Apesar da falta de espaços, a companhia Você Sabe Quem prova que há público e artistas para o teatro Foto: Divulgação
Por Cassiane Ribeiro Fonseca
Pelotas é palco de cultura e diversidade. E isso se explica pelo crescente público que frequenta os diferentes espaços de manifestações artísticas, de rua ou não, sejam eles musicais, gastronômicos, literários ou teatrais. A Você Sabe Quem CIA de Teatro sente de perto esse progresso no interesse da população pelotense. Assim como vários outros grupos independentes, também percebe a falta de espaço público adequado para apresentações.
A Você Sabe Quem CIA de Teatro começou os trabalhos em 2013, quando alguns participantes receberam um convite da Universidade Federal de Pelotas, para participar da primeira mostra “Cai o Pano”, na época realizada no Instituto Federal Sul Rio-Grandense (IFSUL), com diferentes atividades artísticas. Com muita vontade, decidem fundar o grupo. Com a peça “A Lição”, fortaleceram-se e nunca mais pararam de fazer teatro.
Em meados da década de 70, o conceito de teatro independente se fortificou em oposição aos mecanismos impostos pelo mercado. Essa prática teatral, tem como base fugir dos padrões de massa com uma busca pela originalidade. E, com diferentes formas e linguagens teatrais, a Você Sabe Quem cia de Teatro tem como objetivo ser um agente cultural transformador.
A ideia do grupo é universalizar o acesso às artes cênicas. Deve ser para todos a possibilidade de fazer, experimentar, participar, ver e sentir o teatro. O nome Você Sabe Quem surgiu pensando nessa ideia de que qualquer um pode fazer teatro, inclusive “você sabe quem”. “Qualquer pessoa pode experimentar dessa prática teatral. Justamente por sermos oriundos do curso de licenciatura em teatro, pensamos muito nessa formação pedagógica, artística, cultural, cidadã e humana que se consegue transmitir com o teatro”, explica Diego Carvalho, um dos nove integrantes da companhia.
Sendo independente, o grupo se mantém com recursos financeiros próprios, oficinas de teatro e seleções públicas em editais de fomento à arte. Além disso, também mantém parceria com a Bibliotheca Pública Pelotense, que cede espaço para apresentações. “A gente se mantém e busca se manter com os próprios recursos do grupo, seja com as peças de teatro ou as oficinas, justamente para continuar esse trabalho de fazer teatro em uma cidade que, infelizmente, ainda não tem espaço público adequado para isso”, relata Diego.
E é a falta de espaço público adequado para apresentações, a maior dificuldade que muitos grupos de teatro independente da cidade encontram no caminho. “Nós não temos espaço em Pelotas. Espaço para teatro mesmo, só temos o Guarany, cujo preço de aluguel é absurdo. Não tem como qualquer companhia teatral independente da cidade alugar, tanto que o teatro só apresenta peças de atores globais ou shows. O outro é o Sete de Abril, que está fechado há anos, desde que estou aqui nunca vi ele aberto”, relata Aline Cotrin, que veio de São Paulo para estudar em Pelotas e é uma das atrizes da Você Sabe Quem.
A cidade de Pelotas tem como um dos principais símbolos e patrimônios culturais, o Theatro Sete de Abril, fundado em 1833, um dos mais antigos do País e um dos primeiros a serem construídos no Rio Grande do Sul. Com o passar dos anos, tornou-se espaço público e incentivador de todo tipo de manifestação artística e cultural do município. Contudo, fechou suas portas em março de 2010 porque corria o risco de desabar.
Desde então, se mantém fechado para reformas. Em 2013, foi dado início às obras de restauração da cobertura e parte interna, com data para ser reaberto no final de 2017. Mas até agora, a conclusão não tem data prevista. O Sete de Abril é um espaço cultural público e municipal, um bem dos moradores pelotenses que está sendo esquecido por todos. “Uma cidade, onde havia muitos festivais de teatro e companhias, hoje em dia, não tem um local adequado. Temos que lutar para ter espaço onde apresentar, que disponibilizem condições mínimas de iluminação e de som”, lamenta Aline.
Se de um lado falta espaço adequado para apresentações, de outro, o público da Você Sabe Quem Cia de Teatro cresce e tenta reverter esse cenário. Em 2016, o grupo teve a peça de comédia melodramática “Dona Frida”, aprovada com o apoio do Procultura. Foi realizado uma temporada na Bibliotheca Pública Pelotense com oito apresentações lotadas. Este ano, apresentaram junto ao Sete ao Entardecer, com público de 200 pessoas. Tanto o Procultura, como o Sete ao Entardecer, são projetos realizados pela Secretaria Municipal de Cultura de Pelotas (Secult).
Neste ano, a companhia também organizou a primeira mostra de teatro independente em Pelotas, realizado em um final de semana com três apresentações por noite, sendo prestigiado por uma média de 300 pessoas na plateia. “Se ouve falar que em Pelotas não tem público, que as pessoas não vão assistir teatro. Elas vão sim, estamos aqui como prova. Os grupos estão aqui para mostrar isso, existem muitos trabalhos bacanas na cidade e o público vai prestigiar”, conta Talles Echeverry, mais um integrante da companhia.
A procura por arte cresce. Na Bibliotheca Pública, no Mercado Central, na Praça Coronel Pedro Osório ou seja lá onde o palco for, a dedicação dos atores é a mesma. Esse lugares são públicos, qualquer um pode se sentir à vontade para participar. Só não se pode esquecer que, por mais bonitas que sejam as edificações, não possuem a estrutura que os artistas, assim como o público, merecem.
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