Met Gala: Karl Lagerfeld em preto e branco

Seguindo a sua tradição de sempre acontecer na primeira segunda-feira de maio, a noite mais importante do mundo da moda trouxe looks fabulosos e uma revisão importante dos feitos e ditos do homenageado da noite, Karl Lagerfeld

Nas escadarias do Metropolitan Museum, os famosos mostraram a sua leitura sobre Karl e o seu legado nas marcas pelas quais passou. – Foto: Kevin Mazur/MG23/Getty Images

Por Sarah Oliveira / Em Pauta

Sendo um dos eventos mais importantes da cultura pop dos últimos anos, o Met Gala mais uma vez retornou à escadaria do Metropolitan Museum em Nova York para mais uma edição do seu famoso baile de arrecadação de fundos para o ‘Costume Institute’ – ou o Instituto de -, organizado pela editora-chefe da Vogue norte-americana, Anna Wintour. E este ano o tema foi: “Karl Lagerfeld: A Line Of Beauty” – ou “Karl Lagerfeld: Uma Linha de Beleza”, em português.

Mas quem é Karl Lagerfeld?

Karl Lagerfeld, o tema e homenageado deste ano pelo Met Gala, com a sua gata Choupette. – Foto: @pierre_pierreetgilles/Instagram

Nascido em Hamburgo, na Alemanha, em 1933, Karl Lagerfeld veio de uma família alemã abastada, o que lhe proporcionou uma boa educação e acesso a diversas áreas culturais desde muito pequeno. Com a chegada da Segunda Guerra Mundial, a família Lagerfeld se mudou para uma cidade próxima a Hamburgo, porém, aos 17 anos o jovem Karl decidiu ir para Paris para começar a sua carreira. Apaixonado por ilustração, esse foi apenas o passo inicial para que ele se voltasse para o design de moda, tanto que em 1954, aos 21 anos ele ganhou o Woolmark Prize – um prêmio de reconhecimento à designers feito pela International Wool Secretariat (Secretaria Internacional de Lã) -, na categoria de casacos. Coincidentemente, no mesmo ano, o adolescente Yves Saint Laurent também ganhou o prêmio na categoria de vestidos – e há quem diga que foi esse o marco inicial da conturbada e duradoura rivalidade entre os estilistas. 

Conforme foi aprimorando os seus conhecimentos e técnicas, Lagerfeld foi se tornando uma figura chamativa aos olhos das grifes e designers de sua época. Começou como o assistente de Pierre Balmain – que originou a marca hoje conhecida apenas como ‘Balmain’ – e logo depois foi chamado para ser diretor criativo da maison Jean Patou, nos anos 1950. Na década seguinte, ele também passou a ser um designer freelancer para que ele pudesse expressar a sua criatividade para além dos horizontes estabelecidos na Patou e foi dessa maneira que ele começou o seu trabalho na marca Chloé, ao lado de sua fundadora a designer Gaby Aghion, até assumir o cargo da direção criativa da grife, onde ficou até o ano de 1984. 

O jovem Karl em frente ao prédio da Pierre Balmain, em 1954. – Foto: Patrimoine de Chanel, Paris

Convidado pelas irmãs Anna, Carla, Paola, Alda e Franca Fendi – sucessoras e comandantes da grife italiana ‘Fendi’, Karl iniciou o seu trabalho de cinco décadas à frente da marca através do seu maior forte: o couro e as peles de altíssima qualidade. Porém, para além do que a maison já estava acostumada, Karl ajudou a expandi-la também para o setor de roupas e acessórios, além de criar a clássica logo ‘FF’, que vem do lema ‘Fur Fun’ – ou ‘pelo divertido -, fazendo referência a maior especialidade da marca e também à inicial de seu nome. 

Os anos Chanel

Após passar por diversas grifes desde o início de sua carreira, a marca que lhe trouxe mais prestígio e reconhecimento internacional foi, sem dúvidas, a francesa Chanel – onde ele começou a sua trajetória em 1982. Em uma época em que a marca estava em um de seus maiores momentos de irrelevância, Lagerfeld trouxe a atenção de volta a maison através da sua própria reinterpretação do legado de Coco Chanel, trazendo uma modernização aos clássicos estabelecidos pela fundadora da marca. Porém nem tudo era sobre glamour quando falamos sobre Karl Lagerfeld.

Karl ao lado das modelos que desfilaram a coleção de primavera em 1992 da Chanel. – Foto: Daniel Simon/Gamma-Rapho/Getty Images

Apesar de ser uma figura de grande contribuição para a história da moda, o designer deixou o seu rastro de forma problemática. Assim como grande parte da indústria fashion sempre foi um ambiente totalmente hostil em relação às pessoas gordas – especialmente, as mulheres. Karl Lagerfeld foi uma das pessoas que mais contribuiu para esse comportamento no mundo da moda ao constantemente fazer comentários sobre pessoas com esse tipo de corpo – como a cantora Adele, por exemplo -, além de dizer em uma entrevista para uma revista alemã que “ninguém quer ver mulheres curvas (ou gordas)” sendo retratadas e, em seguida completou:

As mães gordas com seus sacos de batatas fritas (ficam) sentadas na frente da televisão e dizendo que modelos magras são feias (…)”.

Para além da moda, o estilista também altamente ativo ao compartilhar os seus pensamento a respeito de outros temas pertinentes sócio-culturalmente, como a situação dos refugiados mundialmente, da qual ele criticou a abertamente a chanceler alemã Angela Merkel e a sua política de migração e chegou a categorizar os imigrantes como “inimigos” dos judeus, devido ao passado do país com o grupo. “Não é possível, mesmo que décadas se passem, matar milhões de judeus para fazer milhões de seus piores inimigos virem (para a Alemanha)”, disse Karl á um canal francês. Ele também foi um crítico do Me Too, movimento contra o assédio e agressão sexual que surgiu em Hollywood e se extendeu para diversas outras áreas do entretenimento, dizendo que, se os modelos não queriam ser assediados no mundo da moda, ou “suas calças arrandas” como ele mesmo colocou, elas – e eles também – não deveriam ter escolhido essa profissão.

Os destaques da noite

Em meio a tudo o que circula a figura de Karl Lagerfeld, a primeira noite de maio trouxe o que realmente importava no evento: momentos de moda únicos à sua maneira em relação ao que é estipulado pelo tema e suas implicações.

ANNE HATHAWAY

Sendo uma das mais novas queridinhas do mundo da moda, Anne Hathaway compareceu ao evento junto à estilista Donatella Versace, vestindo um traje feito especialmente para ela pelo Atelier Versace, selo de alta costura da Versace. 

Anne Hathaway usou um Atelier Versace e acompanhou Donatella Versace, dona da grife, ao MET. – Foto: Jamie McCarthy/Getty Images

Trazendo o verdadeiro propósito artístico do MET Gala, o look de Hathaway trouxe o verdadeiro propósito fashion do MET Gala: trazer novas visões do homenageado trazendo a assinatura da marca por trás da criação – e é exatamente isso que a Versace fez. Combinando sensualidade, a clássica silhueta “Supermodel” dos anos 1990 e o ícone assinatura da maison italiana, a cabeça de Medusa, com o clássico tweed francês de fio de outro e a famosa Camélia – flor favorita de Coco Chanel e um dos traços mais marcantes da grife francesa. O vestido ainda conta com pinos de segurança, outro traço marcante da Versace em suas criações, feitos sob medida e especialmente adornados com pérolas, acessório essencial em um look Chanel, mescladas com emblemas da Medusa, fazendo uma alusão visual da a união das duas casas de moda até mesmo nos detalhes.

A escolha da paleta de cores também não foi aleatória, ela foi escolhida a dedo para fazer referência a cor dos vestidos de noiva Chanel e Versace, que em um desfile de moda, é sempre o visual mais importante do show. Definitivamente, o vestido de Anne Hathaway é a tradução perfeita do que deveria ser um look de MET Gala, ao mesclar tudo o que há de melhor em duas casas de moda e o seu resultado ser uma criação única e inédita.

JEREMY POPE

Um dos looks mais dramáticos da noite, o ator Jeremy Pope foi ao MET utilizando Balmain – a primeira marca que o homenageado da noite trabalhou. Criado por Olivier Rousteing, o mais jovem diretor criativo da maison, o visual de Pope é dividido pelo preto e o branco. O ator veste um colete e calça social flare – a antiga “boca de sino” – tendo como sobreposição uma capa com mais de 10 metros de comprimento com bordados florais por toda sua extensão, além de ter uma ilustração desenhada e bordada á mão com o rosto de Karl Lagerfeld.

Com o rosto de Karl Lagerfeld em sua longa capa, Jeremy Pope entregou um dos visuais mais dramáticos e lindos da noite. – Foto: Kevin Mazur/MG23/Getty Images

Utilizando mais de 5 mil metros de chiffon de seda e o trabalho de 70 costureiras, o visual de Jeremy Pope foi uma realização tanto do ator – que sempre sonhou em poder colaborar e criar algo com o diretor criativo da Balmain -, quanto do estilista Olivier Rousteing, que tinha Lagerfeld como uma grande inspiração e referência artística desde o início da sua carreira.

GISELE BUNDCHEN

Sempre marcando presença no evento, a ubermodel brasileira Gisele Bundchen passou pelo red carpet do MET Gala mais um vez e esse ano, além de referenciar ao tema e homenageado da noite, ela também fez uma referência ao seu próprio legado na moda.

A maior modelo da indústria, Gisele Bundchen foi uma das únicas brasileiras a ser convidada para o baile. – Foto: E! Entertainment/Divulgação e The Hearst Archives/Harper’s Bazaar Brasil

O vestido branco da marca em que o designer comandou por mais de 30 anos possui uma capa de plumas – uma das características assinaturas de Karl na Chanel – e pertence à coleção de alta costura primavera-verão de 2007, que meses depois, a brasileira utilizou em um ensaio fotográfico para a revista Harper’s Bazaar na edição de junho fotografada pelo próprio Karl Lagerfeld, naquele mesmo ano. 

Gisele é um dos maiores rostos na indústria, o que lhe fez ser a favorita de diversos designers, incluindo Lagerfeld.

ASAP ROCKY

Indo em direção oposta à escolha de vários convidados de replicar o visual pessoas de Lagerfeld – os óculos escuros, o cabelo preso em um rabo de cavalo baixo, luvas sem dedos, leque e terno preto & branco -, o rapper A$AP Rocky decidiu fazer referência aos momentos em o designer alemão deixava os trajes formais e se aventurar em uma vertente diferente de seu estilo tradicional.

Usando peças feitas especialmente pela marca italiana Gucci, Rocky cruzou o red carpet ao lado de Rihanna, sua namorada e mãe de seus filhos, vestindo uma blusa branca e gravata alá Karl Lagerfeld com um terno preto por cima, revisitando o ar clássico do visual pessoal do designer, junto á uma calça jeans bordada com cristais sobreposta por uma saia xadrez, criando um contraste disruptivo com a parte superior de seu look, porém alinhado com o estilo pessoal do rapper, que possui uma pegada mais urbana e descolada do rap. 

A$AP Rocky serve mais uma vez um ótimo momento de moda no MET deste ano usando Gucci. – Foto: Jamie McCarthy/Getty Images

Além disso, o visual escolhido pelo designer para caminhar ao lado das modelos do desfile de primavera-verão da Chanel, em 2005, foi referenciado por Rocky ao usar uma saia xadrez vermelha sobreposta à sua calça jeans e seus três cintos Gucci como acessório.

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