COP 30: A projeção internacional do Brasil com a pauta ambiental por Eduardo Grecco

A realização da 30ª Conferência das Partes (COP30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, sediada em Belém do Pará, representa um movimento de considerável relevância estratégica para a política externa brasileira.

A escolha do Brasil, e especificamente de uma cidade no coração da Amazônia, para sediar o principal fórum global de negociação climática (THE NATURE CONSERVANCY, 2025), transcende o debate ambiental imediato. Sob a ótica das Relações Internacionais, este relatório busca compreender como o evento posiciona-se como um catalisador fundamental para o projeto de reinserção internacional do Brasil como uma potência verde e líder do Sul Global, utilizando a agenda climática como seu principal ativo de soft power.

O tratado sobre o clima, que as COPs buscam implementar, coloca o Brasil em uma posição central. A importância de sediar a COP30 reside na oportunidade de pautar as negociações, direcionando o foco para o financiamento climático e o reconhecimento das responsabilidades históricas dos países desenvolvidos. Para o Brasil, a conferência é a plataforma para capitalizar seus vastos recursos naturais, notadamente a Amazônia, transformando-os de um passivo (visto anteriormente pelo prisma do desmatamento) em um ativo estratégico para negociações sobre mercados de carbono e fundos de preservação. A presidência brasileira, contudo, enfrenta um cenário complexo, gerenciando as negociações com “otimismo cauteloso”, ciente de que “impasses continuam” (O GLOBO, 2025), especialmente na definição de novas metas de financiamento.

O principal impacto da COP30, contudo, é de natureza geopolítica e se reflete na reconfiguração das alianças do Brasil. Em um contexto de ceticismo climático por parte da administração de Donald Trump nos Estados Unidos, a conferência em Belém permite ao Brasil solidificar sua posição como um ator responsável e construtivo. A ausência de Trump e a presença de uma robusta “delegação paralela” de governadores norte-americanos, como o da Califórnia (ESTADÃO, 2025), que buscam manter os compromissos climáticos subnacionais, abre uma oportunidade tática para o Itamaraty. O Brasil se torna o palco onde atores subnacionais de grande relevância econômica global podem ganhar destaque e reafirmar a agenda climática, independentemente da postura de Washington.

Segundo a reportagem da Terra (2025) veem na multiplicação de diálogos paralelos uma resposta pragmática a um cenário internacional de vácuo de liderança. O governador da Califórnia, por exemplo, utilizou a plataforma da COP30 para criticar abertamente a postura de Trump (TERRA, 2025), demonstrando como o evento serve de contraponto ao negacionismo. Nesse sentido, a COP30 funciona como uma “arena” para a diplomacia multinível. Ela permite ao Brasil não apenas liderar as nações em desenvolvimento, mas também se articular diretamente com estados, empresas e a sociedade civil do Norte Global (ESTADÃO, 2025), fortalecendo o regime climático “por baixo”, mesmo com a obstrução do governo federal dos EUA.

Apesar do otimismo com a projeção internacional, é imperativo reconhecer que a transposição do sucesso diplomático da COP30 para ganhos concretos não é automática. Os impasses sobre financiamento (O GLOBO, 2025) são estruturais e dificilmente serão resolvidos apenas pela boa vontade do país anfitrião. Além disso, a credibilidade brasileira está sujeita a contradições internas, como as pressões do agronegócio e os debates sobre a exploração de petróleo na Margem Equatorial. Incidentes como a “invasão de pavilhão” por manifestantes (TERRA, 2025) expõem as tensões domésticas que o governo precisa gerenciar para que seu discurso externo de sustentabilidade seja visto como crível.

Em suma, a COP30 (THE NATURE CONSERVANCY, 2025) é de vital importância. Diplomaticamente, consolida o retorno do Brasil ao centro da governança climática global. Estrategicamente, fortalece a posição negociadora do país, utilizando a Amazônia como trunfo para projetar liderança no Sul Global e criar um novo ímpeto para o financiamento climático. Funciona como uma peça tática que permite ao Brasil contornar a inação de potências como os EUA de Trump, ao fomentar alianças subnacionais (ESTADÃO, 2025). No entanto, o sucesso final dependerá da habilidade do Brasil em traduzir essa visibilidade em compromissos financeiros reais, superando os impasses históricos (O GLOBO, 2025) e gerenciando suas próprias contradições internas (TERRA, 2025).

Referências:

ESTADÃO. Sem Trump, quem são os governadores que lideram delegação paralela dos Estados Unidos na COP-30. São Paulo, 12 nov. 2025. Disponível em: https://www.estadao.com.br/sustentabilidade/sem-trump-quem-sao-os-governadores-que-lideram-delegacao-paralela-dos-estados-unidos-na-cop-30/. Acesso em: 12 nov. 2025.

O GLOBO. Presidência brasileira da COP-30 fala em ‘otimismo cauteloso’ na negociação, mas impasses continuam. Rio de Janeiro, 12 nov. 2025. Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/cop-30-amazonia/noticia/2025/11/12/presidencia-brasileira-da-cop-30-fala-em-otimismo-cauteloso-na-negociacao-mas-impasses-continua. Acesso em: 12 nov. 2025.

TERRA. COP 30: Dia agitado tem invasão de pavilhão e crítica de governador da Califórnia a Trump. São Paulo, 12 nov. 2025. Disponível em: https://www.terra.com.br/planeta/noticias/cop-30-em-30-dia-agitado-tem-invasao-de-pavilhao-e-critica-de-governador-da-california-a-trump,ccf7ce536f8a21a803066b72a9632b4566pdp3wb.html. Acesso em: 12 nov. 2025.

THE NATURE CONSERVANCY. What Is the COP Climate Change Conference?. Arlington, 2025. Disponível em: https://www.nature.org/en-us/what-we-do/our-priorities/tackle-climate-change/climate-change-stories/cop-climate-change-conference/. Acesso em: 12 nov. 2025.

*Eduardo Grecco é pesquisador do LabGRIMA 

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