CaVG em Clicks

Por Elise Souza

Alunos do CaVG buscam meios de conservar  a biodiversidade do Campus através de registro fotográfico e material audiovisual.

Foi em uma saída de campo, dentro da própria escola, que três então alunos do curso Técnico em Meio Ambiente tiveram uma ideia que iria mudar não apenas os seus próprios horizontes, como também, da instituição: o Projeto Capturando Vida. Os estudantes Guilherme Bitencourt, Jorel Aires e José Ricardo Junior resolveram explorar, de uma forma positiva, os 201 hectares do Campus Visconde da Graça, do Instituto Federal Sul-rio-grandense, o CaVG.

Idealizado em uma escola de vasto ambiente natural em meio ao espaço urbano, o Projeto Capturando Vida tem como objetivo conhecer e conservar a fauna existente no local. Com a câmera em mãos, nada passa sem ser registrado pelos participantes do projeto, que realizam saídas em meio à natureza do Campus. O material fotográfico e audiovisual que resulta destas expedições é divulgado no blog do projeto, juntamente com informações sobre os animais.

Com mais de 100 espécies da fauna do Campus catalogadas, entre aves, mamíferos, répteis e anfíbios, o projeto que já completou um ano, superou expectativas e está se expandindo para fora da escola. O espaço de realização das expedições em busca de registros, que no início abrangia apenas a instituição, também está sendo ampliado, com o intuito de levantar a fauna do interior gaúcho.

O projeto coordenado pela professora Tângela Perleberg, que começou apenas com os três estudantes, hoje conta com o acréscimo dos alunos Omar Entiauspe, Daniele Ott e Gabriele Dachi. Os idealizadores acreditam que o projeto ainda tem muito para crescer, principalmente a partir de novas parcerias firmadas que podem ampliar sua área de atuação, mas já apresenta resultados significativos e conquistou uma legião de fãs.

 

Como tudo começou

Ao observarem o ambiente natural do Campus em uma das aulas práticas, o que chamou a atenção dos garotos foi a situação em que se encontrava o açude da escola. A poluição presente nele motivou a tentativa de preservar sua biodiversidade através de uma revitalização. Mas foi o processo que antecedia esta ideia que encantou os fundadores do projeto.

A ideia de conhecer as espécies presentes no açude antes de qualquer tipo de intervenção impulsionou a experiência de levantar a fauna existente e realizar registros através da produção de materiais audiovisuais. Os resultados disto levaram os estudantes a darem seguimento na proposta e partirem em busca de apoio dos professores, para que pudessem catalogar e registrar as atividades das espécies faunísticas em todo o domínio do Campus.

Os primeiros passos do projeto foram bastante difíceis, já que para ser posto em prática era necessária uma série de materiais, além de uma liberação da escola para que as saídas pudessem acontecer. De acordo com o Guilherme, o apoio dos professores foi fundamental para que as ideias saíssem do papel. “A maioria dos professores nos apoiou, apenas poucos deles não nos incentivaram, inclusive dizendo que esbarraríamos em trâmites burocráticos e não conseguiríamos ir adiante. Nesse meio tempo, encontramos a professora Tângela, que tinha uma ideia semelhante. Então, unimos o útil ao agradável, organizando o projeto estruturalmente”, conta.

Hoje, após terem submetido o projeto a um edital da Pró-reitora de Extensão do Campus, o Capturando Vida é oficialmente filiado à instituição, recebendo uma verba para o desempenho das atividades. Entretanto, os jovens contam que ainda enfrentam dificuldades com a questão de transporte e que a quantia recebida mostra-se insuficiente para as necessidades do projeto. Apesar de arcarem com grande parte das despesas, os estudantes ainda contam com a doação de material por empresas e terceiros.

Uma das fotos preferidas de Guilherme - Tartaruga-tigre-d'água (Trachemysdorbigni). Foto: arquivo

Uma das fotos preferidas de Guilherme – Tartaruga-tigre-d’água (Trachemysdorbigni). Foto: arquivo

 

Experiências  e Planos para o Futuro

Entre todos os momentos vividos em atividades do projeto, os jovens contam que o mais marcante foi a primeira saída noturna que realizaram. De acordo com Guilherme, na ocasião, eles passaram por inúmeras dificuldades, mas ao final foram contemplados com uma série de registros de espécies que dificilmente são capturadas pelas lentes das câmeras. “Outro fato curioso foi o dia em que fomos atacados por um enxame de abelhas. Após sermos atacados, ainda registramos algumas espécies presentes no local”, complementa.

O maior orgulho dos estudantes foi superar os limites do próprio curso, que ainda está em período de estruturação, tendo formado apenas duas turmas. O interesse pessoal pelas pesquisas fez com que tivessem capacidade de ir além do simples registro, possibilitando a catalogação das espécies. “Nós conseguimos superar a falta de professores e de saídas de campo do curso, e através de pesquisas por conta própria agregamos conhecimentos suficientes para fazer um levantamento faunístico. Não existem palavras para mensurar o valor dessa experiência”, afirma Guilherme.

Com o primeiro ano de existência do Capturando Vida, é com alegria que os jovens contabilizam os resultados alcançados até então. Dentre as mais de 100 espécies já catalogadas, 96 tratam-se de aves e o restante divide-se entre mamíferos, répteis e anfíbios. Os planos para os próximos anos contam com um levantamento mais aprofundado entre as espécies de mamíferos. Os estudantes pretendem ainda ampliar as pesquisas através da catalogação de espécies de peixes.

Os responsáveis pelo projeto contam que a ideia inicial permanece a mesma, mas infelizmente ainda não tiveram a possibilidade de realizar a revitalização do açude, já que esta depende de uma série de fatores que envolvem a direção do Campus. Mas a luta em busca da conservação, não apenas do açude como de todo o ambiente natural da escola, continua, e o material produzido pelo projeto é utilizado como ferramenta de sensibilização, conscientizando a toda a comunidade acadêmica sobre o convívio dentro da instituição com as espécies que habitam o lugar.

O projeto também tem realizado algumas intervenções no Campus, como a colocação de placas, que além de identificarem os setores, trazem a imagem e uma pequena descrição sobre alguma das inúmeras espécies que podem ser encontradas por ali. Além disso, a divulgação da riqueza que pode passar despercebida aos olhos dos desatentos, também está presente em eventos e atividades para a comunidade adjacente, como a realização de trilhas pelo CaVG.

Além das diversas expedições fotográficas em cidades vizinhas, como também algumas atividades isoladas até mesmo fora do estado, também estão sendo planejadas atividades didático-pedagógicas para serem desenvolvidas em escolas municipais.

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