Humanização do parto: como queremos nascer no Brasil?

Por Carolina Borges

Liderando o ranking mundial, o Brasil atinge a marca de 52% de partos por cesariana, quando o indicado, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é de 15%. Segundo a pesquisa “Mulheres brasileiras e Gênero nos espaços público e privado” feita pela Fundação Perseu Abramo, uma em cada quatro mulheres sofreram violência obstétrica. De acordo com estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz, 72% das parturientes preferem realizar o parto natural, mas 52% acabam fazendo a cirurgia.

Além do problema do processo cirúrgico – que coloca em risco mãe e bebê , é necessário pensar em partos não violentos tanto na forma natural quanto na cesárea. A humanização pode ser buscada em ambas, respeitando o tempo para o nascimento e o poder de decisão da mãe, informando-a dos processos que irão ocorrer e, principalmente, o porquê estão ocorrendo. A humanização significa receber de forma acolhedora essa nova vida e garantir o protagonismo, a autonomia e o respeito a mulher, lembrando que a cesariana é uma cirurgia e só deveria ser aplicada em casos necessários, o que também faz parte da humanização.

As cesáreas são determinantes na morbimortalidade materna e perinatal, além do retardo na recuperação e inicio tardio da amamentação. Os problemas são ainda maiores nas cesáreas eletivas – antes da mãe entrar em trabalho de parto. Podem, por exemplo, acarretar problemas respiratórios no bebê, já que o pulmão é o último órgão a concluir formação. Muitos motivos dado as mães por conveniência médica também não justificam a cirurgia, como circular de cordão umbilical (enrolado no pescoço), bacia pequena, falta de dilatação antes do trabalho de parto, idade gestacional a partir de 39 semanas, entre outras questões.

Para difundir informações e orientar interessados no sistema obstétrico e no bem nascer, foi criado o grupo Nascer Sorrindo. Juliana Blasina é bióloga por formação, mestre em Fisiologia, mãe, gestora do blog “Ando Gestando” e uma das fundadoras do grupo em Rio Grande. Segundo ela, o cenário já vem mudando com a difusão de informação, pois hoje muitas mulheres co­nhecem os direitos básicos durante o parto hospitalar e são elas que concretizam o cumprimento desses direitos, já que falta fiscalização e ela fica por conta do paciente.

Juliana também ressalta a importância de estender o conhecimento as equipes médicas, que ainda são muito resistentes às mudanças “Isso implica em se atualizar e admitir que o jeito que fazem há 20, 30 anos é errado e a partir do momento em que admitem e percebem esse erro, já não podem cometer mais”, avalia.

Apesar do cenário, Juliana vê com otimismo as questões relacionadas a humanização do parto. Além de alguns avanços legislativos sobre o tema, é um assunto que vem sendo discutido com mais frequência”Estamos vivendo um momento muito importante de esclarecimentos. Para mim, é o momento que antecede as mudanças”.

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