Série argentina transforma quadrinho clássico em drama atual com forte crítica social e visual impactante.
Por Pedro Farias

Ricardo Darín atua como personagem Juan Salvo, em narrativa que mistura ficção científica e crítica social Fotos: Divulgação
Com estreia marcada para 30 de abril de 2025 na Netflix, “O Eternauta” adapta um dos quadrinhos mais influentes da América Latina, criado por Héctor Germán Oesterheld e Francisco Solano López entre 1957 e 1959. Dirigida por Bruno Stagnaro, com roteiro assinado por ele e Ariel Staltari, a série tem como protagonista Ricardo Darín – ator de O Segredo dos Seus Olhos, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2010 – no papel de Juan Salvo, personagem central de uma história que mescla ficção científica e crítica social num cenário de colapso.
A trama começa de forma contida, em um bairro de Buenos Aires, onde um grupo de amigos se reúne para uma noite de carteado. Aos poucos, a realidade se desestabiliza, e a série mergulha em um clima de tensão crescente. A cada episódio, o espectador é envolvido por um enigma maior: não apenas o que está acontecendo, mas por que. Sem recorrer a revelações fáceis ou reviravoltas forçadas, “O Eternauta” constrói um suspense denso, onde a angústia se mistura à resistência.
Mesmo respeitando a essência da HQ, a série atualiza suas mensagens para os dias de hoje. É impossível assisti-la sem pensar em tragédias sociais e políticas da América Latina, especialmente da Argentina. A obra original foi escrita durante o governo de Juan Domingo Perón. Após a morte de Perón, a ditadura militar derrubou o governo de sua sucessora, Isabelita Perón — contexto que confere ainda mais peso simbólico à série.

Roteirista Ariel Staltari também é ator no papel de Omar, personagem que explora dilemas ideológicos
Visualmente, a produção é sofisticada e intensa. A Buenos Aires retratada em tela é ao mesmo tempo cotidiana e desoladora. Ricardo Darín entrega uma atuação segura, dando humanidade a Juan Salvo, um personagem que cresce em complexidade à medida que o mundo ao seu redor desmorona. O elenco coadjuvante também se destaca, com Ariel Staltari (Omar), César Troncoso (Tino), Mora Recalde (Elsa), Alan Daicz (Martín), e outros nomes que ajudam a explorar os dilemas morais e coletivos da narrativa.

Andrea Pietra, Carla Peterson e Marcelo Subiotto em uma das sequências da série ‘O Eternauta’
“O Eternauta” não é apenas uma série sobre uma invasão ou um colapso. É uma obra que convida à reflexão sobre silêncios, apagões e as “neves” que ainda nos ameaçam de forma simbólica: as perdas de direitos, as ameaças invisíveis, a fragilidade das instituições. E, talvez por isso, cada episódio nos deixe mais intrigados. A tensão não está só no que se vê, mas no que se pressente.
A primeira temporada termina com pontas instigantes e já tem uma segunda confirmada. Resta saber até onde a história vai nos levar — e se seremos capazes de encarar as camadas mais profundas dessa jornada coletiva.

Alfredo Favalli (ator César Troncoso) é o dono da casa onde o grupo de amigos se refugia e onde a história começa
Ficha técnica: “O Eternauta” (2025)
Criação original: Héctor Germán Oesterheld e Francisco Solano López (HQ)
Direção e roteiro: Bruno Stagnaro
Roteiro: Ariel Staltari e Bruno Stagnaro
Protagonista: Ricardo Darín (Juan Salvo)
Elenco: Ricardo Darín, Carla Peterson, César Troncoso, Andrea Pietra, Ariel Staltari, Marcelo Subiotto, Claudio Martínez Bel.
Plataforma: Netflix
Estreia: 30 de abril de 2025
País: Argentina
Gêneros: Ficção científica, drama, suspense
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