Escritor rio-grandino lança livro “O crime dos Banhados: versões, construções discursivas acerca de um crime”

A obra retrata os mistérios e as diferentes narrativas acerca do crime que ocorreu em 30 de abril de 1912, no Taim.

Por Laura Cosme / Em Pauta. 

Livro O Crime dos Banhados – Versões, construções discursivas acerca de um crime. / Foto: Divulgação

Em 30 de abril de 1912, um crime chocou a região do Taim, no município do Rio Grande. Na manhã daquele dia 30, uma família inteira, composta pelos pais e seus seis filhos, foi assassinada na Fazenda do Passo da Estiva, localizada na região dos Banhados. Naquela época, um dos principais suspeitos do assassinato era o Intendente do Município do Rio Grande, Dr. Trajano Augusto Lopes. Mesmo após anos de investigações, o verdadeiro mandante do crime nunca foi encontrado e o caso foi arquivado sem explicações.

Mais de um século após o episódio, o escritor rio-grandino e historiador, Cledenir Vergara Mendonça, traz à tona os mistérios e as diferentes narrativas acerca do assassinato que acometeu a sociedade rio-grandina da época no seu livro  “O crime dos Banhados: versões, construções discursivas acerca de um crime”.

Segundo o autor, a ideia de escrever um livro sobre o tema nasceu a partir de suas pesquisas durante a graduação de história na Universidade Federal do Rio Grande. “Eu queria descortinar tudo o que era falado na tradição oral, que ainda ocorre no interior. Então essa foi minha curiosidade de escrever sobre este tema, pois ela ficou ainda mais forte quando eu descobri que o Trajano morreu um mês antes do crime, e tinha curiosidade de saber o que se escondia por trás disso para entender a dinâmica do conhecido crime dos banhados”, comenta Cledenir.

O escritor explica que, mesmo sem culpados, a origem do crime está diretamente interligada ao contexto ruralista e oligárquico existente em Rio Grande. “Quando falamos dos coronéis da república velha, parece que só existiu em Santa Maria, Bagé, Santana do Livramento, mas não é bem assim, por termos uma referência de cidade portuária e marítima esse lado ruralizado do município sempre foi escondido. Nós somos a  Noiva do Mar, somos uma cidade portuária, mas não conhecemos nada das relações que temos com o interior. Em 1910, a Quinta tinha 77 nomes do centro republicano, e a própria resistência do Trajano, e a resistência republicana que teve após as eleições da cidade, eram as reações das oligarquias rurais que invadiram o Rio Grande e queriam tomar o poder. O livro traz uma abordagem de uma cidade que precisa se olhar e reconhecer o valor histórico da sua zona rural, porque a gente vive só sob os encantos do mar e do seu porto”, destaca. 

O processo de produção da obra literária consistiu em diversas pesquisas, sobretudo, nos arquivos dos veículos de comunicação da época, além de entrevistas com moradores rio-grandinos que conheceram a história de forma oral, repassada por seus antepassados. “Ouvi dezenas de pessoas que os pais tiveram contato com aquele período, pessoas de 80, 90 anos, que narraram a visão de cada um, há vários nomes na história, mas em quase todos há o nome de Trajano Lopes. Quando eu falava que Trajano havia morrido antes do crime as pessoas se surpreendiam”, explica Claudenir.

 

Primeira produção de longa-metragem brasileira

 

Gravação do longa-metragem na Praça Tamandaré, em Rio Grande. / Foto: acervo histórico do autor

O Crime dos Banhados repercutiu não só na sociedade rio-grandina da época, como também em todo o país, dando origem à primeira produção de longa-metragem brasileira, denominada de “O Crime dos Banhados”, dirigida por Francisco Santos.

 

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