Verbos humanos

Por Emmanuelle Schiavon, Juliana Santos, Lizandra Vilela e Stefany Bittencourt

A Casa do Caminho é uma ONG Pelotense que, através de homeopatias, tenta cuidar da comunidade  ao mesmo tempo que ensina lições de cidadania.

 

Já no seu princípio, uma Organização Não Governamental (ONG) necessita de um auxílio que apenas algumas pessoas com tempo disponíveis podem doar. Deve-se pensar na cacofonia de ideias que cria algo realmente ajustável ao estado em que se está inserido. Irmã Assunta, Sra. Marculina Tacca, criou, do que achava uma necessidade, um auxílio para aqueles que não poderiam pagar. Pediu e juntou um emaranhado de ideias para transformar a sede no que hoje é a Casa do Caminho – uma casa de homeopatia que humanamente transforma, ou apenas ajuda, a vida de outras pessoas que tanto precisam do que dispõe.

Desde cursos profissionalizantes de massagem terapêutica, passando por reiki a seções de acupuntura, a ONG disponibiliza para a comunidade uma série de cuidados para os mais necessitados. Nas quartas-feiras enxergam-se pessoas correndo de um lado para o outro para deixar tudo em ordem, e nas sextas e terças chegam os pacientes. Irmã Assunta atende cada um deles, com o desejo de ajudar a aqueles que precisam, mais do que homeopatia, de receita esperança para aqueles que tanto estão precisando. O intuito principal é ajudar quem não tem condições financeiras de pagar tratamentos caros, mas pessoas das mais diversas classes sociais aparecem lá em busca de um reforço para a sua fé.

A casa do caminho trabalha com o cultivo de ervas medicinais. Foto: divulgação (http://noticias.r7.com/saude/noticias/abc-das-ervas-e-plantas-medicinais-20091113.html)

A casa do caminho trabalha com o cultivo de ervas medicinais. Foto: divulgação (http://noticias.r7.com/saude/noticias/abc-das-ervas-e-plantas-medicinais-20091113.html)

Desejar

Marculina desejou passar os ensinamentos que a vida lhe mostrou. A Irmã, que era professora da Escola São Benedito para crianças pobres, começou os trabalhos voluntários com mulheres na Pastoral da Saúde, e com isso nasceu as primeiras ideias da ONG que comanda hoje.

Amparada por voluntários e funcionários que trabalham no local, ela vai construindo aos poucos um ambiente que consiga abranger as mais diversas colunas de um centro de saúde homeopático. “O bonito é a gente ver esses velhinhos que chegam aqui carregados, sem conseguir caminhar, mas fazem massoterapia, e quando saem, já estão caminhando. Sinto-me bem quando vejo uma coisa assim”, diz a Irmã.

Em 1996 ela conseguiu uma autorização com o prefeito do ano, Dr. Irajá Andara Rodrigues, para desenvolver seu trabalho de assistência de saúde popular na Rua Zeferino Costa, nº 2000, onde ainda hoje se encontra a sede. O cultivo de ervas medicinais e o atendimento aos carentes foram o princípio do projeto, que conseguiu autorização gratuita por tempo indeterminado, e a cada dia atrai mais pessoas na esperança de melhora.

“A gente sabe tantos trabalhos com plantas, tantas coisas que podemos fazer para socorrer uma pessoa. Então, por que deixá-la morrer?”. Com esse pensamento, a Irmã Assunta juntou uma legião de fãs, pessoas que contam com a ajuda que ela possa oferecer para continuar seus tratamentos médicos. Com mais que homeopatias, a ganhadora do Prêmio Betinho de 2012 – premiação que valoriza a atitude cidadã e iniciativas sociais – busca ajudar os outros.

Fazer

“O importante é não intoxicar muito as pessoas com o químico, porque nosso organismo o aceita por certo tempo, mas há um limite”. A Irmã Assunta constrói o seu fazer buscando alternativas mais naturais de cuidar da saúde. Os remédios homeopáticos a base de ervas medicinais são um subterfúgio para os medicamentos industrializados que fazem parte da vida cotidiana de muitas pessoas. Um analgésico para dor de cabeça, aspirina para gripe; e desse modo os indivíduos se viciam em drogas controladas e nem têm consciência disso.

Os próprios integrantes da Casa se referem ao lugar como espaço de cura. Com muita fé, Sra. Marculina dedica sua vida a cuidar dos outros: “Não é um trabalho meu, é de Jesus Cristo. Sou apenas instrumento. Nós nunca tivemos dinheiro, nem da prefeitura, do Estado, da congregação ou da igreja. Ainda assim, Deus nunca nos deixou faltar nada”, contenta-se. Trabalhando com os ensinamentos que primeiramente recebeu da mãe, e depois foi aprimorando ao longo da vida, o intuito da Irmã é ajudar a comunidade e cumprir a missão que lhe foi destinada.

Perto de seu aniversário de 90 anos, ela não se deixa levar pela idade. Tem a disposição que muitos jovens não têm, e enquanto puder, sempre ajudará ao próximo. Apesar da idade, a Irmã sabe que o trabalho que faz não é independente; ela precisa da ajuda dos diversos voluntários da ONG, e por isso, sempre que vai se referir a alguma atitude tomada, ela diz: Nós fazemos juntos.

Cuidar

Os pacientes que vão à Casa do Caminho são das mais variadas idades e sexos. Quem entra nos muros altos, cobertos de plantas, acha uma casa antiga com várias entradas, onde quase tudo ao redor é verde; são as ervas que ajudam a cuidar de quem passa pela porta.

O estudante de nutrição, Felipe Mendes, de 25 anos, se admira com o exemplo de cidadania e amor ao próximo que encontra quando visita a instituição. “Conheci a ONG porque minha avó trabalhava como voluntária. Comecei tomando o xarope e assim fui deixando de lado os medicamentos industrializados”, comentou Mendes. Não deixando completamente esse tipo industrial de tratamento de lado, as pessoas que buscam a Casa do Caminho clamam por uma alternativa mais suave de combater enfermidades, e em alguns casos suas últimas esperanças.

Esse auxílio, que pessoas comuns prestam aos cidadãos, abrange grande parte dos problemas. Drogados, vítimas de acidentes, pessoas com doenças graves ou apenas uma gripe fraca, elas vão pedir ajuda a Irmã Assunta, que conta com mais de 60 voluntários para manter a casa funcionando. O massagista e tesoureiro da casa – que também pode ser conhecido como “faz tudo” – Neimar Duarte Dias conta que muitas vezes o maior problema é psicológico, por isso a importância que os voluntários têm ao criar a aura do lugar.

Os que trabalham na casa chegam pelos motivos mais estranhos. Alguns são contratados para reformas, outros pacientes antigos. Duarte fala que antes de fazer o curso de massagem terapêutica foi lá para arrumar o forro da casa, e acabou se interessando pelo trabalho e ajudando na ONG. Maria Marlene Ferreira, a artista da casa, chegou lá por indicação de uma amiga. Ela já trabalhava em outra instituição como voluntária, mas no período das férias se juntou ao pessoal de lá, e agora, mais de cinco anos depois, ela continua os trabalhos.

A coordenadora da ONG, Maria Lucia Schiavon, fala da tristeza de receber algumas pessoas já no fim da vida, que infelizmente não conseguem se recuperar, ou ver um jovem se recuperando de sua dependência em drogas. Ela sente que o trabalho é cada vez mais importante. “A Irmã, com sua força de vontade, nos mantém indo até lá mesmo sem nenhuma remuneração. Aprendemos com ela que o próximo é muito importante”, comenta a coordenadora.

Os preços das atividades e homeopatias são simbólicos, apenas para manter a casa funcionando. Zaira Czermaisk, de 50 anos, que trabalha como secretária, conta que “como não há uma quantia certa, ajudo com o que tenho de dinheiro, dependendo do momento”. Os mais carentes conseguem remédios de graça, enquanto quem puder ajudar pode fazer doações para a ONG. No espírito de fazer ao próximo o que gostariam que fizessem para si, os voluntários criam uma rede de amizade e disponibilidade que mantém a Casa do Caminho funcionando há mais de 15 anos. O massagista, Paulo Ricardo Alves Morales, relata que quando não vai à casa, sente falta. “Muitas vezes trabalhamos ainda mais, por sentir a necessidade das pessoas”, comenta.

Cuidar de uma comunidade, ou prestar a atenção individualmente em cada pessoa que passa pelo caminho estreito que leva à entrada onde são feitas as fichas, esse é um trabalho feito com esmero, que contém uma gama de probabilidade muito grande. Os indivíduos se apegam, eles querem o melhor para outros que nem conhecem, e assim as histórias de vitórias – ou até de derrotas – vão se criando. Não são milagres feitos lá, são pessoas caridosas que ajudam, da maneira que podem, a construir um lugar melhor, onde as relações se estendem além do casual; são histórias de vida com atitudes amplas, são verbos muito mais humanos.

 

 

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