Debate Sobre Identidade de Gênero e Sexualidade

O encontro foi organizado pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFPel  

por Andressa Machado

Sábado, dia 4 de julho, estava um desses dias frios em que o inverno resolve mostrar a que veio. Isso não fez, porém, com que cerca de 50 pessoas ficassem em casa ao invés de marcarem presença no debate que aconteceu nas imediações da Faculdade de Direito da UFPel. O Debate Sobre Identidade de Gênero e Sexualidade do Diretório Central dos Estudantes teve como principais pautas propostas na discussão a LGBTfobia e o LGBTcídio, a religião quanto à aceitação dos LGBTs e a evasão escolar da comunidade LGBT de escolas e universidades.

Compondo a mesa estavam presentes Gloria Crystal, secretária adjunta da Livre Orientação Sexual de Porto Alegre, Juliana Martinelli, educadora social e secretária da ONG Vale à Vida, Lori Altmann, teóloga e atualmente pesquisadora no Núcleo de Etnologia Ameríndia – NETA/UFPel e no Núcleo de Pesquisas de Gênero – NPG, do PPG da Faculdade EST e Luciano Pereira, da Faculdade de Coimbra. A mediação da mesa foi feita por Márcia Monks Jaekel, graduanda do Curso de Teatro/UFPel e coordenadora geral do DCE.

Abrindo a fala dos integrantes da mesa, Gloria Crystal deu o seu depoimento sobre a dificuldade de ser transexual e negra nos dias de hoje, contando que inclusive teve de largar a escola por consequência do bullying que sofria.

– Eu quero ser respeitada, assim como todos vocês – disse ela, reforçando a ideia de que todos merecem respeito, independente de ser trans, LGBT ou não.

Educação e Diversidade de Gênero

Ao tocar na questão da educação nas escolas e nas universidades foi citado o Plano de Educação, onde um dos pontos era o ensino sobre gênero nas escolas. Os integrantes da mesa concordaram que é muito importante que seja ensinado sobre o assunto nas escolas para, principalmente, desconstruir o preconceito existente na sociedade.

Juliana ressaltou que a aprovação do ensino de gênero no Plano poderia auxiliar na educação. Seria uma espécie de ajuda para que os professores entendam essa questão, sendo também uma tentativa de diminuição do preconceito da classe docente.

– A educação transforma as pessoas que vão mudar o mundo – disse a educadora social. Gloria completou que o Plano não ensina ninguém a ser gay, como muitos pensam e ainda afirmou sua posição sobre o assunto.

– Se eu pudesse escolher, escolheria ser hetero, assim ninguém apontaria o dedo para mim como apontam até hoje.

Luciano ainda levantou uma questão muito importante, observando que até hoje nas escolas se aprende a ser homem e a ser mulher. Isso com base, por exemplo, nas expressões corriqueiras como “senta que nem menina”, “isso é coisa de menino”, atitudes essas que não deveriam mais acontecer hoje.

Debate sobre Identidade de Gênero e Sexualidade (Foto: Andressa Machado)

Debate Sobre Identidade de Gênero e Sexualidade (Foto: Andressa Machado)

A religião e a aceitação

No campo da religião, Lori – que também é pastora na Igreja Luterana – disse que nem todos os crentes são homofóbicos e que dentro de uma igreja existem tanto cidadãos a favor quanto contra. Não há como generalizar dizendo que a religião está contra os LGBTs, como muitos pensam. Em contraponto, Luciano disse que acredita que a maioria seja contra por estar escrito nos livros sagrados, mesmo que nesse ponto seja questão de interpretação dos ensinos dos livros.

– Ainda existe a visão de que orientação sexual pode ser mudada, corrigida. Ainda existe a tal cura gay, seja por remédios ou por religião – completou Luciano.

Um dos participantes do debate, ainda falando de religião, pediu para todos que quando se referissem aos intolerantes, não generalizassem e utilizassem a expressão “os evangélicos”, como costumamos ouvir. Da mesma forma que Lori defendeu a classe que está inserida, deixando claro que nem todo crente é homofóbico, o ouvinte defendeu que nem todo evangélico é preconceituoso e que ao usar essa expressão, se é tão preconceituoso quanto aquele que ataca.

O preconceito

Quando questionada, Juliana contou que na época da escola, a psicóloga tentou “corrigir” o que havia de errado com ela, percebendo sua diferença em relação aos outros no ambiente. E mesmo que existissem vários grupos – como “góticos”, “skatistas”, “patricinhas” – apenas ela era vista como a diferente. Embora quisesse apenas ser ela mesma, Juliana ouviu da psicóloga que ainda poderia “tentar mudar e ser um menino normal”. A sociedade hoje ainda não consegue aceitar o “diferente”.

– A nossa sociedade é criadora de medo e aversão àquelas pessoas que fogem do padrão estipulado – disse Lori.

Isso acaba gerando diversos problemas para a vida dos LGBTs. Um exemplo é a falta de oportunidade no mercado de trabalho para as travestis. Por isso, muitas acabam procurando na rua seu sustento, vendo na prostituição uma saída.

– As pessoas que mais nos discriminam de dia são as que mais nos procuram a noite – constatou Juliana, sobre a realidade das travestis.

Luciano ainda comentou sobre o que ouve na rua com frequência. Sobre “estar na moda” discutir o assunto e defender os LGBTs e que só por isso mais pessoas estão apoiando. Porém, Luciano questiona sobre o fato de ninguém comentar sobre a “moda” de matar e estuprar os LGBTs, sendo esta mais antiga. Dessa forma os integrantes da mesa ressaltam a importância das leis de apoio aos LGBTs, lembrando que as mudanças são mais amplas do que apenas no campo judiciário.

– A felicidade dos LGBT não vai ser conquistada só com as leis, mas com uma mudança geral da população – completa Lori.

Um momento de destaque em todo o debate, no entanto, aconteceu quando a mãe da Marcia, ao ter que se retirar previamente do evento, pediu a palavra e emocionou a todos. Disse sentir muito orgulho da filha (trans) que tem e que gostaria que todos os pais e professores estivessem presentes no debate. Ressaltou que o que falta no mundo é amor. Se existisse mais amor, defendeu ela, não existiriam negros, evangélicos, gays, lésbicas, trans, etc. Não seríamos divididos. Seríamos sim, todos unidos pelo amor.

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