Celine Sciamma traz amor lésbico para o cinema

Por Ana Rodrigues

Filme “Retrato de uma jovem em chamas” capta as delicadezas de um relacionamento

Depois do filme de 2013 “Azul é a cor mais quente”, é de se ter receio ao ver mais um título francês com o objetivo de retratar mulheres que amam mulheres. A produção citada, que traz uma relação lésbica de forma sexualizada, falha em mostrar as delicadezas de uma jovem descobrindo o seu interesse por outra mulher. Entretanto, em “Retrato de uma jovem em chamas” a diretora Céline Sciamma nos surpreende de forma muito positiva ao captar essas delicadezas, que, mesmo de forma meio clichê, constroem no cinema o que entendemos como paixão. 

O longa estreou em Cannes em 2019. Conta a história da jovem pintora Marianne (Noémie Merlant), encarregada da tarefa de pintar um retrato de Heloise (Adèle Haenel) para seu casamento, sem que a moça saiba. Ao longo dos dias, Marianne que se disfarça de dama de companhia, passa a observar cada vez mais e a conhecer a sua modelo e suas angústias. Isoladas em uma ilha da França do século 18, as duas se aproximam e criam uma intimidade cada vez maior. 

Heloise (Adèle Haenel) e Marianne (Noémie Merlant) aproximam-se aos poucos

O filme de Sciamma nos traz com muita delicadeza e talento o surgimento de uma relação íntima entre mulheres. Para o espectador mais atento, é possível saber exatamente o momento em que o sentimento de paixão surge e isso é um grande mérito da diretora, que se dedica à temática LGBTQ+ no cinema.

Outro ponto de destaque do filme é a fotografia, pensada pela diretora de fotografia Claire Mathon. Cada cena do filme é como se fosse uma pintura. Segundo a artista em entrevista, isso envolveu muito pensar a iluminação conforme os desafios de gravar em um sítio histórico da França. Cada cena do filme pode ser considerada uma metáfora de amor e arte, que “por acaso” são os temas principais do longa. Certamente servem para nos inspirar e buscar o trabalho de mulheres que trazem temas que nos são
tão invisíveis na cinematografia convencional.

Cenas do filme homenageiam pinturas dos séculos passados

Retrato de uma jovem em chamas pode ser um filme um pouco maçante para quem não está acostumado com o estilo de filme que concorre em Cannes. Entretanto é uma belíssima introdução para quem quer buscar temáticas fora da heteronormatividade e, principalmente, pontos de vista femininos sobre o amor entre duas mulheres.

O filme está disponível no serviço de streaming Telecine.

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Dama Etílica: rock de qualidade com sotaque pelotense

Por Paulo Lopes Marques

Banda de rock formada em Pelotas apresenta composições autorais

Pelotas é uma cidade que se destaca no cenário da cultura musical. Talvez, os maiores exponenciais de sucesso e que levam o nome da cidade pelo País afora sejam os irmãos Kleiton e Kledir. No cenário do rock, algumas bandas, em anos passados, também tiveram destaque além dos limites geográficos da Princesa do Sul, como foi o caso das bandas Procurado Vulgo e Doidivanas, que servem de inspiração para a Dama Etílica. É comum a formação de grupos que se motivam a tocar rock nos diversos bares, pubs e casas de shows espalhados pela cidade. O repertório quase sempre é recheado de covers de bandas nacionais e internacionais, mas poucas se atrevem a investir em um conteúdo próprio, com composições e melodias autorais. Pois é justamente nesse vácuo que desperta a banda pelotense Dama Etílica, com sua identidade própria, versatilidade e muito talento musical. Outra característica da banda é o engajamento em causas sociais e a participação em eventos solidários.

A Dama Etílica surge no final do ano de 2015, derivando de um trabalho entre Júnior Noble e Alexandre Vianna, que já vinham tocando em bares, no estilo voz e violão. Daí, vem a vontade de formar uma banda para tocar exclusivamente rock gaúcho e músicas autorais. Assim, a formação inicial teve Alexandre Vianna, na guitarra, Bruno Oliveira, na bateria, Rubem Aloy, no contrabaixo e Júnior Noble, no violão e vocal. Das primeiras apresentações, regadas de rock gaúcho, a banda atualmente toca de tudo um pouco do rock nacional, mas nunca deixa de lado o sotaque gaúcho e pelotense.

Além dos covers de outros grupos, a Dama Etílica é uma banda que se caracteriza pelas composições autorais. O grupo já lançou dois EP’s, o “Infinito Sul”, em 2018, e o “Cidades”, em 2020. Entre os destaques dos trabalhos autorais estão as músicas “Vira o Mate”, “Roubo da Lua”, “Entardecer no Laranjal” e “Porto Alegre-se”, esta última fazendo parte, inclusive, da playlist de rádios da capital gaúcha.

O EP “Cidades” foi lançado neste ano

Desde a primeira subida ao palco até os dias de hoje, a formação do grupo foi alterada algumas vezes e, atualmente, conta com Lee Camargo (bateria), Elton Pizarro (contrabaixo) Beto Brito (acordeon), além dos integrantes fundadores Alexandre Vianna (guitarra) e Júnior Noble (violão e vocal), que concedeu uma entrevista para o site Arte no Sul.

Arte no Sul – Quais foram as influências musicais da banda?
Júnior Noble – As influências são as mais diversas, começando essencialmente pelo rock gaúcho e bandas como TNT, Nenhum de Nós e Engenheiros do Hawaii. Mas a influência musical se estende mais um pouco, indo de Mano Lima aos Beatles. Ouvimos de tudo e adoramos mesclar Kleiton e Kledir com Ultramen, por exemplo. Fazemos, também, algumas versões de músicas nativistas para o pop rock. A diversidade e identidade da banda é muito forte.

Arte no Sul – A banda recentemente gravou algumas músicas próprias. Como foi a produção deste material?
Júnior Noble – Um grande sucesso que gravamos é o single “Vira o Mate”, que teve também a produção de um vídeo clipe. Este trabalho foi realizado totalmente em forma virtual e está com mais de 40 mil visualizações. Está sendo muito gratificante o reconhecimento do trabalho. Esperamos obter ainda mais inscritos em nosso canal, para que tenhamos uma maior divulgação entre o público.

Arte no Sul – Como é a luta pela conquista de lugar no meio artístico (shows, espaço em rádios e recepção do público)?
Júnior Noble – O grande desafio é a conquista de espaço no meio artístico, pois quando ele vem, o público conhece, acaba gostando, curtindo e apoiando. É preciso abrir as portas para o rock e todos os estilos de rock, pois alguns lugares de eventos se agarram a um estilo e só tocam esse estilo. Daí, acontece que as bandas tocam sempre a mesma coisa e não existe uma diversidade. A Dama Etílica vem abrindo espaço à marretada, mandando músicas autorais para as rádios e insistindo em tocar em vários lugares. Somos chatos e caras de pau mesmo, mas o trabalho tem agradado a gregos e troianos.

Banda conta com Lee Camargo (bateria), Elton Pizarro (contrabaixo), Beto Brito (acordeon), Alexandre Vianna (guitarra) e Júnior Noble (violão e vocal)

Arte no Sul – Como vocês enxergam hoje o cenário do rock gaúcho e nacional?
Júnior Noble – Nunca se produziu tanto e com tanta qualidade. Tanto aqui no Estado, como no Brasil todo. O grande problema é que esses trabalhos estão longe da grande mídia e centrados em pequenos nichos de artistas ou de grupos que se identificam com amigos. Os cenários estão espalhados e não possuem ligação entre si, o que contribui para o aparecimento e sucesso de outros estilos musicais que se organizam mais facilmente, como o sertanejo universitário e o pagode. O grande desafio é fazer com que os grupos de rock se encontrem e se comuniquem para obter uma maior divulgação.

Arte no Sul – Como foi e ainda está sendo esse momento de pandemia e a paralisação das atividades?
Júnior Noble – O mais interessante é que 2020 foi o ano que mais lançamos trabalhos autorais. Além de termos muito material, a necessidade nos impôs em produzir material para que não fossemos esquecidos, já que os shows estavam suspensos. Como estávamos sempre tocando em bares e festivais, tínhamos pouco tempo para produzir material autoral. Com a parada das atividades culturais, conseguimos produzir e lançar. Então, gravamos muito, sempre respeitando as normas de distanciamento.

Arte no Sul – Como a banda está projetando o futuro do seu trabalho?
Júnior Noble – Neste momento, acabamos de gravar três músicas inéditas, “Miloncolia”, “Fria Madrugada” e “Flores no Jardim”. Elas deverão ser lançadas em dezembro deste ano, em comemoração aos cinco anos da banda. O futuro é de produção de clipes para os trabalhos já gravados e o tão sonhado CD com músicas inéditas, dos projetos “Calles del Sur” e “Cantando a Costa Doce”. Os planos são sempre produzir, produzir e produzir…

Vale a pena conhecer um pouco mais do trabalho da banda Dama Etílica, acessando as suas mídias sociais: 
> Spotify
> Youtube
> Facebook 

 

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Festival Varilux chega a Pelotas na reabertura dos cinemas

Por Danieli Schiavon

A programação conta com 19 filmes franceses dos mais diversos gêneros

O Festival Varilux de Cinema Francês chegou à sua 11ª edição em 2020, mas o  evento, que ocorre tradicionalmente durante o mês de junho, teve sua programação adiada devido à pandemia do novo coronavírus que manteve os cinemas fechados em todo o Brasil. Com a reabertura das sessões, o Festival acontece do dia 19 de novembro a 2 de dezembro, em 44 cidades brasileiras, nas quais os cinemas estão em funcionamento. As salas de exibição que ainda continuam fechadas terão a oportunidade de programarem a seleção dos filmes até o fim de fevereiro. 

Em maio, uma parceria entre a Embaixada da França no Brasil, a Essilor/Varilux e a Produtora Bonfilm possibilitou um festival remoto, o ˜Festival Varilux em Casa”, por meio da plataforma Looke, com 50 filmes franceses, dos gêneros de comédia, drama, aventura, romance e infantil, que ficaram disponíveis de forma gratuita durante quatro meses para os apreciadores da sétima arte francesa. De acordo com os organizadores, foi “uma iniciativa solidária para amenizar os dias de quarentena” por meio da cultura.

Com a retomada gradual das atividades culturais no país, o Festival foi remarcado e vai exibir as mais recentes produções cinematográficas francesas, para despertar no brasileiro a curiosidade sobre as criações desses longas-metragens. 

Para os curadores do projeto e diretores do evento, Emmanuelle e Christian Boudier, não existe sensação que substitua a experiência de ir ao cinema, com imagem e som de qualidade. “O Festival Varilux pode muito bem vir a ser o grande campeão de bilheteria deste fim de ano”, garantiram em nota.

Diferente das edições anteriores, o Festival deste ano não vai contar com os debates com atores e diretores, nem laboratórios de redação de roteiros e sessões educativas, que são parte especial da programação do evento. Os curadores acreditam, no entanto, que o cerne do festival não será afetado.

Os longa-metragens em cartaz foram selecionados desde o Festival de Berlim, e com a reabertura dos cinemas, muitos filmes recém-lançados também entraram na programação. Confira a lista:

● A Boa Esposa – 2019 (Martin Provost)
● A Famosa Invasão dos Ursos na Sicília – 2019 (Lorenzo Mattotti)
● A Garota da Pulseira – 2020 (Stéphane Demoustier)
● Apagar o Histórico – 2020 (Gustave Kervern, Benoît Delépine)
● Belle Epoque – 2019 (Nicolas Bedos)
● DNA – 2020 (Maïwenn)
● Donas da Bola – 2020 (Mohamed Hamidi)
● Gagarine – 2020 (Fanny Liatard, Jérémy Trouilh)
● Mais que Especiais – 2019 (Eric Toledano, Olivier Nakache)
● Meu Primo – 2019 (Jan Kounen)
● Minhas Férias com Patrick – 2020 (Caroline Vignal)
● Notre Dame – 2019 (Valérie Donzelli)
● O Capital no Século XXI – 2020 (Justin Pemberton, Thomas Piketty)
● O Sal das Lágrimas – 2020 (Philippe Garrel)
● Persona Non Grata – 2019 (Roschdy Zem)
● Salom – 2020 (Charlène Favier)
● Sou Francês e Preto – 2020 (Jean-Pascal Zadi, John Wax)
● Verão de 85 – 2020 (François Ozon)
● Acossado – 1960 (Jean-Luc Godard [o clássico em reapresentação do festival]

Em Pelotas, todos os 19 títulos estão, de forma alternada, em exibição no Cineflix do Shopping Pelotas (Avenida Ferreira Viana, 1526). A programação pode ser consultada diretamente no site e os ingressos custam R$9,00 de segunda a sexta-feira e R$18,00 nos fins de semana. A lotação das salas do cinema está reduzida a um terço da capacidade normal e todas as orientações sanitárias de prevenção ao coronavírus estão sendo observadas. 

Cartaz de divulgação no Shopping Pelotas

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Filme nigeriano aborda assédio na universidade

Por Danieli Schiavon

Produção aparece entre mais assistidas da plataforma de streaming Netflix

O assédio moral e sexual no ambiente acadêmico é o tema abordado pelo lançamento da Netflix, que estreou na plataforma no começo de novembro. O longa-metragem nigeriano “A Lição de Moremi” (Citation) é baseado em fatos reais, e foi inspirado no documentário da BBC Africa Eye, Sex for Grades. 

A produção da BBC reporta a história de jornalistas que se matricularam em universidades na Nigéria e em Gana e flagraram casos de assédio sexual por palestrantes e professores das instituições. O documentário pode ser assistido na íntegra no Youtube da BBC News Africa.

“A Lição de Moremi” ilustra, com personagens fictícios, a história de Moremi Oluwa (Temi Otedola), uma pós-graduanda que passa a sofrer assédio de seu professor e orientador de mestrado, Lucien N’Dyare (Jimmy Jean-Louis). O docente começa suas investidas ao conquistar a amizade de Moremi, e, aos poucos, passa a atitudes mais agressivas, que chegaram ao ponto de uma tentativa de estupro. Após o último incidente, Moremi decide levar o tema à reitoria da universidade. O problema é que a acusação não é levada a sério no campus, e muitos se voltam contra Moremi, devido à influência do professor, que é admirado e respeitado internacionalmente pelo seu trabalho.

Protagonista de “A Lição de Moremi” rompe o silêncio sobre o assédio                      Foto: Divulgação

O filme se passa, em grande parte, no tribunal criado pelo comitê da universidade, e flashbacks dos momentos contados por ambas as partes são trazidos aos espectadores. A direção do filme deixa claro o papel de vilão do professor, pois todas as cenas protagonizadas entre N’Dyare e Moremi mostram os avanços inapropriados por parte do docente. Mesmo não havendo dúvidas para quem assiste o filme, o comitê da universidade levanta muitos questionamentos sobre a veracidade do caso, e a tensão sobre o veredito permanece até os minutos finais do filme.

A montagem do filme peca pela falta de organização. Diálogos longos e cenas que não contribuem para a história principal tornam o filme de duas horas e 30 minutos um tanto cansativo, mas a história dramática e séria acaba prendendo a atenção para a decisão sobre a acusação de Moremi. Outro ponto alto do filme é a representatividade cultural da Nigéria. O figurino é bem colorido e as estampas estão presentes nas vestes de todos os personagens. Os cenários da Nigéria, Gana e Cabo Verde são bem explorados e situam o espectador quanto à ambientação do filme. 

No geral, vale a pena assistir ao longa, que toca num tema tão sensível e presente dentro das universidades em todo o mundo. A Netflix vem apostando em produções estrangeiras foras do padrão hollywoodiano. Esses trabalhos se destacam entre as opções disponíveis no catálogo.

Grande parte do filme se passa no tribunal criado pelo comitê da universidade     Foto: Divulgação

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Excelente filme. Sem ressalvas. Também mostra outro lado da Nigéria. Com pessoas estudando, universidades organizadas etc.

Fátima

Excelente filme. Muito bom entrar em contato com outros signos culturais e outra estética e forma de direção. Fora ouvir diversas línguas diferentes em um mesmo filme e, principalmente, a ótima história e atuação dos atores.

Laufer

Filme impecável, apaixonante, não só pelo tema abordado. Garantindo ao espectador uma voraz torcida pela inocência da protagonista.
O colorido do figurino impecável dos personagens, vindo a mostrar-nos um ângulo de glamour e cultura deste povo tão eloquente!
Prendendo do início ao fim , na torcida veemente a favor, é claro, desta estudante que com louvor numa façanha sagaz lutou pelos seus direitos!

Ana Luiza Machado

O filme de excelente qualidade, o cenário, bem como as vestimentas, mostrando a beleza e a cultura nigeriana, além de ressaltar a qualidade do ensino no ensino superior daquele país. O assunto abordado no filme mostrou um final feliz, onde a justiça foi feita frente ao abuso de poder por parte do professor. Super recomendo, nada a criticar, somente elogios para esse longa que me prendeu do começo ao fim. Assistam, não vão se arrepender!

Maria Aparecida Scarlate Rodrigues

Batalha de Beats movimenta cenário rio-grandino

Por Ana Rodrigues e Juan Tasso

Lucas Borges de Souza (Luke) cria novas ideias na cultura hip-hop

Em tempos de pandemia, todo mundo teve que se adaptar a uma realidade em que a convivência social foi drasticamente limitada. Diversos setores essenciais à nossa vida foram afetados, como comércio, educação e saúde. O setor cultural também foi amplamente impactado, com museus sendo fechados, exposições canceladas e shows adiados para datas indefinidas.

A arte, que desde sempre melhora a realidade humana, nos leva a outros lugares mentalmente, mas as limitações físicas de hoje nos obrigaram a mudar a nossa forma de consumo. Para a indústria da música, esse impacto foi um pouco diferente. Há anos somos acostumados com os serviços de streaming, em que escolhemos os artistas e temos à disposição toda a discografia deles. Buscando um meio alternativo, o produtor musical Lucas Borges de Souza, 25 anos e natural de Rio Grande, levou a outro patamar a forma de consumo de música durante a pandemia. 

Ainda em setembro, o produtor, que também é conhecido como Luke, publicou no Twitter a ideia de ser streamer de beatmaking. Luke já publicava memes famosos em outras redes sociais, como no TikTok, com o seu beat de trilha sonora. Diversos memes revistos pelo produtor viralizaram nas redes. Luke também já fazia transmissões de sets como DJ ao vivo via Twitch, uma das maiores plataformas de streaming atualmente, desde o início da pandemia. Na época, o produtor disse sentir falta das sessões de estúdio e que decidiu entrar no ramo de streaming depois de pegar inspiração do produtor norte-americano Kenny Beats, que também faz transmissões ao vivo.

 

Luke decidiu entrar no ramo de streaming em setembro

Já com a decisão de virar streamer de beatmaking surgiu também a ideia de gerar outro tipo de entretenimento em suas lives. A iniciativa de uma batalha online de produção de beats surgiu pensando no ambiente de rap, que já é competitivo: “Eu acho que o ambiente do rap já é competitivo por natureza, então as batalhas sempre fizeram parte da cultura hip-hop. Com as streams crescendo nessa época de pandemia, a gente tem a atenção cada vez mais voltada pro virtual, e aí eu acho que é muito divertido gerar o entretenimento fazendo uma competição assim, ao mesmo tempo que ajuda o pessoal que assiste a live a conhecer novos produtores e ver a diversidade de identidades musicais que existem espalhadas pelo Brasil.” 

A ideia da “Batalha de Beats” saiu do papel na terceira semana de outubro, quando a primeira fase da batalha de beats começou numa quinta-feira (22). Quarenta competidores participaram, contando com mais de 200 beats enviados. Luke contou com a ajuda de uma banca avaliadora, composta por produtores de um coletivo que o produtor faz parte, o 80 Hertz.

Produtor musical Lucas Borges de Souza (Luke) renovou modo de consumir música

A escolha da banca de quais beats classificam nas rodadas “é um meio termo entre o aspecto técnico e gosto pessoal, considerando que arte é subjetiva”, disse Luke sobre o processo de avaliação. O produtor ainda quer fazer mais edições da batalha: “Pretendo fazer disso um evento bimestral ou trimestral, sempre com alguma variação da anterior.”

O resultado final da primeira edição da “Batalha de Beats” veio sete dias depois, na terceira stream da competição. O vencedor foi o artista Arthur, de 15 anos, também conhecido como Artwo. Arthur produz beats a 2 anos, mas é familiarizado com a produção de conteúdo para a internet desde 2013. Artwo tem uma página no SoundClound com mais de 630 seguidores onde publica seus beats.

O artista considera a Batalha de Beats importantíssima para a comunidade, já que os produtores de beats nunca pertenceram à cena mainstream. As streams trazem uma valorização e exposição dos artistas que muitas vezes são desvalorizados pelo cenário da produção musical, além de fortalecer os laços entre os próprios beatmakers.

“Agora a gente tá conseguindo se levantar e mostrar para as pessoas que a pessoa que fez o beat existe, não é um cara anônimo. Hoje em dia você entra no Spotify, e a maioria das músicas, se você clicar em créditos, ele não vai mostrar o cara que produziu”

Artwo disse ter se sentido honrado por participar da Batalha, e que a boa visibilidade de Luke na comunidade ajuda a expor novos beatmakers através das batalhas de beats. “Poucas pessoas me deram a exposição que ele está me dando agora”, contou.

A “Batalha de Beats” é uma iniciativa importante que ajuda produtores musicais locais e artistas novos que estão entrando no ramo a terem mais visibilidade, mas também levanta pautas importantes no meio. A atriz Lorena Zanneti, que participou do evento como apresentadora, relatou o desconforto que foi ter sido a única mulher a participar do primeiro dia:

“No primeiro momento achei desafiador, porque não tinha conversado com o pessoal da banca sem ser o Luke. Fiquei muito nervosa, mas os guris foram sensacionais. No primeiro dia que aconteceu algo meio chato: um cara aleatório no chat fez um comentário sexual sobre a minha voz. O cara não soube lidar com a voz de uma guria, tá ligado? Fiquei mais desconfortável do que já estava, mas os guris mostraram zero tolerância para esse tipo de atitude no chat e o Luke baniu o cara na hora e também apagou a mensagem dele.” 

Lorena diz ter reparado na presença quase completamente masculina e levantou a pauta de mulheres no beatmaking:  

“Durante a batalha fiquei com muita vontade de conhecer mulheres beatmakers e inclusive fiz um post no Twitter pedindo pro pessoal marcar quem conheciam, além de ter feito minha pesquisa e conversado com meus amigos. A ideia era também fazer uma roda de conversa só com mina da produção musical. Nisso, conversei com o Luke e ele super topou. Pude conhecer e entrar em contato com mulheres maravilhosas que em meio a uma cena predominantemente masculina continuam fazendo o que amam e afirmando o seu lugar nela.” 

A atriz organizou a roda de conversa “Minas na Prod”, em que mulheres da área de produção musical tiveram a oportunidade de discutir as suas vivências no meio. Quanto à oportunidade de participar da batalha, Lorena conta: “Gostei muito de participar como apresentadora da Batalha e conhecer mais gente do meio. Ouvir o pessoal me possibilitou saber mais sobre o universo da produção, desde o processo de criação ao momento que esse produto é recebido pelo ouvinte. Viver de arte no Brasil não é fácil, mas com cada um apoiando o outro, à sua maneira, as coisas ficam mais suportáveis.”

Competição divulga novos produções e diversidade musical no Brasil

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Entre o fotojornalismo e a arte das imagens

Por Júlia Müller

Conheça o fotógrafo pelotense Jô Folha

É engraçado pensar que, muitas vezes, iniciamos uma oportunidade vislumbrando os fins, em cada resultado chegaria, sem pensar nas mudanças proporcionadas pelo acaso. O fotógrafo Jô Folha é um dos exemplos das guinadas que a vida dá.

Em 2006, Folha cursava Publicidade e Propaganda na Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e trabalhava como motorista no jornal Diário Popular – um dos maiores veículos de comunicação localizados na região sul do Rio Grande do Sul. Nos dois anos seguintes, os planos começaram a mudar: “Comecei a fotografar e me interessar mais pela área do fotojornalismo. Acabei trocando a graduação de Publicidade para Jornalismo”, lembra.

O contato diário com os fotógrafos do jornal, ainda dentro do carro e bem distante da redação e da rotina de pautas, começou a lhe despertar o interesse pelo ramo. “Se não fosse esse contato com o Carlinhos, Rossi e Moiza não teria seguido o fotojornalismo. Aprendi olhando eles trabalharem, vendo-os nas pautas, como se posicionavam, qual lente usavam, qual ângulo, a luz que escolhiam”.

Folha acredita que o fotojornalismo tem poder para causar mudanças. (Foto: Jô Folha)

O trio Carlos Queiroz, Paulo Rossi e Moizés Vasconcellos compuseram a equipe de fotografia do jornal durante anos. Por um tempo, Folha trabalhou como freelancer de fotografia da antiga filial do Diário Popular sediada em Rio Grande, experiência que evoluiu para o emprego fixo de fotógrafo em 2010. “Aprendi muito [com o trio] sobre a ética profissional e a importância do fotojornalismo para a sociedade, o valor que a fotografia tem como um instrumento de crítica social e o poder que ela tem para causar mudanças. Eles são minha referência na área”, ressalta.

Para ele, o fotojornalista tem um papel fundamental na democracia e na defesa dos direitos da população. “Precisamos dar voz e representar aqueles esquecidos pelo poder público e sociedade”, acredita. Em 2018, Folha foi um dos vencedores do 34° Prêmio de Direitos Humanos da OAB do RS, na categoria de fotojornalismo, marco especial nessa trajetória. 

Olhar sensível é peça chave no trabalho como fotojornalista. (Foto: Jô Folha)

Por conta de toda relevância do trabalho do fotógrafo para a cidade e seu olhar sensível para os aspectos urbanos e históricos de Pelotas, o projeto Arte no Sul escolheu algumas de suas fotografias para compor a identidade visual do site. 

Confira na íntegra o bate-papo com o fotógrafo Jô Folha:

JM: O que tu mais gostas e menos gostas de fotografar?
JF: Eu gosto de fotografar, não tem uma área específica que se sobressaia mais, mas tenho um trabalho com fotografias preto e branco mais artísticas em paralelo ao jornal que curto bastante desenvolver. As pautas que envolvem morte são sempre complicadas e tristes de fotografar, acho que é a única parte do jornalismo em que nunca fico confortável. 

Em paralelo ao trabalho no Diário Popular, Jô Folha possui um projeto de fotografias artísticas em preto e branco. (Foto: Jô Folha)

JM: Quais foram os momentos mais marcantes que o jornalismo te proporcionou?
JF: As pautas marcam de várias formas, têm as negativas que ficam com pesar na memória, como um acidente na BR-116 que uma família inteira, pai, mãe e duas crianças perderam a vida. Outras marcam pela importância social e histórica, como os protestos políticos de 2016, o movimento “Ele Não” ou as eleições em 2018. Há também as histórias de superação, como a de uma senhora analfabeta que perdeu a voz devido a um câncer aos 70 e poucos anos e, para conseguir continuar a se comunicar, aprendeu a escrever. Ela estava sempre acompanhada de um caderninho e caneta. A solidariedade da sociedade também é sempre marcante, lembro da enchente de 2015, quando voluntários e doações chegavam na paróquia do Laranjal para contribuir com as mais de 400 famílias que perderam seus lares.

JM: Em 2018, tu foste vencedor do 34º Prêmio Direitos Humanos da OAB, na categoria de fotojornalismo. Como esse tipo de reconhecimento engrandece no teu trabalho? Esse olhar preciso e delicado que pautas sensíveis envolvem não é para qualquer um. O que é preciso fazer para conseguir trabalhar esses temas na fotografia?
JF: O reconhecimento no prêmio Direitos Humanos de Jornalismo foi extremamente importante porque é um prêmio que valoriza os direitos sociais da população, ter um trabalho reconhecido nele é algo especial. Acredito que primeiro o fotojornalista precisa entender seu papel social em defender os direitos da população, dar voz e representar aqueles esquecidos pelo poder público e sociedade, utilizar sua história e conhecimento para conseguir contextualizar imagens que transmitam a realidade de forma que instiguem uma reação no receptor, na população, seja tristeza, revolta ou felicidade, mas passar uma emoção em quem está vendo a imagem é essencial.  

Folha é dono de um olhar atento aos aspectos urbanos e históricos de Pelotas. (Foto: Jô Folha)

JM: No último ano, nasceu o Martin e tu te tornaste pai. Essa mudança na tua vida pessoal influenciou o teu trabalho de alguma forma?
JF: Depois que virei pai conheci um mundo novo, um leque de novas experiências, valores e emoções. Como fotojornalista sempre penso em como melhor ajudar a sociedade, agora como pai sinto que esse desejo se fortaleceu e me deu um novo olhar para retratar a realidade e, atualmente, coloco essas novas características nas minhas fotografias na esperança que elas instiguem o melhor na população – naquela velha esperança de todo o pai de deixar um mundo melhor para seu filho.

 

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O despertar de um artista

Por Luana Medeiros

Conheça a história do músico e compositor gaúcho Júnior Baz

“Hoje eu tenho certeza, o que eu quero para a minha vida é seguir a carreira musical e ser professor de música”. Essas são as palavras do artista hervalense Júnior Baz, de 23 anos, estudante do sétimo semestre do curso de Música – Licenciatura da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que encontrou na arte a sua verdadeira paixão e propósito de vida. Nesta reportagem, o músico compartilha conosco um pouco sobre a sua trajetória, desde a primeira experiência com a música até o lançamento de seu primeiro trabalho autoral, previsto para o início deste mês.

O hervalense nos conta que seu interesse pela música surgiu ainda na adolescência. Depois de concluir seus estudos no Ensino Médio, ele julgou necessário dar uma pausa antes de decidir o seu rumo profissional. De acordo com o músico, tudo aconteceu de forma muito espontânea. Ele, que até então imaginava seguir uma carreira voltada para a área da tecnologia, descobriu sua verdadeira vocação para o mundo das artes ao ganhar um violão e aprender os primeiros acordes com seu primo Fábio Porto, ao qual é muito grato por todo o incentivo e ensinamentos recebidos.

Nesse mesmo período, Júnior recebeu o convite para assistir um dos ensaios da banda de Rock Ctrl A, projeto promovido através de uma iniciativa da administração pública de sua cidade natal, Herval. Não demorou muito para que a oportunidade batesse à sua porta e, com algumas semanas de ensaio e muita dedicação, fez a primeira participação na banda. “Eu lembro que a apresentação foi na Praça Marquês de Herval, tinha um público razoável […] ensaiei umas duas músicas e tive a oportunidade de cantá-las. Tava bem nervoso, mas consegui fazer e saí do palco feliz da vida", destaca o músico ao relembrar a sensação de sua primeira apresentação.

Todo esse envolvimento com o projeto Ctrl A despertou em Júnior a vontade de buscar uma especialização na área, aperfeiçoar suas técnicas/conhecimentos e se tornar professor de música. Desse modo, teria a oportunidade de transformar a vida de pessoas que, assim como ele, desejam aprender e até mesmo sonham em viver da música.

Apresentação de Júnior Baz na 25ª Feira Nacional do Doce (Fenadoce) em Pelotas (Foto: Divulgação)

Estudos musicais
Em 2017, ingressou no curso de Música – Licenciatura da UFPel através do Enem/Sisu. Ao iniciar a graduação, os alunos devem optar por um instrumento harmônico (violão ou piano) o qual deverá ser estudado até o final do curso. Por ter mais afinidade, Júnior escolheu o violão como instrumento de estudo. Além disso, os discentes também têm acesso a diversos instrumentos de percussão, oficinas, projetos de extensão e grupos de pesquisa.

Desde o primeiro semestre, são ofertadas disciplinas de técnica vocal no curso. Segundo o músico, foram as que mais tiveram impacto na sua formação acadêmica e profissional, com muitas trocas de conhecimento e experiências entre os professores e colegas que, sem dúvida, contribuíram para aperfeiçoar e desenvolver suas habilidades. “Às vezes escuto gravações minhas [realizadas] antes de fazer técnica vocal e consigo perceber uma evolução muito boa […] com certeza a técnica vocal foi essencial, uma das disciplinas que eu mais gostei de fazer dentro do curso de Música – Licenciatura”, avalia. 

A professora do curso de Licenciatura em Música, Regiana Blank Wille, explica que o objetivo do curso é formar o educador musical, isto é, garantir a formação do profissional que estará habilitado para atuar na educação básica como professor de música. A docente também enfatiza que o curso não impede o aluno de desenvolver uma carreira musical, em razão de essa condição depender de outros fatores que não são totalmente abrangidos por um curso de licenciatura, visto que a trajetória musical não pressupõe necessariamente uma formação acadêmica. 

Ao ser questionada sobre existir um determinado destaque para a música erudita ou popular dentro do currículo do curso, a professora Regiana esclareceu que essa questão está mais relacionada ao responsável e ao conteúdo de cada disciplina. “O professor precisa estar aberto a vários repertórios, porque a ideia é que a gente amplie o universo sonoro dos nossos alunos, seja na escola, seja numa ONG, seja numa escola de música. Então, não há uma distinção ou não deveria haver uma distinção entre música popular e música erudita. Tem a questão de identificação de cada pessoa e o uso que ela vai fazer desse repertório”

Antes de pensar em seguir uma carreira como artista, Júnior Baz conta que a música sempre esteve muito presente em sua vida e que, por esse motivo, identifica-se com diversos estilos e gêneros musicais. Atualmente, por estar desenvolvendo um projeto autoral, tem se dedicado a alguns gêneros específicos. A Música Popular Brasileira (MPB) tem grande destaque e influência no seu trabalho,
assim como os estudos voltados para os arranjos do jazz, que servem como fonte de inspiração no processo de criação das suas composições musicais. O artista também ressalta a importância da música gaúcha para a sua formação e, ao mesmo tempo, lamenta não ter vivenciado os grandes festivais nativistas de algumas décadas atrás, momento de grande contribuição para a construção e valorização da identidade musical rio-grandense.

Primeiro trabalho autoral
Depois de passar alguns anos totalmente focado no curso de música, Júnior Baz sentiu que estava na hora de dar um novo passo: investir na realização de um sonho, seu primeiro trabalho autoral. O projeto iniciou em 2019, com a composição da música Primavera, fruto de muita dedicação e entrega por parte do artista. Logo depois, surgiu a ideia de transformar o trabalho em um álbum, também intitulado de Primavera. O projeto está sendo desenvolvido no Estúdio Caminante, de Rui Carlos Ávila, na cidade de Pelotas. Em decorrência da pandemia causada pelo novo coronavírus (COVID-19), as gravações foram interrompidas durante alguns meses. 

O lançamento da primeira faixa do álbum Primavera, de Júnior Baz com participação de Rui Carlos Ávila, está previsto para o dia 6 de novembro. A música será disponibilizada nos canais do artista através das plataformas digitais Spotify e Youtube. Para acompanhar todas as novidades sobre o artista, visite as redes sociais baz_herval (Instagram) e Junior Baz (Facebook).

 

Capa do álbum Primavera. Primeiro trabalho autoral, com lançamento de single previsto para o início deste mês (Foto: Divulgação)

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Sensacional está entrevista com este grande artista local Júnior Baz, é muito bom ver o reconhecimento de artistas que lutam pra conseguir seu espaço. Sucesso!!!

Elvis

Depois de sete meses fechado, CineArt retoma atividades

Por Daniela Mello

Salas de cinema de Pelotas vão reabrir com novas medidas de segurança

De acordo com o Decreto nº 6.267/2020, publicado pela Prefeitura de Pelotas no dia 29 de outubro, os cinemas estão autorizados a retomar suas atividades. Depois de sete longos meses fechado, o CineArt é uma das empresas que já trabalha com uma data de reabertura, que inicialmente está prevista para o dia 6 de novembro.

Saguão do CineArt voltará a receber público (Foto: Divulgação/CineArt)

O CineArt é um cinema familiar e local de Pelotas, fundado em 2001, que desde 2014 é administrado por seus fundadores e proprietários, Rogério e Ana Lúcia Isquierdo. Neste ano, o cinema ganhou uma bomboniere nova e esperava grandes lançamentos, como “Mulher Maravilha 1984” e “Velozes e Furiosos 9”, mas precisou encerrar suas atividades por conta da pandemia de COVID-19.

Com as exibições paradas desde março, os donos da empresa optaram por fechar o local antes mesmo de sair o primeiro decreto proibindo o funcionamento de cinemas. Para Gabriela Isquierdo, filha dos proprietários e diretora de marketing da empresa, a segurança dos clientes motivou essa decisão.

Assim como outros estabelecimentos, o CineArt nunca havia passado por uma situação semelhante. “Era extremamente angustiante não saber quando o cinema ia poder retornar. Foi bem difícil para se manter”, contou Gabriela. Em relação ao auxílio emergencial da Agência Nacional de Cinema (ANCINE) para
cinemas com menos de 30 salas, Gabriela afirmou que a solicitação realizada durante a quarentena ainda está em processo, e nenhuma quantia foi recebida para ajudar no pagamento dos funcionários.

Entre os diversos desafios enfrentados pelos proprietários neste ano, manter-se presente na vida de seus clientes foi um dos principais, mas que conseguiu ser contornado graças às redes sociais. Por meio de lives no Instagram e outros conteúdos interativos, o CineArt permaneceu ativo na internet, tendo contato direto com seu público através das plataformas digitais, fortalecendo uma conexão à distância entre os cinéfilos.

“A gente tem esse contato próximo tanto lá no cinema, por ser uma empresa daqui, as pessoas nos conhecem, e também nas redes sociais. Foi o meio que a gente encontrou pra seguir em contato com nossos clientes, pois rede social é para socializar, e como não podíamos fazer isso fisicamente, conseguimos socializar com eles virtualmente”, disse a diretora de marketing.

Sobre a reabertura do CineArt, Gabriela afirmou que o cinema pode ser até mesmo um dos estabelecimentos mais seguros para as pessoas, pois será adotada uma série de medidas para que o funcionamento seja possível. “O cinema é um lugar onde as pessoas vão, sentam-se e quase nem conversam por causa do filme. Pode-se manter todo um distanciamento, e nós já tínhamos um cuidado muito grande com a higienização, que agora será redobrado.”

De acordo com o Decreto publicado pela prefeitura, os cinemas devem ter o número de espectadores reduzidos para 30% da capacidade da sala, quando permitida alimentação no interior, e 40% quando não. No caso do CineArt, será permitida a alimentação. 

Sala de exibição passa a funcionar com novas regras (Foto: Divulgação/CineArt)

Além disso, protocolos sanitários e de distanciamento controlado impostos no Decreto deverão ser cumpridos, como uso obrigatório de máscara, disponibilização de álcool em gel, medição de temperatura, demarcações em filas e assentos, intervalos de uma hora entre as sessões, para higienização e evitar aglomeração, entre outros.

De acordo com Gabriela, uma das questões que também é preocupante sobre o retorno é se haverá estreias importantes agora, pois isso motiva bastante o público. Por outro lado, os clientes receberam a notícia muito bem, pois estão com saudade e ansiosos pela reabertura do cinema.

As pessoas ficaram muito felizes e confiaram muito na gente, que vamos fazer um trabalho de higienização muito forte. São pessoas que acreditam no nosso trabalho, então nos deu muita confiança para retornar, e isso é algo que nos deixou muito felizes. Esperamos proporcionar o entretenimento para as pessoas, que é o nosso principal objetivo, trazer um pouco de alegria para que todos possam se divertir com segurança, e, também, se distrair de toda essa tensão.”

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Estação Férrea é palco para o Moda Pelotas

Por Anarelli Martinez

Desfile gravado em outubro será exibido na internet nos dias 12 e 13 de novembro

Evento conta com coleções de 17 instituições (Foto: Anarelli Martinez)

O tradicional evento de moda da Região Sul, o Moda Pelotas, precisou se adaptar ao momento de
pandemia e, portanto, apostou no meio virtual. O desfile foi gravado no dia 28 de outubro na Estação
Férrea de Pelotas e será veiculado no site www.modapelotas.com.br nos dias 12 e 13 de novembro, a
partir das 21h.

Segundo o produtor Andre Guerra, o desfile foi baseado nos formatos mundiais de apresentação de
novas coleções de moda e está sendo um “evento único”, com muito trabalho frente aos desafios do
novo formato e aceitação do público.

O Moda Pelotas, que conta com 16 edições, neste ano buscou inovar, ressaltando a aceitação de todos
os biotipos, das diferenças e individualidades de cada um. São 17 instituições, entre marcas, lojas e
estilistas que apresentam as coleções a serem adquiridas.

A designer Alexia Kaufmann, proprietária da marca Ak All Sizes, participa do evento pela segunda vez
e apresenta este ano a coleção Verão 21, em que lança, também, o segmento all size, buscando
contemplar todos os tamanhos de manequins. Para ela, a coleção tem como objetivo representar corpos
reais fomentando o comércio local e a diversidade. “Vestir pessoas de todos os tamanhos é algo
gratificante pra mim”.

A marca Al All Sizes lança a coleção Verão 21 focada na diversidade dos corpos reais (Foto: Anarelli Martinez)

Para prestigiar o evento no dia 12 de novembro é necessário que o público se inscreva com
antecedência para ter acesso exclusivo às coleções apresentadas. Já no dia 13, o evento será aberto ao
público em geral.

Os interessados poderão adquirir as peças a partir de um lookbook, uma espécie de catálogo, que estará
disponível durante a transmissão.

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Projeto elabora Programas de Acessibilidade para os museus de Pelotas

Por Roger Vilela

Com equipe integrada por estudantes da UFPel, documentos serão entregues aos museus em dezembro

Para elaborar os Programas de Acessibilidade de seus museus institucionais – Museu do Doce, Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter (MCNCR) e Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (MALG) – e adequá-los à lei, a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PREC) e a Rede de Museus da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) deram início ao projeto “Um museu para todos: Programas de Acessibilidade”.

Além dos três museus institucionais, participam do projeto o Memorial do Anglo, localizado no Campus Porto da UFPel, e o Museu da Baronesa, pertencente à Secretaria da Cultura da Prefeitura de Pelotas. O projeto, coordenado pela professora Desirée Nobre, iniciou suas atividades em outubro de 2019. Sua equipe é formada por estudantes – todas mulheres – de diferentes cursos da UFPel – da Terapia Ocupacional a História, da Museologia a Pedagogia. Todas as integrantes atuam como voluntárias.

As integrantes do projeto “Um museu para todos” com a equipe do Museu da Baronesa durante visita guiada Fonte: Rede de Museus da UFPel

Sobre essa convivência de diferentes disciplinas em um mesmo projeto, Nobre comenta que a “acessibilidade é uma área interdisciplinar e sendo os museus instituições que englobam, também, muitas áreas do conhecimento, é fundamental que estas áreas conversem entre si, dentro de suas especificidades, para que juntas consigam trabalhar de forma mais efetiva para alcançar a universalidade do acesso”.

O que é um Programa de Acessibilidade?                                                                         

Um Programa de Acessibilidade consiste em um conjunto de políticas institucionais que buscam promover o acesso universal aos museus.

Com a sanção da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146), em julho de 2015, foi incluída no Estatuto dos Museus (Lei nº 11.904/09) a obrigatoriedade para os Planos Museológicos dos museus de todo o País apresentarem um Programa de Acessibilidade.

Um Plano Museológico é o documento que, segundo o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), “define conceitualmente a missão, a visão, os valores e os objetivos da instituição, e alinha, por meio de um planejamento estruturado e coerente, seus programas, seus projetos e suas ações”.

Etapas de criação
Em novembro do ano passado, as integrantes do projeto visitaram os museus com o objetivo de realizar o diagnóstico das condições de acessibilidade para pessoas com deficiência. Os resultados das análises foram apresentados às equipes dos museus entre os meses de julho e agosto de 2020.

Devido à pandemia do novo coronavírus e a necessidade de distanciamento social, a apresentação dos resultados dos diagnósticos e as etapas posteriores do projeto foram realizadas on-line, por meio de webconferência. 

A acessibilidade é um conceito que está dividido em sete dimensões, que são: acessibilidade atitudinal, arquitetônica, comunicacional, metodológica, instrumental, programática e web.  

Nas instituições analisadas pelo projeto foram encontradas fragilidades em todas as dimensões. Problemas que a professora Nobre atribui à falta de recursos humanos e financeiros.

Com os diagnósticos feitos e as fragilidades identificadas, a próxima etapa do projeto se constituiu na realização de oficinas de capacitação em acessibilidade cultural, que tiveram como público-alvo as equipes dos museus (outros servidores e estudantes também puderam se inscrever). Foram sete no total, que abordaram temas levantados pelos próprios servidores das instituições. Entre os assuntos tratados, estavam o uso de linguagem simples, a descrição de imagens e a acessibilidade nos museus no pós-pandemia.

No fim do mês de setembro, começou o desenvolvimento dos Programas de Acessibilidade, a última etapa do projeto, que foi dividida em duas partes. A primeira – que ainda está em andamento – é uma série de encontros (dois com cada museu) entre a equipe do projeto e os servidores das instituições. Para as reuniões, as integrantes do “Um museu para todos” se dividiram em duplas interdisciplinares.

Cada dupla é responsável um por museu. Nos encontros são discutidos temas referentes à acessibilidade e às instituições. A segunda parte é a elaboração dos Programas de Acessibilidade, que serão produzidos pelas voluntárias do projeto a partir dos resultados dos diagnósticos e das reuniões. A entrega dos programas para os museus está marcada para acontecer em dezembro.

Nada sobre nós sem nós
No final do século 20, nos Estados Unidos, surgiu o lema “Nada sobre nós sem nós” (“Nothing about us without us”, em inglês), que se tornou um símbolo da luta pela inclusão e dos direitos da pessoa com deficiência. 

A frase, que também representa a luta de outras minorias, significa que todas as decisões que dizem respeito às pessoas com deficiência devem ser tomadas com a participação das próprias pessoas com deficiência. 

Para que um Programa de Acessibilidade seja realmente efetivo, é necessário a participação de uma pessoa com deficiência em sua elaboração, pois será ela quem realmente utilizará os recursos disponibilizados. “Por mais que uma pessoa sem deficiência tenha experiência [na área de acessibilidade], ela jamais saberá qual será a verdadeira necessidade da pessoa que tem algum tipo de deficiência”, comenta Leandro Pereira, pessoa cega, museólogo e consultor do projeto “Um museu para
todos”.

Leandro, que ficou cego na fase de vida adulta, começou a cursar Museologia em 2016. Ele conta que foi no curso que percebeu que o planejamento da acessibilidade nos museus era realizado apenas por pessoas sem deficiência e que isso ocasiona a produção de ações e recursos pouco efetivos.

Os museus: participação das equipes e suas ações
Para as equipes das instituições que integram o projeto, a promoção do acesso universal e igualitário aos museus e seus acervos deve ser um objetivo de toda instituição museológica. “O acesso universal ao conhecimento produzido, divulgado e em potencial que nossos museus [públicos e universitários] possuem, tem que ser encarado dentro de uma lógica que passa pelo direito universal de acesso, pelo pensamento crítico e a transformação da sociedade”, afirma Joana Lizott, museóloga do MALG.

A participação no projeto possibilitou aos servidores dos museus perceberem problemas que antes não estavam evidentes. Carolina Silveira, técnica-administrativa do MCNCR, tem baixa visão e não consegue ler o conteúdo das legendas das peças expostas no museu, devido ao tamanho diminuto das etiquetas. Participando do “Um museu para todos” ela entendeu o quão excludente é esse e outros problemas  existentes na instituição. Para Lizott, participar do projeto foi esclarecedor. “Acredito que contribuiu para rever algumas ideias, corrigir equívocos e na construção das propostas”, comenta.

A museóloga conta que o desenvolvimento do Plano Museológico do MALG ocorreu durante sua participação no projeto. Com isso, foram incluídas nele algumas questões voltadas à acessibilidade. “O programa de acessibilidade elaborado junto ao projeto foi pensado totalmente alinhado com as diretrizes traçadas no plano. As ações que foram elencadas são assim exequíveis e possíveis dentro do planejamento pensado para os próximos dois anos”, explica Lizott. 

O Museu Carlos Ritter, a partir das reuniões com o projeto, elaborou um documento que elenca algumas propostas para a sua política institucional de acessibilidade. Entre as ações presentes no texto, estão oficinas de capacitação para os funcionários e monitores do museu e a instalação de um elevador interno com acesso ao segundo piso. Segundo Silveira, com a recente renovação do contrato de aluguel da sede do MCNCR, a instalação do elevador já foi acordada com o proprietário do prédio.

No Museu da Baronesa, de acordo com a diretora Fabiane Moraes, o foco principal será a capacitação dos servidores, mas que vão buscar, através de editais de fomento, recursos para a aquisição dos equipamentos necessários para a efetivação da acessibilidade na instituição.

A acessibilidade cultural em pauta na UFPel
A acessibilidade cultural começou a ser pauta na UFPel entre os anos de 2011 e 2012, com o projeto de extensão “O Museu do conhecimento para todos: inclusão cultural para pessoas com deficiência em museus universitários”, coordenado pela professora Francisca Michelon, atual Pró-Reitora de Extensão e Cultura da  Universidade.

Em 2018, a Comissão de Apoio ao Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (CONAI) solicitou às Pró-Reitorias da UFPel que desenvolvessem planos de acessibilidade. Em julho de 2019, foi publicado o plano da PREC.

O documento, elaborado pela professora Desirée Nobre, prevê uma série de ações a serem realizadas até o segundo semestre de 2021. Entre elas está o desenvolvimento de Programas de Acessibilidade para os museus institucionais da UFPel.

No fim do ano passado, foi lançado o e-book “Um museu para todos: manual para programas de acessibilidade, também de autoria da professora Nobre. A possibilidade de pôr em prática o conteúdo do manual e de cumprir uma das metas do plano de acessibilidade da PREC foram os motivadores para a criação do projeto de extensão “Um museu para todos”.

Capa do e-book “Um museu para todos: manual para programas de acessibilidade” Fonte: Reprodução

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