Douglas Vallejos anima ruas de Rio Grande em meio à pandemia

Por Carolina Ferreira 

O mocinho canta na calçada de sua amada uma serenata para chamar sua atenção e declarar o seu amor. Essa é uma cena comum nas telas de cinema, mas nos últimos meses tem sido comum também na cidade de Rio Grande. O músico Douglas Vallejos, acompanhado de sua mulher e seu saxofone, tem emocionado diversas famílias que encomendam o seu pacote de serenatas. 

Por conta da pandemia do novo coronavírus, o ano de 2020 está sendo desafiador para todos. Entre um fechamento total e uma eventual flexibilização do comércio, bares e casas de show, considerados serviços não essenciais, encontram-se longe de uma perspectiva de reabertura. Porém, é justamente nesses lugares que músicos, como Douglas, obtêm seu sustento. Sob o cenário de passar meses sem poder realizar o seu trabalho, o músico teve que ser criativo e se reinventar. 

Douglas Vallejos participa de vários projetos musicais (Foto: Divulgação)

Douglas encontrou uma maneira de seguir levando a música para as pessoas sem causar aglomerações: as serenatas na calçada. Ele conta que a ideia surgiu no meio de abril, quando um amigo pediu que ele fizesse uma serenata para comemorar o aniversário de sua sogra. O vídeo da serenata foi postado e, desde então, Douglas não passou mais um dia sequer sem ser chamado para tocar. O pacote de serenatas é composto por três músicas, e a apresentação é feita respeitando a distância recomendada.  Além das serenatas na calçada, o músico também realiza chamadas de vídeo e cartões digitais. Ele conta que tem feito chamadas com pessoas de diversos lugares do Brasil e até de outros países. 

O projeto recebeu o nome de Ame Mais com Música, e ele pretende seguir com a ideia mesmo depois da reabertura das casas de show. Ele destacou que, muitas vezes, ao tocar em festas particulares e bares, o seu público era restrito, na maioria das vezes composto por pessoas com mais dinheiro, porém, com as serenatas, é possível levar a sua música para pessoas com menos recursos financeiros. “Hoje eu consigo tocar nas vilas, tem pessoas que se emocionam quando eu começo a tocar, pessoas que nunca tinham visto um saxofone.”

Projeto Ame Mais Música emociona em suas apresentações nas ruas (Foto: Divulgação)

Douglas nasceu em Pelotas, mas cresceu e viveu a vida toda em Rio Grande. De família evangélica, ele esteve inserido no mundo da música desde criança. Ele conta que começou a tocar apenas com 5 anos. A partir dos 15 anos ele começou a sua carreira profissional, dando aulas de música, atividade que faz até hoje. Ele participa de projetos com os músicos Luiz Marenco e Thedy Corrêa, do grupo Nenhum de Nós, entre eles o projeto chamado “A Cidade Encontra o Campo”. Além disso, Douglas também participa de diversos projetos de jazz, pop e rock instrumental. Há cinco anos faz parte da banda Absoloop, no contrabaixo, saxofones, harmônica, flauta e vocais. 

Para mais informações sobre o projeto e para contratar o serviço, visite o Instagram do projeto: @amemaiscommusica

Nossa é maravilhoso ver o Douglas Vallejos tocar saxofone. Toca na alma. Amei esse projeto Ame Mais com Música ��❤������
Madeline
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Quero orçamento para festa de 15 anos para julho…
Peter – 3/5/2022
Resposta do site: Sugerimos que tu faças contato com o músico Douglas Vallejos pelo Instagram:  https://www.instagram.com/amemaiscommusica/
Um abraço da equipe do Arte no Sul!
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Adoro sax,  acho lindo!  Douglas, estás de parabéns!
Nair Prestes

Segredos de Hollywood

Por Gilmar Hermes

Em tempo de quarentena, uma opção são os filmes e séries dos serviços de streaming, como uma infinidade de títulos. “Hollywood” é uma nova série da Netflix que teve a sua primeira temporada com sete episódios lançada em maio. Com uma excelente trilha musical de jazz, expõe alguns dos antigos segredos da meca do cinema. Recria com final feliz o passado, levando em conta tanto traumas como mudanças.

Na abertura dos episódios, aparece sempre o célebre letreiro identificando o distrito Hollywoodland, que se via nas colinas de Los Angeles entre 1920 e 1949. Depois de 1949, permaneceu somente a palavra Hollywood. E as personagens escalam as letras gigantes, o que representa os desafios que irão enfrentar ao longo dos episódios. A série acompanha a revisão crítica e também documental que outras produções vêm tratando ao longo dos anos recentes. Hollywood lança luz sobre personagens ou situações antes marginais da cultura norte-americana que, agora, podem ser vistas como o que a cidade das estrelas tem de mais provocador para mostrar.

O diretor e um dos produtores Ryan Murphy disse na divulgação para a imprensa que a ideia da série foi fazer um retrato esperançoso e otimista da Hollywood dos anos 1940. A história, porém, parte do registro de um lugar um tanto polêmico da história do distrito, o posto de gasolina onde “trabalhadores do sexo” se encontravam com celebridades através da senha “Dreamland”. No ano de 2018, foi lançado o documentário Scotty and the Secret History of Hollywood, em que o real dono do posto, Scotty Bowers, tem a sua vida retratada. Em co-autoria com Lionel Friedberg, ele escreveu a autobiografia Full Service: My Adventures in Hollywood and the Secret Live of The Stars, que serviu como base para o filme documental. Uma das características da sua personalidade recente era o vício de acumular objetos encontrados em casa.  Scotty morreu no ano passado, aos 96 anos. Na série, ele é encarnado pelo personagem Ernie West (interpretado por Dylan McDermott).

O polêmico dono do posto de gasolina é vivido por Dylan McDermott. (Foto: Divulgação)

Constantemente ameaçados pela polícia, os “trabalhadores” do posto viviam cercados pela vergonha. O protagonista é Jack Castello (no papel David Packard Corenswet) um daqueles que tendia a ser visto apenas como uma mercadoria humana. O diretor se propôs a reescrever uma história imaginativa, em que os preconceitos já tivessem sido superados já nos anos 1940, quando a história se passa. E trouxe com isso ao longo dos episódios e a vida das personagens, várias questões que marcaram os movimentos de Hollywood na época e que vêm sendo transformadas pelos movimentos sociais ao longo das décadas até hoje, a discriminação racial, a falta de liberdade quanto à orientação sexual, a submissão das mulheres a papéis subalternos, os preconceitos em relação à terceira idade, etc. 

Com bastante liberdade de criação, a série produzida em 2020 mistura personagens e situações reais e fictícias. Pouco a pouco vão sendo revelados personagens reais, que às vezes são apenas uma inspiração para a história, sem a pretensão de contar literalmente as biografias. As festas na casa do cineasta George Cukor são um dos itens excêntricos, que já apareceram no filme Deuses e Monstros, inspirado na vida de James Whale, diretor de “Frankenstein” (1931) e a “A Noiva de Frankenstein” (1935), que fez trabalhos conjuntos com Cukor. Os dois estão entre os diretores queer mais famosos de Hollywood. 

Novo final para histórias reais

A produtora Janet Mock disse que a intenção foi iluminar tragédias que de fato aconteceram, mas contando uma história de triunfo. Há várias personagens reais citadas ao longo dos capítulos. As atrizes Anna May Wong, Hattie McDaniel e o ator Rock Hudson são alguns deles. Janet diz que eles eram pessoas que poderiam ser elas mesmas e assim celebradas, mas não foram. Foram vítimas do sistema de Hollywood, depreciadas, com finais tristes. A ideia foi dar-lhes um “happy end”. 

Michelle Krusiec na pele de Anna May Wong (Foto: Divulgação)

Anna May Wong (interpretada por Michelle Krusiec) foi a primeira grande estrela asiática do cinema norte-americano. Mas um dos piores traumas da sua carreira foi ser preterida por outra atriz para uma produção da Metro-Goldwyn-Mayer. A escolhida fez o papel com maquiagem para parecer asiática.

Com dezenas de participações em filmes, Hattie McDaniel foi a primeira atriz afrodescendente a receber um Oscar por sua atuação em O Vento Levou, mas ela precisou de uma autorização especial para comparecer ao evento, pois o local da cerimônia não aceitava a presença de pessoas negras. Na série a atriz e cantora Queen Latifah faz uma participação especial interpretando a personagem da atriz, que apoia a jovem Camille Washington (interpretada por Laura Harrier) na conquista de um lugar ao sol, apesar do racismo. 

Cena com Laura Harrier e Queen Latifah (Foto: Divulgação)

Outro personagem, Rock Hudson (na pele de Jake Picking), foi um galã do cinema hollywoodiano nos anos 1950 e 1960, com inúmeras atuações no cinema e na televisão, sendo um dos atores mais populares do seu tempo. Foi perseguido com ameaças em decorrência da sua homossexualidade. E foi a primeira grande celebridade a morrer em decorrência da Aids, tendo marcado com a sua própria vida o início da luta contra essa doença.

Jake Picking no papel de Rock Hudson

O personagem que incorpora o vilão Henry Willson (interpretado pelo ator Jim Parsons) é a materialização dos abusos dos empresários no meio cinematográfico com assédios e submissão dos atores e atrizes aos seus interesses escusos. Esse personagem representa de fato o homem que foi empresário do ator Rock Hudson. O produtor Ian Brennan considera que a série está sintonizada com o movimento #Metoo, denunciando as dinâmicas dos movimentos de poder abusivos. Ryan Murphy diz que a história real é dolorosa e continua sendo, mas, justamente, sua intenção foi produzir um final feliz.

Jim Parsons interpreta vilão da história (Foto: Divulgação)

Na história, artistas jovens lutam por um lugar ao sol na indústria cinematográfica. Em meio a uma multidão, enfrentam as mais diversas adversidades, ameaças de manipulação e acordos forçados. A luta pelo reconhecimento artístico vem lado a lado com os dilemas da vida pessoal, em que raça e identidade sexual são ingredientes significativos. Experimenta-se filmes dentro do filme e a própria vida passa a funcionar como um filme. 

Deixar de vender o corpo para viver do seu processo criativo é a luta do ator que se até certo ponto se deixa humilhar para conseguir chegar às telas. O corpo aparece como uma moeda de troca em um ambiente em que a palavra “hipocrisia” funciona como uma senha para explicar tudo. 

As questões raciais têm especial relêvo. A atriz negra quer evitar o estereótipo dos papéis de empregada. O roteirista  Archie Coleman, que é um homem gay e negro (interpretado por Jeremy Pope), é barrado pela cor da pele de assinar o seu nome no roteiro de sua autoria. A atriz com traços orientais também é discriminada. E o candidato à carreira de diretor, Raymond Ansley (com Darren Criss no papel) que se diz “meio asiático”, vai cumprir com o papel de fazer mediação com os produtores “brancos”. Também o papel do dinheiro e a violência justiceira da máfia não são esquecidos.

 De episódio a episódio uma ou outra temática é mais enfatizada. E o final desta temporada é definitivamente hollywoodiano, imerso no imaginário que que o reconhecimento do Oscar representa e com muitas emoções. Um aspecto importante é a exposição ao longo dos episódios do processo de produção de um filme desde a escolha do roteiro até a finalização do projeto, descrevendo as várias armadilhas e empecilhos que possam surgir ao longo do caminho.

Jeremy Pope, Darren Criss e David Packard Corenswet encarnam a luta de jovens talentos (Foto: Divulgação)

 

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Projeto congrega trabalhos artísticos de várias áreas

O Projeto Canal Satolep está fazendo uma campanha para financiar 125 trabalhos artísticos digitais das áreas de teatro, dança, música, artes visuais, audiovisual, folclore, literatura ou artes interdisciplinares. As inscrições estão abertas até o dia 19 de junho e os trabalhos selecionados receberão o pagamento de R$ 300,00.

Conforme o produtor Carlos Escouto a ideia visa estimular o processo de criação dos artistas durante a pandemia, financiando obras artísticas em formato digital. Os trabalhos serão divulgados diariamente nas plataformas do Canal Satolep do Facebook e Youtube, além dos perfis no Instagram e Twitter. Serão lançados dois vídeos diários durante 63 dias de programação.

Qualquer artista interessado pode se inscrever, com a identificação feita pelo número do CPF. O interessado em participar não pode ter vínculos como servidor público, seja no âmbito municipal, estadual ou federal.

Os critérios de seleção serão o currículo; repertório do grupo/artista; coerência técnica na construção da proposta, assim como a qualidade da apresentação; linguagem acessível; e a singularidade e força da obra como trabalho artístico. O vídeo deverá ser gravado na horizontal, com duração entre cinco e 20 minutos e ter qualidade mínima de 720p.

Deverão ser anexados o currículo/portfólio, proposta artística e links de vídeos de trabalhos já realizados ou em construção. A proposta não pode estar disponível nas plataformas de Youtube e Facebook.

A previsão inicial de entrega do produto finalizado é para a partir do dia 10 de julho. A organização entrará em contato com as propostas selecionadas, que terão o prazo de cinco dias para os proponentes enviarem o trabalho.

Deverão ser selecionadas para a programação do Canal as propostas com qualidade técnica comprovada.  O critério de desclassificação caso haja necessidade se dará por sorteio entre as áreas com equiparações de currículos.

De acordo com o produtor Carlos Escouto, este é um projeto que tramitará na lei de incentivo a cultura estadual LIC/RS. Após as inscrições, ele será enviado para a Secretaria de Cultura e Conselho de Cultura do Estado para análise e aprovação em adequação a lei de incentivo. “Passada esta fase, entraremos então na execução do projeto da programação do Canal SATOLEP com a gravação e exibição dos trabalhos”, explica.

A inscrição se dará através do preenchimento do formulário neste link.

Outras informações na página do Facebook do projeto. 

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Tédio em “Campo do Medo”

A atriz Laysla De Oliveira é a protagonista do filme lançado neste ano

Por Liziane Stoelben Rodrigues

Campo do medo(In the Tall Grass) é um filme de terror lançado neste ano pela Netflix. Em uma  viagem de carro, no Kansas, uma moça grávida e seu irmão escutam uma criança pedindo socorro em um matagal. Eles entram no terreno para ajudá-la e se perdem um do outro sem conseguirem voltar para a estrada. Sob direção de Vincenzo Natali, a obra foi escrita por Stephen King (autor de O Iluminado,  It- A Coisa e  Os Estranhos) e seu filho Joe Hill, que costumam inovar no gênero terror. Não foi diferente aqui, mas a produção peca em alguns aspectos, tanto que leva o filme a sensações diferentes que vão de medo e tédio em questão de segundos.

Mesmo que desde o começo do filme exista uma tensão sobrenatural, o filme trata de uma premissa simples, conta a história de dois personagens perdidos em um lugar incomum (um matagal). Depois, vai explorando o incômodo natural dessa situação, soltando pistas dos mistérios sobrenaturais do lugar. Posterior a isso, a narrativa dá uma reviravolta, o que antes era incômodo se transforma em desespero ao ponto que uma sucessão de fatos estranhos nos leva a uma experiência diferentemente cativante.

O terror está nas situações mais simples, como o fato de um personagem cair um tombo de um lugar alto e sem saber se ele está ou não vivo. Na sequência de fatos, os autores têm bastante espaço para desenvolver as histórias adaptadas de um livro (escrito pelo próprio Stephen King), mas sem estabelecer uma relação harmônica entre os diversos ingredientes da narrativa. A partir do momento em que certos personagens se encontram, algumas histórias externas vêm à tona e isso atrapalha o roteiro por apresentar muitas brigas e situações descartáveis para o todo do filme.

O problema está no vício de seguir os mesmos rumos de outras obras do gênero, ao ponto que algumas cenas são basicamente pessoas correndo sem nenhuma razão aparente, sem que exista nenhuma preparação do espectador para tal. A tentativa de criar um vilão para a história ser completa é equivocada por se tornar um pouco clichê para o terror proposto no filme.

A ideia da loucura de alguns personagens é bastante importante para o andar da história, porque pessoas em plena consciência não dariam nenhum seguimento ao desenrolar do filme. A continuidade é bastante confusa por trazer muitos elementos diferentes que, ao mesmo tempo, não são muito explicados, o que acaba comprometendo a coesão da história.

O filme faz uma breve insinuação de como a personalidade das pessoas é, de fato, trazendo argumentos como a pretensão do texto de mostrar que as pessoas têm lados e momentos diferentes. Nem sempre serão só boas ou ruins, mas, em tempos diversos, arrogantes ou justas, acessíveis ou intolerantes.

A produção acaba ficando desinteressante por tentar trazer muitas coisas ao mesmo tempo sem dar conta de quase nenhuma delas. Mas não deixa de ter pontos de profundidade e significado. O enredo atribuí ao imaginário do campo elementos que são possíveis estarem ali, como a pedra gigante, a plantação alta, diferenças climáticas e conflitos de localização entre os personagens.

Link para o site oficial do filme.

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Ódio tratado com humor ácido

Sete personagens são interpretados por Dario Grandinetti, Erica Rivas, Oscar Martinez, Ricardo Darin, Leonardo Sbaraglia, Rita Cortese e Julieta Zylberberg               Foto: Warner Bros Pictures/Reprodução

 

Por Luana Medeiros 

O filme hispano-argentino Relatos Selvagens (Relatos Salvajes) é uma antologia dividida em seis curtas-metragens: PasternakAs RatasO Mais ForteBombinhaA Proposta Até Que a Morte Nos Separe O filme, dirigido por Damián Szifron e produzido pelo aclamado cineasta espanhol, Pedro Almodóvar, retrata as histórias de personagens que, motivados pela raiva e pelo estresse, veem-se em situações de extrema violência e vingança. Através desses contos de humor ácido, o diretor demonstra ao espectador o quanto o ser humano pode se tornar violento diante de situações de conflito, que a princípio são vistos como acontecimentos triviais do dia a dia.

O primeiro curta (Pasternak) conta a história de um homem que reprimiu suas frustrações durante muito tempo, e que decide se vingar da forma mais inusitada possível: reunir todos aqueles que, de alguma forma, prejudicaram a sua vida, num voo com um “destino final”, já que o personagem vingativo lança o avião em direção a casa de seus pais. Por mais que o desfecho nos cause um certo desconforto, é interessante refletir sobre como as frustrações e decepções, que se sofre ao longo da vida, podem desestabilizar e abalar o psicológico de uma pessoa.

Já o segundo conto (As Ratas) apresenta o dilema enfrentado por uma jovem garçonete que se vê em desespero após reencontrar o agiota que destruiu a sua família.  Após diversos momentos de reflexão, a jovem decide que não deve cometer nenhum atentado ao homem e essa decisão é reforçada no momento em que o filho do agiota aparece na lanchonete. Porém sua chefe não possui o mesmo autocontrole, o que resulta no envenenamento do indivíduo. Esse episódio apresenta diversas situações em que o humor mórbido é fortemente evidenciado. Uma das melhores passagens do curta é o momento em que a chefe da jovem questiona se o veneno vencido fica “mais” ou “menos” venenoso.

No curta intitulado como O mais forte, a história é representada por dois personagens masculinos que desencadeiam uma série de atos violentos após um desentendimento na estrada.  O curta é um dos mais interessantes do filme, visto que esse tipo de situação é muito presente no cotidiano das pessoas, o que certifica o quão grave pode se tornar uma situação em que não prevaleça o mínimo de respeito.

Os respectivos curtas Bombinha e A Proposta são os que menos impactam os espectadores. Por mais que apresentem questões enraizadas em nossa sociedade, como, por exemplo, um homem indignado com a burocracia existente no sistema de seu país ou um empresário corrupto disposto a subornar qualquer pessoa para livrar seu filho da cadeia, as histórias são forjadas em contextos que não condizem com  a realidade da maioria das pessoas, e isso acaba afastando a ideia de que são “conflitos que podem acontecer com qualquer pessoa”.

Sem dúvida, o diretor Szifron deixou a ‘cereja do bolo’ para o grand finale. O curta Até que a morte nos separe conta a história de uma noiva que entra em colapso após descobrir, em seu casamento, que o noivo mantinha uma relação extraconjugal com a colega de trabalho. A noiva traída consegue transformar seu casamento, em poucos instantes, em um verdadeiro “show de horrores”, compartilhando seus pensamentos mais sórdidos e vingativos com todos os seus convidados.  Com um enredo cômico e, de certa forma, inusitado, o filme termina com uma visão otimista do caso apresentado, visto que diante de tantas revelações e atritos, o casal retoma o controle da situação e revela que o amor pode prevalecer, mesmo em meio a tantos conflitos.

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Gabriel Dias segue na luta pelo sonho da música

“A música sempre foi tudo pra mim”, afirma cantor camaquense Gabriel Dias

Por Sabrina Lacerda Borges

A música é, sem dúvida, uma das expressões artísticas mais influentes. Todo o mundo mantém relações com ela, e é impossível alguém não gostar de ouvir alguma melodia. Gabriel Dias é um cantor camaquense e, aos 19 anos de idade, já fez shows em vários locais da região. O músico contou um pouco sobre a sua trajetória no decorrer desta reportagem, dos shows na noite à música gospel, suas dificuldades e sonhos.

A história do camaquense com a música começou na infância, aos nove anos ele ganhou seu primeiro violão. Mas, antes disso, já criava sons com as panelas e baldes da mãe. Seu pai também é músico e teve grande influência nesta paixão. O cantor contou que cresceu rodeado por instrumentos, assistindo DVDs de shows e acompanhando sua família se aperfeiçoando cada dia mais nessa arte.

O músico lembrou que os primeiros acordes foram ensinados pelo pai. O irmão mais velho também colaborou para o crescimento do artista, dando dicas e repassando tudo que já havia aprendido. Ele assistia vídeo aulas on-line para aprender mais sobre o assunto. Depois da sua primeira apresentação aos dez anos na igreja que frequentavam, o cantor continuou se aperfeiçoando.

O jovem logo começou a trabalhar em uma loja de artigos musicais. O ambiente do trabalho aumentava seu interesse pela música e o favorecia na captação de conhecimento. Foi neste ambiente, que ele formou a sua rede de contatos. Vários músicos da região frequentavam a loja, e sua trajetória pelos bares, pubs e restaurante locais iniciou através de um convite de um deles.

Gabriel lembrou que, na primeira vez que se apresentou “na noite”, foi muito mais tranquilo, do que quando iniciou se apresentando na igreja. Ele confessou que, mesmo sabendo do seu potencial, sempre rola um friozinho na barriga no início da performance. O que começou por uma curiosidade aguçou o interesse do guitarrista ao perceber que poderia ser um meio de renda extra.

Várias cidades já foram o palco do cantor, entre elas, Porto Alegre e Pelotas. Além disso, o guitarrista já abriu shows de cantores famosos como Lucas Lucco. Ele fala que o público sertanejo, pra quem cantava, sempre ficava mais animado com suas apresentações, e suas recepções sempre foram positivas.

O lado negativo de cantar na noite, de acordo com o cantor, é a hora do pagamento. Ele lembrou de episódios onde os contratantes queriam pagar um valor menor, e se muniam de argumentos, comparando o trabalho do artista com o de demais cantores que cobravam um valor menor. Mesmo assim, Gabriel sempre se manteve firme e, no final de cada show, seu desempenho é cercado de elogios.

O guitarrista revelou que a música é sua válvula de escape e ajuda a enfrentar os problemas que possam aparecer. Quando tem um dia ruim, cansativo e se sente mau, é na música que encontra conforto. “A música sempre foi tudo pra mim”, relatou.

Para as pessoas que sonham em viver totalmente pela música, mantendo-se financeiramente, o jovem afirma que basta se dedicar, ter paciência e manter o foco nos objetivos. Ele comentou que é necessário encarar a música como um trabalho real, e exclusivo, porque ter outra ocupação pode atrapalhar no desenvolvimento e desempenho das apresentações.

Ele contou a própria experiência para ilustrar a dificuldade de manter dois trabalhos ao mesmo tempo. De acordo com seu relato, a rotina da noite e do trabalho formal acabaram esgotando-o e foi necessário escolher apenas uma das atividades. O músico optou pelo trabalho formal, onde o retorno financeiro é fixo e não necessita fazer muitas viagens.

Além dos trabalhos em bares nas noites, dos dias trabalhando no comércio local, Gabriel também se dedicava paralelamente à banda gospel “Cais”, todas essas atividades colaboram para seu esgotamento e decisão de parar as apresentações noturnas. Ele fala que, na música gospel, o trabalho artístico é movido pelos sentimentos, então é mais complicado de haver uma retribuição financeira pelas apresentações, mas não é algo impossível, precisa de um pouco mais de dedicação.

Hoje em dia, Gabriel se dedica à banda Cais, além de trabalhar em uma barbearia, e sonha em viver da música gospel ao lado de seus companheiros de banda. Ele compartilha o sonho de muitos músicos, gravar discos, e ser referência neste gênero. Gabriel garantiu estar buscando seus sonhos e continuar seu relacionamento íntimo com essa arte.

Atualmente a música gospel se tornou um fenômeno cultural no Brasil e no mundo. É algo tão grande, que rompe as barreiras religiosas e se mistura às músicas seculares. E é inegável a sensação de bem-estar que essa categoria da música causa em seus ouvintes.

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Consumimos literatura afro-brasileira?

Cantor e escritor Emicida lançou  livro voltado para crianças

Por Marcela Lima

Ao chegarmos neste mês, quando nos deparamos com a data reflexiva do dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, temos que nos fazer a pontual pergunta: O que tem sido feito pela população negra para a redução das desigualdades? Devemos observar as iniciativas voltadas para a equidade racial, pois os movimentos negros travaram uma luta diária que não deve ser negligenciada ou passada despercebida. A desigualdade, inerente à sociedade brasileira há anos, é fruto do preconceito e do racismo, por isso devemos continuar a tomar medidas equalitárias e consumir cada vez mais conteúdos produzidos pela comunidade negra brasileira e estrangeira.

Se nos determos a fazer uma breve busca on-line na plataforma de pesquisa Google, e digitarmos “autores negros” teremos uma pequena lista com um total de 35 fotinhos que ilustram a pesquisa. Por muito tempo não tivemos fácil acesso a livros de autores negros, nem ao menos nos foi apresentado ou citado no âmbito escolar a existência desses autores, e eles sempre foram participantes da literatura afro-brasileira, sempre estiveram ali.

Os escritores negros exercem um papel de suma importância na literatura brasileira, mas por que raramente ouvimos falar sobre eles? De acordo com o grupo de estudos Literafro, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o conceito “literatura afro-brasileira” ainda está em construção, mas abrange os textos que apresentam a temática negra, autores, linguagens e, sobretudo, um ponto de vista culturalmente alinhado com a afrodescendência.

Se a literatura que chega até as bancas, livrarias e bibliotecas das escolas ganhando os maiores prêmios literários são escritos por autores brancos, homens e heterossexuais, cabe aos autores que não se encaixam nesses padrões procurarem se adaptar a um tipo de mercado independente que dê visibilidade para as suas obras e reforcem a importância da mudança da construção literária do século XX. Devemos ponderar que editoras grandes não querem ver preto escrevendo sobre preto, mostrando o outro lado de histórias que sempre foram escritas, reproduzidas e nunca foram contestadas e corrigidas.

Dentre os 20 livros mais vendidos no mês de outubro, segundo a Publishnews somente um fala sobre algo que remete à raça negra, o livro “Escravidão” de Laurentino Gomes – autor branco – é o único que incita a narrativa negra. Mas onde estão aqueles 35 da pesquisa inicial do Google? Cadê o negro que procura uma editora independente que aceite lançar seu livro? Onde está mais da metade da população brasileira que é composta por negros e pardos, consumindo literatura afro-brasileira?

São questões como estas que devem nos mover e nos levar a uma reflexão sobre a nossa contribuição em uma nova forma de construção social igualitária de gênero e raça. Vamos consumir mais produtos realizados por negros? Mais literatura afro-brasileira?

Indicação: Indico o livro infantil intitulado “Amoras” do cantor e escritor Emicida. A história, contada através de poesias repletas de simplicidade, é inspirada em um interlúdio que leva o mesmo título do livro, presente no segundo disco de estúdio do rapper, Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa (2015).

“Veja só, veja só, veja só, veja só
Mas como o pensar infantil fascina
De dar inveja, ele é puro, que nem Obatalá
A gente chora ao nascer, quer se afastar de Alla
Mesmo que a íris traga a luz mais cristalina
Entre amoras e a pequenina eu digo:
As pretinhas são o melhor que há
Doces, as minhas favoritas brilham no pomar
E eu noto logo se alegrar os olhos da menina
Luther King vendo cairia em pranto
Zumbi diria que nada foi em vão
E até Malcolm X contaria a alguém
Que a doçura das frutinhas sabor acalanto
Fez a criança sozinha alcançar a conclusão
Papai que bom, porque eu sou pretinha também”

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Propostas criativas na noite LGBT de Rio Grande

O DJ Diogo Azevedo dá continuidade ao seu trabalho com a música funk e busca novas alternativas        

Por Nathalia Farias

Rio Grande, município localizado no sul do Rio Grande do Sul. Possui uma população de 207 036 habitantes, segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Vizinha de Pelotas, cidade universitária considerada referência quando se trata em vida noturna e entretenimento, Rio Grande está se mostrando uma grande aliada da população jovem e LGBT, agitando os finais de semana da cidade com propostas criativas, festas inclusivas e preços acessíveis a todos os públicos.

Com mais de dois mil seguidores no Twitter e no Instagram, a Lambe, produtora de festas totalmente rio-grandina, vem ascendendo significativamente nesse universo de entretenimento, elaborando eventos inovadores, como festas apenas com temáticas de músicas brasileiras, “sunsets”, temática “brega”, festas onde só entram mulheres, etc.

Diogo Azevedo, formado em Administração e Artes visuais, e Isadora Simões, formada em Pedagogia, são os rostos por trás da Lambe. Diogo também trabalha como DJ e afirma que começou a produzir festas depois de uma realização para o curso de Artes de Visuais na FURG, no final da sua graduação: “Depois dessa festa, acabei me interessando nesse mercado e colocando algumas ideias em prática. A abrangência da Lambe é algo que não consigo medir, tentamos abordar diversos gostos musicais diferentes, muitas vezes, eles se contrapõem e, de certa forma, perdemos público em um terreno enquanto conquistamos outros, então é uma fluidez muito intensa”.

O DJ rio-grandino ressalta que, para ele, o importante é entregar o que é prometido para o público que acompanha fielmente a produtora. “Procuro fazer um bom trabalho e esperar o resultado no dia da festa, casa cheia é sinal que conquistamos uma grande parcela, mas uma casa mais vazia com o público realmente interessado na proposta também é um resultado a se comemorar”. E quando se trata de audiência fiel, a Lambe conhece muito bem. Prova disso é a Sonzeira, festa que inclusive mudou de data para alcançar o público que iria participar do ENEM no final de semana. Com menos de duas horas no ar no Facebook, o evento já tinha mais de mil pessoas confirmadas.

A vida de DJ começou também na primeira festa produzida, o Sarau das Artes, para reduzir os gastos. “O DJ sempre compartilha um pouco de si com o público conectado na pista, é uma espécie de transe quando o trabalho flui, mas, claro, tudo depende da proposta na line-up”, explica Diogo. “Às vezes estou ali para suprir a necessidade de tocar hits comerciais do funk e, às vezes, para trazer um estilo diferente que me toca de maneira bem mais profunda. Tudo isso varia, tem que saber ler a pista e se conectar com ela para entender qual som encaixa no momento, lugar e proposta”.

“O que mais funciona ainda é o funk, é uma construção da periferia que dominou todo o cenário comercial” Foto: Stephany Borges

 

Diogo afirma estar sempre se inovando e aprendendo com outros DJs e na prática, mas o funk sempre acaba o “assombrando”: “O que mais funciona ainda é o funk, é uma construção da periferia que dominou todo o cenário comercial, o ritmo é realmente perfeito para o formato de festa. A grande resistência contra esse estilo são letras que, por muitas vezes, têm apologia misógina e machista. Tento ao máximo trazer produções que evitam essa visão”.

O funk continua sendo o seu principal material de trabalho, mas Diogo também busca outras alternativas. “Esse ainda é o estilo que trabalho como DJ, o público e os produtores esperam um set de funk vindo de mim. Porém, como produtor, vou na vertente contrária. O funk é um patrimônio cultural de peso e merece toda visibilidade que tem tido, mas já tem tantas produções abordando isso que prefiro dar visibilidade a outros estilos quando posso. É importante fugir do ciclo comercial vicioso”, opina.

Blackmay Clouds performa como drag queen desde 2017 e tem muitas fontes de inspiração, inclusive vilões Foto: Stephany Borges

Não é só de produtoras e DJs que a vida noturna LGBT é feita. Maicon Aurélio, também conhecido como Blackmay Clouds, performa como drag queen desde 2017. Drag queen (ou drag king) é o termo dado a transformistas de personagens criados por artistas performáticos que se travestem, fantasiando-se cômica ou exageradamente com o intuito profissional artístico. “Eu sempre me considerei uma criança meio esquisita e fascinada com vilões, de certa forma, identifico-me com eles pela sua história, pois normalmente os vilões se tornam vilões como uma forma de defesa após serem machucados. Então, essa foi a minha forma de canalizar toda a raiva e tristeza que eu sentia pela sociedade e o sistema em que a gente vive, criando um personagem e uma narrativa que fosse contra tudo isso”, ressalta o artista.

Ele considera que ser uma drag queen é uma forma de sobrevivência, além de ser um ato político. Maicon, que também atua como DJ, afirma que a ideia é criar atmosferas e universos: “Ser LGBT e estar em um palco produzindo conteúdo pra pessoas LGBTs me traz o sentimento de realização e esperança porque eu tento cada vez mais ocupar esses lugares, mesmo ainda sentindo que certos ambientes não nos querem como protagonistas”.

Blackmay – nome originado de um lado mais melancólico e obscuro do artista e também por sempre ser dito que ele aparentou  ter “a cabeça nas nuvens” – confessa que se inspira em absolutamente tudo ao seu redor: “Sinto-me muito inspirado o tempo inteiro, pode ser vendo uma pedra na rua ou até estando em contato com a natureza ou caminhando beira-mar. Muitas pessoas ao meu redor me inspiram, entre elas estão meus amigos e minha vó. Também sou fascinado por esse mundo de vilões, eu acho que eu sempre tento dar um toque disso nas minhas montagens por me identificar demais com esses personagens e com a história deles. Por muito tempo, eu fui excluído. E me senti uma ‘aberração’ em vários momentos da minha vida. Eu canalizo e conto tudo isso em forma de arte, usando experiências e sentimentos ruins que tive como uma força e inspiração”.

Com cada vez mais adeptos, criando cada vez mais artistas, DJs, beatmakers, cantores e dançarinos, Rio Grande se mostra uma cidade relativamente avançada para seu tamanho e sua localização, sendo berço de uma criatividade que beneficia todos os jovens através de ambientes acessíveis e confortáveis, gerenciados por pessoas também jovens que se preocupam em produzir meios em que todos sejam bem vindos.

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Monquelat vive e escreve história de Pelotas

Adão Fernando Monquelat dedica-se para a sua livraria e o resgate histórico de Pelotas       Foto: Lucian Brum

Por Lucian Brum

Em companhia de sua parceirinha, Adão Fernando Monquelat vinha se aproximando à entrada da Bibliotheca Pública Pelotense. Era início de tarde, horário em que tem frequentado diariamente a hemeroteca para pesquisar a história de Pelotas nas páginas dos jornais. Cumprimentamo-nos e perguntei se poderia entrevistá-lo: “Amanhã de manhã, passa lá na livraria”, indicou. E foi subindo as escadas com sua parceira, a yorkshire Lola, o único cão da cidade com carteirinha de pesquisador.

“Estás 24 horas atrasado”, exclamou o livreiro, quando adentrei a Livraria Monquelat na primeira hora da manhã um dia após o combinado. Sentado em sua escrivaninha, os pés fora da sandália, tomando chimarrão (com erva mate moído fino), ele estava escrevendo um artigo sobre coqueiros. Sim, esse coqueiro que dá coco, árvore que enfeitava diversos pontos centrais da cidade. E segundo o artigo publicado no blog Pelotas de Ontem, a Rua General Neto, por volta das décadas de 1815 e 1835, chamava-se Rua Coqueiro.

Adão Fernando Monquelat é uma autoridade na matéria história de Pelotas: livreiro, pesquisador, historiador, escritor, são algumas de suas atribuições. Com sede de conhecimento e paixão pelos livros, é um dos precursores da construção da atual historiografia pelotense. “A pesquisa, fora da atividade como livreiro, é minha paixão”, revelou.

Foi no início da década de 1980, quando mantinha a Livraria Lobo da Costa (na Rua Dom Pedro), que despertou para o ofício da pesquisa. Como a livraria era xará do poeta, os leitores apareciam para procurar seus livros, mas era raro encontrar editadas suas poesias. Em consequência, o livreiro se dispôs a investigar sobre o poeta nos arquivos das bibliotecas de Pelotas e Rio Grande, e encontrou um farto material. Dessas pesquisas nasceu o clássico — Antologia poética (e alguma prosa de e sobre) Lobo da Costa (1988).

“Livros de medicina em promoção”, informava o cartaz colado na estante em frente à porta de entrada. A livraria Monquelat, hoje na Rua General Teles, é uma sala onde os livros estão acomodados do chão ao teto. Sentado próximo da vitrine, ponto em que há mais luz natural, segurando a cuia firme para roncar o mate, o livreiro fixou o olhar para baixo e teve algumas reminiscências da infância. Época em que atuou pelo Santa Tecla F.C., time organizado, presidido e treinado por um barbeiro entusiasta do futebol (dono da bola e das camisetas). É nessa fase das calças curtas, que começou a assimilar na rotina do pai, o hábito que levaria para vida toda: “Eu sempre via o meu pai lendo aquele livrinho de bolso que ele tinha. Lembro-me dele no bolso de trás da calça. Sempre aqueles livros pequeninhos”, descreveu.

Sempre há movimento na livraria Monquelat: clientes que vão atrás de novas leituras, amigos que chegam para conversar, estudantes atrás de algum livro específico, pessoas querendo vender livros, passantes pedindo informação. Todos são recebidos com a mais sincera educação.

É uma das mais antigas lojas de livros da cidade, no entanto, não participa da Feira do Livro desde 1992. Da livraria já saíram títulos como: Notas à margem da história da escravidão (2009); Senhores da carne: charqueadores, saladeristas y esclavistas (2010); e Pelotas dos excluídos: subsídios para uma história do cotidiano (2014); entre outros que relatam a história do negro pelotense.

Quando indagado sobre a feira do livro trazer o tema no ano passado: “A Alvorada – imprimindo o alvorecer dos negros em Pelotas”, o livreiro desabafou: “Está atrasado. Essa homenagem já era para ter sido feita. Aliás, há uma dívida que Pelotas tem com a etnia negra, que acho que está começando a pagar. Mas não tem nenhuma rua homenageando um negro, não tem nenhum monumento, nenhum museu — tem museu para tudo —, e não tem o museu do negro. Espero que a cidade consiga fazer autocrítica. Há muito tempo que Pelotas deve isso à etnia negra”.

Reencontrei o Monquelat na hemeroteca da Bibliotheca Pública Pelotense. Ele procurava uma matéria que correspondesse à presença do Assis Brasil no Hotel Scheffer, para um artigo sobre antigos hotéis da cidade. Folheando o caderno do primeiro semestre do Diário Popular de 1924, a primeira reportagem que lhe chamou atenção foi sobre a fundação da Ponte do Retiro. Apanhou sua Canon powershot e fotografou a página. Só é permitido transcrever, ou fotografar (sem flash) o acervo de jornais, a maior fonte primária da história de Pelotas. Pois, muitas edições estão inacessíveis pelo ressecamento do papel devido ao manuseio com a fotocopiadora. “A digitalização do acervo é fundamental para salvaguardar o documento original. Se a biblioteca usou o acervo como fonte de renda, isso também contribuiu para que parte do acervo esteja deteriorado”, afirmou.

Historiador sem academicismos, sua obra foi construída com a curiosidade do saber. Juntou o gosto pela leitura com o fascínio da descoberta: “Olhando para o passado tu consegues comparar com o presente. É como alguns dizem — a história é uma roda. E o bicho que move essa roda é o mesmo. Ele só troca de roupa, e de interesse”. Monquelat passou cerca de uma hora folheando os jornais, fotografou algumas matérias que se interessou, mas não encontrou a referência sobre o Hotel Scheffer. Fechou o caderno no dia 15 de setembro. Despediu-se dos funcionários com intimidade, falando alto, com a naturalidade de estar em casa. Desceu as escadas com calma e atravessou a rua em frente à biblioteca. Costeando a praça, acompanhando da Lola em seu encalço, foram abrir a livraria.

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O Novo Caminho de Pinkman

O ator Aaron Paul está no papel principal

 

Por João Pedro Macedo

 

Alerta de spoiler! O filme El Camino: a Breaking Bad Movie, exibido pela Netflix, de Vice Gilligan, conta o que aconteceu com Jesse Pinkman (Aaron Paul) após ter sido salvo por Walter White (Bryan Cranston). No último episódio da renomada série Breaking Bad, Jesse estava sendo mantido em cativeiro e era obrigado a produzir metanfetamina para os sequestradores, já que ele era o único que sabia a fórmula do Walter White.

 

O filme parece mais um episódio da série do que uma produção independente. Cumpre com seu objetivo, que seria despertar o interesse dos fãs de Breaking Bad a assistir a série de novo e mostrar por que é um seriado tão respeitado pelo mundo todo.

 

A relação entre passado e presente é muito forte no filme, tanto que já começa com uma frase que praticamente resume todo o enredo. Logo no início, acontece uma cena que se passa no passado, antes de Jesse ser sequestrado, quando ele conversa com seu antigo “segurança”, Mike Ehrmantraut (Jonathan Banks). Cansado de traficar e um tanto traumatizado com tudo o que aconteceu na vida dele, Pinkman quer fugir e recomeçar. E, então, Mike diz para ele que a ideia é até boa, mas é impossível reiniciar do zero.

Realmente é impossível recomeçar do zero, a primeira ação de Jesse após estar livre foi visitar seus antigos amigos e pedir ajuda. Ele muda completamente seu visual nessa visita e, assim, já facilita para o telespectador entender quando o filme está ocorrendo no passado ou no presente. Com a ajuda de seus amigos, ele consegue despistar a polícia, mas ainda assim, ele precisa de dinheiro para poder mudar de identidade e fugir. Então, Pinkman vai ao apartamento de seu sequestrador que foi morto pelo Walter White em busca de dinheiro.

Como dito antes, a relação entre passado e presente é muito forte no filme e, no decorrer do mesmo, nota-se que Jesse está perturbado psicologicamente com tudo que aconteceu com ele, não consegue tomar banho de chuveiro, tem dificuldade em dormir, porém isso também faz Pinkman ganhar novas características que ele não tinha na série. Enquanto, em Breaking Bad, Jesse tinha um comportamento explosivo e inconsequente de um adolescente revoltado com a vida tentando tirar o máximo proveito dela, em El Camino, ele está bem mais cuidadoso, mais maduro e tentando fazer de tudo para poder recomeçar, mesmo que não seja do zero.

Na casa do sequestrador, Pinkman demonstra seu senso moral dizendo que não atirava em policiais para os policiais que lá estavam. Ele se entrega e assim descobre que os homens lá não eram policiais e também estavam atrás de dinheiro. Jesse consegue um acordo com eles e os três dividem o dinheiro.

Agora, com o dinheiro, Pinkman vai até a uma loja de aspiradores de pó, que também tem na série Breaking Bad. O dono dessa loja recomeça a vida das pessoas teoricamente, dando uma nova identidade e um novo local para essa pessoa viver, porém Jesse ainda não tem o dinheiro suficiente e vai em busca dos outros dois homens com quem ele dividiu o dinheiro.

Um desses dois homens foi responsável direto em manter o Jesse Pinkman preso em cativeiro, mais uma vez mostrando a ligação forte entre passado e presente. O protagonista vai atrás dele, pega seu dinheiro e, agora, sim, pode recomeçar sua vida.

No fim do filme, Pinkman vai para o Alasca, lugar que ele tinha comentado em ir para Ehrmantraut no início do filme. Lá, ele muda de identidade e tenta recomeçar sua vida, mesmo que os traumas anteriores não o tenham deixado. Ainda no final aparece uma cena surpreendente e pouco esperada, uma memória também do passado da ex-namorada de Jesse, Jane Margolis (Krysten Ritter), que na série Breaking Bad morre de overdose. Na memória, ela conversa com Jesse sobre o universo e destino e assim o filme se encerra.

O filme em si fica confuso se você não viu a série antes, porém, para um fã da série, a produção se encaixa perfeitamente e ainda faz o telespectador matar a saudade de personagens que não via faz tempo. A atuação do Aaron Paul, mais uma vez impecável, justifica os prêmios pelas suas atuações em Breaking Bad. O diretor Vince Gilligan, sem mudar muito o estilo do filme em relação à série, conseguiu misturar cenas de tensão e de comédia no mesmo filme, sem contar o desenvolvimento da trama que ocorre perfeitamente. El Camino cumpre com seu objetivo e explica o que aconteceu com Jesse Pinkman.

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