Brasil faz campanha fraca no Sul-Americano Sub 20 e não consegue vaga no Mundial da categoria pela segunda vez consecutiva

Brasil, que perdeu para os chilenos, não conseguiu vaga no Mundial Sub 20. Imagem: CBF

Por Luís Artur Janes Silva

No último domingo (10), tivemos a realização da rodada final do 29º Campeonato Sul-Americano Sub 20. O Brasil, que ainda tinha chances de conseguir vaga ao Mundial da categoria, venceu a Argentina (1×0), mas este triunfo foi insuficiente para os meninos do escrete canarinho, que necessitavam fazer três gols de diferença na Albiceleste. Com este resultado, a seleção brasileira acabou na quinta colocação do Hexagonal Final da competição, repetindo 2017, e mais uma vez não disputará o Mundial Sub 20, que acontecerá na Polônia, entre maio e junho deste ano.

Este Sul-Americano aconteceu no Chile e iniciou-se no dia 17 de janeiro, reunindo os dez países que fazem parte da CONMEBOL (Confederação Sul-Americana de Futebol). Na primeira fase, as seleções foram divididas em dois grupos formados por  cinco equipes, que classificaram os três melhores ao Hexagonal Final. Os quatro melhores do campeonato garantiram vaga no Mundial Sub 20 e, neste ano, os três primeiros colocados da competição participarão dos Jogos Pan-Americanos, que acontecerão na cidade de Lima (Peru).

Assim, na fase inicial do campeonato, o Brasil acabou na segunda colocação do Grupo A, ficando atrás da Venezuela (atual vice-campeã mundial), mas superando a Colômbia (que também classificou-se), o anfitrião Chile (eliminado na primeira fase) e a Bolívia. Mesmo classificado, o Brasil não apresentou um futebol vistoso e eficiente. Para se ter uma ideia, a seleção fez apenas três gols nos quatro jogos que disputou na fase inicial da competição.

Mas não foi apenas o Brasil que ficou devendo um bom futebol neste Sul-Americano. De modo geral, o nível técnico da competição foi sofrível. Corroborando este fato, basta dizer que nos 35 jogos realizados durante o campeonato, tivemos 60 gols anotados, perfazendo uma média abaixo dos dois tentos por partida.

Na fase final do campeonato, os jogos foram mais emocionantes, mas a qualidade não foi boa. Diante da mesmice, Brasil 2×3 Uruguai e Venezuela 0x3 Argentina foram os destaques do Hexagonal Final, antes da rodada que decidiu o título e as últimas três vagas no Mundial. Nos jogos derradeiros, a adrenalina tomou conta de todos os participantes do certame e dois confrontos chamaram a atenção. Primeiramente, os equatorianos arrasaram os venezuelanos, aplicando três a zero, decretando a terceira derrota consecutiva dos atuais vice-campeões mundiais e eliminando-os da próxima Copa Sub 20.

A vitória dos equatorianos fez com que passassem a sonhar com a possibilidade de ganhar o título sul-americano. Para garantir a conquista, tinham que torcer para o Brasil, que enfrentaria a Argentina, na partida final da competição. Uma vitória brasileira ou empate coroaria a campanha do Equador com o caneco, caso a Argentina vencesse, conquistaria o campeonato. Mais que isso, para o Brasil não bastava ganhar dos hermanos, também tinha que fazer três gols de diferença para obter a quarta colocação da competição e beliscar a última vaga no Mundial..

O Brasil não fez uma partida ruim (talvez a melhor atuação no campeonato), venceu os argentinos com um gol de pênalti, anotado por Lincoln, mas não conseguiu a goleada desejada. Assim, a seleção brasileira ficará de fora do seu segundo Mundial consecutivo.

Mas a situação mais incrível deste jogo final do Sul-Americano Sub 20 acabou sendo a festa que se viu nas arquibancadas, local em que estavam os jogadores equatorianos, que comemoraram a conquista do inédito título continental. Assim, foi notável o contraste entre a arquibancada alegre e os desolados jogadores de Brasil e Argentina. Os primeiros porque acabaram o campeonato num opaco quinto lugar, enquanto os argentinos lamentavam a perda da taça.

BRASIL VIVE SEU PIOR MOMENTO NA HISTÓRIA DO SUL-AMERICANO SUB 20

Dono de onze títulos, sete vice-campeonatos e três terceiros lugares na história da competição continental, o Brasil é o grande papão do Sul-Americano Sub 20, desde 1954, quando tivemos a primeira edição do torneio. A seleção canarinho só esteve de fora da edição de 1964. Assim, as más campanhas brasileiras nos últimos campeonatos têm chamado a atenção dos amantes do futebol.

Basta lembrar que, desde 2013, o Brasil disputou quatro torneios continentais e fez campanhas que variaram de fracas a desastrosas. Assim, em 2013, na Argentina, a seleção canarinho foi lanterna (último lugar) do seu grupo na fase inicial do campeonato. Defendendo o título sul-americano e mundial, o Brasil fracassou enfrentando adversários do nível de Peru, Equador e Venezuela. Apenas o Uruguai contrabalançou esta perspectiva, pois tem tradição futebolística. Apesar desta campanha ruim, a seleção revelou Fred (ex-Inter) para a posteridade. Assim, o desastre de 2013, alijou o Brasil de um Mundial Sub 20 pela segunda vez na história.

O Sul-Americano seguinte aconteceu no Uruguai e o Brasil conquistou um discreto quarto lugar, ficando atrás de Argentina, Colômbia e Uruguai. As fracas atuações do certame continental acabaram esquecidas após o Brasil ficar com o vice-campeonato mundial. Treinada por Rogério Micale, a Seleção foi derrotada na final da Copa do Mundo pela Sérvia e teve Gabigol e Malcom (atualmente no Barcelona) como destaques.

Em 2017, a perspectiva era de uma campanha que resgatasse a dignidade do futebol brasileiro, mas o que se viu foi outra participação ruim da Seleção. Na primeira fase do Sul-Americano, que foi disputado no Equador, o Brasil acabou na terceira posição do seu grupo, superado por colombianos e pelos donos da casa. Já no Hexagonal Final, os brasileiros ficaram em quinto lugar, sequer conseguiram chegar ao Mundial e não tiveram a oportunidade de defender o vice-campeonato conquistado na edição anterior. Decepção para um time que teve Felipe Vizeu (Grêmio), Richarlison (Everton) e Guilherme Arana (ex-Corinthians).

Assim, rememorando o histórico recente, a campanha do Brasil neste Sul-Americano de 2019 mostrou que a categoria Sub 20 da Seleção vive uma crise sem precedentes. Afinal, para um time nacional que participou de nove decisões de Mundial (recorde) e venceu cinco finais (segundo maior número de títulos), ficar fora de três das últimas quatro Copas do Mundo e conseguir como melhor marca no torneio continental neste período um modesto quarto lugar, acaba sendo preocupante, pois o talento existe, mas está sendo conduzido de forma errada.

Gerenciada pelo ex-jogador Branco e comandada em campo pelo técnico Carlos Amadeu, especialista nas categorias de base, a Seleção sofre com as mudanças de rumo do futebol Sub 20. Atualmente, os garotos já têm empresários, que conduzem a carreira de seus pupilos no sentido de lançá-los em algum clube europeu. Em suma, defender a Seleção virou algo secundário. Exemplo deste novo momento é o jogador Vinícius Júnior, que antes mesmo de virar ídolo no Brasil, já estava negociado com o Real Madrid. Aliás, Vinícius, provavelmente o melhor Sub 20 do Brasil, não jogou o Sul-Americano e seria liberado apenas para disputar o Mundial, para o qual a Seleção não se classificou.

Portanto, para retomar o caminho das vitórias, será necessário trabalhar de forma séria e competente, tentando fazer com que os meninos, os empresários e os clubes voltem a valorizar participações nas seleções nacionais de base. Se isso acontecer, será possível o retorno aos bons tempos do futebol brasileiro nas categorias menores, quando a Seleção conseguia marcas importantes, tais como obter quatro títulos e dois vice-campeonatos nos torneios continentais disputados entre 2001 e 2011.

Aliás, o Sul-Americano de 2011, que aconteceu no Peru, parece ser o Olimpo do futebol Sub 20 do Brasil. Naquela edição do torneio continental, a Seleção conquistou um tricampeonato consecutivo, selando o título com uma goleada de seis a zero no Uruguai. Aquele time, que seria campeão mundial, reuniu Neymar, Lucas Moura (Tottenham), Casemiro (Real Madrid) e Danilo (Manchester City) e assombrou a todos com um futebol bonito e eficiente.

Tudo isto posto, percebemos que o talento existe, mas será necessário reacender a chama do orgulho de pertencer à Seleção, para que as categorias de base do time nacional possam voltar a ter campanhas dignas de sua história. O futuro da Seleção principal agradecerá a retomada dos bons resultados.

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