César Lascano: do samba às múltiplas referências musicais

 

Larissa Teixeira Medeiros

     Pelotas, 1990. Neste cenário, dia 20 de abril, nascia César Eduardo Hasse Lascano, geralmente conhecido apenas por  Lascano. Na divisa entre o Centro e o bairro Areal, o músico, compositor e, agora, professor, tem vivido profundamente o Carnaval pelotense. Esse foi o ponto de partida para uma carreira de compositor com muitas referências, que passam pelo samba, MPB, rock e blues.

O pai participava na Academia do Samba, escola mais antiga do Estado em atividade, e também era presidente da Banda Bandalha. César era levado aos encontros carnavalescos do pai e também aos jogos do Grêmio Esportivo Brasil de Pelotas, pelo qual é completamente apaixonado até hoje. Sendo assim, a inserção na cultura do samba veio desde criança. Aos 15 anos, começou a tocar cavaquinho. Conseguiu um instrumento emprestado por amigos da família, fez algumas aulas e ansiava encontrar um pessoal que também quisesse tocar alguns choros por aí. Sem sucesso, a saída era participar nas rodas de pagode, contrariado, já que não era o gênero que queria tocar. Mas um pouco antes disso, por volta dos 12 anos, descobriu nos discos de vinil que a família possuía alguns sucessos do mundo do rock. Passou a escutar The Beatles, Led Zeppelin, Guns and Roses, Kiss e até Engenheiros do Hawaii. “Eu era o garotão cabeludo, grandalhão, que gostava de ir ao jogo de futebol do Xavante, conhecia o samba mas também já escutava Beatles há uma cara de tempo […] então eu era uma aberração! [risos] Com 14 ou 15 anos eu queria tocar choro no cavaco mas eu gostava de ouvir em casa Led Zeppelin e Beatles”, explica César.

César Lascano no show Plays the Samba no Mercado Público de Pelotas                               Foto: Divulgação

 

 

Conforme foi amadurecendo, surgiram outros interesses. Aos 18 anos, o cavaquinho foi ficando de lado e Lascano começou com o violão. Foi aprendendo praticamente sozinho, apenas com algumas dicas de amigos. Nessa altura, então, começou a compor as próprias músicas. “Aí foi o meu divisor de águas. Comecei a me interessar por um melhor conhecimento da música popular brasileira e a querer tudo que era da MPB. Percebi que tinha outra visão, outra maturidade, e coisas que eu já tinha escutado comecei a ver de outra maneira. […] Aí aquela dualidade do guri que escutava Guns and Roses e Led Zeppelin e queria tocar choro e samba mudou um pouco, porque comecei a me interessar pelo blues”, relata Lascano. De choro, samba e rock and roll, o interesse passou um pouco para MPB e blues, embora ainda quisesse seguir tocando o rock. Havia várias formas de inspiração, desde a literatura até filmes de cinema ou programas de TV.  Lascano definiu nessa época que queria fazer músicas “assim como faz Humberto Gessinger, assim como faz o Vitor Ramil” e que elas também fossem “como são as do Zé Ramalho” e “fazer uma balada inteligente tipo a do Caetano”. Junto com o blues, veio o gosto pela gaita harmônica diatônica (gaita do blues, diferente da gaita comum que costumamos conhecer). Aprendeu a tocar o instrumento com algumas dificuldades por volta de 2009. Hoje domina essa sonoridade.

Em 2011, iniciou a profissão de músico, de fato. A princípio ainda morava com a família, e a música não era seu sustento. Trabalhava também no comércio. Chegou a ingressar uma graduação em História, mas não concluiu. Em 2013 saiu da casa da família e passou a morar sozinho, mas a decisão de viver apenas da música não foi algo muito pontual. “Não sei determinar exatamente o mês ou o ano. Quando me dei conta, olhei pra trás e já estava fazendo isso há um baita tempo, pagando minhas contas e vivendo só com a música”, relata. Em 2015 dava aulas de gaita de boca em casa, outra forma de se manter com a música.

A gaita harmônica diatônica é uma das sonoridades integradas no trabalho musical de Lascano                  Foto: Divulgação 

 

Lascano já tocou com diversos músicos e fez parte de projetos como Diablues, Ventura, Toca um Blues Aí, Jam do Boteco, e várias outras formações em dupla e trio. Além disso, há o Plays the Samba, trabalho desenvolvido a partir de clássicos do blues e do samba, resignificando os dois gêneros.

As inspirações do músico vão de Vitor Ramil, Ney Lisboa, Humberto Gessinger, Zé Ramalho e Sérgio Sampaio até Led Zeppelin e grandes nomes do blues, como Elmore James, Jimmy Reed e Sonny Boy Williamson. Mas não só de reprodução de outros artistas vive o músico César Lascano. Após compôr em torno de 40 músicas, lançou um trabalho totalmente autoral em 2014: o Ruas Cruas. Com sete músicas denominadas por César como “MPB experimental”, o álbum mostra canções que falam sobre “a poesia abstrata dos prédios, de tantas ruas, e o mistério que há por entre os becos da Rua XV de novembro”, conforme a letra de “Rua XV”, por exemplo. Sons mais calmos como este, mas também músicas de ritmo mais marcante como “Correntes”, por exemplo.

Segundo o músico, o trabalho autoral vai ganhar forma mais uma vez com o álbum Visceral, que está em fase de produção. Além da música, César também transformou o gosto por literatura em prática de vida. Escreveu o livro “Contos da Arquibancada”, com contos e crônicas sobre futebol, ainda não lançado por falta de recursos.

Atualmente, César continua levando seus trabalhos mais próximo ao público, profissão que leva com carinho e dedicação. Quando ele questiona “Onde podem me prender? Aonde podem me levar?” na música “Correntes”, ele mesmo responde a pergunta: já tocou em diversas cidades da região e foi, junto com um de seus companheiros de música Wysrah Moraes, Uruguai adentro descobrir novos lugares e contatos para parcerias, em maio de 2017.

César Lascano continua músico, continua compositor, e agora, continua professor. Voltou a dar aulas de harmônica diatônica.

Além do canal do Youtube, você também pode ouvir o trabalho de César no SoundCloud.

Para quem quiser contatar, seja para shows ou para aulas, os telefones são (53) 99997-9582 e (53) 98126-2003. O e-mail é  <ruascruas@gmail.com>. Amanhã César Lascano toca no  Black Bison (Rua Félix Xavier da Cunha, 555, a partir das 20h)  e sexta-feira no Javali BeerBrew Pub (Avenida São Francisco de Paula, 4005, bairro Areal, a partir das 18h).

“Somos os ares da cidade, a feracidade, o ectoplasma das ruas”

(Trecho de Ruas Cruas)

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