Drag queen pelotense lança documentário autoral sobre experiência LGBTQ+

No dia 9 de dezembro, a drag queen Myah lançou seu documentário autoral “Descobrindo Myah”, com entrevistas exclusivas e o vídeo do seu último espetáculo “Divas Experience 2” na íntegra 

Por Maria Clara Morais Sousa / Em Pauta

Os últimos meses foram de intenso trabalho para a artista pelotense Myah. Com semanas de ensaio e muitas aulas de canto, dança e violão, o segundo “Divas Experience”, dessa vez com novas músicas, inspirações e um balé ainda maior, ocorreu no último dia 9. Todo o processo foi gravado, e com um pouco de edição e entrevistas do House of Myah, originou-se um documentário que conta sobre o florescer artístico e pessoal de Victor Oliveira, criador da Myah.

Drag queen Myah sendo salva pela arte, representada pelos dançarinos Thalles Gabriel e Aline Coutinho, no Divas Experience 2. Foto: Maria Clara Morais Sousa

“Ele começou com uma ideia, ele já tinha uma ideia do que ele queria para o artista, que ele vinha se tornar, e ele foi aprimorando isso” diz Fernanda sobre o amigo. A musicista virou dançarina por uma noite para se desafiar, usando Victor como exemplo. Fefe, como é chamada, faz parte do House of Myah, uma casa artística criada por Victor com intuito de ajudar e crescer com artistas LGBTQ+ pelotenses, utilizando dos moldes da cena de Ballroom de Nova York.

No Mundo das Maravilhas não existem limites

As inspirações também vieram de filmes – Matrix, Alice no País das Maravilhas e O Mágico de Oz -, e a história da criação de Myah foi moldada ao som de Katy Perry, Jennifer Lopez e Beyoncé. “O meu conceito do show é realmente ser um reflexo de como eu me descobri LGBT. É por isso que a jornada é no mundo das maravilhas, porque é meio que o mundo ideal pra uma pessoa como a gente viver, sabe?”, explica Victor.

Primeiro ato com foco em Katy Perry e apresentação do Mundo das Maravilhas. Foto: Maria Clara Morais Sousa

A história começa com uma pessoa que não se encaixa no mundo apresentado a ela, seu único escape é conversar com seu cachorro. Após perdê-lo, Myah cai num buraco e vai para o Mundo das Maravilhas, conhece um reino maravilhoso cheio de felicidade, autenticidade e independência. Lá, é convidada para um baile e vê quanto talento existe nesse mundo, até reencontra seu cachorrinho e grande companheiro. Quando lhe é dada a oportunidade de voltar para seu mundo, Myah prefere ficar e construir seu próprio reino.

Durante as duas horas, é claro para uma pessoa LGBTQIAP+ o que cada momento significa: a primeira festa LGBT, a descoberta de seus iguais, a construção de uma comunidade e a própria aceitação. E nessa imaginação, os dançarinos viram personagens. Cada um com sua história demostra um pouco de si.

Dançarino Pedro Aguiar sendo aplaudido no Baile do Reino. Foto: Maria Clara Morais Sousa

Personagens da sua imaginação

Hillary Moraes é uma dessas artistas. A dançarina, que entrou no último Divas Experience como convidada de Victor, agora participa do balé da drag queen e se propôs a realizar um espetáculo inteiro. Sua personagem, a filha da Rainha de Copas, retrata sua evolução da dança, a qual Moraes diz que “vai ser uma brincadeira para mim, mas levado pro lado sério quando estiver no palco”. Suas trocas de roupas já transparecem como a brincadeira de algumas aulas de dança virou algo sério com bastante comprometimento.

Rainha, interpretada por Malu Fagundes, e suas filhas Hillary Moraes e Eduarda Medina, dançando. Foto: Maria Clara Morais Sousa

Anahí é outro exemplo claro. A mais nova drag queen pelotense foi apresentada no baile do reino, que seguiu a ideia de Ballroom. Ela diz que estar nesse palco “é de uma visibilidade enorme, gigantesca”. Novamente, a aparência demostra a timidez indo embora do artista, uma máscara que cobria todo o rosto vai diminuindo e, no final, desaparece.

Já o dançarino Lucas disse que não pensava em fazer um solo, mas que sempre ouviu as músicas da cantora Tinashe, e quando surgiu a oportunidade, Lulucat nasceu. “Eu queria que todo mundo pudesse pirar, eu queria que todo mundo pudesse fazer um pouquinho de drag, eu queria que todo mundo pudesse tipo realmente sair da realidade sabe, entrar numa coisa lúdica e ir fundo nisso”, esclarece Victor sobre o conceito.

Cria-se uma comunidade

“Mostra a potência da arte drag, sabe? De poder fazer um show desse porte, ainda mais em Pelotas, que é uma cidade que não valoriza tanto, sabe?” expressa a drag queen Albina Falcatrua. O espetáculo lotou o restaurante Johnnie Jack, e trouxe para o público a consagração de uma drag queen pelotense.

Dançarinos e Myah representando as amarras da sociedade heteronormativa. Foto: Maria Clara Morais Sousa

Já Gustavo Pires, conhecido como DJ Guto na Gaiola, diz que na região Sul é ainda mais difícil ver essa arte acontecer e ser divulgada, “acho que isso é muito importante e a gente tem que continuar prezando para que continue cada vez mais”. 

Já a mãe de Victor, Angelita, diz que se orgulha muito e o ajuda no que pode: “Para mim, ele continua sendo o menino que eu pego no colo. E eu sigo pegando no colo de outras maneiras agora, sempre que ele precisa.”

1, 2, 3 ação

Por trás das telas, Victor fez a edição e a filmagem das entrevistas, as quais foram coletadas após o espetáculo. No documentário, é possível ver os bastidores de como a mente do artista funcionou, de onde vieram as referências e o que os dançarinos pensaram antes, durante e depois do show.

Myah no lançamento do seu documentário. Foto: Maria Clara Morais Sousa

Junto com o lançamento no Pub Hype, houveram oficinas sobre criação de personagem drag, branding, LipSync e performance ofertado pelo House of Myah. Já à noite, na transmissão de estreia, haviam drinks especiais e exibição de curtas dos cursos de Cinema e Cinema de Animação da UFPel de pessoas LGBTQIAP+.

A ideia dos curtas veio de Myah e teve a ajuda do coletivo Transviada. A ideia era divulgar cineastas LGBTQIAP+ pelotenses. Kali Breder, integrante do Transviada, diz que o coletivo pensou em pessoas que falavam sobre a comunidade para montar a mostra, além de considerarem “uma equidade de animação e audiovisual”.

No outro dia ocorreram mais oficinas de penteado e maquiagem focado em drag queens, ministradas pela pessoas da comunidade Lurra Blume e Myah, respectivamente. Depois o documentário foi exibido novamente e uma sessão de fotos foi feita.

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