A volta estratégica da relações diplomáticas Sudão-Irã por Giancarlo Gouveia

Em julho de 2024, o Sudão e o Irã retomaram formalmente suas relações diplomáticas após um hiato de oito anos. Essa reaproximação ocorre enquanto Kartum enfrenta uma guerra civil, entre as Forças Armadas Sudanesas (FAS) e as Forças de Suporte Rápido (FSR) e uma crise humanitária histórica.

A participação iraniana no Sudão tem implicações significativas, com o Irã tendo sido acusado de fornecer drones e equipamentos militares à FAS, em violação ao embargo de armas da ONU; a FAS negou essas acusações, enquanto o FSR alegou ter derrubado três drones iranianos em 2023. A cooperação militar com o Irã também serve como uma mensagem aos Estados Unidos e à França, que têm um interesse crescente na região, de que o Sudão possui alternativas de apoio externo.

No caso do Sudão, o conflito interno com a FSR já causou destruição massiva, desestabilização política e uma crise humanitária de grandes proporções, com milhões de deslocados e uma necessidade — e subsequente falta — de ajuda internacional. O envolvimento do Irã, especialmente por meio de fornecimento de armamentos à SAF, pode intensificar esse cenário, agravando o sofrimento e prolongando o conflito.

Para o Irã, o Sudão oferece um ponto de acesso estratégico à África e ao Mar Vermelho, área de grande relevância geopolítica, onde seria possível a construção de uma base militar iraniana; visto que Teerã tem um interesse em assegurar sua posição de potência regional no mundo árabe, principalmente em vista da crescente rivalidade com Israel — em vista disso, existe uma preocupação direta de Tel Aviv no surgimento de um “círculo de fogo” de bases militares hostis em volta de Israel, enquanto Teerã se preocupa com o crescimento de ataques israelenses à nações árabes vizinhas.

No entanto, esse movimento coloca o Irã em uma posição delicada; pois essa atuação em conflitos internos pode desestabilizar ainda mais as relações que o país vinha tentando se reaproximar, até mesmo com intermédio da China, com países da Península Arábica (Como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos) e comprometer a já frágil relação entre ele e esses países.

Referências:

BIC-RHR. “New Old Player in Town: Sudan-Iran Reconciliation and Its Regional Implications.” Acesso em 01 de Outubro de 2024. Disponível em: <https://bic-rhr.com/research/new-old-player-town-sudan-iran-reconciliation-and-its-regional-implications.>

Al Jazeera. “Iran, Sudan Exchange Ambassadors after Eight Years”. Acesso em 01 de Outubro de 2024. Disponível em: <https://www.aljazeera.com/news/2024/7/21/iran-sudan-exchange-ambassadors-after-eight-years.>

Gatestone Institute. “Iran’s Newest Proxy: Sudan.” Gatestone Institute. Acesso em 01 de Outubro de 2024. Disponível em: <https://www.gatestoneinstitute.org/20982/iran-newest-proxy-sudan.>

The Arab Weekly. “Sudan, Iran Exchange Ambassadors as Khartoum Lauds ‘New Phase'”. Acesso em 01 de Outubro de 2024. Disponível em: <https://thearabweekly.com/sudan-iran-exchange-ambassadors-khartoum-lauds-new-phase.>

*  Giancarlo Gouveia é pesquisador IC do  LabGRIMA/UFPEL

Translate »