Rio Grande tem novo espaço cultural

– Reportagem de Etienne de Castro Farias –

A cantora Luciana Lima criou um local para artistas debaterem e trocarem ideias –

A cidade do Rio Grande tem atualmente 200 mil habitantes e é considerada o berço de muitos artistas independentes. No entanto, há alguns anos não havia manifestação cultural por parte daqueles que têm o papel de fazer a arte ser sentida, respirada e vivida em uma cidade.

Em fevereiro de 2015, a cantora e compositora Luciana Lima alugou uma casa para que que os artistas locais tivessem um espaço para debater e trocar ideias sobre a cultura em geral. Por estar inserida na parte da música, houve uma dificuldade inicial de reunir os artistas das mais diversas áreas. Foi então que nasceu o projeto Arte na Praça, evento que ocorre aos finais de semana, com data previamente marcada, e é aberto para todo e qualquer artista que queira expor o seu trabalho. Além de abrir horizontes para os talentos locais, o evento cumpre o seu objetivo ao se tornar um evento público e com autonomia total, no qual a troca de conhecimentos é o grande filão.

 

Wesley Conrado e Luciana Lima coordenam o projeto cultural

Wesley Conrado e Luciana Lima coordenam o projeto voltado às artes e atividades culturais

Foi realizando estes eventos que Luciana conheceu e se aproximou de outros artistas rio-grandinos, isto era o que ela precisava para idealizar o projeto Clube do Autoconhecimento, na Casa das Primaveras – como é carinhosamente chamada pelos frequentadores.Foram nestes eventos que Luciana ganhou um grande parceiro para tirar a ideia da cabeça e colocá-los na prática, Wesley Conrado. Os dois já se conheciam e tinham pensamentos muito parecidos, o que facilitou o convívio e a execução do projeto.

O Clube do Autoconhecimento  

Segundo a responsável pelo Clube, ele nasceu através das inquietações pessoais sobre como melhorar o mundo, no entanto, foi percebido que o necessário era fazer uma mudança interna, mas como realizar essa mudança de hábitos tão enraizados? Nada melhor do que ter como base para se autoconhecer a arte e a cultura e buscar outras pessoas que também estejam atrás desta mudança.

O Clube conta atualmente com 25 associados, que pagam um valor único de R$ 50,00 e têm desconto nas oficinas e acesso à biblioteca da Casa das Primaveras. Entre os cursos e palestras disponibilizados por diversos artistas, mediante fechamento de turma, estão: compostagem, vegetarianismo – pela saúde, pelos animais e pelo planeta; gastronomia vegetariana, canto terapia, improviso teatral, desenvolvimento do senso corporal, desenvolvendo seu potencial – clownesco (linguagem dos palhaços), desmascarando EU – Duke de Orleans (oficina de confecção de máscaras de cerâmica), criação de poesia, meditação sonora, street art, yoga, estudos budistas, confecção de mandalas, filtro dos sonhos e olho da deusa.

A joia do Clube é uma semente de dente de leão, planta que tem as suas sementes espalhadas com o vento, e a ideia é exatamente essa. “Tu vens, participas da oficina e podes levar isso para a tua casa, para os teus amigos, tu te transformas em uma semente de dente de leão e tu vais espalhar essas ideias por onde tu andares também. Se tu fores um solo fértil, tu vais gerar mais sementes”, explica Luciana. A casa fica aberta das 10h às 21h e qualquer pessoa, de qualquer idade, pode associar-se.

O projeto do Clube do Autoconhecimento foi encaminhado à Secretaria Municipal de Educação, com o objetivo de levar esta experiência aos professores da rede pública e disseminá-la entre os estudantes. No entanto, houve uma troca de comando do órgão municipal, o que dificultou o andamento do projeto, portanto, até o fechamento da matéria, o grupo não tinha uma resposta sobre a proposta.

Além disso, o projeto também foi encaminhado à Secretaria de Cidadania e Assistência Social. A ideia segundo Wesley, é de que o clube funcione de forma itinerante dentro dos cinco Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), de Rio Grande, e da ala feminina da Penitenciária Estadual do Rio Grande (PERG). “O Clube não é necessariamente a casa, e sim a ideia em si, ele pode ir pra qualquer lugar, ele pode ir pra onde a pessoa que tem o conhecimento quiser levar”, afirmou Conrado.

Quem quiser conhecer um pouco mais sobre o clube pode visitá-lo em Rio Grande, na Rua Andradas, 395, ou ainda pode visitar a fanpage no Facebook.

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Fenadoce celebra 30 anos

– Reportagem de Michel Corvello Martins – 

O evento  recebe em Pelotas centenas de milhares de pessoas de várias regiões –

 

Foram recebidas 295 mil pessoas em 19 dias de evento no ano passado Foto: Marcel Ávila/Prefeitura de Pelotas

 Foram recebidas 295 mil pessoas em 19 dias de evento no ano passado                                                      Foto: Marcel Ávila/Prefeitura de Pelotas

 

Até o dia 12 de junho acontece a Feira Nacional do Doce, a Fenadoce, que teve início no dia 25 de maio em Pelotas. O evento simboliza um momento muito importante na região. Além disso, esta edição é especial, pois o evento completa três décadas de existência.

 A Fenadoce recebe centenas de milhares de pessoas anualmente. No último ano, foram recebidas 295 mil pessoas em 19 dias de evento. Também foram comercializados 2,3 milhões de doces, agregando valores significativos à economia e o turismo da cidade.

Segundo pesquisa exibida na feira em 2015 pelo curso de Turismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), 60% do público visitante é pelotense e 40% são turistas vindos de outras cidades do Rio Grande do Sul e fora dele. A pesquisa mostrou também que 95% dos turistas pretendiam voltar para o evento em 2016.

Neste ano, o ingresso custa oito reais e o estacionamento dez, ambos de segunda à sexta-feira. Aos sábados, domingos e feriados o ingresso é dez reais e o estacionamento 13. A feira abre das 14h às 23h, de segunda a sexta, e das 10h às 23h, nos demais dias, incluindo feriados. O preço do doce é 3,25 reais. O controle de autenticidade é feito pelo selo concebido pela Associação dos Produtores de Doces de Pelotas, ou seja, os doces possuem procedência garantida, além de serem populares pelos seus sabores adoráveis.

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O sentido dos cursos de cinema

– Reportagem de Calvin Cousin e Gabriela Schander – 

Uma conversa sobre a produção técnica e cultural nas formações em audiovisual –

 

A Universidade Federal de Pelotas (UFpel) tem a distinção de ser a única universidade federal no Rio Grande do Sul com um curso em Cinema e Audiovisual e uma das únicas no País com o curso de Cinema de Animação. A primeira experiência da instituição com um bacharelado voltado para a sétima arte se deu em 2007, com a fundação do curso de Cinema e Animação, que posteriormente foi dividido em graduações distintas, conforme relata a coordenadora dos cursos, a professora Carla Schneider: “Descobriu-se que o perfil do aluno que quer fazer cinema live-action, com atores, é muito diferente do de quem quer fazer cinema de animação. Então, o curso de Cinema e Animação foi extinto e, em 2010, abrimos Cinema de Animação e, no ano seguinte, Cinema e Audiovisual. São formações muito específicas”.

Carla Schneider: coordenadora dos cursos de cinema da UFPel

Dialogando constantemente com o corpo estudantil, os responsáveis pelo funcionamento dos cursos buscam atualizar aspectos do currículo a cada dois ou três anos, assim como ressaltar a necessidade e importância de um maquinário de boa qualidade para a formação dos alunos. “No momento que dá um problema aqui, tudo para de funcionar, pois sem equipamento não tem como ensinar”, descreve Carla. Para tanto, uma disciplina de Operação de Equipamentos Audiovisuais é obrigatória para os alunos do primeiro semestre de Audiovisual, com o intuito de preservar e orientar o uso do material disponível. A disciplina faz parte da proposta pedagógica de horizontalidade que os cursos propõem.

A horizontalidade integra disciplinas que apresentam alguma relação em cada semestre com o intuito de conseguir dos alunos um produto cinematográfico coeso e bem elaborado. No curso de Cinema e Audiovisual, os estudantes produzem, em média, um material por semestre, inclusive no primeiro, algo que não acontece em Animação. Através de relatos das turmas, professores do curso perceberam que pedir um trabalho de maior duração para ingressantes seria algo além da conta, então o que é solicitado é um pencil test, mais curto, que costuma durar trinta segundos.

Para obter a graduação em Audiovisual na UFPel, os alunos necessitam um produto final, que corresponde ao trabalho de conclusão de curso. A graduanda Júlia de Moura, matriculada no sétimo semestre, contou um pouco sobre sua produção: o longa-metragem “Despedida”.

O primeiro longa produzido por uma equipe de alunos da universidade promete mostrar o lado sensível, poético e subjetivo das relações humanas. O enredo envolve Sofia, uma mulher que retorna à casa distante que morou durante sua infância depois da morte do pai. Por meio desse retorno, a personagem entra em conflitos internos e, então, acontece uma simbiose simbólica entre a Sofia adulta e a criança. O filme é sobre as várias despedidas que as pessoas vivenciam interiormente e as inúmeras questões que cercam nossa existência e que podem ser reveladas por meio da interferência do ambiente em que nos encontramos. Com roteiro e direção de Júlia de Moura, direção de fotografia de Juliana Pancinha, direção de produção de Mateus Armas e direção de som de Gabriel Blaas, o longa atualmente se encontra em fase de pré-produção e tem previsão de lançamento para setembro desse ano.

Sobre a produção de um filme na universidade, Júlia contou que as adversidades enfrentadas em uma produção feita por estudantes, muitas vezes, tangem problemas financeiros. A casa encontrada para locação de filmagem é em Santa Maria, e isso “já demanda gastos com deslocamento, alimentação, etc. Além disso, mobiliar uma casa vazia conforme o roteiro é bem difícil, levando em consideração o baixo orçamento, já que não existe nenhum apoio financeiro da universidade”, afirma a estudante.

Essas questões, porém, foram sendo conversadas ao longo da fase de pré-produção e resolvidas conforme as demandas. Nessa fase também aconteceram as decisões prévias de direção e direção de arte e fotografia, além de decupagens e escolha de elenco. Júlia afirma que esse “é um período bem extenso, de escolhas e de conseguir tudo que de fato vai precisar durante a produção. É bastante chato, mas é quando colocamos a mão-na-massa para conseguir todo o material necessário para produzir o filme”.

Cena do filme "Despedida": lançamento previsto para setembro

Cena do filme “Despedida”: lançamento previsto para setembro

Já na fase de produção, quando o produto foi gravado, as decupagens já estavam prontas com todos os planos e os cronogramas estabelecidos. Nessa fase, a ideia de fazer um curta-metragem se transformou na preparação de um longa, para que a história não fosse cortada e ficasse com lacunas. A última parte, mais longa e trabalhosa, foi a da pós-produção, período de montagem, correção de cor e efeitos especiais.

Quando questionada sobre a visibilidade que os curtas e longas produzidos pelos alunos da universidade têm, Júlia é categórica: “poderia ser melhor”. Ela menciona a Lei do Curta, estabelecida pela Lei Federal 6.281 de dezembro de 1975, que estabelece a obrigatoriedade de exibição de um curta-metragem nacional antes de qualquer longa-metragem estrangeiro. A lei, contudo, não é cumprida, o que torna a produção universitária mais desvalorizada, visto que a produção desse tipo de material tem vida curta e são difíceis de distribuir em território nacional.

Apesar das dificuldades, na UFPel existe o projeto do Cine UFPel, um espaço conquistado pelos cursos. A proposta do projeto é a de trazer filmes sensíveis e humanos, de preferência nacionais e com apresentação de curtas antes de sua exibição.

A coordenadora Carla aponta uma série de dificuldades para a manutenção dos cursos, eis que, tendo em vista o contexto econômico e político do país, esses estão recebendo uma cota de 25% do valor recebido em 2015. Todos os recursos recebidos, sejam para eventos ou para compra de material, se dão através dos editais que a universidade propõe e isso acarreta na impossibilidade de abrir um acervo, como uma videoteca, para que as pessoas tenham acesso a toda a produção cinematográfica da instituição. Ainda assim, Carla conta que o material encontra outros meios de chegar ao público: “O que se consegue agora é disponibilizar num portfólio online, mesmo que os materiais disponíveis não sejam os mais recentes, pois os alunos geralmente assinam um termo de direitos que resguarda um ano de ineditismo do trabalho feito. Nesse período, eles optam por circular pelos festivais.”

Apesar das dificuldades, a professora acredita que os cursos já causam impacto na região, com a inclusão de alunos trabalhando com o audiovisual nas campanhas políticas, por exemplo. Ela salienta o papel da universidade no ato de fazer cinema e o papel do cinema no cotidiano: “Estamos em uma época muito audiovisual, de muita produção. Fazer cinema é transformar pensamento em imagem. Temos a função de fazer as pessoas verem a profundidade que um filme pode ter, além do entretenimento: a possibilidade de tocar o público com a questão que apresenta. É uma experiência bem forte se quisermos levar a sério”.

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Sucesso!

Rosa Elaine Gonçalves

O skate como saída do consumo de drogas ilícitas

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Os próprios skatistas trabalharam nas obras de restauração da pista no Parque Marinha

Reportagem de Débora Klein

O esporte como fuga do uso de drogas pesadas é o que promove o movimento “Skate pra Frente, Vida sem Crack”. Desde 2010 o projeto, nascido no bairro Parque Marinha em Rio Grande, mostra caminhos de manobrar o consumo de drogas ilícitas através da prática de atividade física aos jovens rio-grandinos. Ainda que malvisto por parte da sociedade, o skate é hoje o segundo esporte que mais ganha adeptos no Brasil.

Tudo começou quando Luís Duarte Lobo, mais conhecido como Guga, retornou para o Parque Marinha junto com a sua família. Guga conta que era morador do bairro e realizava alguns eventos culturais e atividades esportivas aos moradores até 2008, mas, por dois anos, esteve fora da localidade. Ao retornar para o local, ele e sua mulher, Aline Lobo, encontraram a praça abandonada. “O pessoal parou de praticar e estava usando como ponto para consumo de drogas pesadas”, conta Luís. Foi aí que o casal resolveu mudar a característica do espaço novamente. “Demos um viés mais preventivo em relação ao consumo de drogas e começamos a luta pela reforma da pista”.

E foram os próprios skatistas que restauraram a pista. Após problemas com a empresa responsável pela construção, Guga e outros atletas assumiram a responsabilidade e criaram o espaço que hoje recebe jovens de diversos bairros da cidade. Seja com reuniões na pista, seja na casa de Luís: o movimento tenta, a cada dia, aproximar mais os jovens do esporte e afastar das drogas. “Não adianta a gente querer se iludir que vai tirar um cara que está há 40 anos nesse caminho, tu tens que prevenir quem está querendo entrar, tu tens que mostrar para esse cara que tem que ser consciente do que está fazendo, do que está usando”, afirma.

Skatista há 20 anos, Lobo conta que já conheceu muitas histórias, positivas e negativas. “É uma via de mão dupla, a gente vê tanto jovens saindo quanto entrando e tentamos dialogar, mostrar as consequências do consumo”. Através de uma conversa aberta, consciente e por meio do livre arbítrio, o movimento debate sobre as ações negativas e proativas, tanto para eles mesmos quanto para terceiros.  “Com a velocidade de raciocínio que os nossos jovens têm, não adianta dizer para eles que isso está errado, tem que mostrar por que está mal”, afirma.

Com a força de vontade e amor pelo esporte, o movimento também ajudou a impulsionar a visibilidade da prática na cidade. Em agosto de 2015, a pista de skate do Parte Marinha foi espaço para um dos maiores campeonatos de skate: a segunda etapa prata do Circuito Gaúcho de Skate, que reuniu atletas de diversas regiões. E tem mais: o primeiro colocado na categoria Amador é William Ribeiro, uma das revelações do skate rio-grandino.

Agora, além de continuar a auxiliar os jovens rio-grandinos, o movimento quer fazer com que os atletas sejam reconhecidos na cidade. “A cada esquina tem um cara andando de skate e a gente tenta fomentar a situação, dar uma característica mais séria para o pessoal parar de achar que é um bando de maloqueiro”, comenta Luís. Entre os planos está a realização de eventos na cidade, que necessitam de algumas mudanças para acontecer como, por exemplo, a construção de pistas no Balneário Cassino e na Perimetral – promessas que a muito não saem do papel – além de estrutura profissional e financeira.

De acordo com Luís é preciso profissionalismo básico para haver capacidade de Rio Grande sediar bons eventos e movimentar a comunidade em prol do esporte. “Muitos não sabem, mas o skate rio-grandino é conhecido no Estado inteiro, em qualquer cidade que tu chegas e fala que do município, o pessoal respeita muito, por que a cena sempre foi forte”, finaliza.

No vídeo Pista de Skate no Parque Marinha, os atletas falam da sua experiência e amor pelo esporte.

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Guido CNR completa 15 anos de carreira

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Leandro Fagundes expressa em suas músicas a realidade social

Reportagem de Camila Porto e Rayssa Natale – 

Leandro Fagundes, mais conhecido como Guido CNR, é um cantor de rap conhecido por suas melodias pesadas, que objetivam retratar a realidade e sentimentos. O cantor já passou por muitas coisas nesses 15 anos de carreira. Carregando o peso do preconceito, Guido conquistou uma legião de fãs e ganhou o mundo. Vencendo inúmeras dificuldades, o cantor hoje vive da música e está entre os 10 mais populares de Pelotas.

O cantor aceitou o convite da equipe de reportagem e nos deu uma entrevista exclusiva!

Arte no Sul: Na tua visão, o rap tem ganhado espaço?

Guido CNR: O rap está crescendo, ganhando espaço, deixou de ser considerado música de favelado, apesar de ter sua origem na periferia. Hoje em dia todo mundo escuta rap e consegue tirar sua própria lição.

AS: Como você enxerga o campo da música? Há boas oportunidades ou é difícil se manter no meio?

Guido CNR: A música sempre foi um meio difícil. Não é fácil viver da música, ganhar respeito. As oportunidades são poucas.

AS: Discute-se muito a questão racial. Você acha que isso influenciou no seu trabalho? Se sim, se forma positiva ou negativa?

Guido CNR: Claro que influenciou, ouvi muito’ não’ por ser negro. Muita gente virou a cara para o meu trabalho pela minha cor, não deu a oportunidade de eu mostrar meu talento.

AS: Que mensagem você tenta passar com a sua música?

Guido CNR: Minha música é a realidade. Todo tipo de realidade. Mas meu foco maior é a realidade do negro e pobre e o amor.

AS: Pelo que vemos, tens fãs muito fiéis. Como você se sente sabendo que teu trabalho influencia outras pessoas?

Guido CNR: Meus fãs são a razão de tudo. Saber que meu trabalho mudou-os é saber que tudo está valendo a pena!

AS: Você tem algum recado que queira deixar pros leitores?

Guido CNR: Meu recado é que as pessoas precisam abrir o coração pra música, deixar ela entrar e te tocar. Isso é o que faz uma música valer a pena. Queria agradecer o carinho de todos e a atenção que tenho recebido, os elogios e aquele incentivo. Todos sabem como vivi o que passei e mesmo assim dei a volta por cima e é esse incentivo de vocês que me faz acreditar que hoje estou no caminho certo, obrigado de coração.

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ONG Anjos e Querubins luta por cultura e educação

Reportagem de William  Machado –

Aqueles que fazem a diferença e enfrentam qualquer barreira estão cada vez mais presentes em nossa sociedade. Um exemplo disto é o caso da Organização Não-Governamental Anjos e Querubins. Seu presidente, Ben Hur Flores, teve a iniciativa de implementar atividades que combatessem a discriminação com um olhar voltado para as comunidades das  periferias.

Ben Hur salienta que “a ONG virou praticamente uma prestadora de serviço, sempre a favor da educação”, ao dar auxílio gratuito para a comunidade pelotense e da região. Nos primórdios das atividades da instituição, a pretensão era apenas um grupo de teatro, porém o apelo popular e os trabalhos, que ganharam força ligados à cultura, fizeram com que uma nova proposta fosse pensada para expandir o grupo, não somente no bairro Getúlio Vargas, mas para toda a cidade e região.

Ben Hur Flores planeja fazer um musical em homenagem à cantora Clara Nunes

Ben Hur Flores planeja fazer um musical em homenagem à cantora Clara Nunes                            Foto: William Machado

 

A organização já teve atuação em diversos espaços de troca de cultura no Brasil, como, por exemplo, no caso do encontro ocorrido em julho no Rio de Janeiro com uma ideia proposta por lideranças para discutir o porquê de não existir uma integração maior e compartilhamento das dificuldades que são enfrentadas por todas as comunidades carentes deste país.

A atuação da ONG não se limita apenas à sua nova sede, na localidade do Navegantes, mas sim em outros espaços, no Bairro Areal, na Escola Municipal de Ensino Fundamental Lélia Romaneli, e até mesmo em outros municípios, como na cidade de Herval, com a ideia de atingir novos públicos também em Pelotas, no Dunas e no Pestano, no CAIC.

Atualmente, na sua sede no Navegantes existe uma nova agenda de troca de experiências como intercâmbios de alunos oriundos de outros países que estão atuando junto à ONG na promoção de igualdade. Um dos instrumentos mencionados pelo presidente é a possibilidade de ser um facilitador na educação, como cita o exemplo da menina Andréia Medeiros, a qual participou desde o início das atividades e, apesar das dificuldades do trabalho de gari, está cursando a faculdade de pedagogia, servindo de inspiração para os demais participantes.

Ben Hur ainda revela intenções de, em parceria com a Orquestra Afrobeat, da própria instituição, realizar em 2016 um espetáculo de teatro musicado, contando um pouco da trajetória de uma das maiores intérpretes do samba de raiz Clara Nunes. Antes de finalizar, relata que uma das principais ideias é fazer mostras de arte, não dentro das regiões periféricas, mas sim levando suas vozes para a zona central da cidade.

Ao final, para que haja o fortalecimento das comunidades, afirma que é necessário trabalhar com o coletivo, sendo isto primordial para geração do desenvolvimento de uma nação. Quando questionado a respeito do que espera deste sistema de intercâmbios e como acharia que a mudança pudesse acontecer, responde que lutando sozinho não se conseguirá absolutamente nada, sendo o foco principal chamar cada vez mais a atenção do poder público municipal, estadual e federal.

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WAR (We Are Revolution)

Gabriel Parisotto, Mateus Kurmann, Giovani Ramos e Evandro Valeré compõem a banda Foto: Marlon Peres

Gabriel Parisotto, Mateus Kurmann, Giovani Ramos e Evandro Valeré compõem a banda                                      Foto: Marlon Peres

Reportagem de Estevan Garcia e Vanessa Kleber

“A resistência em um tempo sem amor. Não vou viver para ser o que eu não sou”. É com uma guitarra marcante e com letras fortes como essa, proferindo ideais de superação e resistência e passando a mensagem da importância de se ser quem se é, que a WAR (We Are Revolution) marca sua presença por onde passa.

A banda, que é composta por Gabriel Parisotto (vocal e guitarra), Mateus Kurmann (guitarra), Giovani Ramos (baixo) e Evandro Valeré (bateria), é da pequena cidade de Farroupilha, na serra gaúcha. Porém, com o trabalho e determinação dos integrantes, a WAR vem ganhando espaço nos grandes palcos e muitos admiradores em cada show que faz.

Juntos há quase dois anos, a banda lançou o álbum Catharsis, o qual teve a produção de Marco Lafico, que já assinou discos de artistas como Fresno, Esteban Tavares e Seu Jorge. Segundo o guitarrista da banda, Mateus Kurmann, a inspiração do álbum veio do exercício de ter experiências que despertem evolução interior e que, de alguma forma, ajude na percepção e façam com que o ouvinte escute mais a si mesmo, às suas vontades. “A nossa música quer expulsar as pressões externas e tudo mais para que as pessoas tenham coragem de seguir seus desejos genuínos sem interferências”, afirma.

No ano de 2015, a banda já tocou em Pelotas três vezes. Abriram os shows de Esteban Tavares e Doyoulike?, no João Gilberto Bar, e, recentemente,  o show da banda Fresno, no DC Eventos. “É absurdamente enriquecedor tocar em Pelotas”, comenta Kurmann sobre as experiências. Após seu primeiro show na cidade a banda agradou tanto que o público criou um evento no Facebook, a fim de trazer a War novamente, o mais breve possível.  Além disso, o primeiro Fã Clube da banda surgiu na cidade.

Viviani di Macedo, 26 anos, é uma das fundadoras do Fã Clube Oficial War Pelotas/RS, criado há três meses. A moça conta que conheceu a banda em julho de 2015, quando foi anunciado que abririam o show acústico do músico Esteban Tavares, em Pelotas. “Assisti um vídeo da banda e curti. No dia do show acompanhei e adorei cada música”, revela. Ainda segundo Viviane, o que mais chama atenção na banda é o carisma e a humildade dos integrantes, além do fato de que, em todos os seus shows em Pelotas, só tenham tocado seu repertório próprio, o que a moça julga “admirável”. “Hoje as músicas deles estão na ponta da língua da galera. Tenho muito orgulho deles”, afirma.

Por aqui, só nos resta desejar toda a sorte do mundo para a WAR (We Are Revolution). Que vocês espalhem suas mensagens para muitos públicos por esse Brasil a fora. Se vocês seguirem, à risca, o que as letras de suas músicas nos trazem, o mundo é o limite para vocês. Avante sonhadores!

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Giovane Lessa: uma das mais importantes vozes do movimento negro pelotense

Reportagem de Luís Artur Janes Silva –

Esta segunda reportagem do site Arte No Sul sobre destaques da cultura hip-hop na cidade de Pelotas permite conhecer um pouco da atuação de Giovane Lessa. Ele é uma das mais importantes vozes do movimento negro de nossa cidade, também um dos mentores da cultura hip-hop. Representa a comunidade do Bairro Getúlio Vargas, outro local de nosso município, onde os moradores vivem em condições de pobreza e igualmente estigmatizado pela violência que toma conta da nossa sociedade.

Lessa, originário de Canguçu, tem o mérito de ter criado quatro filhos como guardador de carros no centro da cidade de Pelotas. Este homem esteve e está inserido no cotidiano de sua comunidade e teve uma importante vitória contra a pobreza quando criou, junto com outros “chegados”, uma cooperativa de reciclagem de resíduos no Getúlio Vargas, que chegou a gerar 22 empregos diretos e mais de 50 vagas de empregos indiretos neste local. Além disso, sonhou em estabelecer uma praça de esportes, creches para os filhos dos trabalhadores locais e hortas comunitárias, preenchendo lacunas que deveriam ser prioridades do poder público.

O ativista, que já foi candidato a vereador, em 2012, pelo PC do B (Partido Comunista do Brasil) sente orgulho de ser guardador de carros. “É na rua que está quem eu preciso conversar para saber o que tá acontecendo na política, dentro dos outros bairros e etc…”, comenta.

Este inquieto líder milita atualmente na Frente Negra Pelotense e cursa Arqueologia, na UFPel (Universidade Federal de Pelotas), e diz que o seu único interesse na academia é concluir o curso para contar a contribuição do negro na história do estado do Rio Grande do Sul. Incendiário, manifesta o desejo de implodir a versão racista da universidade, ampla apenas para “eles”, os que não estão à margem da sociedade. Ressaltou a importância do 1º Encontro de Negros e Negras da UFPel, ocorrido no dia 14 de novembro.

Um dos pioneiros do movimento hip-hop na cidade de Pelotas, Giovane Lessa se define como o articulador político do grupo e membro de uma trindade que abriu caminhos para o movimento em nossa cidade. Este trio contou com Lessa, Jair Brown (produtor) e Wagner (discotecagem). Lessa diz que sua capacidade de instigar o debate, contestar o que está estabelecido é uma característica do hip-hop que aprendeu nas suas vivências na periferia.

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Crianças descobrem os livros na Hora do Faz de Conta

Reportagem de Juliana Ramires – 

O projeto A Hora do Faz de Conta tem o objetivo de formar novos leitores e facilitar o acesso do público infantil às obras do acervo da Bibliotheca Pública Pelotense (BBP). Oferece para os alunos da educação infantil e básica atividades de leitura e imersão conduzida por pessoas especializadas em leitura infantil.

A Hora do Faz de Conta reúne as crianças em atividades lúdicas na Bibliotheca Pública de Pelotas Foto: Divulgação

Projeto  reúne as crianças em atividades lúdicas na Bibliotheca Pública de Pelotas desde 1946                   Foto: Divulgação

O projeto deve o seu início no ano de 1946, no dia 11 de maio, com o lançamento da sala infantil da BBP, destinada a atender o público jovem da cidade. O convidado na ocasião foi o escritor Erico Veríssimo, que acabou por inaugurar um dos projetos mais antigos da Bibliotheca Pública Pelotense.

 

Com o passar dos anos o programa passou por diversas fases, até obter a sua configuração atual, a partir do ano de 2010. Mantendo uma programação todas as terças e quintas-feiras.

Atualmente o programa é coordenado pela pedagoga Anelise Silva da Rosa. De acordo com o historiador, Daniel Barbieri, o número exato de crianças que já participaram do projeto é incerto. Mas estima-se que mais de 12 mil crianças já passaram pelas reuniões de leitura, entre alunos de escolas públicas, privadas e assistenciais.

O programa visa também à acessibilidade e à integração de crianças e adolescentes com deficiência. Anualmente, desde o ano de 2011, o projeto organiza peças teatrais, atividades folclóricas e integradoras para este público.

A Hora do Faz de Conta é um dos responsáveis pelo surgimento de outro projeto da BBP – Amigos da Lolô, que atua com adultos com deficiência, buscando a integração e a socialização dos participantes.

Entre os livros trabalhados no programa, estão Branca de Neve e as sete versões (de Marco Aurelius Pimenta e José Roberto Torero, com ilustrações de Bruna Assis Brasil); Bruxa, bruxa venha à minha festa (de Ardem Druce, com ilustrações de Pat Ludlow), Capitão Mariano, o rei do oceano (de Maurício Veneza, com ilustrações de  Roney Bunn) e O negrinho do pastoreio (de Simões Lopes Neto, com adaptação de Hardy Guedes).

Então o que faz o programa A Hora do Faz de Conta?

Incentiva a leitura e a imaginação;

Fortalece os laços de integração social;

Estimula a utilização do acervo da biblioteca;

Desenvolve a educação da comunidade escolar, por meio de um ambiente não-formal de ensino.

A atividade

As atividades se desenvolvem por meio de quatro etapas bem definidas, que passam pelas fases de planejamento, estruturação, execução, contato, avaliação e inovação.

Como agendar uma atividade?

As atividades podem ser agendadas por escolas e grupos estudantis pelo telefone: (53) 32223856 ou pelo e-mail: infantil@bibliotheca.org.br

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Projeto “A Filosofia e a Ficção Científica no Cinema” produz conhecimento em debates semanais

Reportagem Júlia de Andrade e Monique Heemann –

Política, religião, existencialismo, música, psicologia e a forma estética que assumem quando retratados nas telas de cinema nortearam os cinco primeiros anos do projeto A Filosofia e a Ficção Científica no Cinema. Na sexta edição, a programação trata do gênero literário que dá forma, em geral, ao medo do desconhecido inerente ao homem – como desastres advindos da inteligência artificial, mutação genética, existência de universos paralelos ou, ainda, sociedades alternativas.

O longa-metragem polonês Globo de Prata (Na Srebrnym Globie), dirigido por Andrzej Zulawski, em 1989, trata das sociedades alternativas e foi exibido pelo projeto no dia 22 de outubro, na Livraria da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), instituição à qual o ciclo de cinema é vinculado. No filme, adaptação do livro homônimo escrito por Jerzy Żuławski, um pequeno grupo de exploradores deixa o planeta Terra em busca de liberdade para criar uma nova civilização.

Projeto de encontros filosóficos  analisa longa-metragens desde 2010      Foto: Monique Heemann

Coordenado pelo professor adjunto do curso de filosofia da UFPel, Luis Rubira, o projeto de extensão realiza sessões de cinema semanais abertas ao público desde 2010. Sem relação com os cursos da área de cinema da instituição, Rubira destaca que a abordagem dada às análises das produções é filosófica e reflexiva. “Profissionais de cinema se detêm mais aos detalhes técnicos, que não são nosso foco”, esclarece.

Cerca de 40 filmes são exibidos de março a dezembro nas sessões semanais. Os debates partem das análises posteriores à exibição do filme feitas pelo coordenador do projeto. A média atual de público, de acordo com Rubira, é de 30 pessoas. “Quando as sessões ocorriam no Mercosul, tínhamos um público médio de 80 pessoas por filme”, relembra, referindo-se ao Centro de Integração do Mercosul, um dos locais vinculados à universidade.

Escolha dos filmes

O processo de escolha dos filmes exibidos pelo projeto começa aproximadamente quatro meses antes do fechamento da programação, feito em dezembro. São mais de 80 filmes vistos, revistos e analisados até que a seleção seja considerada satisfatória e coerente com o propósito do projeto.

Outra tarefa, além da seleção das produções, desafia o professor durante a preparação da programação. Com a opção, em geral, por filmes fora dos circuitos comerciais, obter o arquivo para exibição nem sempre é fácil. “No ciclo sobre política chegamos a ter filmes em VHS”, afirma.

A iniciativa já rendeu artigos e, inclusive, um livro com depoimentos de participantes das sessões de cinema sobre a relevância da iniciativa. “O livro deixa claro o objetivo do projeto, já que temos declarações desde pós-doutores até agricultores, passando por todas as classes sociais”, comenta. Apenas dez cópias da publicação foram impressas e estão disponíveis nas bibliotecas da UFPel.

Professor de filosofia Luis Rubira analisa produções na Livraria da UFPel. Foto: Monique Heemann

Professor de filosofia Luis Rubira analisa produções na Livraria da UFPel   Foto: Monique Heemann

Perspectivas

O filósofo comenta que o interesse por cinema é anterior ao início do projeto. A produção cultural de uma sociedade sempre a reflete – seus anseios, frustações, medos, conquistas e orgulhos – e é, portanto, um material de análise capaz de revelar aspectos inconscientes. Por isso, talvez, a relação próxima com a filosofia.

Rubira afirma que o ciclo de cinema foi planejado para se estender por dez anos. Ele não esperava, no entanto, o retorno que tem visto desde a primeira edição, e destaca que já imagina formas de continuar promovendo a integração e o debate suscitados por produções cinematográficas.

Na sexta-feira, dia 22 de outubro, às 19h, com o início da apresentação de Globo de Prata, todas as vozes na sala silenciaram-se. Cerca de 166 minutos depois, Rubira discorreu sobre os paralelos entre a visão proposta por Andrzej Zulawski e a sociedade contemporânea. Apesar dos 26 corridos após o lançamento do filme, as distopias quase sempre permitem a identificação com situações que compõem a realidade moderna, metafórica ou literalmente.

Transpor o conhecimento produzido na academia à comunidade, qualidade que caracteriza projetos de extensão, é o que acontece quando os presentes, ao serem confrontados com a percepção do filósofo, concordam, discordam, expõem seus questionamentos e suas visões. É o momento mais rico da sessão – há seis anos.

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