Agosto marca o início da fase decisiva da Libertadores da América

Campeão da Libertadores de 2017, Grêmio tenta conquistar a América novamente. Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA

Por Luís Artur Janes Silva

Desde o dia 22 de janeiro, quarenta e oito equipes disputam a honra de ser o melhor time da América do Sul. Estes clubes participam de mais uma edição da Taça Libertadores da América, a mais importante competição interclubes organizada pela Confederação Sul Americana de Futebol (CONMEBOL). Realizada desde 1960, a Libertadores é o grande sonho de consumo de todas as agremiações futebolísticas do continente sul-americano.

Campeonato dominado por argentinos e brasileiros, que venceram 42 das 58 edições disputadas, a Libertadores de 2018 começou com a realização de três fases eliminatórias, também chamadas de Pré-Libertadores. Na fase inicial da disputa, três clubes foram desclassificados com apenas dois jogos. Assim, o Montevideo Wanderers (Uruguai), Macará (Equador) e Universitário (Peru) deixaram o certame de forma prematura.

Na próxima etapa da Pré-Libertadores, tivemos a participação do Olímpia (Paraguai), Deportivo Táchira (Venezuela) e do Oriente Petrolero (Bolívia), oriundos da fase anterior e mais treze equipes que disputaram oito vagas na fase seguinte do campeonato. No segundo estágio da Pré-Libertadores tivemos a estreia de dois times brasileiros, o Vasco da Gama, que classificou-se e a Chapecoense, que acabou eliminada pelo tradicional Nacional do Uruguai. Duas surpresas desta etapa da Libertadores foram as desclassificações do Independiente Del Valle (Equador), vice-campeão continental de 2016, e também do paraguaio Olímpia, dono de três títulos da Libertadores.

A última fase da Pré-Libertadores reuniu oito times, que lutaram por quatro vagas na etapa de grupos do campeonato sul-americano. Independiente Santa Fé (Colômbia), Nacional (Uruguai), Vasco da Gama (Brasil) e Atlético Junior (Colômbia), que eliminou os paraguaios Olímpia e Guaraní, foram os vencedores desta etapa do certame.

A fase de grupos da Libertadores reuniu 32 equipes, divididas em oito grupos compostos por quatro clubes. Os dois melhores de cada chave garantiram vaga nas oitavas de final do torneio, momento que marca o início do estágio decisivo da Libertadores, que se iniciará em agosto e se estenderá até novembro.

Assim, na fase de grupos desta competição, três campeões foram eliminados precocemente. Vasco e os uruguaios Peñarol e Nacional sentiram o peso da desclassificação, mesmo sendo considerados clubes tradicionais do futebol da América do Sul. Um destaque positivo desta fase foi a classificação de seis times brasileiros às oitavas de final da Libertadores.

Grêmio (atual campeão), Palmeiras (melhor campanha da fase de grupos), Cruzeiro, Santos, Corinthians e Flamengo carimbaram seus passaportes ao estágio decisivo do certame continental. Além do sexteto canarinho, as presenças dos gigantes argentinos (River Plate e Boca Juniors), dos multicampeões Independiente (7 títulos) e Estudiantes (4 títulos) e do tradicional Racing, tornam esta Libertadores mais um campo de disputas entre as duas principais forças futebolísticas da América do Sul.

A seguir serão apresentados os duelos das oitavas de final da Libertadores de 2018.

GRÊMIO X ESTUDIANTES (07 e 28 de agosto)

O Grêmio está defendendo o título da Libertadores, conquistado no ano passado diante do Lanús, e terá pela frente um tradicional adversário argentino, o Estudiantes de La Plata, vencedor das edições da Libertadores de 1968, 1969, 1970 e 2009.

Para passar a primeira etapa eliminatória, o Grêmio terá que aprender a atuar sem o volante Arthur, grande responsável pela dinâmica de jogo da equipe gaúcha. Outro dilema que o técnico Renato Portaluppi terá que resolver consiste na tentativa de achar alternativas para furar os bloqueios defensivos armados pelos oponentes do Tricolor, dono do melhor toque de bola do futebol brasileiro, mas que tem redundado em resultados irregulares desde meados de maio.

Além disso, Portaluppi sofre para melhorar a performance de Luan e também para achar um centroavante confiável, já que Jael, André e Hernani Brocador não conseguiram conquistar a unanimidade entre os torcedores gremistas.

No outro lado, o tradicional Estudiantes procurará superar-se depois da suada classificação na fase de grupos, conquistada na última rodada, após uma dramática vitória contra o Nacional do Uruguai (3×1). A eliminação precoce foi evitada por causa de um gol, pois se o Estudiantes tivesse vencido pela diferença mínima, teria perdido a vaga para os uruguaios.

BOCA JUNIORS X LIBERTAD DO PARAGUAI (08 e 30 de agosto)

O confronto entre o melhor time estrangeiro da fase de grupos e um dos clubes que mais sofreu para passar desta fase, apresenta um difícil prognóstico. Isto acontece porque o tal melhor time estrangeiro da fase de grupos é o paraguaio Libertad, um dos emergentes do futebol do continente e que ficou atrás apenas de Palmeiras e Grêmio na fase classificatória.

Enquanto isso, o todo poderoso Boca Juniors, seis vezes campeão da Libertadores, esteve seriamente ameaçado de eliminação na fase de grupos do torneio. Confirmou a classificação na rodada derradeira da fase, quando venceu o Alianza (Peru), mas teve que contar com a derrota do Atlético Junior para o Palmeiras. Caso os colombianos tivessem vencido, o Boca teria sido eliminado.

Já o Libertad, apesar da boa campanha, ainda é uma incógnita, pois reinou em grupo fraco, formado pelo Atlético Tucumán (Argentina), The Strongest (Bolívia) e pelo tradicional e decadente Peñarol do Uruguai.

Assim, arriscar o resultado desta disputa é complicado, afinal como escolher entre o emergente cada vez mais forte e uma das mais importantes instituições do futebol continental?

CORINTHIANS X COLO COLO (08 e 29 de agosto)

Dois clubes que já conquistaram a Libertadores se encontrarão nesta chave eliminatória. De um lado, o Colo Colo, um dos times que mais participaram da Libertadores e a maior agremiação futebolística do Chile, enquanto isso, no lado de cá, temos a presença do Corinthians, campeão da Libertadores de 2012 e, desde então, quase sempre postulante aos principais títulos continentais.

O Corinthians seria favorito total do confronto se não estivesse em momento de instabilidade, ocasionados pela saída do técnico campeão brasileiro, a revelação Fábio Carille, e também de alguns jogadores importantes do Timão, tais como Rodriguinho e Sidcley. Apesar de ter sido campeão do seu grupo, o Corinthians foi derrotado duas vezes consecutivas nos seus domínios durante a fase de grupos.

Tentando achar uma nova identidade, sob o comando do treinador Osmar Loss, o Timão enfrentará um Colo Colo que sofreu para passar de fase, sendo suplantado pelo colombiano Atlético Nacional, campeão da Libertadores em 2016, mas tendo dificuldades para sobrepujar o Bolívar (Bolívia) e o Delfín (Equador).

Os chilenos terminaram com o mesmo número de pontos que o Bolívar, superando-os no saldo de gols. Mas o fantasma da eliminação rondou o Colo Colo, pois se o Delfín tivesse o vencido o jogo contra os bolivianos teria passado às oitavas de final do campeonato. Por tudo isso, mesmo que o Corinthians não esteja no seu melhor momento, ainda assim é favorito na disputa eliminatória.

FLAMENGO X CRUZEIRO (08 e 29 de agosto)

Um encontro de gigantes, assim pode ser definido o confronto entre Flamengo e Cruzeiro. Os clubes, que já decidiram duas Copas do Brasil (2003 e 2017), também possuem Libertadores da América. Duas no caso do Cruzeiro (1976 e 1997) e uma nos lados da Gávea (1981).

O Cruzeiro foi campeão de um dos grupos mais equilibrados desta Libertadores, superando o Racing, o Vasco e o emergente Universidad de Chile. Os mineiros não conseguiram vencer as três primeiras partidas da competição, mas a partir do momento em que golearam o Universidad de Chile (7×0), emendaram três vitórias consecutivas, incluindo um 4×0 no Vasco, na casa do adversário. Assim, a equipe treinada por Mano Menezes, ex-Seleção Brasileira, segue uma trajetória ascendente e deposita suas fichas no recém-contratado artilheiro Barcos, com passagens pelo Grêmio e Palmeiras.

Enquanto isso, o Flamengo conseguiu passar da fase de grupos da Libertadores, depois de três eliminações consecutivas. O Mengão não teve dificuldades para garantir sua vaga e só não fez uma campanha perfeita porque não conseguiu o título da sua chave, abocanhado pelo River Plate. Para equilibrar a disputa contra o Cruzeiro, o Flamengo conta com o talento do meia Diego e com os bons fluídos proporcionados pela liderança que a equipe ocupa no Brasileirão.

RIVER PLATE X RACING (09 e 29 de agosto)

Se o Brasil verá a realização do clássico entre Flamengo e Cruzeiro nas oitavas de final da Libertadores, os argentinos assistirão ao duelo entre River Plate e Racing, dois dos cinco principais clubes do país vizinho.

O River Plate, joga escaldado pela traumática desclassificação nas semifinais da Libertadores de 2017, quando vencia o Lanús por 2×0 no jogo decisivo e cedeu uma virada incrível, sofrendo quatro gols consecutivos. Pior que isso, o River Plate haiva derrotado o Lanús no primeiro jogo da semifinal por 1×0.

Assim, o objetivo da equipe de Buenos Aires é disputar o título da Libertadores deste ano. Parte da caminhada foi cumprida sem sobressaltos, pois o River passou da fase de grupos de forma invicta, fato conseguido apenas pelo Palmeiras, Grêmio e Flamengo. O único senão desta campanha vitoriosa foi o baixo número de gols marcado pela equipe. Foram apenas seis gols anotados em seis jogos. O único jogador que fez mais de um gol foi o centroavante Lucas Pratto, ex-São Paulo e Atlético-MG, que anotou dois tentos na Libertadores.

Já o Racing passou pelo Grupo da Morte, no qual também estavam os brasileiros Cruzeiro e Vasco. A equipe argentina, que venceu a Libertadores em 1967, perdeu a invencibilidade na última rodada da fase de grupos, quando foi batida pelo Cruzeiro (2×1), no Mineirão. Em Avellaneda, cidade da Grande Buenos Aires, o Racing venceu tanto o Cruzeiro quanto o Vasco (respectivamente 4×2 e 4×0).

A esperança de classificação do Racing passa pelos pés do artilheiro Lautaro Martínez, autor de 5 gols na fase inicial da competição, quase o mesmo número de gols do River Plate. Na história da Libertadores, Racing e River se enfrentaram nos anos de 1967 e 1997 e a vantagem é do Racing, que eliminou o time de Buenos Aires nas duas ocasiões.

ATLÉTICO TUCUMÁN X ATLÉTICO NACIONAL (09 e 28 de agosto)

O encontro entre os Atléticos tem potencial para passar despercebido dos fãs do futebol sulamericano, mas é bom não esquecer que o Atlético Nacional possui dois títulos da Libertadores e ganhou a competição em 2016, quando apresentou um futebol de primeira grandeza e revelou o atacante Borja, o principal goleador da fase de grupos da Libertadores de 2018.

Depois disto, o time colombiano foi eliminado na fase inicial da Libertadores do ano passado. Já em 2018, fez uma campanha mediana em uma chave considerada fraca e composta por Colo Colo, Bolívar e Delfín. Entre os campeões de grupos, o Atlético Nacional fez a sétima campanha, na frente apenas do Santos.

Enquanto isso, o Atlético Tucumán parece despontar no cenário da América do Sul. Na sua segunda participação na Libertadores, a primeira foi no ano passado, o time do interior da Argentina passou da fase de grupos, ficando atrás do Libertad, mas superando o tradicional, mas decadente Peñarol e o The Strongest, com longa história de participações na Libertadores, geralmente fracas. E o fato de ter enfrentado e superado times inferiores pode pesar contra os argentinos, que jogarão contra uma equipe com bom histórico na Libertadores.

PALMEIRAS X CERRO PORTEÑO (09 e 30 de agosto)

Melhor time da fase de grupos, o Palmeiras é franco favorito contra o Cerro Porteño, mas precisa arrumar a casa se quiser confirmar este favoritismo. Por incrível que pareça, o Verdão corre mais perigo de tropeçar nas suas próprias pernas do que na força da equipe paraguaia.

Isto ocorre porque o que é considerado por muitos como o melhor grupo de jogadores do país não consegue render o futebol que se espera dele. A principal evidência disto é que o técnico Roger Machado foi demitido na última quarta-feira, dia 25 de julho, depois de mais uma derrota palmeirense no Campeonato Brasileiro, desta vez, diante do Fluminense (1×0). A direção palmeirense acusou o treinador gaúcho de ter perdido o domínio do vestiário e buscou outro profissional nascido no Rio Grande do Sul para tentar reorganizar o ambiente verde e branco. Luiz Felipe Scolari, comandante do Palmeiras em dois títulos da Copa do Brasil, assumiu o time no momento em que começará a disputa da fase decisiva da Libertadores.

Os principais obstáculos do Palmeiras serão passar por cima do fraco retrospecto recente de Felipão, fazer os seus principais jogadores renderem em alto nível e esperar que o centroavante Borja, principal artilheiro da fase de grupos da Libertadores, se recupere plenamente e volte ao time titular.

Em relação ao Cerro Porteño, um dos quatro times que mais participaram da Libertadores, a esperança é de que faça uma jornada de superação contra o Palmeiras. Na fase de grupos, a equipe paraguaia fez apenas um ponto a menos que o Grêmio, mas  obteve vitórias apenas contra o fraco Defensor (Uruguai) e o inexpressivo Monagas (Venezuela). Contra o Grêmio empatou em Assunción e foi inapelavelmente batido em Porto Alegre, 5×0. Ou seja, mesmo em momento conturbado, o Palmeiras deve passar pelo Cerro Porteño.

 

SANTOS X INDEPENDIENTE (21 e 28 de agosto)

Se Grêmio e Estudiantes fazem o confronto entre Brasil e Argentina no qual o time verde e amarelo é favorito, no outro encontro entre times dos dois países, a balança pende para o lado dos hermanos.

O Santos vive um momento delicado no Campeonato Brasileiro, flertando com a Zona de Rebaixamento e com um comando técnico interino, após a demissão de Jair Ventura. Assim, o alvinegro da Vila Belmiro pretende utilizar a Libertadores como tábua de salvação da temporada.

Na fase de grupos, a equipe santista teve a pior campanha entre os campeões de chaves, fazendo 10 pontos e deixando para trás os tradicionais, mas claudicantes, Estudiantes e Nacional do Uruguai. A performance do alvinegro praiano foi irregular, pois venceu os argentinos do Estudiantes nas duas partidas entre ambos, mas foi incapaz de bater o Real Garcilaso (Peru), último colocado do grupo.

O Independiente também fez uma campanha irregular na fase de grupos da Libertadores, pois perdeu para o Deportivo Lara (Venezuela) na estreia e para o Corinthians, em jogo realizado em Avellaneda. A recuperação começou quando o multicampeão da Libertadores (7 títulos) devolveu a derrota para o Timão em plena Arena (1×2).

O favoritismo argentino acontece pelo retrospecto recente em competições internacionais. O Independiente é o atual campeão da Copa Sul-Americana, conquistada contra o Flamengo e perdeu a Recopa para o Grêmio, mas apenas nas cobranças de pênaltis, em disputada partida acontecida na Arena de Porto Alegre.

Na história da Libertadores, Santos e Independiente se enfrentaram duas vezes, ambas nas semifinais da competição continental de 1964, quando a equipe argentina bateu o grande Santos de Pelé e impediu que o esquadrão alvinegro conquistasse o tricampeonato consecutivo.

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