O sentido dos cursos de cinema

– Reportagem de Calvin Cousin e Gabriela Schander – 

Uma conversa sobre a produção técnica e cultural nas formações em audiovisual –

 

A Universidade Federal de Pelotas (UFpel) tem a distinção de ser a única universidade federal no Rio Grande do Sul com um curso em Cinema e Audiovisual e uma das únicas no País com o curso de Cinema de Animação. A primeira experiência da instituição com um bacharelado voltado para a sétima arte se deu em 2007, com a fundação do curso de Cinema e Animação, que posteriormente foi dividido em graduações distintas, conforme relata a coordenadora dos cursos, a professora Carla Schneider: “Descobriu-se que o perfil do aluno que quer fazer cinema live-action, com atores, é muito diferente do de quem quer fazer cinema de animação. Então, o curso de Cinema e Animação foi extinto e, em 2010, abrimos Cinema de Animação e, no ano seguinte, Cinema e Audiovisual. São formações muito específicas”.

Carla Schneider: coordenadora dos cursos de cinema da UFPel

Dialogando constantemente com o corpo estudantil, os responsáveis pelo funcionamento dos cursos buscam atualizar aspectos do currículo a cada dois ou três anos, assim como ressaltar a necessidade e importância de um maquinário de boa qualidade para a formação dos alunos. “No momento que dá um problema aqui, tudo para de funcionar, pois sem equipamento não tem como ensinar”, descreve Carla. Para tanto, uma disciplina de Operação de Equipamentos Audiovisuais é obrigatória para os alunos do primeiro semestre de Audiovisual, com o intuito de preservar e orientar o uso do material disponível. A disciplina faz parte da proposta pedagógica de horizontalidade que os cursos propõem.

A horizontalidade integra disciplinas que apresentam alguma relação em cada semestre com o intuito de conseguir dos alunos um produto cinematográfico coeso e bem elaborado. No curso de Cinema e Audiovisual, os estudantes produzem, em média, um material por semestre, inclusive no primeiro, algo que não acontece em Animação. Através de relatos das turmas, professores do curso perceberam que pedir um trabalho de maior duração para ingressantes seria algo além da conta, então o que é solicitado é um pencil test, mais curto, que costuma durar trinta segundos.

Para obter a graduação em Audiovisual na UFPel, os alunos necessitam um produto final, que corresponde ao trabalho de conclusão de curso. A graduanda Júlia de Moura, matriculada no sétimo semestre, contou um pouco sobre sua produção: o longa-metragem “Despedida”.

O primeiro longa produzido por uma equipe de alunos da universidade promete mostrar o lado sensível, poético e subjetivo das relações humanas. O enredo envolve Sofia, uma mulher que retorna à casa distante que morou durante sua infância depois da morte do pai. Por meio desse retorno, a personagem entra em conflitos internos e, então, acontece uma simbiose simbólica entre a Sofia adulta e a criança. O filme é sobre as várias despedidas que as pessoas vivenciam interiormente e as inúmeras questões que cercam nossa existência e que podem ser reveladas por meio da interferência do ambiente em que nos encontramos. Com roteiro e direção de Júlia de Moura, direção de fotografia de Juliana Pancinha, direção de produção de Mateus Armas e direção de som de Gabriel Blaas, o longa atualmente se encontra em fase de pré-produção e tem previsão de lançamento para setembro desse ano.

Sobre a produção de um filme na universidade, Júlia contou que as adversidades enfrentadas em uma produção feita por estudantes, muitas vezes, tangem problemas financeiros. A casa encontrada para locação de filmagem é em Santa Maria, e isso “já demanda gastos com deslocamento, alimentação, etc. Além disso, mobiliar uma casa vazia conforme o roteiro é bem difícil, levando em consideração o baixo orçamento, já que não existe nenhum apoio financeiro da universidade”, afirma a estudante.

Essas questões, porém, foram sendo conversadas ao longo da fase de pré-produção e resolvidas conforme as demandas. Nessa fase também aconteceram as decisões prévias de direção e direção de arte e fotografia, além de decupagens e escolha de elenco. Júlia afirma que esse “é um período bem extenso, de escolhas e de conseguir tudo que de fato vai precisar durante a produção. É bastante chato, mas é quando colocamos a mão-na-massa para conseguir todo o material necessário para produzir o filme”.

Cena do filme "Despedida": lançamento previsto para setembro

Cena do filme “Despedida”: lançamento previsto para setembro

Já na fase de produção, quando o produto foi gravado, as decupagens já estavam prontas com todos os planos e os cronogramas estabelecidos. Nessa fase, a ideia de fazer um curta-metragem se transformou na preparação de um longa, para que a história não fosse cortada e ficasse com lacunas. A última parte, mais longa e trabalhosa, foi a da pós-produção, período de montagem, correção de cor e efeitos especiais.

Quando questionada sobre a visibilidade que os curtas e longas produzidos pelos alunos da universidade têm, Júlia é categórica: “poderia ser melhor”. Ela menciona a Lei do Curta, estabelecida pela Lei Federal 6.281 de dezembro de 1975, que estabelece a obrigatoriedade de exibição de um curta-metragem nacional antes de qualquer longa-metragem estrangeiro. A lei, contudo, não é cumprida, o que torna a produção universitária mais desvalorizada, visto que a produção desse tipo de material tem vida curta e são difíceis de distribuir em território nacional.

Apesar das dificuldades, na UFPel existe o projeto do Cine UFPel, um espaço conquistado pelos cursos. A proposta do projeto é a de trazer filmes sensíveis e humanos, de preferência nacionais e com apresentação de curtas antes de sua exibição.

A coordenadora Carla aponta uma série de dificuldades para a manutenção dos cursos, eis que, tendo em vista o contexto econômico e político do país, esses estão recebendo uma cota de 25% do valor recebido em 2015. Todos os recursos recebidos, sejam para eventos ou para compra de material, se dão através dos editais que a universidade propõe e isso acarreta na impossibilidade de abrir um acervo, como uma videoteca, para que as pessoas tenham acesso a toda a produção cinematográfica da instituição. Ainda assim, Carla conta que o material encontra outros meios de chegar ao público: “O que se consegue agora é disponibilizar num portfólio online, mesmo que os materiais disponíveis não sejam os mais recentes, pois os alunos geralmente assinam um termo de direitos que resguarda um ano de ineditismo do trabalho feito. Nesse período, eles optam por circular pelos festivais.”

Apesar das dificuldades, a professora acredita que os cursos já causam impacto na região, com a inclusão de alunos trabalhando com o audiovisual nas campanhas políticas, por exemplo. Ela salienta o papel da universidade no ato de fazer cinema e o papel do cinema no cotidiano: “Estamos em uma época muito audiovisual, de muita produção. Fazer cinema é transformar pensamento em imagem. Temos a função de fazer as pessoas verem a profundidade que um filme pode ter, além do entretenimento: a possibilidade de tocar o público com a questão que apresenta. É uma experiência bem forte se quisermos levar a sério”.

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COMENTÁRIOS:

Sucesso!

Rosa Elaine Gonçalves

O skate como saída do consumo de drogas ilícitas

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Os próprios skatistas trabalharam nas obras de restauração da pista no Parque Marinha

Reportagem de Débora Klein

O esporte como fuga do uso de drogas pesadas é o que promove o movimento “Skate pra Frente, Vida sem Crack”. Desde 2010 o projeto, nascido no bairro Parque Marinha em Rio Grande, mostra caminhos de manobrar o consumo de drogas ilícitas através da prática de atividade física aos jovens rio-grandinos. Ainda que malvisto por parte da sociedade, o skate é hoje o segundo esporte que mais ganha adeptos no Brasil.

Tudo começou quando Luís Duarte Lobo, mais conhecido como Guga, retornou para o Parque Marinha junto com a sua família. Guga conta que era morador do bairro e realizava alguns eventos culturais e atividades esportivas aos moradores até 2008, mas, por dois anos, esteve fora da localidade. Ao retornar para o local, ele e sua mulher, Aline Lobo, encontraram a praça abandonada. “O pessoal parou de praticar e estava usando como ponto para consumo de drogas pesadas”, conta Luís. Foi aí que o casal resolveu mudar a característica do espaço novamente. “Demos um viés mais preventivo em relação ao consumo de drogas e começamos a luta pela reforma da pista”.

E foram os próprios skatistas que restauraram a pista. Após problemas com a empresa responsável pela construção, Guga e outros atletas assumiram a responsabilidade e criaram o espaço que hoje recebe jovens de diversos bairros da cidade. Seja com reuniões na pista, seja na casa de Luís: o movimento tenta, a cada dia, aproximar mais os jovens do esporte e afastar das drogas. “Não adianta a gente querer se iludir que vai tirar um cara que está há 40 anos nesse caminho, tu tens que prevenir quem está querendo entrar, tu tens que mostrar para esse cara que tem que ser consciente do que está fazendo, do que está usando”, afirma.

Skatista há 20 anos, Lobo conta que já conheceu muitas histórias, positivas e negativas. “É uma via de mão dupla, a gente vê tanto jovens saindo quanto entrando e tentamos dialogar, mostrar as consequências do consumo”. Através de uma conversa aberta, consciente e por meio do livre arbítrio, o movimento debate sobre as ações negativas e proativas, tanto para eles mesmos quanto para terceiros.  “Com a velocidade de raciocínio que os nossos jovens têm, não adianta dizer para eles que isso está errado, tem que mostrar por que está mal”, afirma.

Com a força de vontade e amor pelo esporte, o movimento também ajudou a impulsionar a visibilidade da prática na cidade. Em agosto de 2015, a pista de skate do Parte Marinha foi espaço para um dos maiores campeonatos de skate: a segunda etapa prata do Circuito Gaúcho de Skate, que reuniu atletas de diversas regiões. E tem mais: o primeiro colocado na categoria Amador é William Ribeiro, uma das revelações do skate rio-grandino.

Agora, além de continuar a auxiliar os jovens rio-grandinos, o movimento quer fazer com que os atletas sejam reconhecidos na cidade. “A cada esquina tem um cara andando de skate e a gente tenta fomentar a situação, dar uma característica mais séria para o pessoal parar de achar que é um bando de maloqueiro”, comenta Luís. Entre os planos está a realização de eventos na cidade, que necessitam de algumas mudanças para acontecer como, por exemplo, a construção de pistas no Balneário Cassino e na Perimetral – promessas que a muito não saem do papel – além de estrutura profissional e financeira.

De acordo com Luís é preciso profissionalismo básico para haver capacidade de Rio Grande sediar bons eventos e movimentar a comunidade em prol do esporte. “Muitos não sabem, mas o skate rio-grandino é conhecido no Estado inteiro, em qualquer cidade que tu chegas e fala que do município, o pessoal respeita muito, por que a cena sempre foi forte”, finaliza.

No vídeo Pista de Skate no Parque Marinha, os atletas falam da sua experiência e amor pelo esporte.

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Guido CNR completa 15 anos de carreira

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Leandro Fagundes expressa em suas músicas a realidade social

Reportagem de Camila Porto e Rayssa Natale – 

Leandro Fagundes, mais conhecido como Guido CNR, é um cantor de rap conhecido por suas melodias pesadas, que objetivam retratar a realidade e sentimentos. O cantor já passou por muitas coisas nesses 15 anos de carreira. Carregando o peso do preconceito, Guido conquistou uma legião de fãs e ganhou o mundo. Vencendo inúmeras dificuldades, o cantor hoje vive da música e está entre os 10 mais populares de Pelotas.

O cantor aceitou o convite da equipe de reportagem e nos deu uma entrevista exclusiva!

Arte no Sul: Na tua visão, o rap tem ganhado espaço?

Guido CNR: O rap está crescendo, ganhando espaço, deixou de ser considerado música de favelado, apesar de ter sua origem na periferia. Hoje em dia todo mundo escuta rap e consegue tirar sua própria lição.

AS: Como você enxerga o campo da música? Há boas oportunidades ou é difícil se manter no meio?

Guido CNR: A música sempre foi um meio difícil. Não é fácil viver da música, ganhar respeito. As oportunidades são poucas.

AS: Discute-se muito a questão racial. Você acha que isso influenciou no seu trabalho? Se sim, se forma positiva ou negativa?

Guido CNR: Claro que influenciou, ouvi muito’ não’ por ser negro. Muita gente virou a cara para o meu trabalho pela minha cor, não deu a oportunidade de eu mostrar meu talento.

AS: Que mensagem você tenta passar com a sua música?

Guido CNR: Minha música é a realidade. Todo tipo de realidade. Mas meu foco maior é a realidade do negro e pobre e o amor.

AS: Pelo que vemos, tens fãs muito fiéis. Como você se sente sabendo que teu trabalho influencia outras pessoas?

Guido CNR: Meus fãs são a razão de tudo. Saber que meu trabalho mudou-os é saber que tudo está valendo a pena!

AS: Você tem algum recado que queira deixar pros leitores?

Guido CNR: Meu recado é que as pessoas precisam abrir o coração pra música, deixar ela entrar e te tocar. Isso é o que faz uma música valer a pena. Queria agradecer o carinho de todos e a atenção que tenho recebido, os elogios e aquele incentivo. Todos sabem como vivi o que passei e mesmo assim dei a volta por cima e é esse incentivo de vocês que me faz acreditar que hoje estou no caminho certo, obrigado de coração.

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ONG Anjos e Querubins luta por cultura e educação

Reportagem de William  Machado –

Aqueles que fazem a diferença e enfrentam qualquer barreira estão cada vez mais presentes em nossa sociedade. Um exemplo disto é o caso da Organização Não-Governamental Anjos e Querubins. Seu presidente, Ben Hur Flores, teve a iniciativa de implementar atividades que combatessem a discriminação com um olhar voltado para as comunidades das  periferias.

Ben Hur salienta que “a ONG virou praticamente uma prestadora de serviço, sempre a favor da educação”, ao dar auxílio gratuito para a comunidade pelotense e da região. Nos primórdios das atividades da instituição, a pretensão era apenas um grupo de teatro, porém o apelo popular e os trabalhos, que ganharam força ligados à cultura, fizeram com que uma nova proposta fosse pensada para expandir o grupo, não somente no bairro Getúlio Vargas, mas para toda a cidade e região.

Ben Hur Flores planeja fazer um musical em homenagem à cantora Clara Nunes

Ben Hur Flores planeja fazer um musical em homenagem à cantora Clara Nunes                            Foto: William Machado

 

A organização já teve atuação em diversos espaços de troca de cultura no Brasil, como, por exemplo, no caso do encontro ocorrido em julho no Rio de Janeiro com uma ideia proposta por lideranças para discutir o porquê de não existir uma integração maior e compartilhamento das dificuldades que são enfrentadas por todas as comunidades carentes deste país.

A atuação da ONG não se limita apenas à sua nova sede, na localidade do Navegantes, mas sim em outros espaços, no Bairro Areal, na Escola Municipal de Ensino Fundamental Lélia Romaneli, e até mesmo em outros municípios, como na cidade de Herval, com a ideia de atingir novos públicos também em Pelotas, no Dunas e no Pestano, no CAIC.

Atualmente, na sua sede no Navegantes existe uma nova agenda de troca de experiências como intercâmbios de alunos oriundos de outros países que estão atuando junto à ONG na promoção de igualdade. Um dos instrumentos mencionados pelo presidente é a possibilidade de ser um facilitador na educação, como cita o exemplo da menina Andréia Medeiros, a qual participou desde o início das atividades e, apesar das dificuldades do trabalho de gari, está cursando a faculdade de pedagogia, servindo de inspiração para os demais participantes.

Ben Hur ainda revela intenções de, em parceria com a Orquestra Afrobeat, da própria instituição, realizar em 2016 um espetáculo de teatro musicado, contando um pouco da trajetória de uma das maiores intérpretes do samba de raiz Clara Nunes. Antes de finalizar, relata que uma das principais ideias é fazer mostras de arte, não dentro das regiões periféricas, mas sim levando suas vozes para a zona central da cidade.

Ao final, para que haja o fortalecimento das comunidades, afirma que é necessário trabalhar com o coletivo, sendo isto primordial para geração do desenvolvimento de uma nação. Quando questionado a respeito do que espera deste sistema de intercâmbios e como acharia que a mudança pudesse acontecer, responde que lutando sozinho não se conseguirá absolutamente nada, sendo o foco principal chamar cada vez mais a atenção do poder público municipal, estadual e federal.

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WAR (We Are Revolution)

Gabriel Parisotto, Mateus Kurmann, Giovani Ramos e Evandro Valeré compõem a banda Foto: Marlon Peres

Gabriel Parisotto, Mateus Kurmann, Giovani Ramos e Evandro Valeré compõem a banda                                      Foto: Marlon Peres

Reportagem de Estevan Garcia e Vanessa Kleber

“A resistência em um tempo sem amor. Não vou viver para ser o que eu não sou”. É com uma guitarra marcante e com letras fortes como essa, proferindo ideais de superação e resistência e passando a mensagem da importância de se ser quem se é, que a WAR (We Are Revolution) marca sua presença por onde passa.

A banda, que é composta por Gabriel Parisotto (vocal e guitarra), Mateus Kurmann (guitarra), Giovani Ramos (baixo) e Evandro Valeré (bateria), é da pequena cidade de Farroupilha, na serra gaúcha. Porém, com o trabalho e determinação dos integrantes, a WAR vem ganhando espaço nos grandes palcos e muitos admiradores em cada show que faz.

Juntos há quase dois anos, a banda lançou o álbum Catharsis, o qual teve a produção de Marco Lafico, que já assinou discos de artistas como Fresno, Esteban Tavares e Seu Jorge. Segundo o guitarrista da banda, Mateus Kurmann, a inspiração do álbum veio do exercício de ter experiências que despertem evolução interior e que, de alguma forma, ajude na percepção e façam com que o ouvinte escute mais a si mesmo, às suas vontades. “A nossa música quer expulsar as pressões externas e tudo mais para que as pessoas tenham coragem de seguir seus desejos genuínos sem interferências”, afirma.

No ano de 2015, a banda já tocou em Pelotas três vezes. Abriram os shows de Esteban Tavares e Doyoulike?, no João Gilberto Bar, e, recentemente,  o show da banda Fresno, no DC Eventos. “É absurdamente enriquecedor tocar em Pelotas”, comenta Kurmann sobre as experiências. Após seu primeiro show na cidade a banda agradou tanto que o público criou um evento no Facebook, a fim de trazer a War novamente, o mais breve possível.  Além disso, o primeiro Fã Clube da banda surgiu na cidade.

Viviani di Macedo, 26 anos, é uma das fundadoras do Fã Clube Oficial War Pelotas/RS, criado há três meses. A moça conta que conheceu a banda em julho de 2015, quando foi anunciado que abririam o show acústico do músico Esteban Tavares, em Pelotas. “Assisti um vídeo da banda e curti. No dia do show acompanhei e adorei cada música”, revela. Ainda segundo Viviane, o que mais chama atenção na banda é o carisma e a humildade dos integrantes, além do fato de que, em todos os seus shows em Pelotas, só tenham tocado seu repertório próprio, o que a moça julga “admirável”. “Hoje as músicas deles estão na ponta da língua da galera. Tenho muito orgulho deles”, afirma.

Por aqui, só nos resta desejar toda a sorte do mundo para a WAR (We Are Revolution). Que vocês espalhem suas mensagens para muitos públicos por esse Brasil a fora. Se vocês seguirem, à risca, o que as letras de suas músicas nos trazem, o mundo é o limite para vocês. Avante sonhadores!

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Giovane Lessa: uma das mais importantes vozes do movimento negro pelotense

Reportagem de Luís Artur Janes Silva –

Esta segunda reportagem do site Arte No Sul sobre destaques da cultura hip-hop na cidade de Pelotas permite conhecer um pouco da atuação de Giovane Lessa. Ele é uma das mais importantes vozes do movimento negro de nossa cidade, também um dos mentores da cultura hip-hop. Representa a comunidade do Bairro Getúlio Vargas, outro local de nosso município, onde os moradores vivem em condições de pobreza e igualmente estigmatizado pela violência que toma conta da nossa sociedade.

Lessa, originário de Canguçu, tem o mérito de ter criado quatro filhos como guardador de carros no centro da cidade de Pelotas. Este homem esteve e está inserido no cotidiano de sua comunidade e teve uma importante vitória contra a pobreza quando criou, junto com outros “chegados”, uma cooperativa de reciclagem de resíduos no Getúlio Vargas, que chegou a gerar 22 empregos diretos e mais de 50 vagas de empregos indiretos neste local. Além disso, sonhou em estabelecer uma praça de esportes, creches para os filhos dos trabalhadores locais e hortas comunitárias, preenchendo lacunas que deveriam ser prioridades do poder público.

O ativista, que já foi candidato a vereador, em 2012, pelo PC do B (Partido Comunista do Brasil) sente orgulho de ser guardador de carros. “É na rua que está quem eu preciso conversar para saber o que tá acontecendo na política, dentro dos outros bairros e etc…”, comenta.

Este inquieto líder milita atualmente na Frente Negra Pelotense e cursa Arqueologia, na UFPel (Universidade Federal de Pelotas), e diz que o seu único interesse na academia é concluir o curso para contar a contribuição do negro na história do estado do Rio Grande do Sul. Incendiário, manifesta o desejo de implodir a versão racista da universidade, ampla apenas para “eles”, os que não estão à margem da sociedade. Ressaltou a importância do 1º Encontro de Negros e Negras da UFPel, ocorrido no dia 14 de novembro.

Um dos pioneiros do movimento hip-hop na cidade de Pelotas, Giovane Lessa se define como o articulador político do grupo e membro de uma trindade que abriu caminhos para o movimento em nossa cidade. Este trio contou com Lessa, Jair Brown (produtor) e Wagner (discotecagem). Lessa diz que sua capacidade de instigar o debate, contestar o que está estabelecido é uma característica do hip-hop que aprendeu nas suas vivências na periferia.

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COMENTÁRIOS:

Crianças descobrem os livros na Hora do Faz de Conta

Reportagem de Juliana Ramires – 

O projeto A Hora do Faz de Conta tem o objetivo de formar novos leitores e facilitar o acesso do público infantil às obras do acervo da Bibliotheca Pública Pelotense (BBP). Oferece para os alunos da educação infantil e básica atividades de leitura e imersão conduzida por pessoas especializadas em leitura infantil.

A Hora do Faz de Conta reúne as crianças em atividades lúdicas na Bibliotheca Pública de Pelotas Foto: Divulgação

Projeto  reúne as crianças em atividades lúdicas na Bibliotheca Pública de Pelotas desde 1946                   Foto: Divulgação

O projeto deve o seu início no ano de 1946, no dia 11 de maio, com o lançamento da sala infantil da BBP, destinada a atender o público jovem da cidade. O convidado na ocasião foi o escritor Erico Veríssimo, que acabou por inaugurar um dos projetos mais antigos da Bibliotheca Pública Pelotense.

 

Com o passar dos anos o programa passou por diversas fases, até obter a sua configuração atual, a partir do ano de 2010. Mantendo uma programação todas as terças e quintas-feiras.

Atualmente o programa é coordenado pela pedagoga Anelise Silva da Rosa. De acordo com o historiador, Daniel Barbieri, o número exato de crianças que já participaram do projeto é incerto. Mas estima-se que mais de 12 mil crianças já passaram pelas reuniões de leitura, entre alunos de escolas públicas, privadas e assistenciais.

O programa visa também à acessibilidade e à integração de crianças e adolescentes com deficiência. Anualmente, desde o ano de 2011, o projeto organiza peças teatrais, atividades folclóricas e integradoras para este público.

A Hora do Faz de Conta é um dos responsáveis pelo surgimento de outro projeto da BBP – Amigos da Lolô, que atua com adultos com deficiência, buscando a integração e a socialização dos participantes.

Entre os livros trabalhados no programa, estão Branca de Neve e as sete versões (de Marco Aurelius Pimenta e José Roberto Torero, com ilustrações de Bruna Assis Brasil); Bruxa, bruxa venha à minha festa (de Ardem Druce, com ilustrações de Pat Ludlow), Capitão Mariano, o rei do oceano (de Maurício Veneza, com ilustrações de  Roney Bunn) e O negrinho do pastoreio (de Simões Lopes Neto, com adaptação de Hardy Guedes).

Então o que faz o programa A Hora do Faz de Conta?

Incentiva a leitura e a imaginação;

Fortalece os laços de integração social;

Estimula a utilização do acervo da biblioteca;

Desenvolve a educação da comunidade escolar, por meio de um ambiente não-formal de ensino.

A atividade

As atividades se desenvolvem por meio de quatro etapas bem definidas, que passam pelas fases de planejamento, estruturação, execução, contato, avaliação e inovação.

Como agendar uma atividade?

As atividades podem ser agendadas por escolas e grupos estudantis pelo telefone: (53) 32223856 ou pelo e-mail: infantil@bibliotheca.org.br

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Projeto “A Filosofia e a Ficção Científica no Cinema” produz conhecimento em debates semanais

Reportagem Júlia de Andrade e Monique Heemann –

Política, religião, existencialismo, música, psicologia e a forma estética que assumem quando retratados nas telas de cinema nortearam os cinco primeiros anos do projeto A Filosofia e a Ficção Científica no Cinema. Na sexta edição, a programação trata do gênero literário que dá forma, em geral, ao medo do desconhecido inerente ao homem – como desastres advindos da inteligência artificial, mutação genética, existência de universos paralelos ou, ainda, sociedades alternativas.

O longa-metragem polonês Globo de Prata (Na Srebrnym Globie), dirigido por Andrzej Zulawski, em 1989, trata das sociedades alternativas e foi exibido pelo projeto no dia 22 de outubro, na Livraria da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), instituição à qual o ciclo de cinema é vinculado. No filme, adaptação do livro homônimo escrito por Jerzy Żuławski, um pequeno grupo de exploradores deixa o planeta Terra em busca de liberdade para criar uma nova civilização.

Projeto de encontros filosóficos  analisa longa-metragens desde 2010      Foto: Monique Heemann

Coordenado pelo professor adjunto do curso de filosofia da UFPel, Luis Rubira, o projeto de extensão realiza sessões de cinema semanais abertas ao público desde 2010. Sem relação com os cursos da área de cinema da instituição, Rubira destaca que a abordagem dada às análises das produções é filosófica e reflexiva. “Profissionais de cinema se detêm mais aos detalhes técnicos, que não são nosso foco”, esclarece.

Cerca de 40 filmes são exibidos de março a dezembro nas sessões semanais. Os debates partem das análises posteriores à exibição do filme feitas pelo coordenador do projeto. A média atual de público, de acordo com Rubira, é de 30 pessoas. “Quando as sessões ocorriam no Mercosul, tínhamos um público médio de 80 pessoas por filme”, relembra, referindo-se ao Centro de Integração do Mercosul, um dos locais vinculados à universidade.

Escolha dos filmes

O processo de escolha dos filmes exibidos pelo projeto começa aproximadamente quatro meses antes do fechamento da programação, feito em dezembro. São mais de 80 filmes vistos, revistos e analisados até que a seleção seja considerada satisfatória e coerente com o propósito do projeto.

Outra tarefa, além da seleção das produções, desafia o professor durante a preparação da programação. Com a opção, em geral, por filmes fora dos circuitos comerciais, obter o arquivo para exibição nem sempre é fácil. “No ciclo sobre política chegamos a ter filmes em VHS”, afirma.

A iniciativa já rendeu artigos e, inclusive, um livro com depoimentos de participantes das sessões de cinema sobre a relevância da iniciativa. “O livro deixa claro o objetivo do projeto, já que temos declarações desde pós-doutores até agricultores, passando por todas as classes sociais”, comenta. Apenas dez cópias da publicação foram impressas e estão disponíveis nas bibliotecas da UFPel.

Professor de filosofia Luis Rubira analisa produções na Livraria da UFPel. Foto: Monique Heemann

Professor de filosofia Luis Rubira analisa produções na Livraria da UFPel   Foto: Monique Heemann

Perspectivas

O filósofo comenta que o interesse por cinema é anterior ao início do projeto. A produção cultural de uma sociedade sempre a reflete – seus anseios, frustações, medos, conquistas e orgulhos – e é, portanto, um material de análise capaz de revelar aspectos inconscientes. Por isso, talvez, a relação próxima com a filosofia.

Rubira afirma que o ciclo de cinema foi planejado para se estender por dez anos. Ele não esperava, no entanto, o retorno que tem visto desde a primeira edição, e destaca que já imagina formas de continuar promovendo a integração e o debate suscitados por produções cinematográficas.

Na sexta-feira, dia 22 de outubro, às 19h, com o início da apresentação de Globo de Prata, todas as vozes na sala silenciaram-se. Cerca de 166 minutos depois, Rubira discorreu sobre os paralelos entre a visão proposta por Andrzej Zulawski e a sociedade contemporânea. Apesar dos 26 corridos após o lançamento do filme, as distopias quase sempre permitem a identificação com situações que compõem a realidade moderna, metafórica ou literalmente.

Transpor o conhecimento produzido na academia à comunidade, qualidade que caracteriza projetos de extensão, é o que acontece quando os presentes, ao serem confrontados com a percepção do filósofo, concordam, discordam, expõem seus questionamentos e suas visões. É o momento mais rico da sessão – há seis anos.

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A sonoridade que cultiva e nos modifica

Reportagem de Henrique König, Geovane Matias e Marcelo Nascente – 

No Lar Assistencial São Francisco de Assis, o aniversário da instituição beneficente recebeu uma visita ilustre. Atrás de um teclado, postado com a experiência em mãos e a calibrada voz, o músico Osmar Barbosa relembrou sucessos de diferentes tempos, trazendo a essência tocante a corações de variadas idades.

São 57 anos, mais de meio século dedicado ao aprendizado da música. Vai do acordeom, na infância, às notas dos pianos e teclados até hoje. A reportagem é uma conversa com pluralidade de temas, da linha do tempo de sua trajetória, até chegar às interpretações do mundo mercadológico que afeta também à produção e ao consumo das artes.

Osmar Barbosa resgata a história de vários grupos musicais ao longo de décadas Foto: : Henrique König

Osmar Barbosa resgata a história de vários grupos musicais ao longo de décadas         Foto: : Henrique König

O início de uma trajetória

Foi na década de 1960, no bairro Fragata, em Pelotas, que Osmar deu início a um caminho recheado de histórias, daquelas que evocam interesse e nostalgia aos ouvintes. “Meus pais achavam que eu deveria fazer algo a mais além de estudar. Eles optaram por música, que eu não queria, de jeito nenhum. Mas então entrei no Conservatório, onde fiquei até me formar em acordeom. Fiquei dos 11 até os 16 anos.”

Osmar se formou e parou de praticar. Então sua mãe ameaçou jogar fora o antigo instrumento que ele mantinha guardado. Ao ouvir o ultimato, ele deu nova chance à música e voltou a tocar. No verão, quando ficava à frente de casa, as pessoas paravam para vê-lo em ação e, assim, começou a se envolver também com os jovens.

A estrada seguia com a participação em bailes, sempre acompanhado do acordeom e na parceria de um músico com bateria. Eis que, em uma saída de baile, três jovens o abordaram para falar a respeito de um novo projeto, para o qual necessitavam de um acordeonista. Estava surgindo a primeira banda com a participação de Osmar: The Katles.

O batismo é uma mistura do início do nome de uma garota do interesse de um dos músicos e o final igual ao do conjunto dos ingleses de Liverpool: The Beatles. Segundo Osmar, o fundador do nome apenas sugeriu a ideia e não seguiu mais com a banda.

Passados alguns shows pelo Cine Glória e pelo Cine Fragata, ambos localizados no maior bairro pelotense, a ideia foi alterar a nomenclatura do conjunto. O nome The Firsts (Os Primeiros) durou poucas apresentações e a mudança consecutiva pegou Osmar de surpresa. Certo dia, ao chegar para o ensaio, somente viu o novo símbolo a ser desenhado na bateria. Tratava-se da figura de um imaginário réptil e lá surgia, portanto, Os Dragões.

Com maior duração no gosto dos envolvidos, o nome e as noites de música por Pelotas se estenderam por anos dessa forma. Osmar contextualiza a respeito de outro grupo de bastante reconhecimento da época, o M.A. Band. O desempenho destes seguia uma linha de um rock mais pesado e menos habitual aos clubes da época.

Coincidentemente ou não, um dos músicos era sargento da Brigada Militar. Desta maneira, em determinado momento, o policial recebeu um importante comunicado da Censura Federal, barreira a muitos grupos no período. A recomendação foi para fecharem a banda, pois, com o crescente encargo de fiscalizar artistas e estabelecimentos, uma hora sobraria para o M.A. Band e o ato poderia ocasionar prisões e um episódio bastante negativo na carreira do policial.

Com a saída do sargento da M.A. Band, o nome logo entrou em desuso pelos demais compositores da antiga banda. Eles seguiam a linha já com outros créditos. No cenário musical pelotense, o cruzamento com Os Dragões ocorreu quando houve uma inversão: as duas bandas trocaram de bateristas entre elas. Houve também a aparição do responsável por guitarra e voz da antiga M.A. Band para tocar juntamente com a turma de Osmar Barbosa.

Com a devida autorização do ex-companheiro de música, o policial Marco Antonio, houve uma recriação do M.A. Band. Apesar da formação completamente diferente, o nome encontrava determinada censura ao ser apresentado nas portas dos clubes para concertos noturnos. As explicações dos músicos, porém, convenciam e demonstravam se tratar de outra história a ser escrita pela nova M.A. Band.

Osmar segue a viagem no tempo com certo esforço para memorar os outros nomes de bandas com sua participação. Ao recordar, puxa da memória as diferentes casas e públicos, tais como uma cidade de Canguçu mais conservadora e uma São Lourenço do Sul mais propícia ao rock.

O pelotense recorda um episódio marcante a respeito da vinda do grupo The Platters ao Brasil, especificamente a Pelotas. Houve concerto deles, autores de singles como Smoke Gets in Your Eyes e a famosíssima Only You, no Theatro Guarany. Osmar participou. Segundo ele, o baterista porto-riquenho ainda ficou um tempo pelo Estado e tocou mais vezes nesse período.

Os Dragões, banda de Osmar (mais à direita) no início de sua trajetória. Foto: Reprodução de rede social

Os Dragões, banda de Osmar (mais à direita) no início de sua trajetória. Foto: Reprodução de rede social

As diferentes formações dos músicos e o mercado de hoje

Após uma noção de sua linha do tempo, Osmar é questionado sobre questões polêmicas ao redor da profissão. Ele defende que os instrumentistas não precisam ter formação em música para serem bons:

“Assisti num certo dia à discussão de dois velhinhos. E fiquei quieto. Um deles diz: ‘Ah, porque pra mim o Fulano não lê música, ele não é músico. Tem que ler e escrever música, do contrário não é músico’. E o outro: ‘Não tem que saber de escrever porcaria nenhuma, tem é que tocar bem’. Eu fiquei ouvindo e, daqui a pouco, esse que defendia que precisa saber ler música me traz para o assunto e pergunta: ‘O senhor não concorda?’ E eu digo: ‘Lamento, mas eu não concordo.”

“Eu conheço vários, mas muitos mesmo, músicos talentosíssimos e que nunca tiveram uma aula. Até se tu pegas um músico de conservatório, um cara que só lê partitura, ele é bitolado na partitura. Se tirar dele, ele não toca. E são exímios musicistas também, mas se tirou aquilo, acabou o músico”, completa.

Osmar ainda defende quesitos como a criatividade, presente em músicos que captam possibilidades com o ouvido, que não se rendem aos métodos tradicionais de ensino da música.

Questionado sobre o potencial artístico e musical de Pelotas, o pianista destaca três municípios no Rio Grande do Sul. Além da cidade do doce, Porto Alegre, por ser a capital e atrair diferentes pessoas e públicos, e a vizinha pelotense, Rio Grande.

Osmar também analisa a contemporaneidade do cenário para o ramo da música: “Não é que hoje não surjam coisas boas, tem muita gente nova fazendo coisas boas, mas tem também muita droga, muito lixo no meio. A mídia tem que faturar, sabemos disso. Interessa para a mídia o que é vendável, e, às vezes, a pior coisa que tem é o vendável. O que é bom, o que tem qualidade nem sempre é o vendável”. O músico pelotense ainda contesta alguns gêneros musicais por suas apologias ao crime e às drogas.

Quanto ao processo de fazer sucesso repentino e, tão logo, o fim dos 15 minutos de fama dos artistas, o pianista discorre: “Hoje, tudo é muito descartável. A música roda em um determinado tempo, surge outra e faturam em cima desta, esquecem a primeira”, analisa Osmar.

 A música e a tecnologia

Apesar disso, ele aborda a tecnologia como benéfica como auxiliar nas produções musicais. “A tecnologia que existe é uma coisa de espantar. Esses dias me mandaram na internet e eu vi um violão que se afina sozinho. As chaves dele se movimentam sozinhas até chegar à afinação. Não dá pra saber o que esses caras vão inventar mais.”

Questionado se isso é progresso ou regresso, Osmar fica pensativo, mas acredita que seja mais pelo progresso. Despertado pela pergunta, lembra o grupo Creedence Clearwater Revival, banda de grandes aparatos tecnológicos para época e que contava com a genialidade de seus músicos para avançar no tempo.

Censura durante a ditadura militar

Ao introduzir a temática da censura nos tempos ditatoriais, Osmar dialoga com os dois lados das intervenções. Primeiramente, aborda que o incômodo causado era grande, mas também destaca algum respaldo apresentado pelos fiscais. Isso porque as autoridades garantiam o pagamento de shows, por exemplo. Contar com essas vozes era essencial para impedir que os clubes negassem o cachê da noite.

Entre os artistas censurados na época, Osmar relembra o grupo brasileiro Os Mutantes, de Rita Lee, Arnaldo Baptista e tantos outros cantores de sucesso a nível nacional e internacional. Cita também a composição em francês Je T’aime Moi Non Plus, que, para passar na censura para ser executada, era tratada como se fosse outra música.

Alguns eram de fazer vista grossa, mas um dos fiscais era o terror para os músicos na região. “Às vezes, faltava uma letrinha e ele não aprovava, nos mandava a Rio Grande para corrigir. Mas espera aí, eu vou ter de ir a Rio Grande? Não, não, não. Não vou te atender mais hoje” e terminavam assim as conversas, sendo que, para arrumar uma canção, era necessário ir à cidade vizinha para consultar censores.

Passado o período ditatorial e das censuras impostas, um problema na vida de muitos músicos é a pirataria. Osmar Barbosa alavanca a responder sobre essa questão novamente enxergando os dois lados da discussão. “Acho que isso já foi um problema, hoje não é tanto. As músicas vão para Internet e os caras faturam mesmo nos shows que fazem. Conversei com o Luan Santana em uma vez em que ele estava ensaiando, porque eles vivem na estrada, então nem tem tempo para ensaiar. E ele conversou que hoje as músicas vendem muito, mas o que eles faturam é em cima dos shows. Tu imaginas quantos shows por mês faz um cara desses.”

Por fim, sobre a profissão, Osmar analisa o preço das artes no Brasil. Ele acredita que os produtos devem ser mais acessíveis e também considera que os músicos deveriam ser mais valorizados: “A gente sente isso na pele, hoje não tanto, mas já senti muito. Muitas vezes a pessoa faz uma festa, gasta muito em decoração, em tudo e quer economizar na parte musical”.

 

Osmar em apresentação no Lar Assistencial São Francisco de Assis Foto: Henrique König

Osmar em apresentação no Lar Assistencial São Francisco de Assis       Foto: Henrique König

Palestras e ações sociais

Não restrito à música, mas também com a companhia dela, Osmar se aventura como palestrante da doutrina Espírita: “Sou o único cara em Pelotas que faz palestras com música. Não só o espiritismo, mas trabalho o evangelho de uma forma geral.” A ideia de lincar com a música surgiu há alguns anos. Assistindo a um canal espírita, Osmar presenciou um maestro executando músicas para tratar o tema. A fórmula foi testada por ele próprio em uma palestra e pegou. Segundo ele, a aceitação do público é boa, mas a da direção das casas nem sempre ocorre. Existe ainda um tradicionalismo que atrasa essa questão.

Osmar Barbosa também participa há seis anos de arrecadações de alimento para pessoas carentes. As ações de solidariedade caminham junto com a trajetória do músico. “Espírito de barriga vazia vira apenas espírito”, brinca.

Após uma descontraída e plural conversa de cerca de uma hora, a última indagação disse respeito ao que seria a definição de música, que Osmar tanto comentou em meio às falas. Ele enfatiza da seguinte forma: “Música é uma arte na qual nós expressamos o sentimento da alma através do som”.

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Grupo do curso de Educação Física promove a dança

Reportagem de Endrio Chaves, Silvia de Oliveira Camargo e Wagner Leitzke – 

 

Desde 1993, a UFPel está representada no universo das coreografias artísticas. Através do Grupo Universitário de Dança, conhecido como GRUD, divulga seu nome nacionalmente por meio desta arte do movimento corporal. Coordenado pela professora Maria Helena Klee Oehlschlaeger, o Grupo é um projeto de extensão ligado à Escola Superior de Educação Física (ESEF) e tem como principal objetivo promover a expressão da dança, a cultura e o intercâmbio entre a comunidade e a universidade.

Há mais de duas décadas, o Grupo desenvolve diferentes modalidades de dança, como o jazz, dança contemporânea, sapateado americano, modalidade livre, técnicas de composição coreográfica, expressão corporal e improvisação. Atualmente, o GRUD conta com 16 integrantes e já produziu mais de 50 trabalhos.

O Grupo Universitário de Dança comemorou seus 20 anos em 2013

O Grupo Universitário de Dança comemorou seus 20 anos em 2013

Neste mês, o GRUD participou do Festival de Circo em Pelotas, apresentando um trabalho feito exclusivamente para o evento. A coreografia Você deveria ter me mandado flores foi exibida no Centro de Treinamento do Grupo Tholl. O Grupo também esteve presente na Virada Cultural, que ocorreu na esplanada do Theatro Sete de Abril.

Na sua comemoração de 15 anos, em 2008, realizou o espetáculo A Universidade da Dança, no projeto Sete ao Entardecer, apresentando sete trabalhos coreográficos, quando foi contada a trajetória do GRUD por meio de homenagens a todos os bailarinos que estiveram presentes na história do grupo. Já em 2013, ano em que o grupo comemorou seus 20 anos, o GRUD participou da programação do Dia Internacional da Dança, promovido pela ADAP (Associação de Dança de Pelotas), na sede da AABB.

Durante sua trajetória, o Grupo participou de vários festivais de dança pelo País, garantindo diversos prêmios. Em 2008, conquistou o segundo lugar na categoria contemporâneo adulto, no Porto Alegre em Dança. Quatro anos depois, no Festival Nacional de Dança Vem Dançar, também na capital gaúcha, o GRUD levou os prêmios principais com a coreografia de grupo na modalidade composição livre e com o solo de ballet, além do segundo lugar com a coreografia de conjunto e prêmios especiais, como o de melhor grupo adulto.

O evento de dança mais importante do país, o Festival Internacional de Dança de Joinville, já prestigiou inúmeras coreografias apresentadas pelo GRUD. No ano passado, três das suas coreografias na modalidade jazz foram selecionadas para o encontro em Santa Catarina. Neste ano, o Grupo teve dez trabalhos coreográficos aprovados no evento competitivo de Bento Gonçalves, o Bento em Dança.

O estudante do curso de Letras da UFPel Pablo Alvez Deniz é professor de língua estrangeira e bailarino do GRUD há mais de três anos. Ele observa que a prática da dança vem transformando o seu cotidiano. Pablo conheceu o GRUD durante uma apresentação na Fenadoce, em 2011, mas foi no ano seguinte que passou a fazer parte do Grupo.

Pablo Alvez Deniz começou a dançar no GRUD em 2012

Pablo Alvez Deniz começou a dançar no GRUD em 2012

Uma das dificuldades encontradas pelos bailarinos é conciliar os ensaios com o estudo e trabalho. Além de bailarino, Pablo é estudante e professor, por isso necessita sempre encontrar tempo para se dedicar à dança. Segundo ele, “a grande maioria dos bailarinos ou pessoas que praticam dança acabam se apaixonando por essa arte”. Isso leva, de alguma forma, a reservar algum tempo na semana para os ensaios. Mas como, no GRUD, todos são acadêmicos ou formados, suas agendas não são fáceis de organizar. A solução é ensaiar aos fins de semana ou durante a semana em horários já tarde da noite. “Principalmente se temos um evento, festival ou concurso perto, aí a coisa fica mais intensa. Quando não temos nada programado se aproximando, temos uma aula semanal em que nos preparamos fisicamente e começamos a compor novos projetos”, relata o bailarino.

A dança trabalha constantemente com o movimento corporal e, como qualquer atividade física, gera benefícios à saúde de quem a pratica. Pablo afirma que através da dança, juntamente com a prática da ioga, passou a ter maior resistência física, flexibilidade, melhora na postura, tonificação muscular e, além disso, livrou-se do estresse causado pelo dia a dia. “Existe um cansaço físico sim, mas os benefícios psicológicos – ao menos pra mim – são enormes. Duvido que algum bailarino não goste da genial sensação de estar no palco, é viciante”, comenta Pablo.

Desde o seu primeiro ano no GRUD, ele esteve presente em praticamente todos os eventos em que o Grupo participou, como o Dança Bagé, o Vem Dançar, o Dança Pelotas, o Bento em Dança e o Festival Internacional de Dança de Joinville. Tais festivais reúnem grupos dos mais diferentes cantos do País, propiciando aos participantes a oportunidade de ter contado com as mais diversas formas de arte. De acordo com o estudante, “existe um intercâmbio de ideias muito bom que soma experiências”. A preparação prévia para a participação nos eventos é cansativa, mas o resultado sempre compensa. “Todas as vezes que temos algum evento chegando, nossos ensaios passam a ser mais intensivos e mais frequentes, já ficamos ensaiando até altas horas da noite para poder reunir todos os integrantes do grupo, sabendo que é algo fundamental.”

Os ensaios do Grupo Universitário de Dança são realizados nas dependências da ESEF, nas sextas-feiras à noite, e os integrantes do Grupo são estudantes da Universidade Federal de Pelotas ou demais bailarinos da comunidade. Para participar do projeto é preciso ter alguma experiência em qualquer estilo de dança.

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