Alguns minutos para apresentar 15 anos de história! E muita dança!
Considerando a condição dinâmica que permeia a educação nos seus mais distintos e plurais processos e contextos, o Colegiado do Curso de Dança – Licenciatura da Universidade Federal de Pelotas assume o currículo como um instrumento dialógico em permanente fluxo e em constante processo de fazer-se, entendendo que a prática nutre e modifica as estruturas pedagógicas revitalizando-as e ressignificando-as constantemente.
Neste sentido, apoiamo-nos da idéia de Sacristán (2000), o qual entende que:
O currículo é uma práxis antes que um objeto estático emanado de um modelo coerente de pensar a educação ou as aprendizagens necessárias das crianças e dos jovens, que tampouco se esgota na parte explicita do projeto de socialização cultural nas escolas. É uma prática, expressão, da função socializadora e cultural que determinada instituição tem, que reagrupa em torno dele uma série de subsistemas ou práticas diversas, entre as quais se encontra a prática pedagógica desenvolvida em instituições escolares que comumente chamamos de ensino. O currículo é uma prática na qual se estabelece diálogo, por assim dizer, entre agentes sociais, elementos técnicos, alunos que reagem frente a ele, professores que o modelam. (p.15-16)
Compreender o currículo como práxis, entre outras coisas, significa orientar-se por discussões empreendidas por olhares contemporâneos a respeito da estrutura curricular, os quais se constituem em assertivas diante da possibilidade de demarcação do lugar político exercido pelos projetos pedagógicos, em suas diferentes abrangências.
O Curso de Dança-Licenciatura da UFPel recebeu sua primeira turma de ingressos e iniciou suas atividades no segundo semestre de 2008 – Porataria/COCEPE nº 1552. Da sua criação até o ano de 2012 foi curso noturno, com PP aprovado no segundo semestre de 2010, estando ainda em processo de reconhecimento. Dentro desta trajetória, em maio de 2013, após preenchimento do formulário on-line do E-MEC, recebeu visita in loco da Comissão de Avaliadores do INEP/MEC, quando obteve nota 3.
Cabe mencionar que ao longo de sua existência o Curso passou por algumas modificações conceituais e estruturais, deixando de ser um Curso de Licenciatura em Dança – Teatro (denominação inaugural), passando pela denominação de Curso de Licenciatura em Dança – Habilitação em Dança-Teatro, até chegar ao atual status de Curso de Dança – Licenciatura.
Todavia, as modificações nominais não foram acompanhadas de mudanças curriculares e estruturais condizentes com o cenário atual do curso, da universidade e da comunidade circunscrita no seu entorno. Estes desalinhamentos têm reforçado a necessidade de mudanças que apontem para este novo momento.
Tendo em vista esta idéia de currículo aberto e flexível, é que, desde o mês de maio de 2012, o Núcleo Docente Estruturante do Curso de Dança – Licenciatura vem realizando um estudo detalhado e abrangente sobre propostas para as necessárias mudanças curriculares no seu Projeto Pedagógico, mencionadas acima. Além das razões de descompassos conceituais indicadas, tais mudanças emergem como necessárias a partir de constatações de docentes e discentes, e também da relação destes com a comunidade na qual o curso está inserido; movimento este que culminou com o encerramento de um ciclo que foi a conclusão de curso da sua primeira turma de licenciados, ocorrida em novembro de 2012.
A respeito deste olhar sobre o currículo na contemporaneidade, Sousa (2002, s/p) chama a atenção para o seguinte:
Todos sabemos que o currículo, enquanto área central na organização do ensino, não é de forma alguma politicamente descomprometido. O “como” ensinar e o “o quê” ensinar estão estrategicamente ligados ao ensinar “para quê”, isto é, as intenções políticas de socialização e desenvolvimento. E o que pretendemos afinal? Estamos preocupados com a formação de um cidadão com uma cultura globalmente padronizada, ou com a formação de um cidadão com particular identidade cultural, que muitas vezes a escola não domina? Levantando a questão de outra maneira: queremos um currículo fechado e único, no sentido da homogeneização, ou um currículo aberto e flexível para a diversidade cultural?
O carro-chefe destas mudanças é levado a cabo pelas questões de qualificação pedagógica do curso, onde o novo desenho curricular demanda um aumento na carga horária total do Curso de Dança, o que inviabilizaria uma oferta no período noturno ou matutino em quatro anos. Neste sentido, a troca para o turno vespertino (autorizada pelo Conselho Coordenador do Ensino, da Pesquisa e da Extensão – COCEPE em 8 de novembro de 2012 e já efetivada desde o ingresso de alunos em 2013.1) surgiu, pois, como alternativa principal para a viabilização da grade prevista pelo novo currículo.
Foram levantados, durante todo o processo de investigação e discussão, um amplo rol de justificativas que corroboram com as mudanças curriculares propostas, culminando com a troca do funcionamento do Curso de Dança para o Turno da Tarde, autorizada pelo Conselho Coordenador do Ensino, da Pesquisa e da Extensão (COCEPE) em 08/11/2012.
O curso sendo no turno da tarde facilita e estimula a mobilidade interna e trânsito intercursos, especialmente na área de artes, pois cursos como artes visuais, música, cinema, teatro, design são cursos que ofertam disciplinas em turnos diferentes, ou seja, os alunos do curso de dança poderão transitar e desenvolver atividades integradas com outras áreas, favorecendo a interdisciplinaridade.
Grande parte dos nossos alunos, para subsidiar seus custos e se manter na faculdade, trabalha no turno da noite, geralmente em academias. Na realidade do mercado de trabalho atual da dança, o turno noturno é o de maior inserção, considerando-se ampliação de alternativas fora do ambiente escolar. Tal questão diz respeito à acessibilidade dos agentes que já atuam no campo, visto que a demanda de atuação profissional da dança concentra-se predominantemente no horário de final de tarde e noite;
Possibilidade de dar acesso ao público que atua na área de dança da cidade e da região, podendo qualificar os agentes que atuam em espaços não formais e que não têm formação superior específica, lembrando que este é o contexto atual predominante de prática profissional em dança na cidade. Esta qualificação dos agentes já atuantes potencializará uma atuação imediata no universo escolar, alvo importante do nosso curso, no sentido de que, a curto e médio prazo, contribuirão com a transformação do cotidiano atual da escola, que não conta com a presença da dança na grade curricular principal, oportunizando contato com esta linguagem também no espaço formal de ensino. A longo prazo, contaremos, como potenciais alunos, não apenas com tais agentes, mas também com os alunos destes agentes e, assim, sucessivamente, pensando que a escola passará também a oferecer maior contato com a linguagem da dança;
Considerando a complexidade que concerne à organização do espaço físico da instituição para abrigar os cursos cujo funcionamento é noturno, o Curso de Dança, ocorrendo à tarde, colabora para amenizar tal demanda. A UFPel já conta com cursos de Licenciatura oferecidos nos turnos diurno, tais como, Artes Visuais, Música, Pedagogia, Educação Física, Biologia, Química, Física, Matemática, entre outros, o que atesta a viabilidade de um curso de licenciatura diurno, inclusive no que tange à prática de estágio supervisionado no mesmo turno de funcionamento do curso, evitando transtornos, por exemplo, no que se refere a alunos que não podem realizar os estágios em turno diverso ao do seu curso.
Em função do REUNI, uma parcela significativa dos alunos vem de fora da cidade e de outros Estados, os quais têm como prioridade o estudo e demonstram preferência por estudar durante o dia, tomando em conta fatores como a segurança e o deslocamento na cidade e também a possibilidade de
conseguirem algum rendimento trabalhando na área do curso, ao invés de terem que trabalharem em supermercados, escritórios etc;
A agenda artística de eventos tem sua programação prioritariamente no turno da noite, período este utilizado preferencialmente pelos artistas da dança para realizar ensaios e apresentações. Por tais motivos, tradicionalmente, os cursos de artes são ofertados no período diurno. Com a realização do curso de Dança à tarde, os alunos podem tanto prestigiar os espetáculos que existem na área da cidade sem prejudicar suas aulas, quanto poderão, eles mesmos, montar espetáculos para ficar em cartaz na cidade durante as noites, movimentando a agenda cultural na área da dança e fortalecendo a relação entre a universidade e a comunidade. Este argumento é de extrema importância para o nosso curso, pois a experiência artística é fundamental para os atravessamentos artístico-pedagógicos que constituem a formação qualificada de um licenciado em dança.
Nos estudos preliminares para alteração do PPP, foi incluído um levantamento junto ao corpo discente, tal pesquisa forneceu dados importantes para a discussão. Ressaltamos que nas reuniões do NDE, os alunos têm participado ativamente, reconhecendo as necessidades de mudanças curriculares e estruturais do curso e contribuindo com sugestões. Como forma de amostragem, em um universo de 46 (quarenta e seis) alunos ouvidos, em relação ao funcionamento do curso no turno da tarde, temos os seguintes resultados: 80% acredita que a área da dança tem maior mercado de trabalho durante a noite; 76% afirma que o Curso sendo diurno, facilitaria a interação com outros cursos da UFPel; 74% julga que o espaço físico poderá ser melhor utilizado; 56% acredita que o Curso diurno colabora para melhor rendimento aos alunos e professores nas disciplinas práticas e teóricas e 89% considera a troca de turno positiva por oportunizar mais segurança.
Por estarmos inseridos num curso que foi criado recentemente, com um tempo de atuação de quatro anos apenas, é um momento bastante apropriado para as alterações de currículo aqui apresentadas, tendo em vista que o número de alunos cursando ainda é pequeno se comparado a outros cursos. Isso permite que a transição seja feita com mais qualidade e tranquilidade.
Tais aspectos dão legitimidade ao processo de reformulação e de reestruturação curricular do Curso de Dança – Licenciatura da UFPel que deram origem ao desenho curricular deste Projeto Pedagógico de Curso.
A modificação do turno de funcionamento do curso permite uma ampliação das atividades e uma possibilidade de maior articulação e estreitamento entre os pilares do ensino superior: ensino, pesquisa e extensão. Franco (2010) ratifica a importância da indissociabilidade destes aspectos, articulada com o próprio currículo:
O currículo das escolas de ensino superior, seja no campo da pesquisa, ou do ensino, precisa corroborar para que reconheçamos as lógicas que muitas vezes coincidem na manifestação das diferentes ciências e dos problemas a serem investigados, o que implica na organização de cursos que ofereçam oportunidades de desenvolvimento de competências que transitem em diferentes áreas do conhecimento, rompendo assim com uma proposta pedagógica tão pragmática. O currículo na educação superior exige, ao mesmo tempo, flexibilidade e intenso rigor. […] Este princípio curricular para o ensino superior demanda uma conceituação clara sobre o ensino e a aprendizagem, nos diferentes cursos, e em diferentes modalidades de oferecimento nesta etapa educacional.
No tocante à grade curricular queremos ressaltar aspectos diferenciadores, em relação ao currículo do curso ofertado à noite até 2012, e que apontam para a presente configuração. Devido à observância de carência de disciplinas específicas da área da dança, fez-se o acréscimo de cinco laboratórios de técnicas (disciplinas obrigatórias), sendo eles: Balé Clássico, Dança Moderna, Danças Folclóricas, Danças Urbanas, e Danças Contemporâneas, com a previsão de mais quatro disciplinas optativas: Análise do Movimento II, Laboratório de Balé Clássico II, Laboratório de Dança Moderna II e Laboratório de Danças de Salão. Por outro lado, optamos por manter apenas uma disciplina de Análise do Movimento e duas de Composição Coreográfica como obrigatórias, cuja práxis é favorecida e complementada nas disciplinas, também obrigatórias, de Montagem do Espetáculo I e II.
Como forma de contemplar as diligências do MEC no que tange as seguintes Leis: 10.639/2003 – da Temática da História e Cultura Afro-Brasileira;
Lei 9795/99 – da Educação Ambiental e às demandas de Acessibilidade, Inclusão e Diversidades, estamos propondo, além da indicação de conteúdos específicos nas disciplinas obrigatórias de História da Dança e das Pedagogias da dança, a disciplina obrigatório Dança, Corpo e Brasilidade, Corpo Espaço e Visualidade e Dança: da infância à maturidade. Outra inserção nesta direção é a proposta da disciplina optativa Dança, Acessibilidade e Inclusão.
Na área da pesquisa, anteriormente havia três disciplinas, agora serão seis (obrigatórias): Técnicas de Leitura e Produção de Textos, Metodologia e prática da pesquisa I e II, Projeto de pesquisa em Dança, TCC em Dança I e II. Na área pedagógica acrescentaram-se as Práticas Pedagógicas I, II e III e o Seminário Temático em Dança-Educação (obrigatórias) e a disciplina Folclore na Escola (optativa). Na área das Artes, investimos na aproximação com outras linguagens artísticas: Introdução à História da Arte, Música e Movimento e Corpo, Espaço e Visualidade (obrigatórias); e Corpo Vocal, Dança e Tecnologia, Laboratório de Performance e Análise do Espetáculo (optativas). Neste sentido, a inclusão das disciplinas obrigatórias Expressão Corporal e Dança e Educação Somática, além de cumprirem função de formação específica dos licenciados do curso, são disciplinas que favorecem a recepção de alunos de outros cursos, sendo a contra-partida deste curso para a aproximação acima citada, até mesmo com cursos de campos de conhecimento para além das Artes.
Na área da Saúde, por considerarmos necessárias à formação de um licenciado em Dança e também como forma de cumprir o disposto nas diretrizes curriculares para cursos de licenciatura em Dança, mantivemos as disciplinas (obrigatórias) Anatomia Humana, Cinesiologia e Fisiologia Aplicada à Dança, além de incluirmos Dança: da infância à maturidade, disciplina que também inclui em seus conteúdos o olhar do campo da saúde.
Por outro lado, as áreas de Formação Livre e Complementar do curso sofreram um redimensionamento e redução de carga horária, em prol do aumento de horas provenientes das disciplinas obrigatórias e da possibilidade de investir no curso de disciplinas optativas. Assim, os alunos do curso ingressantes no novo currículo passarão a ter que cumprir uma carga horária de 200 horas em Atividades Complementares e mais 200 horas em Atividades de Formação Livre, totalizando 400 horas neste campo de formação do curso.
Ainda resultante do processo de discussão empreendido pelo NDE para a reforma curricular do curso, a locação no turno vespertino permite a oferta de um maior número de créditos3 por dia, onde podem ser preenchidos 5 créditos no lugar dos 4 atuais. Assim, o curso de dança passará à possibilidade de 25 créditos semanais, 10 a mais do que os 20 constantes na grade atual.
Além do aumento de créditos pertinentes ao ensino (grade curricular obrigatória), abre-se, ainda, espaço e horários, dentro do próprio turno do curso, para o cumprimento de outras atividades que integram o campo formativo proposto, a saber: projetos e cursos de extensão, projetos de ensino, monitorias, grupos de pesquisa, ensaios, atividades de formação livre, estágio não-obrigatório, disciplinas em outros cursos.
Dentro deste longo caminho de discussões e movimento de reformulação curricular realizado pelo NDE e comunidade acadêmica do Curso, em fevereiro de 2013, o Colegiado do Curso de Dança-Licenciatura comunicou à Pró-Reitora de Graduação sobre o processo de reformulação curricular e, ao mesmo tempo, solicitou e obteve autorização para codificar e ofertar as disciplinas previstas para o novo currículo dos 1º e 2º semestres, como forma de já receber os ingressos de 2013.1 na nova estrutura. Ao mesmo tempo, houve o comprometimento de, ao longo deste ano, finalizar o texto do PPC reformulado.
Ocorre que a formatação final, neste documento apresentado, gerou alterações na previsão da grade já codificada, principalmente porque precisou lidar com a realidade infraestrutural e financeira (administrativa) que vive a UFPel atualmente. Como forma de ajustar as informações e a compreensão, o Apêndice VII traz um quadro comparativo que indica as disciplinas ofertadas em 2013.1 e 2013.2 e os componentes curriculares que efetivamente farão parte da grade curricular dos referidos semestres. Apresenta-se também, no mesmo Apêndice, um segundo quadro que indica as equivalências para estas modificações específicas.