Documentário “Doutor Araguaia” será exibido no YouTube dias 24 e 25 de junho

Produção feita no estado do Tocantins recupera a história de vida de João Carlos Haas Sobrinho, médico desaparecido durante a ditadura militar      

 

Formado na UFRGS, João Carlos atuou junto às comunidades camponesas sem assistência   Fotos: Divulgação

 

Nos dias 24 e 25 de junho, será exibido no YouTube o documentário “Doutor Aruaguaia”, com a história de João Carlos Haas Sobrinho, um dos desaparecidos durante a Ditadura Militar no Brasil (1964-1985). Ele ousou em lutar por justiça em tempos de silêncio e medo. A disponibilidade on-line do documentário será em homenagem ao seu aniversário. Será exibido no canal do YouTube @TGEconomiaCriativa, resgatando a memória do médico desaparecido pela ditadura e eternizado como símbolo de coragem, solidariedade e resistência.

Produzido no Tocantins e dirigido por Edson Cabral, o filme resgata a trajetória do jovem gaúcho que trocou os consultórios da elite por um hospital improvisado no interior do Maranhão e, mais tarde, se tornou o médico da Guerrilha do Araguaia, até ser morto pelo regime militar em 1972. Seu corpo nunca foi encontrado.

Um dos destaques do filme é a trilha sonora original, com composições interpretadas por artistas do Tocantins. Entre elas, emociona especialmente a “Canção das Forças Guerrilheiras do Araguaia”, na voz potente de Nacha Moretto e Jorge Menares. Igualmente o filme conta com músicas gaúchas, de Raul Ellwanger e arranjo de César Haas.

 

A luta de Sônia Maria Haas pela memória do seu irmão foi uma inspiração para o documentário

 

Reconstituição da história

Se estivesse vivo, João Carlos Haas completaria 84 anos no dia 24 de junho e teria salvo ainda mais vidas, destaca Sônia Haas, irmã do médico. “Conforme a apuração e as entrevistas feitas para o filme, descobrimos que João pôde, mesmo com recursos precários, cuidar e salvar um número incontável de vidas entre 1964 e 1972. Sua atuação fez com que fosse amado e respeitado pelos camponeses que, além da pobreza, também sofriam diretamente com as arbitrariedades e descaso do regime de exceção”, destaca.

Com gravações realizadas em São Leopoldo, Porto Alegre, São Paulo, Porto Franco, Xambioá, Palmas e Salvador, o filme é um mergulho na vida de João Carlos. Produzido pela TG Economia Criativa e MZN Filmes, o projeto foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo e conta com apoio cultural das Prefeituras de São Leopoldo (RS) e Porto Franco (MA), além do apoio institucional da Fundação Maurício Grabois.

Ao longo de 36 meses de produção, a obra reúne depoimentos emocionantes de pacientes, ex-guerrilheiros, camponeses, amigos, estudiosos e lideranças políticas como José Genoíno, Jussara Cony e Zezinho do Araguaia. Mas é a presença firme e comovente de Sônia Maria Haas, irmã de João Carlos, que conduz a narrativa. Ela tornou-se colaboradora e inspiração para o diretor do documentário, pois dedica-se há quase cinco décadas, à busca pela verdade sobre o irmão desaparecido. Junto com seu companheiro Odilon Camargo, ela tornou-se uma grande amiga do diretor. “A amizade com Sônia e Odilon foi um divisor de águas para este projeto. O amor deles pelo João Carlos ajudou a transformar dor em memória e saudade em resistência”, destaca Edson Cabral.

A estreia no YouTube acontecerá em 24 e 25 de junho, e os interessados poderão assistir gratuitamente nesses dois dias. Depois disso, o link ficará como não listado e só poderá ser acessado mediante solicitação à produção pelo email: ecabral.to@gmail.com.

Além da exibição virtual, o filme já teve estreias presenciais em diversas cidades do Brasil e do exterior, incluindo uma primeira sessão especial em São Leopoldo, no Shopping Bourbon, com debate com o diretor e Sônia Haas. Houve sessões especiais em Porto Alegre, na Sala Redenção da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Também foi produzida um livro de história em quadrinhos com a reconstituição da vida de João Carlos, com autoria dos ilustradores Diego Moreira e Gabriel Kolbe, lançado em 2023.

Para marcar a data, o canal convida grupos, coletivos, escolas e instituições em diferentes pontos do Brasil e do exterior a organizarem exibições públicas, registrando o momento com fotos, vídeos e depoimentos nas redes sociais. “A proposta é criar uma corrente de memória coletiva, dando visibilidade à luta de João Carlos e de tantos outros invisibilizados pela repressão”, ressalta Cabral.

 

Livro em linguagem de histórias em quadrinhos foi lançado em 2023

 

Sobre João Carlos Haas

Nascido em São Leopoldo (RS), João Carlos teve formação jesuíta, brilhou como estudante da UFRGS e foi presidente do centro acadêmico. Após o golpe militar, foi preso por sua liderança estudantil e, ao sair da prisão, iniciou uma trajetória de dedicação à medicina social. Viveu em Porto Franco (MA) e Xambioá (TO), onde salvou centenas de vidas com atendimento gratuito e humanizado bem antes da criação do SUS.

Seu engajamento político se intensificou: participou de treinamentos na China e, com o codinome “Dr. Juca”, atuou como o único médico da Guerrilha do Araguaia. Foi morto em 30 de setembro de 1972 em confronto com o Exército. Seu corpo nunca foi localizado. Em 2019, sua família obteve o reconhecimento oficial do Estado brasileiro como responsável por seu assassinato.

Para mais informações sobre o documentário acesse o Portal do Cinema Gaúcho.

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Remake de “Lilo & Stitch” revela falta de criatividade dos estúdios Disney

Lançado em maio, novo filme da empresa não consegue atingir a magia da animação original     

Por Vinicius Terra     

 

Filme mostra amizade entre a pequena Lilo e seu alienígena de estimação, Stitch     Fotos: Disney/Divulgação

 

“Lilo & Stitch” (2025) é uma nova versão da Disney do filme homônimo de 2002. Dirigido por Dean Fleischer Camp, reconta a já conhecida história de um alienígena, Stitch, criado pelo cientista Jumba. Após o experimento mostrar conduta errática, a Federação Galáctica decide por exilar Stitch, que foge em uma nave e cai no planeta Terra, mais especificamente na ilha do Havaí. Jumba e Pleakley, um entusiasta sobre o planeta, são ordenados a capturá-lo. No Havaí, duas irmãs, a pequena Lilo e a mais velha Nani, precisam lidar com a morte precoce de seus pais, e Nani precisa manter a vida em ordem em meio ao caos para não perder a guarda de Lilo. Preso em um abrigo de animais, Stitch é adotado por Lilo, que, por conta de sua inocência, acredita que seja um cachorro. Em um filme sobre família, os dois, Lilo e Stitch, aprendem juntos e se divertem pela ilha.

O filme conta com um diretor novo na cena, Dean Fleischer Camp, que já havia impressionado ao ser indicado ao Oscar de Melhor Animação pelo lindíssimo stop-motion “Marcel the Shell with Shoes On”, de 2021. Mesmo assim, “Lilo & Stitch” parece faltar com a originalidade e marca autoral do diretor e, ainda que com cenas mais saturadas e coloridas, não há elementos de destaque para a direção nos enquadramentos. Ao longo do filme, é possível perceber uma certa ruptura entre os interesses de manter como no original e de trazer algo mais atualizado. Dessa forma, é impossível assistir ao filme e não comparar com seu material base, “Lilo & Stitch” (2002).

Nas primeiras cenas, as imagens geradas por computador (CGI – Computer-Generated Imagery) incomodam ao mostrar alienígenas exóticos, ao mesmo tempo em que estão em busca pelo realismo. Isso levanta uma discussão antiga para quem acompanha cinema e os remakes da Disney, que desde “Cinderela” (2015) já contabiliza 19 filmes live-actions baseados em alguma das suas franquias. Isto é, observa-se se que o que já existe em desenhos animados nem sempre funciona na realidade simulada da tecnologia CGI. E isso comprova-se uma verdade para “Lilo & Stitch” como nenhum outro filme, já que ele aborda raças de alienígenas, naves espaciais, proporção dos corpos dos personagens e, além da modelagem, questões intrínsecas ao estilo visual original. Não é possível afirmar se o que poderia funcionar é a retirada de alguns elementos fantasiosos, que essa produção também faz, ou a adaptação fiel de todas as cenas, mas o que é possível é analisar o filme em questão. Com certeza, há algo fora do tom em “Lilo & Stitch” (2025) que o deixa pasteurizado e sem o senso de comicidade original.

De certa forma, esta nova versão mostra a atemporalidade da animação ao trazer novamente algumas temáticas, como a relação entre ser bom e ruim, tanto visto em Stitch, mas também visto na Lilo, que por conta de suas atitudes, acaba sendo colocada nesse lugar por seus colegas e professores. Na trama, as irmãs possuem uma vizinha mais velha também, Tutu, que ajuda quando Nani precisa sair para trabalhar, assim como David, que desde o início se mostra interessado romanticamente por Nani. Tutu, surge como uma figura protetora para as duas garotas, de uma tal maneira que tira um pouco do senso de irmandade que elas possuíam no filme original.

A representação da união entre as irmãs, contudo, ainda é o valor mais forte dessa história, mostrando que as tensões realmente partem do medo da Nani de perder Lilo, como no momento em que ela quase se afoga, na possibilidade de serem separadas pela assistência social e ao final do filme. Essa tensão desse filme parece ser maior do que na animação anterior, porque antes tratava-se de representações mais abstratas dos humanos. Neste, estamos vendo humanos passando por essas situações de uma forma mais realista.

 

A principal temática da nova versão cinematográfica ainda é a ligação das duas irmãs 

 

Algo que gera estranheza é o fato de Pleakley e Jumba passarem mais da metade de suas passagens pelo filme utilizando um dispositivo que os deixa parecidos com humanos. Ainda que surjam novas cenas de humor a partir dessa mudança, perdemos um pouco da essência desses personagens excêntricos, completos alienígenas, que tentam se inserir na vida humana por meio de acessórios, perucas, chapéus e roupas. Por mais que essas mudanças certamente tenham ocorrido para eliminar o CGI bizarro do meio das cenas principais, paira no ar a dúvida se através das modificações estamos perdendo a magia do que estava na história original.

Mesmo que ancorado em uma história forte de amor e família, o filme não consegue agradar visualmente e nos faz pensar como a indústria vem, cada vez mais, trazendo apenas tentativas de reproduções de seus feitos anteriores. Com uma arrecadação de mais de 850 milhões de dólares no mundo todo, no entanto, parece que a Disney está disposta a manter esse modelo para garantir o lucro anual da empresa. Apesar da resenha desesperançosa, ainda vale a pena conferir “Lilo & Stitch” nos cinemas para matar saudades de personagens queridos e iconizados na cultura pop.

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Palestra sobre cemitérios instiga curiosidade no 4 Galeria de Arte e Café  

Organizado pelo Pelotas Mal-Assombrada, evento despertou interesse sobre sepulturas de Pelotas e seus ritos fúnebres      

 Por Bruna Farias     

 

Público lotou espaço  para prestigiar a apresentação de  “Os Cemitérios de Pelotas”     Foto: Renata Ávila

 

Revelando os segredos enterrados nos cemitérios da cidade, a palestra “Os Cemitérios de Pelotas” aconteceu na sexta‑feira, dia 13 de junho, no 4 Galeria de Arte e Café. O evento, conduzido pelo historiador Nikolas Corrêa, que coordena os passeios “Pelotas Mal-Assombrada”, atraiu mais de 40 ouvintes interessados em desvendar os simbolismos que repousam entre as lápides, jazigos e cemitérios da cidade.

Visando gerar mais conhecimento sobre os costumes funerários, a arte tumular e as pessoas que marcaram a história local, a ideia da palestra surgiu com o fato de Nikolas frequentar o Cemitério São Francisco de Paula desde criança, e ganhou força ao perceber que a sociedade tem interesse por esses espaços: “Durante os passeios do Pelotas Mal-Assombrada, percebi que as pessoas têm a curiosidade histórica de conhecer esses lugares, então o objetivo da palestra é contar mais sobre os cemitérios da cidade e convidar as pessoas a visitá-los”, explicou Nikolas, que trabalha com a história do município há mais de 10 anos.

Com uma hora e meia de duração, a palestra se inicia com a distribuição de um mapa personalizado, para os ouvintes acompanharem os locais dos jazigos citados. Dividida em seis partes, a palestra leva o público em uma viagem sobre o contexto histórico global dos ritos funerários, até chegar nos costumes fúnebres que eram realizados em Pelotas. A seguir, os ouvintes são convidados a conhecer mais sobre os dez principais cemitérios que já existiram na cidade, em locais que, hoje, são residenciais. Depois, Nikolas apresenta as partes mais esperadas do evento: os símbolos e esculturas que ainda podem ser encontrados no cemitério São Francisco de Paula. São contadas as histórias e mostrados os jazigos de figuras conhecidas da sociedade, como o escritor João Simões Lopes Neto e a Cigana Terena; além de algumas das mensagens e despedidas que podem ser encontradas nos túmulos.

 

 

Um dos momentos mais esperados é quando são mostrados jazigos de figuras conhecidas da sociedade  Foto: Renata Ávila

 

Natural de Rio Grande, a psicóloga Raquel Farias Weska se interessou muito pela proposta da palestra por trabalhar diariamente com a questão do luto com seus pacientes. Para a ouvinte, as fotos contendo as mensagens de despedida foram a parte mais interessante da palestra. “Eu sou psicóloga e estava esperando chegar nessa parte, porque sempre me toca muito ver o que as pessoas que ficaram escreveram para quem foi embora. E as que foram mostradas hoje, com poesias, são muito lindas”, relata.

Para o organizador, os cemitérios têm muito a dizer sobre quem somos enquanto sociedade, e é essencial que a comunidade tenha a oportunidade de conhecer mais sobre esses locais para não esquecer da história da cidade. “Nós sempre tivemos esse interesse de tentar apresentar os cemitérios como espaços de reflexão, observando o lado histórico, artístico e cultural”, explica Nikolas. Diante da receptividade do público, a equipe do Pelotas Mal-Assombrada já planeja novas datas para a palestra, além de estudar a realização de novos encontros com outras temáticas.

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Satolep Rock: artistas locais mantêm o gênero musical vivo

Evento que reúne bandas em Pelotas teve sua primeira edição em fevereiro e volta a acontecer dia 12 de julho     

Por Gabrielle Peres      

Criado por Emanuel Murialdo, guitarrista da banda Mistreated e professor de música em Pelotas, o Satolep Rock é um novo espaço para quem curte o estilo musical na cidade. O evento reúne bandas locais e movimenta o cenário do rock pelotense. A primeira edição aconteceu em fevereiro e contou com as bandas Corium, ADHOC e a própria Mistreated. Houve outra realização no mês de abril e o terceiro encontro está marcado para o dia 12 de julho.

Para Emanuel, como integrante de uma banda e idealizador do projeto, essa é uma forma de incentivar e dar mais visibilidade aos artistas que se dedicam ao gênero. “Estamos dando oportunidade a artistas que não têm muito espaço nos lugares para apresentações disponíveis. Não quero fazer uma crítica às casas de shows daqui de Pelotas, elas são ótimas, somos sortudos por termos elas na cidade e temos que apoiar, mas há realmente muitos artistas ótimos concorrendo por pouco espaço, isso é bom e ruim”, explica Emanuel.

 


Criador do Satolep Rock, Emanuel Murialdo toca na banda Mistreated      Fotos: Divulgação

 

Além de acolher as bandas locais, o Satolep Rock também é uma opção que anima o público da cidade, visto que é mais uma oportunidade de aproveitar boas bandas dentro de um contexto social em que o rock não é o estilo musical mais ouvido na atualidade, mas segue vivo dentro das comunidades.

“A gente percebe que o rock não é mais o estilo musical dominante. Décadas atrás, os artistas mais comentados eram de bandas de rock. Hoje tu vais numa festa e não é isso que toca. Então, ter eventos como esse, quando a gente pode curtir esse som, é muito bacana”, comenta Maurício Valadão, ouvinte de rock e frequentador do evento.

 

Rockeiros buscam novos espaços para encontros com seus públicos

 

A segunda edição do Satolep Rock, em abril deste ano, repetiu o sucesso da primeira e esgotou os ingressos. Nesse segundo encontro, além das bandas já conhecidas, Mistreated e Corium, a banda Sexy Jeans também subiu ao palco. Sobre o acolhimento do público no evento, Emanuel Murialdo comenta: “Fico muito feliz, claro, mas sendo sincero, eu vejo isso com naturalidade. O povo pelotense é muito acolhedor a novidades, aqui é uma terra muito fértil para novos empreendimentos. É uma qualidade que vemos em poucos lugares. Sou muito grato por estar podendo organizar o evento aqui e para esse povo tão acolhedor”, diz o guitarrista.

 


Segunda edição do Satolep Rock reuniu fãs pelotenses do estilo musical no mês de abril

 

Ainda esse ano, o evento já mira sua próxima edição, desta vez ainda mais especial. A terceira edição do Satolep Rock deve acontecer em comemoração ao Dia Mundial do Rock em 12 de julho. Outra grande novidade é a parceria com a loja Via Urbana Rock Wear, fornecedora de vestuário rock n’ roll da região Sul e grande incentivadora de eventos locais.

Na edição especial do Dia do Rock, a banda Corium segue entre as atrações e abre a noite tocando clássicos dos anos 70 e 80. Na sequência, Lady Foxy, banda de São Lourenço do Sul traz os maiores hits do rock mundial. Quem fecha a noite é a banda Mistreated com um repertório que conta com covers de grupos famosos como System of a Down, Alice in Chains, Metallica e Rage Against the Machine.

Para quem quer curtir uma noite com muito rock, os ingressos para a terceira edição do Satolep Rock já estão disponíveis através do  Instagram do evento.

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A moda como cultura: narrativas que vestem, resistem e pertencem

Roupas vêm sendo símbolos de poder e posicionamentos sociais, tendo a tendência de reaproveitamento de materiais como uma proposta política     

Por Amanda Marin       

Ao longo da história, a moda nunca se limitou ao universo superficial da estética ou do consumo. Ela é, essencialmente, ferramenta de comunicação, capaz de refletir contextos sociais, manifestar ideologias e impulsionar transformações políticas e culturais. Vestir-se sempre foi, e segue sendo, uma manifestação simbólica, que fala sobre quem somos, de onde viemos e quais histórias queremos contar ao mundo. Desta forma o reaproveitamento de materiais vem sendo uma proposta que vai bem além de um estilo, tendo algo a dizer para o momento que se vive hoje.

A relação entre moda e política remonta à Antiguidade, quando vestimentas eram símbolo de poder, status e organização social. No Egito Antigo, por exemplo, as roupas, os adornos em ouro e as coroas dos faraós reforçavam a hierarquia social e o controle político. Na Roma Antiga, a toga púrpura era restrita aos senadores e imperadores, uma vez que o pigmento de cor púrpura era raro, caro e, portanto, símbolo de autoridade e prestígio. Vestir-se de forma inadequada, inclusive, poderia ser entendido como afronta ao Estado ou aos costumes da época.

Durante a Idade Média e o Renascimento, a moda seguiu como instrumento de diferenciação social e controle. Leis suntuárias foram criadas em diversos reinos europeus para regular quem podia usar certos tipos de tecidos, cores e adornos, geralmente reservados à nobreza e ao clero. Ao mesmo tempo, entre as classes populares, o reaproveitamento de roupas era uma prática comum e necessária: peças eram ajustadas, transformadas ou repassadas entre gerações, e mercados de roupas usadas, “embriões” dos brechós atuais, circulavam nas cidades medievais. Assim, enquanto os trajes das elites funcionavam como extensão das estruturas de poder, para as camadas mais pobres, a moda também era uma questão de resistência, criatividade e adaptação dentro das limitações impostas pela própria hierarquia social.

Vestir-se, portanto, é um ato carregado de significado, que atravessa questões de classe, gênero, identidade, resistência e pertencimento.

 

Thays Zimermann gosta de criar novos significados para roupas e suas memórias

 

Movimento upcycling

Essa perspectiva da moda segue mais viva do que nunca, especialmente em um cenário marcado pelo consumo acelerado, pela produção em massa e pelo descarte desenfreado. É justamente nesse contexto que surgem movimentos como o upcycling, o reaproveitamento criativo de materiais e peças que, antes, seriam descartadas. Práticas que dialogam com o resgate cultural, memória afetiva e contra-narrativas aos modelos industriais da moda hegemônica.

É a partir dessa premissa que nasce a Access, marca idealizada por Thays Zimermann, que enxerga no ato de ressignificar roupas uma forma de gerar impacto. “Eu trabalho com upcycling e patchwork justamente porque gosto de ressignificar materiais e memórias. Cada tecido já teve um passado, e ao recriar essas peças, consigo contar novas histórias e provocar reflexões sobre consumo, identidade e pertencimento”, explica.

Thays propõe, através de seu trabalho, um olhar desacelerado para a moda, pelo qual vestir-se deixa de ser uma ação meramente estética e se transforma em um ato consciente, afetivo e, sobretudo, político. “A Access nasce justamente como uma resposta a esse modelo de consumo acelerado e descartável. Eu acredito que se vestir vai muito além de seguir tendências ou acumular roupas, é sobre se expressar, se conectar e respeitar o tempo das coisas. Minha proposta é resgatar o valor do feito à mão, do único, do afetivo. Ao reutilizar materiais e criar peças exclusivas, eu proponho um novo olhar para o vestir: mais consciente, mais respeitoso com a história dos objetos e das pessoas, e mais conectado com quem somos de verdade”, defende.

Ruptura com padrões de massa

Quando escolhe trabalhar com peças únicas, materiais reaproveitados e técnicas artesanais, Thays rompe com os padrões da produção em massa, e resgata práticas esquecidas em meio à lógica da fast fashion. Ela lembra que, no Brasil, essa prática carrega um significado ainda mais potente, considerando os desafios socioeconômicos e ambientais que marcam o país. “Além disso, a realidade socioeconômica e ambiental do Brasil reforça a importância do upcycling e da sustentabilidade na moda, […] Quando escolho trabalhar com upcycling, com peças únicas e com a valorização de técnicas artesanais, estou propondo uma ruptura com a lógica da produção em massa, da padronização e do descartável. É um posicionamento cultural, ambiental e social”, completa.

E se moda é também território de disputa simbólica, os brechós, por sua vez, funcionam como espaços de contracultura urbana, tanto para quem empreende quanto para quem consome. São palcos de memórias, garimpos afetivos e resistência ao ritmo opressor da indústria.

É o que acredita Lucas Moura, fundador do brechó Marginale 053, que observa que o público de brechó carrega uma preocupação que vai além do vestir. “Quem consome fast fashion é diferente de quem consome de brechó. O público que consome brechó tem uma preocupação com o meio ambiente, com a desigualdade social, com direitos trabalhistas que são descartados, que são revogados. Como que seja uma moda circular, onde a gente compreenda que não é porque é uma peça de segunda mão que é uma peça descartável ou que está em mau estado”, pontua.

Para Lucas, mais do que uma escolha econômica, consumir de brechó é um ato de resistência, de cuidado com o planeta e, também, de construção de identidade. E ele não está sozinho nessa percepção, já que a indústria da moda é hoje uma das que mais impactam negativamente o meio ambiente. Segundo a ONU Meio Ambiente, o setor é responsável por cerca de 10% das emissões globais de carbono e 20% da poluição das águas no mundo, principalmente por conta dos processos industriais, tingimentos e descarte de resíduos. Além disso, a cada segundo, o equivalente a um caminhão de lixo têxtil é descartado no planeta.

Diante desse cenário, alternativas como os brechós deixam de ser tendências e passam a ser uma necessidade. “Acredito que as roupas de brechó também têm uma cara autêntica. São peças únicas que muitas vezes ninguém vai ter, de fato. São peças que já não são mais fabricadas, né? E que também já trazem essa identidade mais apropriada a quem está vestindo. Ter esse entendimento social, ambiental, é superimportante, super necessário. Em meio ao que a gente vive de mundo, em meio à crise climática, ao aquecimento global, o pouco que a gente puder fazer para diminuir [essa destruição] é super necessário, é essencial, é básico.”

Cultura periférica

Lucas também reforça que seu interesse pela moda surgiu a partir das culturas periféricas e urbanas — especialmente do hip-hop e do skate — que, historicamente, são movimentos que constroem tendências no mundo da moda, embora raramente sejam reconhecidos como protagonistas nesse processo. “São meios marginalizados, culturas marginalizadas, que, muitas vezes, estão aparentes em desfiles de moda ou como influência na moda, mas não sendo protagonizadas por quem, de fato, faz parte dessas culturas. Subverter esses espaços de elite para onde esses movimentos não são bem quistos é algo que precisa ser feito da forma que conseguir realizar”, defende Lucas.

Na outra ponta desse movimento está quem consome, não apenas por estética, mas por consciência, afeto e identidade. É o caso de Nicolas Moreira, que vê na moda uma poderosa ferramenta de autoexpressão.

Seu interesse começou ainda na infância, quando sofreu críticas por se vestir fora dos padrões. “Com o tempo, fui percebendo que aquelas roupas não eram feias, elas só eram diferentes das que as pessoas ao meu redor estavam acostumadas a ver. Naquele contexto, aquilo era visto como ‘errado’. Só que conforme eu fui conhecendo outras pessoas, outros lugares, e me permitindo experimentar mais, entendi que na real eu me vestia de uma forma que tinha a ver comigo, com o que eu gostava e com quem eu era. Era a minha forma de me expressar. Isso me fez perceber que eu não me vestia mal, eu me vestia de forma autêntica e que isso tinha valor”, conta.

E esse desejo de autenticidade não é isolado. Ele ecoa uma busca coletiva, especialmente entre juventudes periféricas, negras, LGBTQIA+ e urbanas, um movimento que dialoga com o consumo consciente e sustentabilidade, mas, sobretudo, com a valorização das próprias narrativas, das ancestralidades e das histórias que, historicamente, foram marginalizadas.

Para Nicolas, vestir roupas de brechó, peças com história ou feitas artesanalmente, muda completamente a relação com o vestir. “Tem um peso diferente. Tu pensas que alguém já viveu momentos especiais com aquela roupa antes de ti, e agora tu estás criando novas histórias com ela. Isso por si só já carrega significado”, afirma. E não é apenas sobre peças comuns: algumas delas se tornaram verdadeiros marcos na sua trajetória. “A camisa azul de botão, que achei em um brechó, virou uma espécie de amuleto pra mim. Customizei, cortei as mangas, dei uma nova cara pra ela. Foi a primeira vez que senti que estava acertando na minha linguagem de estilo, e até rendeu trampo: me chamaram pra uma publicidade por conta dessa camisa. Ela me fez entender, de forma prática, que o que eu visto pode ser uma extensão da minha voz, do meu lugar no mundo.”

 

Nicolas Moreira vê na moda uma forma de expressão identitária

 

Esse entendimento, no entanto, não acontece de forma isolada. As redes sociais desempenham um papel fundamental na construção de novas narrativas dentro da moda. Hoje, plataformas como TikTok e Instagram são espaços onde criadores independentes, produtores de conteúdo e pequenos empreendedores conseguem furar a bolha da moda tradicional, alcançando públicos que, há alguns anos, estariam restritos a quem tinha acesso aos circuitos elitizados do setor.

O impacto das redes nesse processo é inegável: “Elas são uma vitrine pra quem não está no circuito tradicional da moda. Hoje, pessoas que fazem sua própria roupa, que garimpam brechó, que pensam moda de um jeito mais consciente, estão sendo vistas e valorizadas. Olha o Will Cypriano, por exemplo, que começou postando peças feitas à mão e hoje tá fazendo collab com a Adidas. Isso só foi possível por conta da internet, que abriu espaço pra gente que está na margem, que cria fora da lógica das grandes grifes”, observa Nicolas.

A força desse movimento, inclusive, se reflete nos números. De acordo com um levantamento da ThredUp, plataforma global de revenda, o mercado de segunda mão deve crescer 85% até 2030, enquanto o varejo tradicional de moda avança em ritmos bem mais lentos. Isso sinaliza uma transformação cultural profunda, onde consumir de brechó, apoiar marcas locais e investir em peças com história deixa de ser uma prática de nicho para se consolidar como um novo paradigma de consumo: mais ético, mais consciente e, sobretudo, mais sociocultural.

Sendo assim, para além da estética, Nicolas reforça que se vestir é, antes de tudo, uma escolha carregada de intenção. “Eu gosto de usar a roupa como uma forma de contar algo, seja algo histórico, cultural, político ou até pessoal. Cada peça, cada acessório que eu escolho, carrega uma intenção. Eu tento sempre remeter a alguma coisa com o que eu visto, mesmo que seja sutil. Gosto muito de carregar referências da cultura negra, de usar elementos que falem sobre isso. Isso me fortalece, me posiciona, me lembra de quem eu sou e de onde eu venho”.

 

Nicolas: “há um propósito na forma de se vestir”

 

Para finalizar fica a sugestão do pesquisador Renzo Telles Júnior: a forma como nos vestimos reflete diretamente nossas crenças, convicções e posicionamentos sociais. “A moda atua como um espelho da sociedade e, muitas vezes, como um catalisador de mudanças”, afirma. E é exatamente isso que se desenha quando olhamos para movimentos como o upcycling, os brechós e a moda independente: um resgate de memórias, uma reconfiguração de valores e, principalmente, um ato de resistência estética, cultural e social em meio ao colapso ambiental do nosso tempo.

Afinal, a roupa é, antes de tudo, uma declaração silenciosa (ou nem tanto) de existência e pertencimento no mundo.

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Nossa parabéns, eu adorei muito, se saiu muito bem nas fotos ❤️continua assim e mais uma vez parabéns Nicolas 😘

Thaina mallet

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“Cassino” é indicado ao Prêmio Grande Otelo e leva litoral gaúcho às telas

Gravado em Rio Grande, com equipe majoritariamente gaúcha, o filme curta-metragem transforma paisagem afetiva em cinema      

Por Martha Cristina Melo       

 

Cartaz oficial de divulgação do curta-metragem para 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes

 

Dirigido pelo rio-grandino Gianluca Cozza, o curta-metragem Cassino foi indicado à categoria “ficção” do Prêmio Grande Otelo, uma das maiores premiações do cinema nacional. Produzido no Balneário Cassino, localizado no município gaúcho de Rio Grande, a obra marca uma conquista artística para a região, além de um avanço simbólico para as produções de fora dos polos hegemônicos.

A cerimônia do Prêmio Grande Otelo será realizada no Rio de Janeiro no dia 30 de julho, na Cidade das Artes. Sua 24ª edição tem como tema o destaque que o cinema brasileiro vem tendo no exterior. É uma promoção da Academia Brasileira de Cinema, que contou com 345 inscrições entre longas-metragens, curtas e séries, um número recorde nesses 24 anos. Todos os títulos registrados podem ser conferidos no site da Academia Brasileira de Cinema

Votado por profissionais das mais diversas áreas do setor, o Prêmio Grande Otelo vem passando por atualizações desde que foi criado, sempre acompanhando as mudanças do mercado audiovisual. Desde a última edição, a cerimônia conta com 30 prêmios no total, sendo 29 produções escolhidas pelo amplo júri formado por profissionais associados à Academia Brasileira de Cinema, e o disputado Grande Otelo de Melhor Filme pelo Júri Popular, escolhido pelo público por meio de votação aberta realizada no site da Academia.

A produção de Cassino

O curta que, segundo Gianluca, envolveu aproximadamente 30 profissionais e voluntários em sua produção — entre eles, familiares, amigos próximos e vizinhos do diretor —, também contou com o apoio do Núcleo de Produção Audiovisual OfCine/IFRS, que contribuiu com o empréstimo de equipamentos e viabilizou a produção com orçamento reduzido.

Nascido da ideia de um plano (trecho de um filme), o cenário escolhido para dar vida ao curta não foi por acaso. As locações envolveram a região em que Gianluca cresceu, mais precisamente na quadra em que viveu durante grande parte da vida. Os cenários incluem sua própria residência, assim como o Colégio Peixoto Primo, localizado ao lado da casa do cineasta. “Imagino que para decupar [organizar o roteiro em cenas] um filme, é preciso entender o lugar que está sendo filmado”, afirmou o diretor.

Com roteiro assinado por André Berzagui, Eleonora Loner e o próprio Gianluca Cozza, Cassino é uma produção Saturno Filmes, e acompanha três amigos que, durante o inverno, passam a invadir casas de veranistas temporariamente desocupadas. Entre conversas sobre amor, cotidianos e desejos, o curta propõe uma reflexão subjetiva sobre os motivos que os levam a agir dessa forma. O filme teve sua estreia na 27º Mostra de Cinema de Tiradentes, passou pelo 52º Festival de Cinema de Gramado e, agora, se prepara para disputar o Grande Otelo, cuja 24ª edição acontece no dia 30 de julho, no Rio de Janeiro.

OfCine e a manutenção da cultura audiovisual em Rio Grande

Ao falar sobre a proposta pedagógica do OfCine — projeto no qual o diretor Gianluca participou enquanto um dos fundadores e realizador dos primeiros encontros, ele destacou que as oficinas de cinema surgem como uma grande ferramenta de conhecimento em um meio que, além de pouco acessível, é elitizado. “Tem muito conhecimento que você só adquire na prática. Existe muito no ‘fazer artístico’ que não existe um manual que explique, e as oficinas são uma proposta de realização e prática”, afirmou. Para ele, além de um contexto que reúne pessoas com interesses em comum, os encontros também fazem parte da construção de uma cultura cinematográfica mais presente na cidade de Rio Grande.

Cassino já está disponível no Porta Curtas, Cozza site de exibição de curtas-metragens nacionais. A produção planeja disponibilizá-lo futuramente no YouTube.

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Moda indígena: quando vestir é também resistir

Em um país cuja história oficial tentou apagar os povos originários, a moda indígena surge como um grito de resistência    

Por Vanessa Oliveira         

 

Ana Paula Tenhfú da Silva e Kellen Kamin da Silva vestem os grafismos do povo Mehinako e Ariadiny Kaingang está usando as roupas com grafismos de sua cultura de origem

 

Quando pensamos ou ouvimos falar em moda, a primeira coisa que imaginamos é, look do dia, tendências, grifes, desfiles e afins. A moda vai muito além disso, ela também é expressão, resistência e identidade.  É nesse universo da moda como ferramenta de expressão e resistência que nasce a coleção “ÉG | AITSU | NÓS”, da marca gaúcha Moldô Moda Autoral e Arte.

 

Carolina Biberg Maia contou com artistas indígenas para criar coleção de roupas    Foto: Fábio Alt

 

Fundada pela gestora cultural Carolina Biberg Maia, em colaboração com artistas indígenas como Ontxa Mehinako e Ariadny Kaingang, a coleção une ancestralidade, arte e economia criativa. Mais do que roupas, as peças carregam histórias, saberes e símbolos dos territórios e povos que representam.

“Essa ideia nasceu do desejo de apresentar e valorizar a arte indígena do Rio Grande do Sul e do Brasil, mas também com um olhar muito atento ao impacto social e ao fortalecimento da economia criativa local”, explica Carolina. Com formação em Artes Visuais e especialização em Patrimônio Cultural, Carolina é uma referência no fomento aos chamados “territórios criativos”, espaços nos quais tradição, inovação e empreendedorismo se encontram para transformar a realidade.

A ideia da coleção surgiu a partir das experiências de Carolina como gestora pública no Programa RS Criativo, iniciativa com objetivo de ampliar a visibilidade e as oportunidades para empreendedores criativos pretos, pardos, indígenas, quilombolas, ciganos, pessoas trans e com deficiência. Hoje com a Moldô, ela promove um movimento cultural, que conecta artistas visuais, artesãos e designers em criações autorais que respeitam os saberes tradicionais.

O lançamento da coleção ocorreu no mês de fevereiro no espaço cultural Casa Baka, em Porto Alegre, com apoio da Escola Fluxo e da marca Regis Duarte. Participaram também artesãs locais como Rita Zanfra com suas aquarelas; Mara Roxo e seus crochês; e Juciara Dantas com perfumes inspirados na natureza.

 

Lançamento da Coleção ÉG | AITSU | NÓS no dia 25 de fevereiro em Porto Alegre  Foto: Fábio Alt

 

“Me senti muito emocionada e honrada ao ver os grafismos do meu povo representados na moda. É uma sensação difícil de explicar, mas que enche meu coração de orgulho. Cada traço carrega história, identidade e sabedoria dos nossos ancestrais, então ver isso ganhando visibilidade é muito importante e especial”, relata Ariadny Kaingang, de 19 anos, assistente administrativa e uma das artistas participantes da coleção. Ela acredita que compartilhar a cultura Kaingang por meio da arte é uma forma de resistência e conexão. “É mostrar que estamos presentes, que temos voz, e que a nossa cultura tem beleza, força e significado. É manter viva a memória do meu povo e fazer com que outras pessoas conheçam e respeitem o que somos.”

 

Ariadny Kaingang participou da criação artística  da coleção    Foto Fábio Alt

 

O povo Kaingang é um dos maiores povos indígenas da região sul do Brasil, com presença significativa nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Falam a língua Kaingang e mantém uma forte relação com a natureza, a ancestralidade e os saberes tradicionais. Os grafismos do povo Kaingang, por exemplo, carregam significados ligados à dualidade sagrada entre o sol e a lua. Elementos fundamentais da cosmologia do povo.

O artista Ontxa Mehinako, de 34 anos, da etnia Mehinako do Alto Xingu (MT), é estudante de Administração de Sistemas e Serviços em Saúde na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. Para ele, ver os traços de sua cultura ganharem espaço no vestuário é motivo de orgulho. “A moda é uma forma poderosa de expressão. “Ver grafismos e elementos culturais ganhando espaço nesse universo é uma maneira incrível de contar histórias visuais e manter tradições vivas e poder compartilhar a cultura do meu povo através da arte significa conectar gerações, transmitir valores e mostrar ao mundo a riqueza das influências que moldam nossa identidade.”

 

Ontxa Mehinako vê com entusiasmo grafismos do seu povo no design de moda   Foto: Fábio Alt

 

O povo Mehinako vive na região do Alto Xingu, no estado do Mato Grosso, e faz parte do Parque Indígena do Xingu. Sua cultura é marcada por rituais tradicionais e por uma rica produção artística que inclui cerâmicas, grafismos corporais e cantos sagrados.

Iniciativas como a ÉG | AITSU | NÓS mostram que moda também é território. Um território onde o tecido vira memória e onde vestir-se é, antes de tudo, uma forma de existir – com orgulho, beleza e identidade. Para conhecer mais sobre a marca e os artistas, acesse @moldoarte no Instagram. 

 

Grafismos da cultura Mehinako estão presentes nas peças

 

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Acho incrível o colorido da Arte Indígena. Parabéns Carolina!

Paulo Fernando Macluf Biberg

 

 

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“Pelotas Mal-assombrada” apresenta palestra sobre cemitérios na sexta-feira 13

Encontro no 4 Galeria de Arte e Café levará público para uma viagem no tempo, explorando as sepulturas antigas e seus ritos fúnebres     

Por Bruna Farias       

 

           Nikolas Corrêa apresenta os jazigos e suas histórias em “Os Cemitérios de Pelotas” Foto: Divulgação

 

Explorando ainda mais os mistérios da cidade, a palestra “Os Cemitérios de Pelotas”, apresentada por Nikolas Corrêa, que coordena os passeios “Pelotas Mal-Assombrada”, chega no 4 Galeria de Arte e Café, localizado na rua Doutor Amarante, nº 608, na sexta-feira, dia 13 de junho, às 18h30. Visando despertar um novo olhar do público diante a esses espaços, a palestra propõe uma imersão nos terrenos que já foram cemitérios em Pelotas e nos antigos ritos fúnebres, destacando o valor simbólico e cultural desses lugares para o município.

Considerados museus a céu aberto, os cemitérios sempre foram muito importantes para a cidade, e se transformaram em documentos históricos. O palestrante Nikolas Corrêa, que trabalha com a história de Pelotas há mais de 10 anos e com a caminhada “Pelotas Mal-Assombrada” desde 2023, fala que a ideia da palestra surgiu com o pensamento de que podemos entender muito sobre um município por meio de seus lugares para as sepulturas. “Nós sempre tivemos esse interesse de tentar apresentar os cemitérios de uma forma diferente para as pessoas, justamente tentando compreender esses espaços não só como dor e luto, mas como pontos de reflexão, observando o lado histórico, artístico e cultural”, explica Nikolas.

Com classificação indicativa de 14 anos, os ingressos estão disponíveis para compra no Sympla por R$ 35,00. Mais informações sobre a palestra podem ser encontradas nas redes sociais do “Pelotas Mal Assombrada”, @pelmalassombrada ou do 4 Galeria de Arte e Café @4galeria.co.

Memórias da cidade

Criado pelos professores de história Nikolas Corrêa e Lizandra Pinheiro em 2023, o projeto “Pelotas Mal-Assombrada” tem o objetivo de entrar na memória coletiva da cidade por meio de uma caminhada por locais que unem lendas, histórias obscuras e questionamentos sobre a construção da identidade pelotense.

A caminhada é uma extensão do projeto “Porto Alegre Mal-Assombrada”, mas é resultado de mais de dez anos de pesquisa sobre a história de Pelotas realizados por Nikolas. Ao longo das quase três horas de caminhada pelas ruas da cidade, o passeio apresenta um conjunto de histórias que vão além das tradicionais já contadas em livros e arquivos. São lendas urbanas, relatos de crimes e desigualdades sociais que foram, por muito tempo, esquecidos pela sociedade.

Mais do que um simples passeio, “Pelotas Mal-Assombrada” é um convite à reflexão sobre o passado e o presente da cidade. O tour não somente revela o passado oculto da cidade, mas também nos leva a refletir sobre quais narrativas escolhemos preservar e quais deixamos que se percam no tempo.

Evento: Palestra ‘Os Cemitérios de Pelotas’

Dia: 13 de junho de 2025

Horário: 18h30

Local: 4 Galeria de Arte e Café, rua Doutor Amarante, nº 608

Ingressos: R$ 35,00

Onde comprar: Plataforma Online Sympla

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Arte transforma educação em expressividade

Projeto escolar transforma criações de alunos em publicação literária e conquista espaço na Feira do Livro de Pelotas  

Por João Pedro Goulart   

 

Primeira edição teve participação de somente uma escola   Fotos: Divulgação

 

No cenário plural da cultura sul-rio-grandense, uma iniciativa valoriza a expressão artística dos estudantes e ganha destaque. O “Caderno Literário Escrito a Giz…” é um modelo inspirador de união entre a arte e a educação. Trata-se de um projeto que tem origem no ambiente escolar e se expandiu para a Feira do Livro de Pelotas. Desenvolvido por professores apaixonados por explorar a criatividade dos alunos, o projeto transforma desenhos, fotografias e textos literários em uma publicação vibrante e cheia de inventividade.

 

 

Professores Marta Bottini  e Ronaldo Campello tiveram ideia ao constatarem criatividade dos alunos

 

Idealizado pelos professores Marta Bottini e Ronaldo Campello, o projeto surgiu da observação do talento espontâneo e expressivo dos alunos. Enquanto Marta, professora de artes, sempre trabalhou o universo da criatividade em sala de aula, Ronaldo, que leciona na área das exatas, percebeu a criatividade dos estudantes se manifestando nos rabiscos feitos entre as atividades matemáticas. A junção de olhares impulsionou a criação do “Caderno”, um espaço para dar visibilidade a essas produções.

“Sempre notei que, após realizarem as atividades, muitos alunos faziam desenhos como forma de expressão, revelando seus sentimentos”, descreve Ronaldo, sobre a primeira percepção do potencial artístico dos alunos. Com duas edições já publicadas, o trabalho tem um repertório variado; conta com desenhos, poesias, contos, fotografias, entre outros. O projeto é aberto a alunos, professores, funcionários e à comunidade escolar.

 

Estudantes fazem releituras de obras consagradas da história da arte

 

Criatividade, inspiração e protagonismo

A arte é fundamental no desenvolvimento dos alunos, pontua Marta. Para ela, os desenhos proporcionam experiências para além da sala de aula, e convida os estudantes ao cuidado de si, à construção de novas possibilidades e ao despertar dos sentidos para enxergar o mundo de maneira mais sensível. “Não se limita ao que está estabelecido como certo ou errado; pelo contrário, permite a liberdade de expressão, dá voz à individualidade e incentiva a criação sem amarras”, observa.

 

Participação na Feira do Livro de Pelotas foi um momento de encontro com a comunidade

 

Arte para superar desafios

A construção do “Caderno Literário” acontece em várias etapas, e cada uma delas apresenta desafios específicos, que começam já no início do ano letivo. O primeiro obstáculo é ministrar os conteúdos teóricos que embasam as produções dos alunos, como releitura, sombra e luz, ponto e linha, além de noções básicas de fotografia. Depois, acontece a fase prática, quando os alunos aplicam esses conhecimentos.

 

Frida Kahlo foi uma das artistas homenageadas

 

Para Marta, um dos maiores desafios foi fazer com que os alunos compreendessem seu papel na sociedade e reconhecessem seu próprio potencial. Para isso, foi essencial criar um vínculo de confiança e proximidade entre professor e aluno, permitindo um espaço de troca verdadeira com respeito à individualidade de cada um. Além disso, outro aprendizado foi oferecer aos alunos a possibilidade de errar e aprender com os erros.

“Trabalhar a arte exige sair da zona de conforto, lidar com conflitos internos e superar limitações. Muitas vezes, é preciso ‘deixar o pote de tinta cair no chão’, desacomodar pensamentos e repensar ideias”, diz a professora de artes.

 

Ronaldo e Marta pensam no projeto como uma forma de conscientização dos estudantes sobre os seus papéis sociais

 

Sessão de autógrafos e ascensão

Ao longo dos anos, o Escrito a Giz não só revelou talentos dentro das escolas, mas também ganhou palco fora delas. As participações mais recentes na Feira do Livro de Pelotas (49ª e 50ª edições) o consolidou como uma vitrine da produção artística estudantil, e permitiu que os alunos vivenciassem a experiência de autografar suas próprias obras. O crescimento do projeto, que passou de uma escola integrante, em 2023, para três, em 2024, refletiu o engajamento dos estudantes na aproximação da educação com a arte.

 

Estudantes autografaram seus trabalhos no lançamento da edição na festa dos livros

 

Para o professor Campello, a participação nas duas últimas edições da Feira foi fundamental para fortalecer a proposta do projeto. “Na edição de 2023, apenas uma escola participou: a Escola Areal. Já em 2024, conseguimos ampliar a participação para três escolas – Escola Areal, Escola Fernando Treptow e Colégio Municipal Pelotense – e mais de 25 alunos estiveram na sessão de autógrafos”, compara.

 

No ano passado, edição teve a participação de três escolas

 

Dever cumprido

Participar do “Caderno Literário Escrito a Giz” é uma experiência marcante para os alunos que dedicam tempo e criatividade para produzir seus trabalhos. Atualmente no ensino médio, o aluno Luís Gustavo da Rosa, de 15 anos, lembra de cada aula envolvida no projeto como um momento de aprimoramento, em busca do melhor resultado possível. Ao ver sua produção finalizada e publicada, o ex-aluno da Escola Fernando Treptow sentiu a satisfação por contribuir para uma obra coletiva de expressão artística dentro do colégio.

 

Aspectos do cotidiano ganham visão nova de acordo com sensibilidade e expressão dos estudantes

 

Além do reconhecimento, o projeto também despertou no jovem um novo olhar sobre suas próprias capacidades criativas. A oportunidade de transformar ideias em textos e imagens mostrou que a imaginação é um campo fértil de possibilidades, bastando incentivo e dedicação para explorar todo o seu potencial. “Vi que minha mente era capaz de produzir muitos trabalhos e textos de qualidade. Isso dá uma motivação para realizar outros trabalhos agora e futuramente”, assegura Luís.

Para os professores, é um privilégio desenvolver um projeto que ultrapassa os muros da escola e vai para o mundo. Mas independentemente do lugar que estiverem, há algo que não muda: Marta e Ronaldo seguirão acreditando na arte como um meio poderoso de expressão, capaz de transformar tanto os alunos-artistas quanto os que vivenciam suas criações.

Confira as edições

1º Caderno Literário Escrito A Giz

2º Caderno Literário Escrito A Giz

 

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Mostra gratuita de filmes latino-americanos e espanhóis até novembro

CineUFPel exibe toda sexta-feira obras independentes e de diretores consagrados  

Por Manuella Centeno  

 

Filme “O Banheiro do Papa” retrata cotidiano de pequena cidade uruguaia próxima da fronteira       Fotos: Divulgação

 

Começou  no dia 16 de maio,  a  mostra  de  longas-metragens latino-americanos e espanhóis promovida pelo CineUFPel. As exibições acontecem todas as sextas-feiras, às 19h, na sala do CineUFPel, localizada na rua Lobo da Costa, 447, no prédio da Agência de Desenvolvimento da Lagoa Mirim. A programação vai até o mês de novembro, com entrada gratuita e sessões seguidas de debate com convidados.

O Ciclo de Cinema Latino-Americano e Espanhol é fruto de uma parceria entre a Secretaria de Cultura (Secult), a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a Prefeitura de Pelotas e o Centro de Estudios en Lengua Española.

Segundo o coordenador do CineUFPel, Roberto Cotta, o Ciclo busca valorizar o cinema falado em língua espanhola, com filmes de cineastas renomados, como Pedro Almodóvar, e também produções menos conhecidas ou resgatadas. “As obras escolhidas trazem esse caráter de cinema inventivo e independente, com uma vontade de desafiar as condições de produção de cada país. A ideia é ampliar os conhecimentos sobre o cinema latino-americano”, explica.

Na estreia, foi exibido o longa “El Baño del Papa” (O Banheiro do Papa), coprodução franco-uruguaio-brasileira dirigida por César Charlone. O filme se passa em uma pequena cidade do Uruguai, onde a visita do Papa João Paulo II, em 1988, inspira Melo, um homem humilde, a construir um banheiro para atender os peregrinos que chegam ao local. A trama mistura ficção com fatos reais e reflete sobre as condições de vida da população local.

O professor Juan Pablo Berasain, também organizador da mostra, ressalta a importância do projeto. “O ciclo trata do que a gente entende como universo do cinema latino-americano e espanhol. Tem o propósito de levar ao público o que há de melhor nessa produção audiovisual”, afirma.

A programação inclui filmes do Uruguai, Argentina, Chile, México e também da Espanha, dentro do chamado Ciclo de Cinema Espanhol. A entrada é gratuita e aberta ao público em geral.

 

Melo tem ideia de construir banheiro que seria útil para o grande número de visitantes

 

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