Novo renascimento

Após quase uma década em crise e fora das últimas duas copas do mundo, Itália entra com 3 times entre os oito na UEFA Champions League

Por Everson da Martha / Em Pauta

O Renascimento foi um movimento cultural, econômico e político, surgido no território onde hoje é a Itália, aproximadamente nos anos 1300 até meados dos anos 1500. Teve como grandes nomes Michelangelo, Leonardo Da Vinci, Rafael Sanzio e Donatello. Em 2023 a Itália pode estar em um diante de novo renascimento, mas dessa vez com nomes como Rafael Leão, Lautaro Martinez, Victor Osimhem e Khvicha Kvaratskhelia. 

Durante as décadas de 1980 até o início dos anos 2000, a Itália era o principal pólo mundial do futebol, pelo menos se tratando de clubes. A liga italiana era sempre competitiva, contava com os principais jogadores do futebol mundial. Nesse período passaram por lá Michel Platini, Diego Maradona, Zinedine Zidane, Ronaldo, Javier Zanetti e Cafu. Além dos craques italianos, Francesco Totti, Paolo Maldini, Franco Baresi, entre outros. Mas esse período se foi, e a Itália entrou num ostracismo no futebol.

Maradona no Napoli e Platini na Juventus. – Foto: Trivela

Sem ir a uma Copa do Mundo desde 2014, na qual não passou da primeira fase, algo que não ocorre desde o título em 2006, na Alemanha. Já na África do Sul, em 2010, conseguiu a proeza de sair sem marcar um mísero gol. Contudo, parece que o jogo virou. Ao menos é o que 2023 está indicando, com Napoli, Internazionale e Milan entre os 8 quadrifinalistas da UEFA Champions League. Eles se unem aos ingleses Manchester City e Chelsea, o alemão Bayern, o Benfica e o atual campeão e favorito Real Madrid. 

Mas um detalhe chama a atenção nesses três times italianos citados, a ausência de jogadores italianos. Os jogadores da foto de capa desta matéria são Rafael Leão, português, Lautaro Martinez, argentino, e Kvaratskhelia que é nascido na Geórgia, ex-República Soviética. A renovação não é um problema exclusivo do futebol, a Itália é um país envelhecido e isso reflete na falta de novos rostos no futebol. 

Equipes envolvidas

As equipes de Milão não figuravam entre as favoritas, ambas vem de processos de venda traumáticos. A Inter, durante quase duas décadas pertenceu à Família Moratti, tendo como seu presidente o empresário Massimo Moratti. Desde então a Nerazzurri pertence aos chineses do grupo Sunning, uma multinacional do ramo do comércio imobiliário, serviço financeiro e indústria esportiva. A equipe que conquistou a Europa 4 vezes, sendo a última em 2010, conta com um time sem grandes estrelas. Os destaques são o goleiro camaronês Andre Onana, o zagueiro eslovaco Milan Skrinjar, o meia turco Hakan Çalhanoglu e o atacante belga Romelu Lukaku.

A dupla de ataque formada pelo belga e pelo argentino é carinhosamente chamada de LuLa. – Foto: Reprodução

A equipe comandada por Simone Inzaghi enfrenta o Benfica nas quartas de final, e se passar à semifinal, será italiana, porque Milan e Napoli se enfrentam. Os Milanistas passaram pelo mesmo processo do rival, um auge e a reconstrução depois de uma venda. O Milan foi comandado por Silvio Berlusconi, ex-primeiro ministro por três oportunidades, além de empresário do setor de mídia, ele foi dono do clube por 31 anos, estando à frente de grandes momentos dos Rossoneros.

O Milan hoje é controlado pelo fundo americano RedBird Capital Partners e busca de volta o protagonismo de outrora, afinal, o Milan é o segundo time com mais conquistas europeias tendo 7 Champions, perdendo apenas para o Real Madrid que tem 14. O Milan tem como destaques os franceses Mike Maignan, goleiro, Theo Hernandez, lateral esquerdo, Olivier Giroud, centroavante, além do sueco Zlatan Ibrahimovic, de 41 anos, como alternativa. 

Agora, o outro italiano é um capítulo à parte. O Napoli literalmente renasceu. Depois da década de 1980, comandada por Diego Maradona, em 2004 o clube do sul da Itália, que vale um registro: a divisão que existe entre norte e sul italianos. Os sulistas são extremamente discriminados pelos nortistas, por questões históricas da formação da Itália como nação no final do século XIX. Essas questões são carregadas até hoje, visto que o sul da Itália é menos desenvolvido que o norte, e que muitos migraram para a parte mais rica do país em busca de trabalho, sofrendo até hoje com o preconceito.

A dupla de ataque atual abençoada por Diego Maradona. – Arte: Omar Momani

Voltando ao futebol, o Napoli, enquanto clube, faliu. Deixou de existir como instituição. A equipe foi refundada graças aos esforços do produtor de cinema Aurelio De Laurentis. Começando da última divisão nacional, o Napoli, percorreu todo o caminho de volta até a elite na temporada 2006/2007. Porém, o auge desse “novo” clube é na temporada atual 2022/2023, quando a equipe lidera com folga a Série A italiana e caminha para o terceiro título. 

A exemplo dos outros concorrentes italianos, o Napoli não tem grandes estrelas do futebol mundial mas tem uma das duplas de atacantes mais promissora do futebol formadas pelo nigeriano Victor Osimhem e o georgiano Kvicha Kvaratskhelia. Juntos eles são responsáveis por 33 dos 64 gols da equipe na liga italiana. Até agora, em 27 jogos a equipe do sul da Itália tem 71 pontos enquanto o vice tem 52, ou seja, trinta e três anos depois o Napoli pode conquistar o scudetto e quem sabe alcançar algo na UEFA Champions League. Foram sete vitórias em oito jogos com placares elásticos sobre o Liverpool, Rangers e Ajax e duas vitórias categóricas nas oitavas de final contra o Eintracht Frankfurt. 

A possibilidade de um deles chegar à final no dia 10 de Junho, no Estádio Olímpico Atatürk em Istambul, é muito grande. De um lado da chave estão os italianos e o Benfica e do outro estão os mais ricos, Real Madrid, Manchester City, Chelsea e Bayern.

Pode ser que nenhum deles chegue à final, pode ser também que esse momento seja apenas fogo de palha, que ano que vem nenhuma dessas equipes tenha algum destaque. Não se sabe se os jogadores citados nessa matéria terão carreira importante no futebol, ou se no futuro eles serão personagens de desenho animado, tal qual os renascentistas originais. Apenas as próximas gerações de aficionados por futebol irão conseguir responder.

 

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