Laboratório criativo gaúcho desenvolve roteiros audiovisuais coletivamente

Por Juliana Santos

Uma das primeiras produtoras de roteiro audiovisual do Brasil resolveu juntar seus conhecimentos e passá-los adiante. O projeto Alfaiataria Itinerante, da Coelho Voador de Porto Alegre, selecionou grupos de cinco pessoas em sete cidades do Estado para trabalhar na produção de roteiros para uma série televisiva, gratuitamente.

Alegrete, Bagé, Caxias do Sul, Passo Fundo, Pelotas, Porto Alegre e Santa Maria contam com quatro consultores de criação para desenvolver seus roteiros, além de um coordenador em cada cidade. Iniciar um projeto audiovisual escrito do zero parece ter sido atrativo para mais de duzentos candidatos inscritos na seleção. A produtora já havia oferecido a experiência em quatro edições anteriores na capital gaúcha. Neste ano, contando com ajuda do Fundo de Apoio a Cultura do Estado do Rio Grande do Sul, o projeto conseguiu expandir a iniciativa para mais seis cidades gaúchas.

Projeto selecionou as 40 mentes mais criativas do Estado. Foto: Arte oficial (http://bit.ly/1Bda1Oq)

Projeto selecionou as 40 mentes mais criativas do Estado. Foto: Arte oficial (http://bit.ly/1Bda1Oq)

Em agosto de 2011 foi aprovada a lei 12.485, a Lei da TV Paga. Essa lei obriga canais a cabo do País a exibir pelo menos duas horas e meia semanais de produções audiovisuais nacionais independentes (saiba tudo sobre a lei no site da Ancine). A reprodução desses materiais realizados no Brasil quadruplicou apenas no segundo ano de lei vigorada. Dessa forma, a demanda pela produção de roteiros e cineastas aumentou significativamente. O coletivo criativo Porta dos Fundos, exemplo em produção de material diferenciado, divulgou recentemente que terá um programa semanal no canal FOX, mostrando que até trabalhos voltados para a web podem conquistar o espaço destinado a produções locais na TV.

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Seriados: uma indústria crescente no Brasil

A produção de um seriado é bem mais árdua que a de um longa audiovisual. Por ser mais extensa e podendo durar temporadas, a série necessita da criatividade de não apenas uma pessoa, mas sim várias; é um trabalho coletivo e consensual –  e é o que o projeto mostra aos participantes. O coordenador da realização, roteirista e cineasta Leo Garcia, comenta que o cenário audiovisual atual é incrível para quem tem vontade de fazer um trabalho legal. “As séries são um grande produto cultural da industria mundial do entretenimento. Elas têm um grande poder de comercialização e atraem mentes criativas”, comenta.

O escritor do romance “Três contra todos”, Deco Rodrigues, foi um dos escolhidos para integrar o time criativo na cidade de Pelotas com a coordenação de André Macedo. Deco diz que está aprendendo mais sobre a caracterização de personagens e quando questionado sobre a vivência da diferença entre a narrativa literária e a linguagem cinematográfica, ele conta: “A narrativa não muda muito. Ao escrever um romance literário, temos que fazer o leitor “enxergar” a cena. Ao escrever um roteiro, temos que fazer o diretor, ator, etc. enxergar a cena. Claro que no caso dos roteiros alguns detalhes são mais importantes, além de seguir uma sequência pré determinada”.

Não são somente as séries que estão na grade de grandes canais abertos que merecem atenção. Essas produções contam com uma enorme verba para realização e geralmente são produzidas sempre pelos mesmos nomes renomados. A experiência da Lei da TV Paga proporciona aos brasileiros um grande cardápio de bons materiais e não deixa os telespectadores caírem na mesmice. Com o vasto território das séries estrangeiras, percebe-se que os trabalhos produzidos em casa não têm o reconhecimento que deveriam.

Deco e outros 4 escolhidos em Pelotas se reúnem semanalmente em um dos prédios da Universidade Federal de Pelotas para trabalhar no que chamam de “bíblia de série”. Essa bíblia deverá conter o gênero, título, duração, resumo em uma frase, notas sobre personagens, enredos iniciais, ideias entre outros itens. Os participantes de Pelotas não sabem o andamento dos outros grupos e nem eles sabem sobre o daqui. Após o término do projeto, o material final será apresentado a executivos dos canais de televisão. O processo de criação no laboratório vai até dezembro.

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