Tradição doceira em Pelotas
Por Juliana Moura
Neste mês de junho, a Fenadoce e os famosos doces de Pelotas foram assuntos muito comentados na cidade.
A tradição do doce em Pelotas é portuguesa, é de lá a origem das receitas dos tradicionais doces feitos basicamente com ovos, açúcar e amêndoas. Para os açorianos, açúcar e doce eram sinônimos de festa. Nas cozinhas dos conventos surgiram os ovos moles, que deram origem a outros doces que estão presentes nos mais variados doces produzidos aqui.
Em Aveiro, região de origem dos ovos moles, eles podem ser encontrados em barraquinhas de madeira, decoradas ou revestidas de hóstia, imitando formas marinhas. De outras regiões de Portugal, ainda temos o pão-de-ló de Ovar, da Murtosa ou de Serradelo, os pasteis de Águeda, os beijinhos de Sever, as barquinhas do Vouga e o arroz doce de Ilhavo, entre outros. Os imigrantes portugueses que chegavam aqui traziam em suas bagagens diversas receitas da sua região de origem. Como era escassa a produção de açúcar no Rio Grande do Sul, fazia-se necessário a importação vinda dos estados do Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Santa Catarina e São Paulo.
Chegando pelo Porto do Rio Grande, a maior parte do carregamento vinha para Pelotas. Naquela época (século XIX), já havia grande produção de frutas como a laranja, o pêssego, o marmelo e a bergamota, passando as compotas a fazer parte das mesas das famílias portuguesas aqui residentes. Aos poucos, foram introduzidos os doces cristalizados, as passas e os doces em massa, feitos em tachos por pretas velhas e vendido nas ruas. Com o crescimento econômico (1870), as festas freqüentes em Pelotas ganharam o requinte dos doces típicos portugueses, como camafeus, bem-casados, fios de ovos, fatias de braga, ninhos e pastéis de Santa Clara.
Logo, este prestígio foi rompendo fronteiras e os doces levados para fora do município e do estado, para as festas mais importantes do centro do país. Essa história sobrevive graças à dedicação de algumas doceiras que se mantém fieis às receitas dos antepassados portugueses.
A Feira Nacional do Doce
A Fenadoce surgiu em 1986 e visa promover a cultura doceira em Pelotas. Foi criada pelo Poder Público junto de outras entidades e, a partir de 1995, a sua coordenação passou a ser feita pela Câmara de Dirigentes Logistas (CDL).
A feira tornou-se anual a partir de 1988 e passou a ter endereço fixo: o Centro de Eventos Fenadoce. Antes disso, cada edição era realizada em um local diferente da cidade. Atrai visitantes de todo o país e de países vizinhos, movimentando a economia da cidade e também o turismo.
Este ano, ocorreu a 22ª edição do evento, que iniciou no dia quatro e foi até o dia 22 de junho. Uma das novidades apresentadas nesta edição foram os doces em homenagem à Copa, os “amuletos da sorte”. A iniciativa foi da Câmara de Dirigentes Logistas, que lançou o desafio às doceiras.
Encontro com as origens
Uma comitiva de doceiras veio de Aveiro (Portugal), na quinta-feira, 12 de junho, para realizar um intercâmbio cultural com as doceiras de Pelotas. “É uma oportunidade única podermos proporcionar este encontro entre as nossas doceiras e as portuguesas, que tanto fazem parte da nossa história”, disse a gerente do Centro de Eventos, Michele de Lima.