Universo do jogo de xadrez em “O Gambito da Rainha”

Por Roger Vilela

Nova minissérie criada por Scott Frank, de “Godless”, tem mais de 60 milhões de espectadores

No fim de outubro deste ano, chegou à Netflix a produção que se tornou a minissérie roteirizada mais assistida do serviço de streaming. Em 28 dias desde sua estreia, “O Gambito da Rainha” (“The Queen’s Gambit”, no original) foi assistida por 62 milhões de usuários em todo o mundo. A produção chegou ao Top 10 em 92 países, alcançando o primeiro lugar em 63 deles.

“O Gambito da Rainha”, adaptação do livro homônimo de Walter Tevis, conta a história de Elizabeth “Beth” Harmon, interpretada por Anya Taylor-Joy, uma jovem órfã que com o seu talento conquista o “mundo” do xadrez, um esporte predominantemente masculino, entre as décadas de 1950 e 1960.

O responsável pela adaptação é o cineasta Scott Frank, que dirigiu e roteirizou os sete episódios da minissérie. Em 2017, ele criou outra fantástica produção para a Netflix, “Godless”, um drama de faroeste recheado de ação e grandes personagens. Ambas as obras funcionam como um filme de sete horas, característica que dá fluidez às tramas. 

“O Gambito da Rainha” começa com a chegada de Beth Harmon, com nove anos (Isla Johnson interpreta a versão jovem da personagem), a um orfanato do Kentucky, nos EUA, após a morte de sua mãe. É nesse local que a jovem conhece duas coisas que terão grande impacto em sua vida: os tranquilizantes e o xadrez. O responsável por apresentar o jogo de tabuleiro é o zelador da instituição, Sr. Shaibel (Bill Camp). É ele que reconhece o talento natural de Beth e a incentiva a mostrá-lo ao mundo.

A atriz Anya Taylor-Joy é a personagem principal Beth Harmon

Outros personagens são importantes para a vida da protagonista. Alice Harmon (Chloe Pirrie), sua mãe que conhecemos por meio de flashbacks, Jolene (Moses Ingram), que também é órfã e a sua melhor amiga, Alma (Marielle Heller), sua mãe adotiva, e os enxadristas D.L. Townes (Jacob Fortune-Lloyd), Harry Beltik (Harry Melling), Benny Watts (Thomas Brodie-Sangster) e Vasily Borgov (Marcin Dorociński). Há uma relação simbiótica entre eles e Beth. Há uma troca de influências (benéficas ou não), seja em suas vidas pessoais, seja no esporte que está no centro da história da minissérie.

A construção do enredo de “O Gambito da Rainha” segue uma estrutura bem conhecida: a protagonista órfã tem uma infância difícil; em um certo momento demonstra ter um dom natural para algo; com suas habilidades conquista um grande sucesso; depois de um tempo passa por turbulências e começa a se questionar; no fim, com ajuda, consegue driblar os problemas para vencer o seu maior desafio. Seguindo esse caminho, Scott Frank entrega uma produção não muito inovadora nesse quesito, mas que tem uma ótima execução.

As áreas técnicas da minissérie ajudam a dar brilho à trama. O design de produção nos transporta para meados do século passado. A fotografia utiliza magistralmente cores como o vermelho e o verde na composição das cenas. O uso da luz cria quadros lindos. A trilha sonora de Carlos Rafael Rivera é imersiva e trabalha muito bem com a edição de Michelle Tesoro.

O xadrez pode ser maçante para quem assiste, com partidas que podem durar horas. O silêncio é necessário para que os jogadores mantenham a concentração. Mas a trilha e a montagem transformam as cenas dos duelos de Beth. Eles se tornam divertidos, emocionantes ou tensos, dependendo do momento.

A minissérie também desmitifica algumas ideias, por exemplo, as visões de que o xadrez não é algo para todos e que os russos (soviéticos se levarmos em consideração o contexto da época retratada na obra) não são amigáveis. 

A primeira visão tem relação com o Sr. Shaibel. Sempre que Beth dizia que foi o zelador do orfanato quem a ensinou a jogar, as pessoas ficavam surpresas. “Um zelador?”, perguntavam com um certo grau de desconfiança. Até hoje o xadrez é considerado elitista, algo que não é verdade. O que falta é mais acesso ao esporte. Com o sucesso da minissérie, a procura pelo xadrez na internet cresceu em todo o mundo. O jornal britânico The Guardian mostrou que, desde o lançamento de “O Gambito da Rainha”, o site de vendas on-line eBay registrou nos EUA um aumento de quase 215%  no número de vendas de tabuleiros e acessórios de xadrez. A publicação também revelou que a Federação de Xadrez dos Estados Unidos (US Chess Federation) atingiu em meados de novembro a maior quantidade de novos membros desde o início da pandemia, incluindo muitas mulheres.

Durante a Guerra Fria (1947-1991), se criou nos EUA e nos países sob sua influência a visão de que os russos eram frios, pouco amigáveis e até sanguinários. Mas no final da minissérie, quando Beth é recebida de braços pelo povo de Moscou durante o auge das tensões entre os blocos oriental (URSS) e ocidental (EUA), essa idealização é posta em xeque.

Você pode se perguntar: por que do antagonismo russo em “O Gambito da Rainha”? Após a Revolução Russa (1917), Lenin, um aficionado pelo xadrez, passou a promover o esporte no país. A partir de 1922, com a formação da União Soviética, o Estado começou a investir na formação de enxadristas, que iniciavam a jogar ainda muito jovens. Como resultado do investimento, os jogadores soviéticos dominaram os campeonatos mundiais, tanto no masculino quanto no feminino, até 1991, quando a URSS foi dissolvida. A Rússia também é o país com o maior número de Grandes Mestres – titulação máxima do xadrez –, com 240 no total. Os Estados Unidos são o segundo, com 94. Devido a esse predomínio, era muito difícil o maior antagonista (que não significa ser vilão) de Beth não ser um russo ou de outra república soviética. 

Outro assunto que a minissérie trata e que permeia o mundo do xadrez é o machismo. Como já foi dito, o esporte é predominantemente masculino. Na primeira competição oficial de Beth, antes de começar a vencer seus oponentes, ela é vista praticamente como uma intrusa por estar jogando com homens, mesmo existindo uma categoria feminina. O simples fato de existir categorias que dividem os sexos em um esporte puramente intelectual implica que haveria diferenças cognitivas entre homens e mulheres, o que é uma ideia totalmente estapafúrdia.

A minissérie não aborda apenas assuntos relativos ao xadrez. As desilusões amorosas, amadurecimento, vícios, preconceitos e o papel da mulher na sociedade também fazem parte do escopo da obra.

É unanimidade que o ponto mais forte de “O Gambito da Rainha”, além da representação fidedigna das partidas de xadrez, é a interpretação de Anya Taylor-Joy, dona de um olhar penetrante. A atriz entrega uma protagonista complexa e humana, com a qual o público não tem dificuldades em se conectar.

Anya vive um ótimo momento em sua carreira, participando de sucessos como o filme “Fragmentado”, do diretor M. Night Shyamalan, da série “Peaky Blinders”, da BBC, e de “Emma”, nova adaptação para os cinemas do romance homônimo de Jane Austen, que tem grandes chances de receber indicações para o Oscar de 2021. 

Outras atuações também merecem destaque. Entre elas, a de Marielle Heller, que interpreta a mãe adotiva de Beth, e a de Thomas Brodie-Sangster, que dá vida ao enxadrista Benny Watts.

“O Gambito da Rainha” é uma obra que não fica restrita aos tabuleiros e campeonatos. Ela desnuda seus personagens, expondo vícios, aflições e desejos. Também desmascara a sociedade, questionando e revelando sua hipocrisia, ambiguidade e preconceitos. Com o sucesso que a minissérie alcançou, não será nenhuma surpresa ela ganhar uma continuação ou um derivado.

Bill Camp interpreta Sr. Shaibel, o primeiro professor de  Beth Harmon

O título da minissérie

Como a palavra “gambito” se assemelha a “cambito”, sinônimo para “perna fina”, o título da produção da Netflix se tornou alvo de inúmeros memes nas redes sociais, que utilizaram até as pernas da rainha Elizabeth II para fazer piada. Enquanto “cambito” tem origem na palavra “camba”, que significava “perna” no latim vulgar, “gambito” deriva do italiano “gambetto”, que tem o sentido de rasteira. No dicionário, gambito tem o significado de artimanha ou estratagema que tem como objetivo derrotar o adversário. No xadrez, é uma abertura que consiste no sacrifício de um peão para adquirir vantagem ou causar a perda de uma peça importante ao jogador adversário.

Existem mais de um gambito no esporte. O da rainha, ou melhor, dama (como a peça é realmente chamada pelos enxadristas), é um dos mais populares. Inclusive é uma das aberturas favoritas de Beth Harmon, que combina perfeitamente com estilo de jogo da personagem que tem como característica “acabar” com adversário logo no início da partida.

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Fenadoce Especial de Fim de Ano até dia 31 de dezembro

Por Danieli Schiavon

Feira híbrida e fora de época viabiliza a realização do evento em 2020

A tradicional Feira do Doce de Pelotas não pôde acontecer em maio deste ano, mês em que o evento ocorre tradicionalmente e reúne as principais docerias da cidade, shows, apresentações artísticas, parque de diversões e exposições dos mais diversos setores. Em 2020, a 28ª edição teve que ser adiada, ainda em março, com o avanço desenfreado do novo coronavírus. A Câmara de Dirigentes Lojistas de Pelotas (CDL) divulgou nota comunicando o adiamento da Feira para o segundo semestre do ano. Agora, em dezembro, uma Fenadoce diferente foi idealizada para  possibilitar que a cultura doceira da cidade possa ser celebrada. A Feira híbrida ocorre a partir de amanhã, dos dias 5 a 31 de dezembro.

O evento especial de Natal traz uma programação presencial em pontos estratégicos da cidade, como o Calçadão Central, Mercado Central, Praia do Laranjal, Chácara da Baronesa e Shopping Pelotas. Também haverá apresentações artístico-culturais que poderão ser assistidas de forma gratuita pela internet. Além disso, a Fenadoce vai contar com decorações de Natal pelo centro da cidade, substituindo a programação “Pelotas Doce Natal”, que ocorre tradicionalmente nesta época.

De acordo com a organização, a proposta deste evento especial está focada em reforçar e fomentar a tradição doceira, valorizar a arte e a cultura locais, promover ações sociais e estimular o comércio local. Para a gerente executiva da CDL, Adriane Silveira, foram os desafios que levaram a organização do evento a criar estratégias para que o evento acontecesse. “Como realizadores de uma feira que recebe quase 300 mil pessoas, movimenta nossa economia e valoriza a cultura e a tradição doceira, é um desafio realizar uma edição especial da Fenadoce no formato híbrido e descentralizado, levando a tradição doceira a diversos locais da cidade para não gerar aglomeração”, explica.

Quiosques de doces presentes em diversos locais da cidade neste Natal

Confira a programação da Fenadoce – Especial de Natal 2020:

TRADIÇÃO DOCEIRA
A Associação das Doceiras de Pelotas é a responsável pela fabricação dos tradicionais doces pelotenses. Os Quiosques de Doces serão instalados no Calçadão, no Shopping Pelotas, Parque da Baronesa e na Praia do Laranjal. Além disso, um aplicativo para celular estará disponível para compras.

AÇÕES ARTÍSTICO-CULTURAIS
As tradicionais apresentações que encantam a todos que frequentam os pavilhões da Fenadoce não ficaram de fora da programação deste evento especial. Nesta edição, os artistas da cidade vão se apresentar de forma remota e as apresentações poderão ser assistidas na Página do Facebook e no Canal do Youtube da Fenadoce.

Além das apresentações, a feira terá a decoração natalina, com ambientação, iluminação e as famosas formigas da Fenadoce espalhadas pela cidade. No Mercado Central, uma árvore de 15 metros de altura fará parte da decoração, que conta também com a Vitrine de Natal, onde o Papai Noel, a Formiga e as Baronesas estarão presentes.

HOMENAGEM A KLEITON & KLEDIR
A dupla musical pelotense completa 40 anos de carreira em 2020. Para homenagear os cantores, foi criada a campanha “Pelotas sempre volto pra ti”, que vai contar com a valorização de espaços da cidade citados por Kleiton & Kledir nas suas músicas.

QUEM CRESCE AQUI NÃO ESQUECE, QUEM AJUDA TAMBÉM!
Outra ação que vai compor a programação da feira deste ano é a campanha de doação de brinquedos novos e usados, promovida para resgatar a infância e ajudar quem precisa. Os artigos arrecadados na campanha serão entregues à Secretaria de Assistência Social e distribuídos às instituições de apoio infantil. Os pontos de arrecadação são o Quiosque de Doces no Calçadão Central; Vitrine de Natal no Mercado Central; Loja de Doces no Shopping Pelotas e o Quiosque Laranjal.

DOCE VANTAGEM
Visando estimular o comércio local, O CDL e a Fenadoce lançaram a campanha “Doce Vantagem”. As lojas e os empreendimentos associados à CDL que participarem dessa ação serão adesivadas com um Selo da Formiga, e os consumidores que fizerem compras nestes locais poderão trocar suas notas fiscais no valor de R$ 100,00 por um cupom da Fenadoce, concorrendo a cestas de doces para o Natal e o Ano Novo. Para participar, o consumidor deve responder à pergunta: “Por que a tradição doceira de Pelotas é tão importante?” As melhores respostas serão premiadas com as cestas. Mais informações sobre o evento podem ser acessadas nas redes sociais Facebook e Instagram e no site da Fenadoce.

Formiguinha da Fenadoce celebra comércio e arte

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Podcasts quarenteners: companhia e diversão para tempos difíceis

Por Júlia Müller

Produções pelotenses ganham destaque nas redes sociais

Diante do isolamento social, muita gente se viu sozinha, solitária, seja de maneira física ou psicologicamente. E para afagar esse sentimento proporcionado pela pandemia da Covid-19, o entretenimento foi uma das saídas para se reconectar com o mundo. Novos projetos bombaram em todos os cantos das mídias sociais, e entre os perfis dos pelotenses na rede, não foi diferente.

Seguindo a tendência mundial, os podcasts surgiram por aqui também. Um dos programas criado na quarentena foi o “Tirando o Sapato”, apresentado pelas amigas Bruna Rössler, Quetelim Andreoli, Thaís Leivas, Bruna Mendes, Eliandra Cedres e Karina Kruschardt. O programa tem uma pegada de temas puxados para as pautas LGBTI+, com foco especial nas ‘sapabis’- mulheres lésbicas e bissexuais.

As amigas explicam como o programa surgiu nas redes sociais: “Foi em uma viagem que fizemos juntas no fim de 2019. Com a quarentena, sentimos falta das nossas conversas e decidimos criar o podcast para manter a nossa proximidade, além de compartilhar as nossas trocas com o mundo”. O objetivo do “Tirando o Sapato” é bem o que diz o nome: tocar naqueles assuntos que apertam o sapato. 

Ao longo dos dez episódios da primeira temporada viraram pauta assuntos como dates e flertes pelo Tinder, signos, Setembro Amarelo, bissexualidade e representação no audiovisual. Um dos destaques é o terceiro episódio, que aborda a Teoria do Carreteiro – uma reflexão acerca dos términos de relacionamentos, inícios e tempo de superação.

No Instagram do programa, os temas vão além da divulgação dos episódios. São posts com informações históricas do movimento lésbico, reflexões sobre heteronormatividade, saúde mental e muito mais. Apesar do anúncio de breve pausa das atividades de streaming, mais de 1,3 mil pessoas acompanham as publicações. E falando em números, a conquista de público em pouco tempo foi bastante expressiva: os programas tiveram mais de um kbyte de plays e alcançaram pessoas em mais de cinco capitais Brasil afora.

> Ouça o Tirando o Sapato
> Acompanhe pelo Instagram

Equipe do Tirando o Sapato usa Instagram como meio de divulgação do podcasts e de temas LGBTI+

Podcasts teatrais
Outro projeto que merece destaque são os dois podcasts estreados pela Você Sabe Quem Companhia de Teatro. Com temáticas diferentes, ambos têm como objetivo fomentar a rica cultura teatral de Pelotas. O “Art em Pauta!” entrevista artistas pelotenses, revelando os planos para o futuro, anseios e debatendo o atual momento. Já o “Quem matou Regininha de Andrade?” é uma radionovela, até agora com três episódios.

No “Art em Pauta”, que por ora foi pausado nos streamings, foram entrevistados artistas como os atores Thalles Echeverry, Thairone Arteiro, Flávio Dornelles, Lucas Galho, a contadora de histórias Mariposa Arteira, as atrizes Brenda Seneme, Ingrid Duarte, Aline Cotrim, a ativista e conselheira do Conselho Municipal de Direitos LGBTI+ Márcia Monks e o agente cultural responsável pela plataforma Fio da Navalha, Luís Gonçalves.

Durante os meses de pandemia, a trupe seguiu com as atividades, trabalho essencial para manter a arte viva em tempos tão complicados. No Instagram, um programa de contação de histórias também teve início, além do humorístico “Os piores do mundo”.

A Você Sabe Quem Cia. de Teatro foi criada em 2013, por quatro atores e, na época, estudantes do curso de Teatro (Licenciatura) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Em 2014, em parceria com a Bibliotheca Pública Pelotense, foram iniciadas as oficinas de linguagens teatrais. Atualmente o grupo é composto por: Aline Cotrim, Caio Tavares, Damaris Cogno, Diego Carvalho, Eduarda Bento, Evelin Suchard, Giovan Lautenschlager, Isabele Vignol, Iago Mattos e Thalles Echeverry.

> Ouça o “Art em Pauta”!:

> Ouça o Quem matou Regininha de Andrade?:

> Acompanhe a Você Sabe Quem CIA de Teatro pelo Instagram

Dez entrevistas com artistas e ativistas da arte pelotense estão disponíveis no podcast

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Investigações fascinantes em “Mistérios sem Solução”

Por Daniela Mello

Série criminal do streaming aborda assassinatos e desaparecimentos não resolvidos até dias atuais

“Mistérios sem Solução” é uma série documental lançada pela Netflix em julho deste ano, que despertou a curiosidade e indignação de sua audiência, pois aborda crimes e enigmas reais não resolvidos até os dias atuais.

Em seus seis episódios da primeira parte, com cerca de 50 minutos de duração cada, “Unsolved Mysteries”, título em inglês, traz seis histórias, de uma forma bastante apurada, de assassinatos, tragédias, desaparecimentos, encontros paranormais e outros mistérios. São relatos já conhecidos nos Estados Unidos, nas últimas décadas, fazendo com que o espectador crie teorias e especulações sobre o que pode ter acontecido. 

Embora já conheçamos várias séries que envolvem o mesmo tema, especificamente esta chama a atenção pela sua forma de narrativa, uma vez que não existe um “narrador” principal, mas sim o relato conectado de todas as fontes. A partir disso, testemunhas, familiares, detetives e jornalistas narram a série com seus comentários, nos dando uma visão muito próxima das histórias e nos familiarizando com as vítimas. 

As reportagens feitas na época em que os crimes aconteceram são mostradas na série, o que nos ajuda a entender melhor as suas repercussões na mídia. Além disso, os acontecimentos de cada história são apresentados através de simulações bastante enigmáticas, despertando uma certa tensão e medo do que está por vir na próxima cena.

Histórias são contadas através dos relatos das testemunhas (Foto: Divulgação/Netflix)

Por que a série é tão intrigante?
“Mistérios sem Solução” nos intriga por sua veracidade, despertando nossa indignação em relação às suas histórias e como elas podem permanecer sem resposta até hoje. Muitos dos crimes, por exemplo, foram encerrados, o que nos faz refletir em como pode ser fácil simplesmente desaparecer sem deixar rastros, e como, às vezes, embora façam de tudo para solucionar, alguns detetives não encontram os verdadeiros autores de assassinatos horríveis. Afinal, como uma pessoa pode simplesmente sumir, sem ninguém ver?

A curiosidade e o lado detetive de cada pessoa também são outros fatores que nos chamam atenção quando assistimos a série, assim como o medo, a tensão e o pensamento de que podia ser qualquer um de nós ali dando um relato. 

Além disso, esta produção é bastante comovente e até mesmo entristecedora, uma vez que mostra o lado das famílias e amigos que as vítimas deixaram, e como a justiça também pode ser injusta com essas pessoas.

Sem solução mesmo?
De uma forma única, a série consegue fazer com que a sua audiência realmente se envolva com as histórias, uma vez que oferece um site para que essas pessoas possam dar depoimentos anônimos sobre os crimes. A partir disso, o espectador é convidado a contribuir com qualquer informação que ajude a solucionar o mistério.

O Unsolved.com é o site oficial da série, e graças a ele alguns casos voltaram a ser investigados após a primeira temporada de “Mistérios sem Solução”, pois houve relatos que talvez se encaixem com as situações de alguns crimes.

Quem lembra de Unsolved Mysteries?
Para quem não sabe, a nova série da Netflix é um reboot da série paranormal com o mesmo título dos anos 90, possui os criadores originais, John Cosgrove e Terry Dunn, além da contribuição de Shawn Levy como produtor executivo, responsável também pela produção de “Stranger Things”.

Vale a pena assistir?
Para quem gosta de documentários criminais, essa série tem tudo para se tornar uma de suas favoritas, pois é cativante, tem um bom enredo, possui uma boa produção e nos envolve com suas histórias a cada minuto. É o tipo de série que nos deixa acordados à noite, pensando no que aconteceu e como uma situação poderia ter sido evitada se tal pessoa não estivesse no lugar errado e na hora errada. Então
sim, vale a pena assistir.

Confira o trailer:

Além disso, já é possível conferir a segunda parte da produção, lançada em outubro, com a mesma abordagem, mas com novos casos curiosos na Netflix.

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Especial de Natal da Fenadoce

Por Anarelli Martinez

A Feira Nacional do Doce terá programação de 5 a 31 de dezembro

Com o objetivo de fomentar a tradição doceira de Pelotas, valorizar a arte e cultura local, promover ações sociais e estimular o comércio local, a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Pelotas irá promover a Fenadoce – Especial de Natal 2020, entre os dias 5 e 31 de dezembro, com patrocínio de Orsinet e Banrisul.

A programação estará alocada em diferentes pontos, como o Calçadão Central, Mercado Central, Praia do Laranjal, Chácara da Baronesa e Shopping Pelotas, contando com ações como o Quiosque de Doces da Associação das Doceiras de Pelotas, Espaço Fenadoce Cultural, com apresentações artísticas veiculadas no Facebook e canal do Youtube da Feira.

Além disso, o Especial de Natal homenageará a dupla Kleiton e Kledir, com a campanha “Pelotas sempre volto pra ti” a fim de valorizar os espaços citados por estes músicos em letras das suas composições. Outra forma de prestigiar o evento é participar do projeto “Quem cresce aqui não esquece, quem ajuda também!”, doando artigos infantis, novos e usados que serão destinados à Secretaria de Assistência Social para serem distribuídos para instituições. As doações deverão ser entregues no Quiosque de Doces no Calçadão Central; Vitrine de Natal no Mercado Central; Loja de Doces no Shopping Pelotas e Quiosque Laranjal.

Na campanha “Doce Vantagem”, as notas fiscais de compras acima de R$ 100 realizadas no comércio local poderão ser trocadas por cupom da Fenadoce e concorrer a Cestas de Doces para o Natal e Ano Novo. A ação terá um Selo da Formiga, que será adesivado nas vitrines dos empreendimentos/lojas associados à CDL que aderirem. O ponto de troca das notas será no Quiosque de Doces no Calçadão Central e Loja de Doces no Shopping Pelotas. Acompanhe as novidades pelo site da Fenadoce.

 

Baronesas da Fenadoce 2020: Taila Xavier, Driélli Lacerda e Julia de Mello           (Foto: Rafael Takaki)

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Produções do Cine UFPel ganham espaço em festivais

Por Rafaela Martins dos Santos

“Letícia, Monte Bonito, 04” é premiado no Festival de Gramado e no Mix Brasil

Laís, aparentando estar entediada, enquanto espera sentada em frente a uma vendinha de interior, decide subir as escadas da casa em busca de algo mais interessante e, de fato, encontra. É assim que começa o curta “Letícia, Monte Bonito, 04” produção de alunos do Cinema UFPel, que vem ganhando espaço e premiações em festivais nacionais. 

A história se passa em uma cidade de interior, onde duas garotas, interpretadas pelas atrizes Maria Galant e Eduarda Bento, se encontram e se descobrem durante uma tarde de calor. A narrativa foi criada pela diretora Júlia Régis, baseada nas histórias que ouviu de uma amiga. Com proposta ousada, o filme traz temas como sexualidade, descoberta e romances lésbicos com finais felizes.

“A única coisa que eu sabia é que eu queria fazer um filme com temática lésbica, era só o que eu tinha de noção. Eu comecei a pesquisar sobre o que eu queria falar e também queria muito fazer alguma coisa voltada para o público jovem, alguma coisa que eu não tive na minha criação, crescendo e descobrindo a minha sexualidade”, contou Julia Régis, sobre o processo criativo do roteiro.

Atrizes Maria Galant e Eduarda Bento interpretam personagens do filme

A produção do filme aconteceu em meio à quarentena, as gravações foram feitas poucos dias antes do coronavírus chegar em Pelotas, e a pós-produção do filme foi feita à distância. Apesar das dificuldades de finalizar o filme em meio a uma quarentena, essa situação também tem pontos positivos.

“Quando os festivais acontecem de forma física, querendo ou não, delimita muito o público. E, agora, com o pessoal assistindo online tem mais alcance. Amigos meus da minha cidade natal estão assistindo, coisa que provavelmente eles só iriam assistir daqui a dois ou três anos”, apontou Julia Leite, diretora de fotografia. 

Além do Festival de Gramado, onde ganharam o Prêmio Edição de Áudio, elas também já participaram do 4º Metrô Universitário, 5ª Diálogo de Cinema, em que ganharam o Prêmio Júri Popular, e 28º Mix Brasil, onde ganharam Prêmio do Público, como Melhor Curta-Metragem Nacional e Fotografia. E elas não querem parar por aí, o próximo passo é chegar em festivais internacionais.

“Letícia, Monte Bonito, 04” é um filme dirigido por Julia Régis, e possui uma equipe muito talentosa. Para conhecer todos aqueles que fizeram parte da produção, e acompanhar o filme nos próximos festivais que estão por vir, é só seguir a página no Instagram @leticiaofilme.

Assista o teaser: 

 

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Com Diana e Thatcher, The Crown tem quarta temporada

Por Milena Schivittez

Drama biográfico retorna com ar mais crítico e politizado no streaming

Não há como negar que desde o início do reinado de Elizabeth II, em 1953, a monarquia britânica virou um espetáculo televisivo. São décadas e décadas acompanhando a família real através das câmeras em seus casamentos luxuosos e divórcios, em nascimentos e funerais, mas nunca de forma crua e realista. 

“The Crown”, a série mais cara da Netflix, chegou neste mesmo formato, acompanhando o início da trajetória da rainha da Inglaterra, expondo alguns escândalos, mas ainda tímida ao fazer críticas aos membros da realeza. Ao longo das primeiras três temporadas, a série de Peter Morgan vai crescendo, mas não o suficiente para “cutucar a ferida”. Até agora.

A tão aguardada quarta temporada estreou dia 15 de novembro e com duas importantes adições à história, Lady Diana Spencer, interpretada por Emma Corrin e Margaret Thatcher, interpretada por Gillian Anderson. A temporada também será a última de Olivia Colman no papel de Rainha Elizabeth, Helena Bonham Carter como Princesa Margaret e Tobias Menzies como Príncipe Philip.

Agora ambientada nos anos 80, a nova fase começou focando no fato de haver, pela primeira vez na história da Inglaterra, uma chefe de Estado e uma chefe de governo, ambas mulheres, dando uma falsa ideia de que haveria uma romantização do thatcherismo e da relação entre a rainha e a primeira-ministra. Porém, logo na primeira reunião semanal entre a soberana e a governante, Thatcher afirma que não acredita que mulheres são aptas a exercer cargos importantes. 

                    A atriz Emma Corrin está no papel de Diana, a princesa de Gales                   Foto: Reprodução/Netflix

Essa é só a primeira das diversas falas preconceituosas e sem fundamento que Margaret profere ao longo dos 10 episódios. Inclusive, a própria representação da Gillian Anderson já nos apresenta um desconforto, com trejeitos e entonações caricatas que já causam estranheza a imagem de Thatcher. Durante a temporada, Morgan não se intimidou em mostrar que a primeira-ministra foi responsável por aumentar os índices de desemprego, apoiar o apartheid e governar a favor de seus interesses pessoais e de membros de sua família.

Contudo, Thatcher não foi a única a receber críticas nesta temporada. A mesquinharia, soberba e até mesmo crueldade dos membros principais da família real foram abertamente mostradas, com destaque para o segundo, sétimo e nono episódios.

Lady Di
Um dos maiores acertos da temporada foi a Lady Diana interpretada por Emma Corrin. A interpretação de Corrin, junto com a construção de personagem de Morgan, fizeram questão de humanizar ainda maia figura de Diana Spencer, que já era adorada tanto na Inglaterra quanto fora. Foram abordados seu transtorno alimentar, a forma como era tratada dentro da família, a infelicidade no casamento, a infidelidade de Charles e a própria infidelidade, a solidão, a maternidade e o carinho que recebia das pessoas como seu conforto e refúgio. A performance de Corrin chegou a ser elogiada pelo biógrafo de Lady Di.

               Gillian Anderson encarna Margaret Thatcher: proeminência política                   Foto: Reprodução/Netflix

O mesmo aconteceu com a Princesa Margaret que, desde a primeira aparição, tem sido mostrada como a principal prejudicada por todas as ações feitas em nome da Coroa. Helena Bonham Carter, repetindo o feito da temporada anterior, rouba a cena em episódio dedicado a falar dos quadros depressivos que a irmã da rainha enfrentava.

Olivia Colman, em seu último ano como Elizabeth II, até então tinha apresentado uma nova faceta à rainha, a do conformismo. Até a segunda temporada, a Rainha Elizabeth era representada como uma soberana que tentava, mesmo que na maior parte das vezes sem sucesso, equilibrar os interesses da Coroa com os pessoais e de sua família. Desde a mudança de fase, vemos uma rainha que cansou de dialogar por causas perdidas. E esta faceta continuou por alguns episódios, até chegar o momento do “embate” entre Elizabeth e Thatcher, no qual há um resgate dessa antiga característica da monarca. Colman também conseguiu encerrar sua passagem por “The Crown” de forma excepcional.

O ponto mais baixo desta temporada acabou sendo o pouco aproveitamento de Tobias Menzies, que também encerrou sua passagem pela série. Houve pouquíssimas cenas com uma presença relevante do Príncipe Philip, o que acabou reduzindo o personagem de Menzies à meia dúzia de comentários irônicos distribuídos em 10 episódios e não contribuindo para o desenvolvimento do personagem para as próximas duas temporadas. Jonathan Pryce, que irá assumir o papel na temporada seguinte, não terá muito no que se basear para construir o seu Duque de Edimburgo.

A quarta temporada de “The Crown” é, sem dúvidas, a melhor até então. Ela trouxe justamente o que faltava, uma posição menos favorável e uma interpretação mais críticas dos fatos abordados, mesmo daqueles que foram dramatizados para fazerem jus à narrativa. É uma temporada que não teve medo de mexer em situações desconfortáveis para as pessoas reais por trás dos personagens que ela representa, nem medo de apontar para situações que até hoje reverberam. São os primeiros passos para tornar essa série, que já caminha para o fim, na mais grandiosa entre as produções de streaming.

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Editora Figura de Linguagem lança livro de professora camaquense

Por Valesca Silva de Deus

A obra de Roberta Flores Pedroso resulta de quatro anos em pesquisas

A Editora Figura de Linguagem lançou no dia 12 de outubro a obra “Pão, texto & água: retrato da literatura quando negra” escrita pela professora camaquense Roberta Flores Pedroso. Em entrevista ao programa “Esquina Democrática”, da rádio Acústica FM, a autora detalhou o processo de desenvolvimento da obra.

Conforme Roberta, este trabalho de crítica literária trata-se do resultado de uma pesquisa acadêmica de quatro anos, voltado para professores. Reconstitui a história do início da educação negra no Brasil, a partir da metade do século XX. De acordo com a professora, a expressão “pão, texto e água” é uma metáfora sobre a literatura escondida desde os séculos XVIII, XIX e XX. “Falo do tempo em que havia somente pão e água, no conceito da ausência de informações, interessados e poucos leitores”, lamenta.

Segundo Pedroso, a editora independente de Rio Grande Figura de Linguagem existe desde 2017. Foi criada com a proposta diferenciada de publicar textos e obras de homens e mulheres negras do Estado, País e fora do Brasil. “Está entre as quatro maiores editoras qualificadas do país”, destaca. A empresa possui como proprietário o professor e também escritor negro, Luís Mauricio Azevedo.

Roberta Pedroso contou detalhes sobre seu livro em entrevista radiofônica (Foto: Valesca Silva de Deus)

O nome de Roberta Flores Pedroso está em destaque no site, junto de personalidades como os gaúchos Ronald Augusto, de Rio Grande, e Luís Augusto Fischer, de Novo Hamburgo, aliás duas das suas principais referências na literatura. 

Além da obra recém lançada, a professora é autora dos comentários realizado no livro “Úrsula”, da escritora maranhense Maria Firmina dos Reis, em edição de 2018. Hoje a obra é considerada uma leitura obrigatória para os vestibulares. A única versão no País com comentário, escrito por Roberta, é o da editora porto-alegrense Leitura XXI.

Assista a entrevista para a rádio no Youtube.

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Lei Aldir Blanc auxilia produtores culturais em Canguçu

Jéssica Griep Timm

Governo federal garante repasses em meio à pandemia do Coronavírus

Criada em 2020, a Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc estabelece ações de assistência ao setor de cultura durante o decreto de estado de calamidade pública da União em meio a pandemia do Coronavírus, visando garantir uma renda emergencial para estes trabalhadores.

As ações contemplam os produtores culturais, espaços artísticos, micro e pequenas empresas culturais, cooperativas, instituições e organizações comunitárias que precisaram interromper as suas atividades devido às medidas restritivas para o controle do vírus Covid-19.

A lei aprovada pelo governo federal em junho de 2020 estabelece a entrega de 3 bilhões de reais para estados, Distrito Federal e municípios para aplicação em ações no setor cultural.

A legislação recebeu o nome de Aldir Blanc em homenagem ao escritor e compositor que morreu em maio deste ano, devido a complicações do Coronavírus.

Quanto aos regramentos, a lei prevê que as prefeituras ficam responsáveis pela regulamentação em seus municípios. Além disso, também fica a cargo destas o recebimento e distribuição do benefício para os indivíduos aprovados.

O valor a ser pago pelo governo estadual equivale a três parcelas no valor de 600 reais durante três meses para os agentes culturais e, se a beneficiária for mulher provedora de família, o valor fica em 1.200 reais. Já o subsídio para os espaços culturais ficou definido com o valor de 3 a 10 mil reais mensais, em um parcelamento definido pelo município. 

Os interessados em fazer parte do processo precisam estar enquadrados nos requisitos exigidos pelo edital. Além disso, é necessário preencher os formulários de cadastro estadual e municipal e solicitar a homologação do seu cadastro. Após homologado, será realizada uma verificação da existência e funcionamento do cadastrado para posteriormente realizar a emissão do certificado de validação.

No município de Canguçu, todos os produtores culturais que apresentaram a documentação exigida foram beneficiados. Conforme explica o coordenador do Departamento de Cultura do Município, Rudinei Domingues. 

“Todos aqueles que apresentaram toda a documentação exigida foram contemplados. No entanto, é necessária uma prestação de contas após 120 dias do recebimento do recurso, bem como, a formulação de uma contrapartida após o período de pandemia com projetos gratuitos nas escolas municipais, conforme prevê o inciso II”, completa. 

O professor de danças, Guilherme Ellwangue, que é um dos beneficiários do projeto, relata a importância de atenção ao setor cultural, uma vez que essa área profissional foi uma das principais prejudicadas pela pandemia.

“Este foi um ano difícil para quem trabalha com cultura. Essa lei é uma forma de sobreviver em meio a pandemia. Nós somos produtores de cultura, fico feliz com esse olhar para essa área”, destaca.

Guilherme também relata como foi o processo de inscrição e aprovação ao auxílio emergencial cultural. “O município de Canguçu foi um dos primeiros a realizar os cadastros de inscrição, já o recebimento da verba demorou um pouco mais para sair. Mas agora já estamos com esse valor, que é muito importante para os trabalhadores de cultura”, complementa. 

Ao total, 128 produtores culturais e espaços artísticos do município de Canguçu foram contemplados pela Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc. O valor total liberado pelo Governo é de 406 mil reais.

Lei de emergência cultural recebeu nome do escritor e compositor Aldir Blanc

Todas as informações sobre a regulamentação e os beneficiários estão disponíveis no site da Prefeitura Municipal de Canguçu. Acesse aqui. 

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Uma pergunta: “O que é Loucura?”

Por Carolina Amorim

Livro lançado em 1982 sintetiza várias indagações sobre o tema

O livro “O que é loucura?”, de João Augusto Frayze Pereira, foi publicado pela primeira vez em 1982 pela editora Brasiliense e é formado por indagações e pesquisas de um dos principais autores do campo, Michel Foucault e sua obra “História da Loucura”. No entanto, Frayze-Pereira deixa nítido que muitos são
os autores consultados entre os poucos citados para a elaboração do livro. 

Dividida em cinco capítulos, Frayze-Pereira inicia sua obra com o subtítulo “Uma Questão Problemática”, em que aborda o tema loucura como uma maneira de despertar a reflexão, e deixa claro a sua intenção: dar margem ao leitor repensar seus próprios pontos de vista. Com isso, seu plano é questionar o vínculo tradicionalmente estabelecido como necessário entre loucura e  patologia e compreender, ainda que em  linhas muito gerais, como se torna possível a loucura no mundo moderno.

Em seguida, o autor refere-se à “Doença Mental ou Desvio Social”, trazendo a fórmula de Carl Wernicke: “as doenças mentais são doenças cerebrais”. Com isso, ele comenta sobre a doença mental ser algo orgânico e não imposto para um indivíduo, qual seja sua forma, comentando ainda sobre os sintomas e os especialistas de cada área. Com o decorrer das ideias, há explicações sobre a interligação do delírio e alucinações, além de psicoses, mudanças de humor e o desvio social de cada pessoa julgada pela doença. Sinaliza a colocação  da antropóloga americana Ruth Benedict que, na década de 30, pontua sobre a sensação de pertencimento a um determinado grupo e o desvio social como uma fuga.

No terceiro capítulo, intitulado de “Uma Lição Etnológica”, há exemplos de como a cultura de um determinado povo pode causar confusões sobre o que de fato é a loucura. Por exemplo, Frayze-Pereira cita um tipo de crise de uma região na Malásia chamada “amok”. Um homem poderia sair do estado calmo e entrar em uma situação de fúria, assassinando a todos que estivessem em seu percurso. Essa atitude era considerada como uma forma de possessão demoníaca, mas integrada aos valores próprios daquela cultura. 

O livro aborda que as variações de crenças em cada região podem ser também confundidas como doenças mentais. De alguma forma, conforme o autor, o corpo humano acaba se tornando o “veículo do sagrado”. Há diversas explicações do sobrenatural que desconhecidos no assunto podem ligar à doença mental. No entanto, o autor ressalta que essas diferenças são possíveis devido à diversidade dos povos e de suas religiões. Em seguida, em “A Determinação Histórica Da Loucura”, é citado Michel Foucault e sua obra, definindo a loucura em termos de “doença” como uma operação relativamente recente na história da civilização ocidental. O texto “História da Loucura”, segundo Frayze-Pereira, fundamenta essa afirmação, revelando as verdadeiras dimensões daquilo que se acredita ser uma realidade incontestável, isto é, a loucura tratada na medicina e não uma “aberração”. Ao longo das páginas desse livro a loucura ganha o sentido de “fato de civilização”, mostrando que em determinado momento histórico que a “doença mental” passa a existir como máscara da loucura. 

O último capitulo é baseado em indicações para leituras, uma vez que Frayze-Pereira utiliza como base para seu livro. Em suma, a obra é composta por uma linguagem compreensível aos graduandos e é baseada em histórias interessantes não só para alunos de psicologia, mas também de outras áreas como medicina, história e antropologia, já que cita culturas e suas diversidades no mundo. O livro é indicado para alunos que querem uma base de como é a história de doenças mentais e suas interpretações de acordo com cada cultura.

João Augusto Frayze-Pereira. (Foto: Guili Minkovicius)

Sobre o autor:
João Augusto Frayze-Pereira possui um histórico acadêmico ampliado, chegando a professor Livre Docente (USP) e Psicanalista (SBPSP). Além disso, ele possui experiência de pesquisa no campo interdisciplinar Arte-Estética-Psicanálise, com ênfase em Fundamentos e Crítica das Artes. É autor de livros e artigos sobre, principalmente, temas relacionados aos seguintes campos: Corpo, Arte e Dor; Estética e Clínica Psicanalítica; Fenomenologia da obra de arte, Psicanálise e Estética da Recepção.

 

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