Vídeo: Meu Tio Matou um Cara

Texto de Rafael Mirapalheta –

DVD – Crítica –

Do diretor Jorge Furtado, ‘‘Meu Tio Marcou um Cara’’ é um exemplo de como uma narrativa simples e genuína pode dar muito certo. A trama se foca no adolescente Duca (Darlan Cunha), que precisa lidar com as questões sociais da vida de um garoto de 15 anos como amigos, paixões e família. Tema recorrente nas produções de Furtado, como em “Houve Uma Vez Dois Verões” (2002) e “O Homem que Copiava” (2004). Mas a trama não se resume a isso, já que o arco central que desencadeia toda a história é o suposto assassinato confesso pelo tio Éder (Lázaro Ramos). A grande sacada do longa é a de não se fixar apenas na comédia. A premissa de uma confissão como a mencionada seria normalmente tratada exclusivamente ou pela comédia ou pelo drama. Mas o que o filme faz aqui é explorar a linha tênue entre essas duas possibilidades. Dosa de forma exemplar os acontecimentos cômicos com o drama vivido por Duca em relação à paixão não correspondida pela melhor amiga Isa. Esta, por sua vez, é apaixonada por Kid, amigo de ambos.

Um aspecto notório logo de cara é o da mistura de gêneros. Nos é apresentado pela história a realidade de Duca, menino negro que por várias vezes analisa situações através do ponto de vista étnico. Como por exemplo a sua piada sobre saber que jamais iria ser ofendido em seu colégio composto majoritariamente de pessoas brancas, pois elas ficariam receosas de serem acusadas de racismo. Questões como essas são sempre tratados com leveza e naturalidade, o que causa no espectador uma sensação agradável.

O adolescente Duca (Darlan Cunha) e seu tio Éder (Lázaro Ramos) são os personagens principais

Porém uma grande virtude da obra de Furtado é a maneira como ela lida com os adolescentes. Aliás, de modo geral, o filme é sobre eles. Os jovens são destacados sempre como pessoas de ótima percepção, que são capazes de ver o mundo de forma crítica e inteligente, na medida que se mostram adaptáveis às mais diversas situações. Nada mais do que um retrato da sociedade em que vivemos, onde os jovens possuem cada vez mais afinidade com tecnologias, com a internet, e com as mais diversas tarefas do dia a dia. Como exemplos disso no longa-metragem destacam-se as cenas em que Duca sugere ao advogado da família o que deveria ser feito para que a polícia não suspeitasse de alguma mentira de seu tio. E também todas as iniciativas de Duca e Isa para contratar um detetive particular e as descobertas decorrentes disso. A narrativa feita pelo personagem principal, constante em todo filme, é uma artimanha que nos faz perceber tudo isso. Ela também cumpre o papel de exercer uma proximidade entre o Duca e o espectador, fundamental para nos apegarmos aos acontecimentos.

Por se tratar de um retrato de pessoas de classe média/baixa do Brasil, para o filme ser fiel à realidade, ele precisaria ter necessariamente diálogos genuínos. Aspecto que não se encontra tão facilmente no mundo do cinema e televisão brasileiro. Aí que entra o grande diferencial da obra; ela liga todos os pontos levantados e se encaixa com todo o contexto apresentado. Os diálogos são muito bem escritos e executados. Você consegue assistir e se identificar com o modo de falar dos personagens, com as expressões utilizadas, com as frases simples que são roteirizadas. Retratando exatamente como é feita a comunicação por grande parte da população, ao invés de textos caricatos que jamais condizem com a realidade de diálogo dos brasileiros e que vimos tão frequentemente por aí em novelas, séries e outros filmes brasileiros. Méritos também para as produções da Casa de Cinema de Porto Alegre, que sempre preza pela qualidade de diálogos em suas obras.

O filme vai chegando ao seu clímax com o afunilamento dos dois arcos centrais: a investigação do assassinato e a relação de Duca e Isa. A forma como elas foram interligadas se mostrou uma solução fácil para o roteiro, mas ainda assim bem executada. Após toda a revelação do caso, a interpretação de Lázaro Ramos funciona bem, pois o ator se mostra confortável no papel para maximizar suas caras e bocas. Não só ele, como também Aílton Graça, Dira Paes, Sophia Reis, Renan Gioelli, Deborah Secco e todo o elenco de apoio estabelecem um domínio seguro sobre seus personagens.

“Meu Tio Matou um Cara” é um exemplo de como uma narrativa simples e genuína deu muito certo. O filme é mais um grande acerto de Jorge Furtado e uma vitória em prol de um retrato realista do povo brasileiro, principalmente dos jovens. Uma recomendação mais do que indicada para os adoradores de filmes brasileiros.

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Terror 100% pelotense

Reportagem de Matheus Garcia –

Filme de terror produzido pela J&J Filmes e TC Cidade deve estrear em breve  –

Elenco reúne estudantes de teatro e jovens que estão atuando pela primeira vez no cinema

Uma novidade aterrorizante está para ser lançada em breve na cidade. Um longa-metragem de terror está sendo produzido em Pelotas desde janeiro deste ano. “O Filme” é uma produção totalmente local da produtora J&J Filmes, dos cineastas José Mattos e Julio Furtado. “Já fazia muito tempo que o Julio e eu queríamos fazer algo na área do terror porque é um gênero que nos interessa muito e do qual não temos muitas produções aqui”, disse o produtor e diretor José.

O roteiro foi pensado entre a J&J Filmes e o escritor André Rodrigues, que já havia participado de outras produções dos cineastas. “O André fez uma novela na TV Cidade uns anos atrás conosco. E como precisávamos de alguém para por no papel o esboço da nossa ideia, resolvemos chamar ele por conta do talento e da criatividade que tem”, contou Julio.

A TV Cidade é parceira da J&J Filmes na produção do longa e, segundo a diretora executiva do canal, a jornalista Fernanda Puccinelli, além da produtora cinematográfica ter uma relação estreita com a emissora, o apoio se dá pelo fato da valorização das produções locais. “A TV Cidade, por ser um canal totalmente local, não teria por que não ser parceira deste filme que é cem por cento pelotense e que está sendo produzido com toda qualidade e profissionalismo que o Zé e o Julio têm e eu conheço de cor”, disse Fernanda.

 

Seleção do elenco

Depois do roteiro pronto, foi a hora de escolher o elenco e como não poderia deixar de ser, a preocupação era em achar um elenco composto por atores locais. O anúncio foi feito via redes sociais e várias pessoas, com experiência ou não na arte de atuar, compareceram nos testes de elenco. Foram três noites de seletivas e a partir daí foram escolhidos os nomes que integrariam o filme. “Tínhamos uma preocupação com a escolha do elenco masculino porque os homens em filmes de terror têm uma postura viril, de proteção e essa foi nossa maior dificuldade” contou José. “A gente pensou em algo para o teste que fosse despertar a parte do improviso e que não fosse nada muito forçado para vermos como seria a reação e expressão de cada um”, falou Julio.

Os testes ocorreram nos estúdios da TV Cidade, onde um quarto sombrio foi montado. Os candidatos vinham arrastados pelo corredor e eram acorrentados em uma cama toda ensanguentada. Depois, um mascarado atacava cada um com uma furadeira, sem a broca, é claro! “Nessa parte era que queríamos ver as expressões e a capacidade de cada um de reagir em uma situação de pânico porque as pessoas chegavam sem saber do que ia acontecer, era tudo no improviso”, contou José. Foram escolhidos quatro homens e oito mulheres e, destes, apenas dois já haviam tido experiências com atuação.

Com o elenco já formado, foi a hora de buscar mais parcerias para o filme e, como diretora de fotografia, foi escolhida a fotógrafa Luísa Planella. Para as locações onde aconteceriam as cenas externas, a parceria foi firmada com o C.T. Caudilho Paintball, um campo de paintball (jogo americano que utiliza marcadores de ar comprimidos com balas de tinta) localizado na antiga fábrica de papel, do Coronel Vinholes. E as sequências internas do filme foram gravadas nos estúdios da TV Cidade.

O roteiro conta a história de uma turma de cinema que está terminando o curso e precisa fazer um curta-metragem de terror como trabalho de conclusão. Os alunos têm três dias para entregar a tarefa e resolvem gravar todo o material em apenas uma noite no campo de treinamento de um dos colegas. Chegando lá, coisas sobrenaturais começam a ocorrer e o público terá certa dificuldade para saber o que realmente acontece ou que é encenado no filme produzido pelos universitários. “Por isso escolhemos esse título porque temos um filme sendo produzido dentro de outro filme. O que é mais legal desse longa-metragem é que os personagens foram criados em cima de características dos próprios atores e isso dá uma liberdade para eles serem mais naturais diante da câmera. E o fato de não ter um roteiro fixo para eles decorarem, as cenas são esboços e surgem no improviso, facilita ainda mais”, disse Julio. “A galerinha vem nos surpreendendo positivamente, está sendo muito legal trabalhar com eles porque dão o melhor de si e rendem bastante no vídeo, mesmo que muitos deles nunca tenham atuado nem estado diante de uma câmera”, afirmou José.

Rodagem

As gravações começaram no início de março e todas acontecem aos finais de semana e à noite, pelo fato de que muitos estudam ou trabalham e não têm muita disponibilidade para gravar durante a semana. A primeira parte do filme, filmada nos estúdios da TV Cidade, aconteceu apenas em uma noite. “Foram cenas simples que serviram como uma espécie de introdução da história e de cada personagem”, disse Julio. Para o papel do professor da turma de cinema foi escalado o ator Chico Meirelles, já bastante conhecido do público pelotense pelas aparições em peças e produções cinematográficas da cidade, além de coordenar alguns projetos artísticos em escolas do município.

Infelizmente, como em toda produção cinematográfica, vários imprevistos pegaram de surpresa os diretores. Alguns atores, por motivos pessoais, tiveram que declinar do projeto e foram substituídos no decorrer das filmagens e as condições climáticas influenciaram negativamente nas gravações. Como o inverno foi muito rigoroso este ano, uma longa pausa foi dada nas filmagens, porém, já se tem aproximadamente 55 minutos de filme pronto. “Precisamos agora de mais uns cinco dias de gravação e terminamos as filmagens do longa. Queremos fechar ele em 90 minutos mais ou menos”, disse José.

Uma última integrante do elenco foi definida no início de outubro. A estudante do sexto semestre de Teatro da Universidade Federal de Pelotas, Laís Souza, foi convidada para fazer uma participação na primeira cena do filme, que se passará no início da década de 1970. “Para mim vai ser um prazer participar desse longa pela experiência que nunca tive na telona e também porque amo filmes de terror e sempre quis participar de algo do gênero”, contou Laís que, nessa cena, vai atuar ao lado de Chico Meirelles, em uma sequência de tirar o fôlego, segundo os diretores. “Queremos ousar muito nessa cena, mostrar o que queremos com esse filme já no primeiro take”, contou José.

O clima das filmagens é bastante descontraído, segundo uma das atrizes de “O Filme”, Lizi Fonseca. “Embora a gente grave só à noite e no fim de semana, passamos horas no set e vamos madrugada adentro filmando, é uma experiência bastante divertida e vai enriquecer o meu currículo como atriz. Todo mundo é muito alto astral e se dá bem, o que influencia no clima leve de gravação. Não tem essas guerrinhas de ego porque todo mundo tem seu espaço e todos os personagens são muito importantes para a construção da história. E também não tem essa de ter medo porque estamos mexendo com o sobrenatural, falando de espíritos e nos banhamos de sangue… Gravando, a gente mais ri do que se assusta (risos)”, contou Lizi que, assim como Laís, também é aluna de Teatro da UFPel.

A previsão de lançamento é para breve. “Está sendo tudo feito com muito cuidado e queremos que seja um sucesso. Vai ser porque estamos todos colocando muito amor e dedicação em cima desse filme, é algo novo e o público já está amando desde já e está super ansioso pela estreia”, ressalta José. “Queremos fazer algo bem legal para o dia do lançamento, chamar bastante gente, até tentar parceria com os cinemas da cidade para passar nas sessões. Vamos bombar”, almeja Julio. Algumas cenas de “O Filme” podem ser vistas no YouTube.

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Mapas de espaços vivenciados

Reportagem de André Pereira –

Artista cria materializando a sua memória afetiva da cidade –

Mostra “Pequeno Mapeamento de Espaços Experienciados” no Centro de Artes

O que é um mapa? De acordo com o dicionário: é a representação gráfica, em escala reduzida, da superfície total ou parcial da Terra, de uma região. O Brasil, por exemplo, é maior do que se vê no mapa mundi, assim como a África. Motivados por razões políticas ou não, assim que eles são feitos. Como diria uma velha professora de geografia: “Quanto mais próximo dos polos, mais distorcido”.

E quando alguém começa a retratar locais somente da própria memória e sem a responsabilidade de ser fiel na representação?! Kelly Wendt, professora do curso de Artes Visuais da UFPel, teve essa ideia e assim nasceu a exposição “Pequeno Mapeamento de Espaços Experienciados” que traz a percepção da autora sobre lugares em que ela esteve e tem uma certa afinidade emocional. A exposição ocorreu em outubro na galeria “A Sala”, do Centro de Artes Visuais da UFPel.

“Esse é um mapeamento meu, da Kelly, mas cada um de nós tem seus espaços cativos. Se você parar para pensar, você vai conseguir perceber mil coisas nos lugares por onde passa e que não vão ter necessariamente as mesmas características do meu mapa.”

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Desenhos fazem interpretações sobre a cidade de Pelotas

Resultado de uma tese de doutorado em poéticas visuais, na UFRGS, a artista teve como inspiração os seus próprios laços emocionais com Pelotas. A exibição é composta por diversas formas de representação, como: desenho, impressão digital, monóculos, fotografia e vídeo.

Sob um ponto de vista aéreo, os desenhos são o que chamam mais atenção na mostra. Eles trazerem lugares reais, alguns conhecidos, como a Praça da Alfândega, no bairro Porto, e o Praia Sete, no Laranjal. Já outros, que à primeira vista parecem desconhecidos, acabam por se revelar com um olhar mais atento. “É uma forma mais lúdica, mais prazerosa de ver os espaços nos quais a gente convive. Todos eles são espaços de Pelotas, são espaços que têm uma relação próxima com a natureza.”

Um assunto cada vez mais debatido é a necessidade de se ocupar os espaços públicos. Alguns locais retratados, inclusive, eram praças de convívio para a população, mas ao decorrer do tempo foram esquecidas ou foram cercadas, assim acabaram por se tornar algo distante da realidade das comunidades que ficam ao seu redor. ” São espaços que deveriam ter mais acesso da população, mas muitas vezes por causa de algum tipo de preconceito, por causa da região onde estão, não são utilizados”.

Graças a uma rotina cada vez mais cheias de compromissos, acabamos por passar pelas ruas da cidade somente para chegar ao destino, sem apreciar a vista. Nessa perspectiva, o nosso próprio mapeamento se torna vital para compreender o lugar onde estamos inseridos. Pelotas é conhecida no Brasil inteiro por seu centro cultural, mas quantas vezes essa riqueza é trocada por uma tela de celular? Tantas nuances deixadas de lado para satisfazer a compulsão tecnológica. Somos privilegiados por vivermos em uma cidade onde o sol não é tapado por arranha céus e, o pior, não percebemos isso.

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Mundo Moinho estimula arte

Reportagem de Sara Carulina Silva da Rosa  e Nicole Mendizabal Collares – 

Casa de Artes promove produção e circulação das artes em Rio Grande – 

A produtora artística fica na rua General Câmara 435 e é coordenada pelos irmãos Andréia e Bruno Pires

 

A casa de artes Mundo Moinho surgiu da mente de dois jovens irmãos rio-grandinos: Andréia Pires e Bruno Pires. O impulso inicial aconteceu em 2010, quando foi formado o Coletivo Fita Amarela, que juntava cerca de 10 colaboradores, entre escritores e músicos da cidade. Com o objetivo de difundir e incentivar a cultura artística, eles reuniam-se mensalmente e de forma gratuita para fomentar a produção artística na região.

Com o sucesso do Coletivo, veio o desejo de expandi-lo e profissionalizá-lo. Bruno, que é produtor fonográfico e Andréia, que é jornalista, professora e escritora, agarraram-se ao desejo de colaborar com a cena cultural na cidade, e então surgiu a Produtora Artística Mundo Moinho, que hoje fica na rua General Câmara 435, bairro Centro de Rio Grande. Tudo começou juntando música e literatura em 2012. O primeiro projeto debaixo do “guarda-chuva Mundo Moinho”, o “Invitro – Laboratório de Escrita Criativa”, reuniu escritores para o compartilhamento de suas vivências artísticas, a discussão de processos criativos e a elaboração de novas obras. Mas a música não ficou esquecida em meio à literatura e teve seu espaço dentro deste guarda-chuva, inicialmente em um pequeno lugar com um palco e algumas cadeiras, onde os artistas podiam apresentar seus trabalhos. Ao longo dos anos ganhou proporções maiores devido ao sucesso da produtora.

Ainda debaixo do “guarda-chuva Mundo Moinho”, há mais dois projetos fixos: a “Caule: estamparia experimental”, que é dedicada a trabalhos com estamparia artesanal; e a Concha, que é a editora da Mundo Moinho, tendo foco na literatura contemporânea. Além da continuação dos projetos Invitro, Caule e Concha, ocorrem as atividades do estúdio de gravação e produção musical.

Com a pareceria do Cine Dunas e da Co.place, a Mundo Moinho também organiza feiras de rua, nas quais acontecem exposição de materiais de artistas locais, como pinturas e fotografias, assim contribuindo para que haja uma maior circulação da arte.

Atualmente localizada na Co.place Coworking, em Rio Grande, a Mundo Moinho também promove e produz cursos como de encadernação, escrita criativa e criação de personagens literários. Trabalhando com a comunidade e estimulando a elaboração, a circulação e o alcance de todos à arte na cidade de Rio Grande, a Mundo Moinho contribui cada vez mais para a fomentação do cenário cultural da cidade.

Para entrar em contato com a Produtora Artística acesse o site.

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Show Miudinho com Ana Paula

 

Reportagem de Michel Farias dos Santos –

Musicista catarinense participou da Semana Acadêmica de música na UFPel – 

Cantora fez turnê no Rio Grande do Sul e Argentina

A valorização da Universidade acontece através da integração de personalidades do meio cultural com a área acadêmica. É natural. O compartilhamento de valores pessoais e sociais contribui para o aprendizado. No evento promovido pelos cursos de música da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em outubro, para a abertura da 1ª Semana Acadêmica Integrada dos cursos de Música, o nome de Ana Paula da Silva, catarinense, natural de Joinville e com mais de 20 anos de carreira, surgiu como nome ideal.

Ana Paula da Silva, em duas décadas de trabalho, já tem seis álbuns lançados, parceria com grandes nomes da música nacional e internacional. Mesmo assim, considera-se “eterna aprendiz” ao participar deste evento acadêmico.

O show “Miudinho”, de Ana Paula, aconteceu no Auditório 2 do Centro de Artes da UFPel. Com voz e violão, contou um pouco das duas décadas de trabalho. Em entrevista no Programa Federal Revista, da Rádio Federal FM, a cantora relatou a sua felicidade em estar na Universidade em contato com alunos e professores:

“Estou muito feliz em trazer meu trabalho para jovens e demais pessoas que estiverem presentes na apresentação. Senti a maior felicidade quando me convidaram pra vir a Pelotas, um expoente cultural. E, ainda mais feliz, por também realizar a apresentação em um espaço acadêmico. Espero que seja uma troca mútua de experiências e que todo mundo saia ganhando.”

Sobre ser convidada para um evento universitário, a cantora reconheceu e valoriza a oportunidade. “A importância de estar em locais como Universidade e em contato com outras culturas é o que me faz feliz. Me faz evoluir”, disse.

Em Pelotas, a cantora apresentou o show “Miudinho”. Um apanhado de músicas criadas ao longo de sua carreira, em voz e violão. “Miudinho especial para os gaúchos”, afirmou Ana. Além de Pelotas, Rio Grande e Herval também receberam shows da cantora. “Estou levando meu trabalho e um pouco da cultura catarinense para as cidades do Sul do Estado, pretendo aprender ao máximo”, disse a musicista catarinense.

CD traz 14 músicas, sendo 11 composições autorais

Novo álbum

Ana Paula da Silva lançou o disco Raiz Forte, em 2016. O lançamento ocorreu cinco anos após o do último disco Pé de Crioula. O disco entrou na lista dos 27 álbuns de maior representatividade lançados em 2016. O álbum é composto de 14 composições, 11 de autoria de Ana. Sua repercussão positiva valorizou o trabalho da cantora.

“Ser lembrada pela obra que a gente trabalha tanto para criar é sempre gratificante. Mas, como sempre busquei me aperfeiçoar, desejo ser lembrada mais vezes e que as pessoas vejam o quanto é de coração a minha produção. Tenho vivido um momento excepcional na minha carreira. Não posso deixar de agradecer quem também construiu e criou o Raiz Forte comigo.”

Depois da passagem pelo Estado, Ana Paula da Silva voltou a realizar a turnê do seu novo CD, na Argentina, no mês de novembro. “Vontade enorme de poder levar esse trabalho feito com tanta dedicação para outras línguas. Sorte que a música é linguagem universal”, completa. Conheça toda a carreira da cantora no seu site.

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Tem gaúcho no Grammy sim!

Reportagem de Larissa Moraes e Lucas Pereira –

O cantor e compositor Ian Ramil venceu Grammy Latino na categoria melhor álbum

Premiado com o trabalho Derivacivilização, Ian Ramil considera que o rock é uma forma de protesto

Os cantores gaúchos Ian Ramil e Thiago Ramil foram indicados ao Grammy Latino desse ano. Ian foi designado ao prêmio de Melhor Álbum de Rock em Lingua Portuguesa, juntamente com as bandas Versalle, Scalene, Bogarins e Jay Vaquer. Já Thiago representou o estado na categoria Melhor Álbum Pop de Música Contemporânea em Língua Portuguesa juntamente com Tiago Iorc, Marisa, Céu e Larissa Luz. Ian Ramil venceu o Grammy Latino na categoria de melhor álbum de rock em português com o disco Derivacivilização, lançado em 2015 pelo selo Escápula Records. Ian e Thiago são familiares dos cantores pelotenses Kleiton, Kledir e Vitor Ramil.

Além deles, outros grandes nomes da música nacional se reuniram no dia 17 de novembro em Las Vegas, nos Estados Unidos. Djavan, Elsa Soares, Martinho da Vila e Arlindo Cruz foram indicados a um dos maiores prêmios mundiais. Elza Soares levou o melhor álbum de música brasileira e Martinho da Vila ficou com o prêmio de melhor álbum de samba.

A música “Vidas pra contar”, de Djavan, foi escolhida a melhor em língua portuguesa. Paula Fernandes venceu como melhor álbum de sertanejo e a cantora Céu ganhou na categoria música contemporânea, com o álbum Tropix. Almir Sater, Renato Teixeira e Hamilton de Holanda também saíram com prêmios.

A reportagem conversou com Ian Ramil, antes das premiações serem divulgadas, e ele já começou dizendo que se sente lisonjeado: “Muito legal concorrer ao lado de pessoas já renomadas na música. Uma honra muito grande”. Ian já fez a abertura de shows de muitos artistas, inclusive o último em Pelotas foi o de uma das cantoras premiadas no Grammy, Elsa Soares.

Questionado sobre a semelhança do som dele com o de seu primo, Ian concorda e discorda ao mesmo tempo: “Acho que são muito parecidos e muito diferentes. Parecidos no sentido de que nos expressamos artisticamente de maneira muito livre, seguindo nosso impulsos criativos, respeitando nossas personalidades; e diferente porque somos pessoas completamente diferentes.”

O cantor de 31 anos tem dois discos gravados pela Escápula Records, o Derivacivilização vem pós o disco IAN, que segundo ele é um protótipo para o ‘Deriva’: “Deriva é um álbum muito mais consciente, composto em um período de um ano e gravado num momento onde eu já tinha mais domínio do que eu estava fazendo e logo de onde eu queria chegar sonoramente”.

Muitas músicas do álbum são em forma de protesto, como as canções Artigo 5° e Coquetel Molotov. Ian considera que o rock é sim uma forma de manifesto e isso pode ter influenciado os votantes da premiação: “Não saberia dizer. Acho que a crueza dele, a essência rock que ele tem, talvez tenha chamado a atenção dos votantes do Grammy Latino. Hoje em dia é tudo muito limpo e bonitinho. O rock não é assim, Deriva é rock”, finaliza o cantor.

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Visão sombria da era cibernética

Texto de Lunara Duarte –

Televisão – Crítica – 

Série trata do efeito “narcotizante” das tecnologias e questiona suas consequências                  Foto: Reprodução

Uma das mais notáveis produções da Netflix, o lançamento da série britânica Black Mirror, em 2013, incontestavelmente quebrou paradigmas. O criador da série, Charlie Brooker, revelou em sua coluna no jornal The Guardian que o título se refere “aquele [espelho negro] que você encontra em toda parede, em cada mesa, na palma de todas as mãos: a tela fria e brilhante de uma TV, de um monitor, de um smartphone”. Uma alusão bastante familiar ao nosso contexto histórico.

A série destacou-se pela elaboração de um roteiro que abdica de uma das premissas das produções cinematográficas: a linearidade. Em oposição à maioria das séries, Black Mirror possui apenas sete episódios, cada um composto por um elenco e histórias diferentes. Apesar da ausência de linearidade, a temática gira em torno da relação dos seres humanos com as tecnologias em um futuro distópico, mesclando ficção científica com os dilemas contemporâneos.

A era do apogeu cibernético

Aqui a dependência tecnológica é levada às últimas consequências: as relações interpessoais passam a ser intermediadas por dispositivos e aplicativos. Tudo é mecanizado na cultura de massa (inclusive nós!). O que aguça ainda mais a curiosidade do espectador é o fato de que cada episódio nos convida a uma reflexão distinta sobre os impactos das tecnologias na psique humana. Os personagens, muitas vezes, são dotados de ambiguidade. O espectador não consegue apreender facilmente quem é o “vilão” e o “mocinho”. E as reviravoltas são arrebatadoras.

O efeito “narcotizante” das tecnologias provoca infindáveis questionamentos sobre os seus efeitos nocivos. Brooker sentencia: “Se a tecnologia é uma droga — e ela se assemelha a uma droga –, então quais são, exatamente, seus efeitos colaterais? Essa área, entre o deleite e o desconforto, é onde Black Mirror, minha nova série dramática, está situada.”

Sobre a decisão de tornar cada episódio independente, Brooker garante que o objetivo é romper com a familiaridade diante dos personagens, cenários e situações comuns às séries atuais. O espectador é estimulado a mergulhar em um mundo levemente diferente e a previsibilidade é deixada de lado. Sempre há uma surpresa. E, de fato, a sensação que nos causa é a de que cada episódio funciona como um filme de aproximadamente 50 minutos, com o roteiro e desfechos irretocáveis.

Os episódios “White Christmas”, “The Entire Story of You” e “Fifteen Million Merits” estão entre os que surpreenderam a audiência. Como os mais chocantes destaca-se o “The National Anthem” ou “White Bear” (o que nos deixa perplexos, particularmente). O Be Right Back é mais melancólico, mas escancara a destruição dos relacionamentos afetivos nesse cenário caótico.

Tecnologia e Sociedade do Espetáculo

Outro elemento constitutivo da trama é a referência aos realities shows, programas cujos índices de audiência ainda são bastante significativos ao redor do mundo, além dos famosos programas de auditório. Imediatamente, relacionamos a série aos conceitos do escritor francês Guy Debord – embora em dimensões muito mais catastróficas –, na qual o espetáculo torna-se um dos alicerces da contemporaneidade.

O espetáculo opera como um agravante na trama em virtude da hiperexposição dos indivíduos diante de plateias numerosas e telões. Em alguns episódios, situações do cotidiano tornam-se parte do show, de tal modo que não conseguimos distinguir a fronteira entre gestos espontâneos e calculados. A realidade e o show assumem proporções astronômicas (qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência).

 

O ônus e o bônus da tecnologia

Fato é que a tecnologia promoveu inúmeros progressos tais como a dissolução de fronteiras geográficas e difusão do conhecimento nas redes. Já cremos até na “imortalidade” dentro do ambiente virtual (condição pós-humana na qual os nossos perfis nas redes sociais simbolizariam a extensão de nossos corpos), então qual seria o outro lado desse apogeu tecnológico? Observamos com naturalidade o quanto a interação social no mundo “concreto” está comprometida devido a presença constante de smarthphones e tablets, mas não conseguimos refletir sobre os danos a longo prazo. Nem ousamos pensar com criticidade sobre isso.

A mensagem transmitida não se resume a uma visão meramente “tecnofóbica” (de aversão às tecnologias), não há apenas a tentativa de demonizá-las, e sim vê-las como um instrumento fruto de uma engenharia social, que tanto pode ser usada para o bem como para o mal. As tecnologias não nos corrompem, nós é que as corrompemos em benefício próprio. Não podemos exaltar o expansão tecnológica sem avaliar as consequências futuras. É disso que Black Mirror trata.

Visualmente a série também não decepciona. Com a produção, atuações e fotografia que dialogam com o que está sendo exibido, em pouquíssimo tempo nos sentimos cativados pelo enredo. Os movimentos de câmera às vezes fazem com que acreditemos que nós mesmos estamos “filmando” os personagens com a câmera dos nossos celulares.

A série retornou em outubro com seis novas tramas, em terceira temporada. Vale a pena conferir!

 Faixa indicativa: 16 anos.

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Espaço para arte independente

Reportagem de Beatriz Coan Peterle –

Desde 2013, o Sofá na Rua contribui para que novas produções tenham visibilidade – 

O evento passou a ser um símbolo da livre expressão e de um novo modo de compartilhar o espaço público

O evento é símbolo da livre expressão e de novo espaço para as artes

O evento Sofá na Rua, criado pelo coletivo Casa Fora do Eixo, se tornou um espaço reconhecido no município de Pelotas para bandas e artistas independentes. Em 2013, o coletivo, que já possuía suas portas abertas, decidiu expandir, levar às ruas o ambiente cultural que existia na casa, com a proposta de estimular e fomentar a cadeia cultural da cidade.

A casa abrigava diversas pessoas, que trabalhavam com diferentes linguagens artísticas e entendiam todas as dificuldades no município para desenvolver eventos culturais. Havia falta de espaço, com o fechamento do Theatro Sete de Abril, a inviabilidade de alugar locais para abrigar eventos e a dificuldade de obter investimentos e aprovação de projetos. Surgiu a ideia de “tomar a rua”, fazer uso de um espaço público, entendendo-o como um ambiente democrático, onde as pessoas têm acesso à cultura de forma gratuita, levando então o sofá para a rua.

Através de parcerias com outros coletivos culturais, sociais e ambientais, produtores, artistas e demais colaboradores, o evento começou a se desenvolver, criar forma. Inicialmente faltavam instrumentos e equipamentos, que por meio de troca de trabalho foram supridos. Uma estrutura base foi montada para realizar o Sofá na Rua que foi crescendo através do diálogo construtivo com a cidade e também pela mídia alternativa e independente feita na internet.

Os produtores o consideram um evento que vai além do entretenimento, mas que também estimula a reflexão, transformação e consolidação de diversas maneiras. Traz espaço para bandas independentes e autorais, já foi palco de lançamento de discos, artistas de outras regiões e responsável pelo surgimento de fãs. E também deixa aberto o microfone para reflexões, pensamentos e questões a serem discutidas, entendendo que ali está a voz das ruas.

Ao longo dos seus três anos, o projeto Sofá na Rua cresceu e se tornou uma rede. Surgiram edições em diversas cidades e estados, chegando até mesmo na região Nordeste do país. Em Pelotas o evento tomou corpo e forma, atingindo um público de duas mil pessoas. Devido ao encerramento da Casa Fora do Eixo em Pelotas e da reativação da zona portuária, que trazia a discussão dos benefícios e malefícios que isso traria, o Sofá na Rua fez parceria com o então Galpão do Rock (atual Galpão Satolep), e mudou de local. Saindo da Rua Almirante Tamandaré, indo para a Rua José do Patrocínio, onde se localiza o Galpão Satolep.

O local, pertencente ao produtor cultural Manoval, já era conhecido por se envolver em atividades culturais na cidade, que abriam espaço para bandas autorais e locais. Entendendo que a cultura não é só entretenimento, mas também uma luta por qualificação local, a parceria com o Sofá na Rua foi entendida como óbvia e aconteceu facilmente.

O evento já abriu espaço para mais de 200 pessoas de diversos lugares da América Latina, sempre priorizando o trabalho autoral. E também conta com bancas de economia alternativa, o que se tornou essencial para os vendedores, que muitas vezes conseguem pagar as contas do mês ou incrementar o orçamento através de venda de alimentos e outros trabalhos.

Hoje o Sofá na Rua é um evento que reúne artistas autorais de diversas regiões, vendedores ambulantes e um público sedento por cultura e entretenimento de qualidade. Ele é responsável por trazer oportunidade de crescimento econômico e principalmente cultural para Pelotas.

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Prefeitura requalifica Casarão

Reportagem de Mariana Andrade Florencio –

Projeto estimula cena artística e histórica de Pelotas –

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Desde 2005, o prédio vem sendo um espaço de apreciação das artes visuais

Em setembro, a Prefeitura de Pelotas publicou um edital que visa a requalificação das salas de exposição do Casarão 2, na Praça Coronel Pedro Osório. As salas Antônio Caringi e Inah D’Ávila Costa vão receber uma nova climatização, painéis de exibição e luminotécnica, possibilitando futuramente diversas exposições, sem o risco de serem comprometidas devido ao ambiente e a alta umidade da cidade.
Esse projeto vai ser financiado pelo PAC Cidades Históricas, que disponibilizou R$ 90.2031,04 para a requalificação. Os envelopes com as propostas foram abertos no dia 22 de setembro, e, como não houve retorno, uma nova data foi marcada para o dia 18 de outubro.

O Casarão 2, formalmente conhecido como Centro Cultural Adail Bento Costa, sede da Secretaria de Cultura de Pelotas, faz hoje parte do nosso patrimônio histórico. Em 1979, a casa corria risco de demolição e seu terreno serviria para a construção de novos prédios. O artista e grande ativista da arte histórica brasileira, Adail Bento Costa, a quem o local homenageia, lutou pela recuperação e restauração do edifício, tanto que conseguiu o apoio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para dar início a seus trabalhos de restauro. Após muitos atrasos e paradas, a restauração integral do local ocorreu em 2005, quando foi incluído no Programa Monumento.

Desde então o prédio vem recebendo diversas exposições, seja de pinturas, objetos artísticos e artesanais ou lançamentos de livros, entre outros eventos. O Casarão 2 ficou à disposição da cena artística pelotense. Quando inaugurou, o local propôs editais de ocupações para que os artistas se inscrevessem e assim pudessem utilizar os locais, mas sem um apoio financeiro.

A nova gestão, que vem atuando desde 2013, não era a favor desse tipo de política, como disse o secretário da Cultura, Giorgio Ronna. “Eu sou contrário a fazer edital apenas para ocupação de espaço. Acho que para fomentar a cena de artes visuais a gente deveria oferecer um pró-labore, um recurso para que os artistas possam pagar a produção do trabalho ou o transporte, algo assim”, afirma. Então uma nova política foi adotada e agora os editais disponibilizam recursos que ajudam os artistas a produzir, ou a realizar os eventos dentro das salas de exposições que a Prefeitura possui, beneficiando assim as salas do Casarão 2. Esse sonho só foi possível de ser realizado em 2015, quando o orçamento do ano conseguiu ser aprovado.

A partir de então treze editais foram lançados e diversos programas e artistas foram beneficiados, entre eles estão o apoio a eventos dos primeiro e segundo semestres do curso de Artes Visuais da UFPel, o Projeto do Sete ao Entardecer e o Procultura. Esses editais tentam beneficiar o número de projetos submetidos, mas tudo depende muito do valor disponibilizado pela Prefeitura e se as acomodações das salas de exposições eram capazes de receber as obras. Para Giorgio esse foi o “modo mais democrático de distribuir os recursos públicos, oferecendo condições iguais de participação a todos os agentes culturais da cidade”.

Nesse ano, infelizmente, não foi aberto nenhum edital novo, pois era necessário a requalificações das salas para a continuação dos trabalhos. Qualquer exposição realizada foi simplesmente possível através da conversa e interesse dos artistas ou parceria com instituições, como a UFPel, sempre visando contemplar o que fosse possível ser exposto. Agora, após a requalificação, novos editais serão abertos e a cena artística de Pelotas poderá mais uma vez ser contemplada.

O secretário ressalta que qualquer exposição realizada ali é aberta ao público, afinal espalhar a arte para a população é um dos objetivos do projeto. As pessoas podem visitar a casa das 8h às 18h, de segunda a sexta-feira, e conferir as exposições que estejam ocorrendo ou apreciar a arquitetura do local. O endereço é Praça Coronel Pedro Osório, Nº 2.

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Duas mostras até domingo

Reportagem de Anahí Silveira e Larissa Patines –

Gotuzzo e Vinholes: conheça as duas exposições abertas no Malg

Obras de Gotuzzo foram reunidas através da colaboração de diversas famílias pelotenses

Obras de Gotuzzo foram reunidas através da colaboração de diversas famílias pelotenses         Fotos: Anahí Silveira

     Inaugurado em 1986, o Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (Malg), vinculado ao Centro de Artes (CA) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), comemora seus 30 anos de fundação com duas exposições. Abertas no dia 17 de setembro, as mostras “Leopoldo Gotuzzo: outros acervos”, com curadoria de Carmen Regina Bauer Diniz, e “Sob o olhar do colecionador: Coleção L.C. Vinholes”, com curadoria de Jose Luiz de Pellegrin, apresentam ao público obras reunidas em um formato inédito. Além disso, proporcionam um resgate histórico na forma como cada “personagem principal” traçou sua relação com a cidade de Pelotas. As duas estão abertas à visitação até o próximo domingo, dia 23 de outubro, das 10h às 19h, com entrada gratuita.

 A relação intensa entre Gotuzzo e sua terra natal

      A professora de Artes Visuais do Centro de Artes, Carmen Diniz, conta que a curadoria se deu cerca de dois meses antes da inauguração, em um trabalho de contato verbal e pessoal com os colecionadores, que dispunham de obras do artista. “Leopoldo Gotuzzo: outros acervos” apresenta para o público 77 obras do patrono e que pertencem a 30 coleções externas ao Museu. Elas foram emprestadas por diferentes pessoas e famílias, e muitas passaram por um trabalho minucioso de restauro feito pela equipe do Museu.

     Carmen conta que José Henrique Pires, que já passou pela pasta da Cultura e hoje atua no Ministério do Desenvolvimento Agrário, foi quem lhe deu as primeiras dicas para começar a busca pelas obras. “Como sou bem agitada, telefonava, encontrava as pessoas e já ia perguntando: “Me disseram que tens dois quadros, podes emprestar?”.

     Eis que algumas descobertas foram surgindo, até mesmo fazendo a equipe repensar o que já se sabe sobre as obras de Gotuzzo. “Algumas obras que temos aqui fogem do padrão que conhecemos. Isso nos obriga a investigar outras possibilidades. “Será que ele fez?”. “Será que ele abriu outros caminhos?”. Além dos empréstimos particulares, o restante da coleção foi deixado por cláusula testamentária, incluindo móveis, que serão expostos a partir do dia 7 de novembro, data que marca o aniversário do Museu.

     O também professor do CA da UFPel, Jose Luiz de Pellegrin, que atua nas áreas de Pintura e Prática Profissional e integrante da comissão de curadoria do Malg, descreve suas impressões da exposição: “Sou catarinense, cheguei aqui em 1976 e nunca vi esse conjunto de obras. Estamos tendo acesso a uma produção do Gotuzzo que está em Pelotas, que conta um pouco das vezes que ele passou por aqui, e diz muito sobre ele, com uma variedade que a gente nunca teve a chance de ver. Vai levar uns 50 anos para isso acontecer de novo”.

    Carmen também fala sobre a relação com os doadores. “As pessoas que emprestaram foram muito legais. Tem muita gente e muitos colecionadores envolvidos”. Exceto os dois colecionadores de Porto Alegre – Paulo Raimundo Gasparotto e Bernardino Assis Brasil -, todos os outros são de Pelotas. Já Clarice Magalhães, membro da Sociedade de Amigos do Museu e também doadora, contribuiu muito para a curadoria.

Alguns desenhos do pintor apresentavam o tempo de produção, como este feito em menos de cinco minutos

Alguns desenhos do pintor apresentam o tempo de produção, como este feito em menos cinco minutos

Vida e obra

      O pelotense Leopoldo Gotuzzo nasceu em 1887 e morreu aos 96 anos no Rio de Janeiro, em 1983. Fez seus primeiros estudos com Frederico Trebbi – comerciante, fotógrafo, pintor e professor de arte ativo no Rio Grande do Sul entre os séculos XIX e XX -, que o aconselhou a seguir para Roma, onde permaneceu estudando. Transferiu-se para Madri aos 27 anos e retornou em 1919 para o Brasil, ficando no RJ. “Ele tinha uma relação muito forte com Pelotas. Era inclusive muito amigo de Marina de Moraes Pires, fundadora da Escola de Belas Artes de Pelotas, que o convidou para ser patrono da Escola”, conta Carmen. “Então, sempre que vinha para a cidade ele ia à Escola e desenhava. Eu inclusive tive o prazer de assistir o seu trabalho”, relembra. Por ser criador de uma extensa produção e ter mantido esse laço com o município, muitos pelotenses possuem suas obras em casa.

     Em uma viagem ao passado, a professora explica que, por galerias de arte serem espaços recentes, antigamente as obras de Gotuzzo eram expostas em clubes como o Caixeiral, no Grande Hotel, na Bibliotheca Pública, e ainda em vitrines de lojas. As primeiras exposições dele são feitas em 1919, logo depois de retornar da Europa, em Pelotas – quando vendeu cinco quadros, quatro paisagens e uma figura – e em Porto Alegre.

 A riqueza das gravuras japonesas pelas coleções de Vinholes

 

“É a vida gráfica do Japão”, diz o curador Pellegrin sobre acervo reunido por Vinholes

“É a vida gráfica do Japão”, diz o curador Pellegrin sobre o acervo reunido pelo colecionador

     A relação de Pellegrin com o doador das obras integradas de cerâmicas e de gravuras japonesas do século XIX de “Sob o olhar do colecionador: Coleção L.C. Vinholes”, ou seja, o pelotense Luiz Carlos Vinholes, já vem de algum tempo. “Eu fui a pessoa que apresentou o ‘aceite’ quando ele fez a tentativa de doação”, explica, adiantando que a intenção era tornar público um material que não tivesse apenas sentido em si mesmo, mas que fornecesse informações para facilitar a sua apreciação: “Às vezes, as pessoas têm vergonha de perguntar porque não querem mostrar que não sabem, e acham que têm obrigação de saber. Ninguém tem obrigação de saber nada, tem sim o direito de ter acesso”.

     Vinholes é um poeta concretista, pioneiro da música aleatória no Brasil, crítico musical, músico de vanguarda e divulgador da cultura brasileira, que saiu de Pelotas em 1953 para ir a São Paulo estudar música. Em 2014, foi escolhido patrono da Feira do Livro de Pelotas. “Desde o começo as pessoas me diziam: Por que você vai aceitar isso pro Malg? Gravuras do século XVIII e XIX, o que tem a ver com Gotuzzo? Bom, como pintor, sabia que tinha uma importância por se tratarem de obras originais, que artistas do período do começo da modernidade, como Van Gogh e Monet, se encantaram com aquilo e aprenderam muito”, diz Pellegrin. “É uma experiência de conhecer um tipo de solução plástica maravilhosa”, completa.

     Os dois professores explicam que, conforme os livros de História da Arte, em meados do século XIX, há o registro do período do japonismo, quando o Japão abre os portos às nações amigas, levando à Europa diversas mercadorias, louças e cerâmicas, embrulhadas em tecidos com riqueza de estampas e gravuras. “A gravura tinha o papel de registrar o cotidiano”, explica Pellegrin. O ukiyo-e – “mundo flutuante” – é um tipo de gravura japonesa que tinha exatamente essa função.

     É curiosa a semelhança de Vinholes com Gotuzzo, entre idas para o exterior e vindas para a Princesa do Sul, conforme explica Pellegrin. O poeta acaba indo para o Japão como estudante, através de uma bolsa, e lá começa a divulgar a música erudita contemporânea e a poesia concreta. A Embaixada Brasileira percebe então que ele passa a fazer uma grande divulgação do país e o contrata. O foco que Pellegrin buscou foi em abordar a figura do colecionador. Portanto, duas páginas escritas por Vinholes estão presentes na exposição, nas quais ele conta como iniciou a coleção. “Ele fala sobre quando chegou no Japão, no período pós-guerra, e por isso faz essa conexão Pelotas-Japão, através de cidades irmãs. Conhece duas americanas que estavam procurando arte japonesa e iam para os antiquários, e ele foi junto. Nisso, fica amigo do professor Kenzo Tanaka que lhe apresenta a história de Suzu [cidade japonesa]”, explica. Artista plástico e ensaísta, Tanaka concebeu o projeto da Praça Jardim de Suzu, que inicialmente ficaria ao lado da Rodoviária de Pelotas, depois seria no Aeroporto, e hoje se localiza na avenida República do Líbano.

     O acervo de doação de Vinholes tem em torno de duas mil obras. “O que está exposto é um recorte mínimo que eu fiz. Minha escolha foi pela gravura porque tem essa importância de influenciar a arte moderna. E, ao mesmo tempo, apresenta uma grande qualidade gráfica”. Exemplo disto são artigos como um livro, em forma de “mostruário”, datado de 1890, um pôster escolar que ilustra todas as posições de um exercício físico, e um material que demonstra o “tintamento” feito em peixes para registrar dados como que tipo foi fisgado e quem realizou a pescaria. “É a vida gráfica do Japão”.

     Pellegrin se apropriou de um recurso utilizado por Vinholes, com a inclusão na mostra das definições das técnicas presentes nas obras, como recurso informativo e como forma de apresentar o “discurso dele”. “Tem muito texto por causa disso e também para que as pessoas possam ler e entender. Acho que a exposição é generosa nesse sentido. Alguém que visitar a exposição vai ter informação pra ler, saber quem doou e de onde veio”.

     A exposição também conta, como de praxe, com um texto do curador. “Eu quis que a gente começasse a pensar: O que são coleções? Como se formam coleções? O que move o colecionador? É juntar, escolher, procurar, comparar, discutir, organizar e depois pensar: O que eu faço com isso?”.

     “É bonito como esses dois homens têm um carinho por Pelotas, como eles percebem que a cultura aqui tem um valor grande, tanto é que querem que a cidade cuide da cultura que eles produziram e recolheram. Eles fazem uma trajetória semelhante com 50 anos de diferença”, avalia Pellegrin, que também traça um paralelo com o outro evento: “A exposição que a Carmen faz é uma prova do reconhecimento que a cidade tem com o Gotuzzo”.

     Os dois curadores destacam também a atuação de toda a equipe do Museu, sobretudo da museóloga Joana Lizott, que “tem muita paciência” e é responsável pela manipulação das obras.

     Carmen é presidente da Sociedade Amigos do Museu e aproveita as exposições para divulgar a existência de um grupo que colabora com o fortalecimento do local. “O Museu é da Universidade, ele tem seus custos fixos, mas os gastos diários, com as exposições, aquisição de obras novas, sai da Sociedade”. Para se tornar sócio, basta preencher a ficha de inscrição disponível no Museu e contribuir com o valor de R$ 30 por trimestre. Alguns impedimentos, por exemplo, são enfrentados pela equipe do Malg e não chegam ao conhecido público, como é o caso do pagamento do seguro das obras, recurso indisponível para o Museu.

     Os dois professores ressaltam ainda a importância da gratuidade no local – tanto para entrada no Museu, como na visitação das exposições. “Muitas pessoas não sabem que o Museu é gratuito e não entram com medo de terem que pagar entrada ou que se sentem constrangidas. E é justamente isso que a gente não quer. Esse Museu é da cidade, é dos estudantes, e ele deve ser frequentado”, enfatiza Pellegrin. O Malg fica localizado na rua General Osório, nº 725, no Centro de Pelotas.

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