Os Carolas levam sua arte a todos os lugares

Grupo carioca atua  na Ilha do Governador com a proposta de descentralizar a produção teatral                  Foto: Reprodução Facebook

Rayane Lacerda

 

     No Rio de Janeiro, um grupo de teatro vem recebendo destaque devido a sua forma de divulgar e ganhar a atenção do público. Os Carolas realizam intervenções culturais e urbanas na cidade, reproduzindo cenas com os atores em espaços públicos, tais como as praças próximas aos teatros onde fazem apresentações. É uma ideia sugestiva para os produtores de espetáculos em Pelotas e que enfatiza a importância de projetos semelhantes que vem sendo promovidos por grupos pelotenses.

Ao conversar com Nathália Araújo, 21, uma das atrizes do grupo, pode-se compreender a importância dessas atividades culturais. “Aqui no Rio a cultura do teatro é muito restrita na Zona Sul. As outras áreas mais carentes não têm muitas peças ou coisas do tipo. A gente acredita que essas intervenções são uma boa forma de levar o público ao teatro”, explica.

Além disso, o grupo prova que as pessoas de classes desfavorecidas socialmente gostam de teatro tanto quanto quem possui fácil acesso à arte. Para os artistas, não é somente essencial a ocupação dos espaços culturais com projetos que rendam bastante público, mas que os resultados também sejam uma prova de que a população gosta de teatro e precisa desse tipo de atividade.

Fundação do grupo

A Companhia de Teatro Os Carolas surgiu em 2015 na Ilha do Governador – lado ocidental da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, e compreende quatorze bairros da cidade. Com 10 integrantes, descentralizar o incentivo à cultura e à arte é o foco principal. “Queremos elevar a arte insulana [naturalidade da Ilha do Governador] e que venham mais investimentos para a arte da Ilha, que é muito carente nesse quesito”, defende Nathália. E completa: “Todos os grupos artísticos da Ilha têm muita dificuldade de ascensão. Queremos incentivar trazendo recursos de qualidade para eles”.

Dona Carola, a peça em cartaz

 

Espetáculo  é uma comédia sobre relações de um homem com sua mãe conservadora e superprotetora     Foto: Rebecca Rúbia/Divulgação

A atual e primeira peça em cartaz do grupo chama-se Dona Carola e traz como temática principal a convivência de um filho jovem com a sua mãe idosa. É uma comédia voltada para o público adulto, escrita por Aloisio Villar em 1998. O autor, que possui mais de 20 textos teatrais encenados em todo Brasil e Lisboa, resolveu adaptar seu conto para o teatro em 2014, quando foi encenada no interior de São Paulo. A peça usa uma linguagem simples e coloquial, com a intenção de gerar um humor de fácil compreensão. As piadas são baseadas em situações consideradas constrangedoras por um filho que possui uma mãe conservadora, o que gera fácil identificação dos espectadores com a peça.

O grupo também busca reforçar a campanha “Eu quero um teatro na Ilha”, iniciada em 2014 por artistas do bairro preocupados com a cultura local. Segundo eles, a intenção do movimento é “reabrir o Teatro Óperon para uso público, com a ideia de mostrar como é difícil fazer teatro no bairro, devido à falta de espaços, o que dificulta o crescimento de grupos teatrais aqui”. A campanha iniciou após o fechamento da Casa de Cultura Elbe de Holanda devido à falta de verba para manter o espaço. “O diretor Gilberto D’alma, que trabalhava lá, junto com outros artistas da Ilha, deu início à campanha em 2014. para a região voltar a ter um espaço cultural com cursos de teatro, pintura, etc.”, explica Nathália.

Carla, a nora de Dona Carola

Nathália Araújo interpreta personagem Carla que causa indignação do público Foto: Reprodução/Facebook

Nathália fala com orgulho de sua personagem na peça. Ela explica que interpreta a nora de Dona Carola, namorada do Henrique, seu filho. “É uma figura bem geniosa e com personalidade forte, muito decidida. Gosto muito de fazer este papel. Sinto que o público sente raiva do jeito dela e gosto de conseguir causar isso, mesmo sem ser a personagem principal”, expressa. 

Ela destaca os resultados positivos que está percebendo no decorrer de todas as apresentações já feitas: “A experiência está sendo ótima! É a primeira peça adulta, com um cunho mais sério, então estou amando. É ótimo estar em uma peça que está fazendo sucesso, pois pretendo estudar artes cênicas e ser atriz”, compartilha Nathália.

O objetivo de expandir o teatro para as zonas periféricas também faz com que ela se interesse cada vez mais pelo ramo. Ao final da conversa, ela afirma que pretende, um dia, abrir um teatro de qualidade e reconhecido na Ilha do Governador.  

 O dramaturgo

Aloisio Villar acompanhou no teatro primeira apresentação da peça Foto: Arquivo Pessoal

Aloisio Villar, escritor da peça, iniciou a sua carreira artística como compositor de escolas de samba aos 20 anos de idade. Com seu texto em formato de peça em cartaz, ele compartilhou suas inseguranças e como foi o seu processo de escrita em 1998, ano em que teve a criatividade de produzir o texto Dona Carola. Inicialmente, esses contos foram publicados no site Ouro de Rolo entre os anos de 2012 e 2014. Quando questionado sobre a sua inspiração, comenta que foi motivado pelo filme Contos de Nova York, de Woody Allen, “em que uma das histórias era sobre uma mãe tão superprotetora que tomava conta da vida do filho mesmo depois de morta”.

Dona Carola surgiu em formato de conto até o escritor reencontrar a sua obra em 2014 e decidir transformar em peça teatral. Dois amigos foram os primeiros a conhecer a peça e aprovaram o conteúdo. “Insegurança sempre tem, eu tive mais no começo até dominar o texto, os personagens”, lembra sobre o início da sua adaptação para o teatro. E como ele fez para superar tais inseguranças? Respeitando o seu próprio tempo de produzir arte. “Com algumas cenas consegui pegar o jeito dos personagens e deixei que eles conduzissem a história”, explica.

Sobre as diversas reações durante as apresentações da peça, ele deixa uma linda frase: “A lágrima e a gargalhada são das maiores emoções humanas”.

Outras duas peças serão apresentadas por meio da parceria de Aloisio com o grupo Os Carolas, que se chamam Confissões de uma velha senhora e Folhetim. Villar afirma que a intenção é levar essas peças para outros teatros do Rio de Janeiro, assim como dar continuidade à proposta de descentralização da arte. Cada vez mais a arte busca alcançar todos os espaços e todos os públicos.

Links importantes

Blog do autor da peça

Fanpage do grupo Os Carolas

Site onde o conto foi publicado

Ficha Técnica

Texto: Aloisio Villar

Direção, maquiagem, arte gráfica e sonoplastia: Johnny Lima

Produção: Jeane Fontes

Figurinos e cenário: Cia. Os Carolas

 

Operador de som: Danny Ferre

Elenco:

Aleson Araújo

Maz Braian

Arthur Khalil

Nathália Araújo

Andreza Oliveira

Jeane Fontes

Johnny Lima

Loyana Borges

Filipe de Souza

Victor Veiga

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