camisa amarela.

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