“A relação do cronista com seu leitor é mais próxima e profunda do que a relação do repórter com seu telespectador”. A afirmação é do jornalista Marcelo Canellas em encontro com estudantes do Curso de Jornalismo da UFPel, realizado na tarde de quinta-feira, dia 24 de outubro. Apesar de reconhecer que a notícia é importante por se tratar de um bem de interesse público, Canellas afirma que a relevância da crônica está na subjetividade do leitor.
Na conversa com os estudantes, ele falou sobre o lançamento de seu primeiro livro de crônicas – Províncias – de jornalismo e de televisão. O jornalista, que fez a cobertura do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, contou que a surpreendente reação das pessoas ao lerem a crônica publicada por ele no dia seguinte à tragédia, o fez ter certeza de que deveria publicar um livro de crônicas.
Com base em sua longa e bem-sucedida trajetória profissional, o jornalista defendeu que a objetividade é a forma mais nobre de expressão da notícia, mas ainda assim é preciso estar preparado para lidar com ela de forma criativa. Para ele, o bom profissional de jornalismo deve ter domínio completo da língua portuguesa e das técnicas de narrativa e deve interferir na agenda de cobertura do local onde trabalha. “O jornalismo trata das contradições da vida e o papel da jornalista é jogar uma luz sobre aquilo que está obscurecido pela desigualdade.”
Marcelo acredita que “o jornalista só elucida o fato se tiver ferramentas teóricas para dar sentido ao que se estabelece diante dele” e defende a vocação humanista da profissão, afirmando que a ética do profissional jornalista é a ética do cidadão jornalista.
Para Canellas, o que há de melhor no jornalismo é se deixar surpreender com a vida e isso se torna possível somente quando o jornalista assume uma postura de interlocução. “O jornalista está ali para ouvir, não para fazer uma inquirição. Quando a pessoa percebe que o repórter está ali como alguém disposto a ouvir, esquece da luz, da câmera e apenas diz o que quer dizer, daí é que saem as melhores reportagens” afirmou.
Marcelo Canellas é repórter especial da Rede Globo, especializou-se na cobertura de temas ligados a Direitos Sociais e Humanos. Já ganhou diversos prêmios de Jornalismo.
Confira alguns trechos da palestra de Marcelo Canellas
“É preciso humildade intelectual para admitir que o jornalista cumpre um papel importante, mas a solução dos problemas que o jornalismo aponta é competência da sociedade organizada.”
“Tudo aquilo que me incomoda como pessoa, que considero injusto como pessoa, é matéria-prima para a propositura de pautas no jornalismo.”
“O Jornalismo precisa afrontar o senso comum. Para isso, o jornalista precisa se questionar, sair do piloto automático. Muito do que está agendado hoje depende da postura do jornalista. O grande barato do jornalismo é se deixar surpreender com a vida. ”
“Objetividade é conceito que pertence ao campo do conhecimento, diferentemente do conceito da imparcialidade e neutralidade que é do campo da moral. Jornalismo é uma forma específica de conhecimento. “