“Felicidade por um fio” e a autoaceitação do cabelo cacheado

Por William Engel       

Streaming lança comédia romântica com crítica sobre padrões de beleza e sobre autoestima

O filme “Felicidade por um fio” é uma comédia romântica dirigida por Haifaa al-Mansour e lançado pelo sistema de streaming Netflix em setembro de 2018. O drama conta a história de Violet Jones, que desde pequena é ensinada por sua mãe a manter a perfeição para fins de ser aceita na sociedade racista que a mãe mesma já vivenciara quando pequena.

Essa perfeição é demonstrada com o cabelo da personagem, que segundo a mãe, deve estar sempre alisado e impecável. Assim, todos os dias, a mesma alisa o cabelo da filha, desde pequena, a fim de se encaixar num padrão de beleza eurocêntrico. A menina então cresce com uma visão ultrapassada de perfeição e mantem essa rotina de alisamento todas as manhãs.

Até que um dia, após uma desilusão amorosa e beber muito com suas amigas, a mesma decide passar pelo “big chop”, para fazer a transição dos cabelos alisados e assumir os cacheados. Raspa a cabeça e, após um surto, entra em uma onda de aceitação e transição capilar. Essa mudança deixa a personagem mais bonita, leve e mais corajosa para com as mudanças e desafios em seu trabalho e sua vida amorosa.

              Imagem emocionante em que Violet Jones (Sanaa Lathan) raspa seu cabelo após uma enorme desilusão amorosa      Foto: Divulgação

O filme traz uma visão muito importante sobre autoaceitação e de como os meios de comunicação estão em constante mudança de acordo com a sociedade. A personagem principal, quando resolve aceitar seus cachos, acaba não ajudando somente a si mesma, mas a filha de seu novo parceiro Will, que também passa por momentos de aceitação após um comentário maldoso de Violet.

Outro ponto importante no filme é como a indústria cultural e meios de comunicação em massa são responsáveis sobre os padrões de beleza. Assim como responsáveis por essas mudanças. Vemos exemplos disso nas produções recentes do streaming Netflix, que traz produções coerentes, representativas com as minorias e todos os tipos de pessoas.

O filme tem 98 minutos e conta com as seguintes classificações: 3,9/5, na crítica dos usuários do brasileiro Adoro Cinema, e nota 6,4/10, no Internet Movie Database (IMDB), site de crítica cinematográfica americano. Com essas notas e o enredo do filme, é uma obra que vale muito a pena conferir.

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A subversão de um universo racista

Por Gabriel Teixeira de Barros    

Série mistura terror, ficção e inspiração literária para falar sobre discriminação

No elenco,  Jurnee Smolet (Letitia) Jonathan Majors (Atticus) e Michael Kenneth Williams (George)     Foto: Divulgação

Em uma das mais recentes produções da HBO, baseada no romance literário de mesmo nome publicado em 2016 por Matt Ruff, a série “Lovecraft Country” aposta na mistura do terror dramático com a ficção científica, com inspiração na mitologia escrita por H.P. Lovecraft, conta a intensa história de uma família negra norte-americana que busca descobrir mais sobre sua herança sanguínea misteriosa enquanto lida com as problemáticas raciais durante a década de 1950.

História e Contexto

A história dá o ponto de partida quando o personagem central da trama, Atticus Freeman, um veterano da Guerra da Coreia, retorna à sua cidade natal de Chicago, Illinois, após receber uma carta misteriosa contendo pistas do paradeiro de seu pai, Montrose Freeman. Atticus, popularmente chamado por Tic, espera encontrar seu tio, George Freeman, e fazer-lhe algumas perguntas que possam direcioná-lo ao seu pai desaparecido. O personagem de George Freeman é um aventureiro, criador de guias para viagens exclusivo com rotas seguras para negros dentro do solo americano. Contextualizando historicamente, as leis discriminatórias de Jim Crow, estabelecidas em 1877, ainda eram veemente executadas pelos estados sulistas e por regências locais, exigindo a segregação racial na sociedade.

A primeira grande traçada referencial entre o material do escritor H.P. Lovecraft e o bruto contexto sociocultural realçado pela série é a desvendamento da carta escrita por Montrose Freeman para seu filho. Na carta, está descrito a localização de um distrito no interior do estado de Massachusetts, propositalmente alterado para Ardham. Levando em conta a obra literária do autor americano, a região de Arkham é uma cidade fictícia do que é chamado de Lovecraft Country, o ambiente onde estão situados os monstros e a maioria dos acontecimentos das histórias escritas pelo autor.

A série dá uma bruta introdução à ficção de monstros durante uma bem construída cena de suspense, na qual os personagens se encontram como vítimas de opressão policial e estão prestes a serem executados por crimes não cometidos. O terror da ficção vai de encontro direto com o drama racial ambientado, uma mistura muito bem trabalhada, transformadora de gênero, e peça integral do DNA da série. As aparições monstruosas, chamadas dentro da literatura de Lovecraft de Shoggoth, são criaturas metamórficas, que em sua mitologia eram serventes de seres maiores, e como um possível paralelo com o contexto negro da série, rebelaram-se contra seus mestres e os levaram à extinção.

Mitologia da série e passado obscuro

A partir da metade da série, um novo e importante elemento referencial obscuro é introduzido na trama, a histórica e pouco falada relação sombria das figuras de destaque ocidentais com as artes ocultistas.

Durante o século XIX, aconteceu uma grande ressurgência do misticismo na Europa, quando uma combinação de valores ocultistas, derivados de vertentes relacionadas às filosofias ocultas, como o hermetismo e o maniqueísmo, foram estudadas e somadas a elementos mágicos relativos à alquimia e também ao estudo da pseudociência da astrologia. Fundamentaram várias filosofias esotéricas, cada uma reservada para um exclusivo e diferente conjunto de homens brancos de renome e significância cultural.

E, com esse entendimento, a série constrói o enredo em torno da figura de Titus Braithwhite, um poderoso homem branco, influente comerciante de escravos, parente sanguíneo do protagonista Atticus. Ele secretamente lidera uma sociedade ocultista chamada de Order Of the Ancient Dawn, uma organização secreta formada por uma casta de homens brancos. Esse grupo busca, através de um fragmento no Necronomicon, livro ficcional inserido na mitologia de Lovecraft, utilizar a magia para alcançar a imortalidade.

História americana através de mitos

Para tornar a experiência histórica negra palpável, mas ao mesmo tempo autêntica, as chocantes e assombrosas marcas registradas por eventos catalisadores para a construção da identidade social negra não podem ser esquecidas, e a produção audiovisual faz questão de enfatizar este pensamento. A presença do trabalho ativista poético de artistas como Gil-Scott Heron, Sonia Sanchez e James Baldwin, fazem parte da atenção aos detalhes da construção interna e do empoderamento da imagem negra, espelhando-se no impacto social conquistado por estas figuras.

O programa televisivo faz um belo esforço metafórico para relacionar o expansivo enredo de ficção científica na contextualização das tragédias históricas do período. A dramaturgia utiliza o brutal assassinato do jovem negro Emmett Till, em 1955, após ser acusado de ter ofendido uma mulher branca dentro de uma loja. A vida e o símbolo do jovem viraram ícone por justiça nas reinvindicações das campanhas do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, iniciada um ano antes de sua morte. E, no seriado, o legado de Emmett Till é utilizado como mais um exemplo do terror psicológico diário, e através dos protagonistas, explicitou toda a angústia, o ódio, e o medo sentidos por toda a esfera negra norte-americana.

E, no arco final da série, a necessidade de revisitar e presenciar um dos maiores atentados contra a humanidade, já registrados, revela o desfecho sombrio reservado pela drama, ou seja, retroceder a 1921. A frase, que também intitula o penúltimo episódio da temporada, remete aos protagonistas à necessidade de uma viagem no tempo, retornando ao ano de 1921, mais precisamente no distrito de Greenwood, cidade de Tulsa, onde, durante os dias de 31 de maio e 1º de Junho, foram massacrados entre 100 e 300 negros, no que ficou conhecido popularmente como Massacre de Tulsa. Para o enredo, o acontecimento marca o último registro, em que a família de Atticus Freeman possuía o fragmento mágico do livro que seria capaz de libertar o povo negro da submissão aos brancos, através da magia.

Na realidade, a tragédia representou o violento fim de um distrito majoritariamente negro, popularmente conhecida como Black Wall Street, que foi uma das comunidades afro-americanas mais bem sucedidas comercialmente dentro do solo norte-americano. A prosperidade financeira e o imenso e oportuno futuro que toda uma geração estava conquistando por merecimento tiveram seu fim. Houve uma conspiração por uma imensa armada de homens brancos, que fizeram de tudo para acabar com a história de todo um povo.

Por fim, “Lovecraft Country” utiliza de todos os artifícios existentes na ficção científica e no drama psicológico para construir um belo e profundo enredo a respeito do protagonismo negro, em uma dramaturgia popularmente branca, e como a luta pelo fim submissão negra e da violência racial atravessa os gêneros e distorce os campos da ficção e da realidade.

A primeira temporada de “Lovecraft Country” (2020) está disponível para assistir nos serviços de streaming disponibilizados pelo canal HBO, no Brasil através do HBO GO.

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Projeto #TeatroMunicipalAgora

Por Thiago Lehn     

Município de Rio Grande promove apresentações on-line na sua sala de espetáculos

Durante a pandemia, o Teatro Municipal do Rio Grande está realizando o projeto #TeatroMunicipalAgora, que está chamando a atenção da população da região e sendo de suma importância para fomentar a cena cultural muito presente na cidade.

A diretora do Teatro, Alzira Paiva, comentou os principais aspectos da criação e implementação da ideia. O Projeto #TeatroMunicipalAgora foi criado como forma de incentivo aos artistas rio-grandinos. Através do espaço e da estrutura cedidos pela Secretaria de Município da Cultura, eles podem apresentar a sua arte no formato de shows on-line disponibilizados para a comunidade, com a renda dos ingressos revertida para os próprios   artistas dos diferentes segmentos e/ou formas de expressão.   A iniciativa também objetiva perpetuar e disseminar a cultura no município, de modo a valorizar e destacar a importância do trabalho desenvolvido por estes artistas dentro do contexto histórico da cidade do Rio Grande.

A diretora relata que os shows do projeto são realizados semanalmente nas quintas-feiras, sempre às 20h30min. e transmitidos através do aplicativo zoom, cujo link é encaminhado aos espectadores por e-mail conforme preenchimento de cadastro, no ato da compra do ingresso adquirido no site Sympla.com.br. Eventualmente são inseridos ao longo do mês datas extras para espetáculos especiais.

Quanto aos produtos culturais que o projeto abrange, Alzira diz que o Teatro recebe qualquer expressão de arte de palco, sejam espetáculos musicais, teatrais, dança ou poesia. Os espetáculos são produzidos pelos próprios artistas e o Teatro Municipal entra com a infraestrutura de som, luz, vídeo, filmagem e apoio que os artistas necessitarem.

A banda Garotos da Rua esteve em uma das apresentações       Foto: Divulgação

O artista que quiser participar pode ir presencialmente ao Teatro Municipal do Rio Grande que fica localizado na Avenida Major Carlos Pinto, 312, ligar através do telefone (53) 3233-4339 ou se cadastrar através de um formulário que pode ser encontrado na página do Teatro no Facebook.

Sobre a participação da comunidade ela diz que a adesão ao público tem sido satisfatória. É uma modalidade nova de se realizar espetáculos e que está conquistando o público na medida em que o projeto vai se desenvolvendo. Os artistas locais têm aderido ao projeto e as agendas de junho, julho e parte de agosto já estão preenchidas. Segundo os artistas que se apresentam, é uma maneira de viabilizarem seus espetáculos, receberem por seu trabalho e também divulgarem suas criações pelas lives e redes sociais.

Perguntada sobre a continuidade do projeto, a diretora enfatiza que é intenção da Secretaria do Município da Cultura e da direção do Teatro Municipal é dar seguimento a este projeto, pois o Teatro é um dos espaços culturais que devem ser prestigiados por quem aprecia cultura na cidade do Rio Grande. Esta programação de espetáculos on-line é uma forma de oferecer entretenimento e cultura ao público nestes tempos difíceis da pandemia.

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“Mad Men” e as agências de publicidade da década de 1960

                                                               Por Helena Isquierdo Rocha     

O seriado ganhou destaque pela crítica, especialmente por sua autenticidade histórica

Série mostra cultura e sociedade urbana dos Estados Unidos     Foto: Divulgação

A série estadunidense “Mad Men” foi lançada em 2007 e teve sua sétima e última temporada exibida oito anos depois, em 2015. A trama criada por Matthew Weiner é ambientada na década de 1960, e mostra o cotidiano da agência de publicidade fictícia Sterling Cooper, localizada na Madison Avenue, em Nova York.
Ao longo desse período, o seriado foi fortemente elogiado pela crítica, especialmente por sua autêntica representação histórica, figurinos, atuações e roteiro. Foram conquistados diversos prêmios, incluindo quinze Emmys e quatro Globos de Ouro. As primeiras quatro temporadas venceram o Emmy de série dramática de destaque.

A série mostra a cultura e a sociedade norte-americana daquele período, destacando fatos históricos reais e hábitos da época, como o tabagismo, alcoolismo, sexismo, feminismo, adultério, homofobia, racismo e o antisemitismo.

Durante os mais de 90 episódios, acompanhamos o processo de produção de campanhas para grandes marcas da vida real como a Coca-Cola, Kodak, Hershey’s Volkswagen e Lucky Strike.

Inclusive, em um desses episódios, é apresentada a ideia de mostrar apenas alimentos que vão bem com o molho. A campanha foi ao ar na vida real, em 2017, através da marca Heinz.

Os acontecimentos reais estão entre os principais atrativos da produção, como a morte de Marilyn Monroe, os assassinatos de John F. Kennedy e do ativista Martin Luther King Jr. e o homem pisando na Lua.

Joan Harris (Christina Hendricks ) e Peggy Olson (Elisabeth Moss) enfrentam grandes desafios    Foto: Divulgação

As personagens femininas são fundamentais para o sucesso da obra. A moda e o mercado profissional para as mulheres da época também são bem representados. O elenco deixa uma forte mensagem na série no que diz respeito ao ambiente de trabalho. As personagens Peggy Olson (Elisabeth Moss) e Joan Harris (Christina Hendricks) enfrentam grandes obstáculos em um local marcado pela presença masculina, preconceito e assédio.

E, além de tudo isso, a série conta com uma trama cheia de personagens bem construídos, reviravoltas, romances, dramas e segredos. Não é à toa que “Mad Men” foi considerada uma das melhores séries da década.  

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Theatro Guarany enfrenta dificuldades na pandemia

Por Augusto dos Santos Cabral e Gabriel Gonçalves    

Criação de perfil em rede social, live comemorativa e a ausência do público marcam o período de isolamento social

Ao falar no âmbito artístico da cidade de Pelotas, é impossível não lembrar do Theatro Guarany, uma das maiores referências do município, que atrai diversas pessoas que prestigiam o local e sua beleza histórica. Inaugurado em 30 de abril de 1921, o local recebe não só apresentações teatrais, mas também grandes shows musicais, de cinema e eventos que se desenvolvem na cidade. Mas, a partir de março de 2020, a realidade mudou para todo mundo. A pandemia do coronavírus atingiu áreas de todos os segmentos e uma das mais afetadas foi a da cultura. Sem a possibilidade de ter o público presente no teatro há mais de um ano, o Guarany sofre com a falta de pessoas dentro do local, já que as práticas artísticas estão diretamente ligadas à conexão com o público.

A proprietária do teatro, Andreia Zambrano, lamenta a falta de contato com as pessoas. “Isso é a vida do teatro, aquela energia, a emoção que você sente nas pessoas, eu acho que isso é a vida mesmo do teatro, é um coração que pulsa. É uma necessidade que se tem dessa interação, da alegria, desses momentos que a arte propicia para as pessoas de reflexão, empatia e emoção.”

                     Theatro Guarany sem a presença do público durante a pandemia                               Imagem: Reprodução/Internet

Recentemente, o local completou 100 anos, mas com as portas ainda fechadas desde o começo do ano passado, o jeito encontrado para fazer uma comemoração foi através de uma live comemorativa, que ocorreu no dia 30 de abril, e reuniu um grande público virtual que assistiu a diversas atrações. A live também serviu para arrecadar alimentos distribuídos pela Corrente Beija Flor, com objetivo de levar mais felicidade às pessoas mais necessitadas.

 

                         Live comemorativa em alusão aos 100 anos do Theatro                                                Imagem: Reprodução/Facebook

Além das lives, que foram realizadas durante a pandemia como uma forma de interagir com o público do teatro, o local também inovou ao criar uma página no Instagram, rede social que gera muito engajamento, e que o Guarany não tinha antes do período de isolamento social. “Pela necessidade, criamos o nosso Instagram, que a gente não tinha, só tínhamos um blog e o Facebook”, conta Andreia.

Pouca esperança em um possível retorno

Em relação às expectativas com a volta das atividades no teatro, a proprietária se mostra desanimada, já que esse retorno ainda não possui uma data confirmada no Brasil. “Não existe previsão para o retorno das atividades, porque nós estamos fechados há 14 meses. A pandemia está descontrolada e é como se nós fossemos os responsáveis, mesmo não podendo trabalhar as pessoas acham que nós fizemos festa”, explicou.

Zambrano também demonstra insatisfação com a atual gestão municipal e estadual, já que outras atividades semelhantes estão retornando, enquanto o Guarany continua sem poder reabrir mesmo com todas as medidas de segurança necessárias. “O cinema da cidade estava aberto, eu não posso fazer uma formatura com todas as condições de deixar o teatro setorizado, tentei diversas vezes na Prefeitura falar sobre os protocolos, distanciamento e segurança, provei que poderia fazer, mas os governos municipal e estadual simplesmente ignoram a necessidade de várias pessoas desse nicho”, finaliza.

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Série “Them” e o racismo nos EUA dos anos 50

Por William Engel    

Episódios de terror têm causado polêmica por suas cenas violentas e chocantes

Suspense na época da imigração de famílias negras em busca de melhores condições de vida

Inspirado no fenômeno que vem sendo os filmes de Jordan Peele, sobre visibilidade a cultura negra nos EUA e no mundo, “Them” estreia com sua primeira temporada trazendo um suspense psicológico em paralelo com a história da segregação dos anos 50 nos EUA. A série, dirigida por Little Marvin, e lançada no dia 9 de abril na Amazon Prime, vem trazendo polêmicas ao demonstrar a realidade de negros que estavam migrando para outros estados em busca de novas oportunidades no século XX na América do Norte.

A trama lançada pela Sony é protagonizada pelos atores Deborah Ayorinde, Ashley Thomas, Alison Pill e Ryan Kwanten. A história se passa primeiramente na Carolina do Norte, onde a família Emory sofre uma tragédia já nos primeiros minutos. Após os acontecimentos, e contextualizando com a história dos EUA nos anos 50, diversas famílias de negros imigram para Califórnia procurando uma vida melhor. A série, além da situação do racismo nos EUA naquela época, ainda lida com diversos outros problemas importantes como o machismo do século passado e o início das mudanças nesses dois cenários. Além dos problemas que a pressão psicológica nos negros e nas mulheres poderia causar.

No desenvolver da série, os Emorys passam por dificuldades com os vizinhos que agem com terrorismo em relação aos novos inquilinos. Cenas como fogo no jardim, bonecas negras enforcadas, bullying na escola e no trabalho são retratados com o duro realismo da segregação nos EUA. Não menos importante, mas ainda pautado na série, há o machismo contra as mulheres que trabalham, assim como o cenário homofóbico.

Por se tratar de uma história tão impactante, a série vem sendo alvo de algumas críticas, justamente por contar com cenas tão fortes e temas tão delicados. O diretor e a produção alertam no início de algumas cenas fortes sobre o impacto que podem causar. Um exemplo dessas cenas o espectador verá no meio de série, em seu quinto episódio, em que a história sobre o que ocorre com o primogênito da família na Carolina do Norte é contada.

             A série é alvo de críticas por tratar com cenas fortes temas delicados      Fotos: Amazon Prime Vídeo/Divulgação

Um dos fatores responsáveis pelas críticas em torno da série são as passagens sobre a Bíblia  e seu nono episódio que conta a história do encontro de um personagem branco com uma família negra. Esse encontro é regado de fanatismo religioso. Os textos bíblicos são utilizados para mutilar e infligir mal aos passageiros que buscavam por ajuda da pequena vila cristã. O ponto questionado é o da história se utilizar das escrituras cristãs para fazer protesto ao racismo da época e por seu grafismo exagerado. Arthur Eloi, escritor do site Omelete, comentou: “Apesar de um ótimo elenco e excelente direção, ‘Them’ tropeça na própria noção de importância ao confundir exagero com ousadia, e entrega algo que não fica à altura do potencial que tem nas mãos. Os crimes e injustiças cometidos contra os negros, nos Estados Unidos e no mundo, nunca devem ser esquecidos ou perdoados, mas as produções modernas precisam ir além da tentativa de chocar através de representações gráficas.”

Com sua trama forte, ótimos atores e uma comunicação social muito forte, apesar das críticas e do grafismo da série, a produção de Little Marvin merece ser apreciada. Seu suspense é grandioso e digno de mais algumas temporadas. Afinal, não é sempre que se vê um contexto histórico tão bem contextualizado em um terror psicológico de várias facetas e em dia com seu contexto social.

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Mercado Municipal está no coração de Pelotas

Por Ronaldo Luis   

Espaço público histórico da cidade sofre dificuldades com a pandemia

O Mercado Público Municipal de Pelotas, “foi construído a partir de 1846, quando Dom Pedro II, em passagem pelo Estado, veio à cidade. Essa visita do monarca foi determinante para irradiar no povo pelotense o desejo de tornar a cidade desenvolvida e próspera. O local escolhido para a construção do Mercado era um terreno próximo à Praça da Regeneração (atual Praça Coronel Pedro Osório)”. Esta passagem do livro “Mercado Central de Pelotas 1846- 2014”, do jornalista Klécio Santos, evidencia a importância desta edificação que tem importantes significados simbólicos e históricos. Atualmente, não apenas a direção ou proprietários de bancas, mas também o povo pelotense vem enfrentando a pandemia do coronavírus, Covid-19, o que vem se refletindo nas atividades comerciais e culturais do Mercado.

Foto antiga com vista da edificação no Centro da cidade

Nosso Mercado sempre ofereceu atrações artísticas aos seus visitantes, hoje prejudicadas pelos constantes decretos municipais e estaduais em função da pandemia que vivemos. O local, além de exercer sua função de centro comercial, também proporcionava shows à população local. Infelizmente a pandemia zerou completamente essa prática cultural artística, deixando as empresas literalmente com as mesas vazias.  Os proprietários estão desesperados querendo trabalhar, mas entendem a importância da necessidade de distanciamento social. A hora não é propícia às aglomerações. “Aos poucos o Mercado está reagindo e talvez num breve momento tudo volte à normalidade e as mesas voltem a sorrir”, disse a cliente Margarida Prestes.

De janeiro de 2020 para cá, tudo foi fechado e os proprietários sujeitos às multas caso decidissem por reabrir e causar aglomerações.  Com isso as relações dos empresários com os músicos ficaram deterioradas. Hoje teriam dificuldade de contratar e pagar caso resolvessem recomeçar com atividades artísticas.

De acordo com o empresário Antonio Souza, ex-locatário de uma banca no Mercado, seu espaço comercializava produtos variados de várias partes do Brasil, como o queijo de Minas e o melado de Santa Catarina, além de alguns itens vindo do exterior, como bananas que vinham de Montevidéu devido sua qualidade. Quando aconteceu o início da pandemia, com o distanciamento social, fechou as portas do seu estabelecimento e nunca mais abriu a banca.

Espaço urbano em torno do Mercado é voltado para programações artísticas Foto: Ronaldo Luis

Construção e história

A população local considera o Mercado um símbolo de tradição histórica do povo pelotense, localizado no sul do País. Naqueles dias de áurea época social, a cidade começava a ser desenvolvida e próspera. Suas sucessivas administrações sentiram a necessidade de realizar obras dando estrutura para todo o comércio ribeirinho, as charqueadas, e o que vinha do interior trazendo insumos para a população e abastecimento dos navios que aqui vinham, em busca do charque, e seguiam rumo ao continente europeu.

Junto ao desenvolvimento local, o comércio também reivindicou um local para as trocas entre os produtores e vendas dos produtos. Surge assim a imponente construção iniciada em 1846 do Mercado Público de Pelotas.  Atendeu durante séculos às necessidades da população pelotense, que ali comercializava todos os produtos alimentícios. Junto a esse crescimento veio também o desenvolvimento regional com a formação populacional dos bairros em torno do centro da cidade de Pelotas.

As obras do Mercado foram finalizadas em 1852, sendo considerado por muitos viajantes que passaram pela cidade como sendo superior ao Mercado Público de Porto Alegre e Rio Grande, comparado ainda com o Mercado da Candelária no Rio de Janeiro. Atualmente a edificação é o mais antigo remanescente do País. No entanto, ao longo dos 170 anos de existência do local, o mesmo foi sofrendo degradações, tanto naturais como provocadas pelo descuido do ser humano.

Reformas acrescentam torre e farol

Em 1912, o Mercado sofreu a primeira grande reforma, na qual modificou a fisionomia do prédio, o projeto na ocasião foi do arquiteto Manoel Barroso Assumpção. No período de 1911-1914, o Mercado sofreu uma reformulação profunda em termos de plantas e fachadas, obras dirigidas pelo engenheiro Manoel Itaqui; nesta fase o prédio recebe, além de mudanças de acessos, a torre do relógio e o farol de ferro, importados de Hamburgo, na Alemanha, fazendo uma alusão à Torre Eiffel de Paris. Do farol emergia luz de uma poderosa luminária rotativa, que espargia raios para todos os quadrantes. Vista de longe, identificou a cidade por muitos anos. Contam moradores da Cascata e Três Cerros que, à noite, era possível ver o famoso farol do Mercado.

Torre foi acrescentada à edificação no início do século XX     Foto: Ronaldo Luis

Na planta anterior, os acessos eram apenas pelas esquinas em chanfro coroados por um frontão triangular. Já, na planta de 1914, o partido e a volumetria modificaram-se, tornando os acessos centralizados nas fachadas e torreões nas esquinas, com suas circulações internas em cruz, com um arcabouço central apoiado em 74 colunas de ferro, com tesouras ligadas por vigorosas vigas de ferro abertas em ogivas e com vitrais nas ogivas laterais.

Na planta de 1914  acessos são centralizados nas fachadas e torreões nas esquinas    Foto: Ronaldo Luis

O primeiro prédio é de linhas simples apresentando um ritmo de cheios e vazios marcados pelas vergas em arco pleno no vão das portas. No seguinte os torreões recebem na platibanda ornamentos com guirlandas de flores e frutas em relevo, em estilo Art-Nouveau. Contava com 120 lojas dos mais variados tipos. O relógio e o sino existem até hoje.

Degradação e reforma recente

O Mercado foi perdendo sua função como polo comercial, passando por péssimas administrações. Tornou-se então um espaço sujo, mal iluminado e inseguro. Terminou caindo em erros administrativos crassos que o tornaram um espaço desorganizado, cujos produtos comercializados desfocavam das atividades para o qual havia sido criado. As lojas comerciais e os restaurantes estavam ao lado das bancas de peixes, com o seu odor característico nada agradável.

Em face desta deterioração e tendo em vista se valor histórico e simbólico, o nosso Mercado Público foi avaliado e contemplado com o programa Federal denominado, “Monumenta”, em 2001. Esse projeto prometia a transformação do ambiente e consequente revitalização que foi finalizada em 2012.

Novos erros críticos foram cometidos pela administração que aprovou um projeto que transformaria o local do Mercado, até então construído para troca de gêneros alimentícios, num mini shopping com a criação de pequenas lojas e bares restaurantes ao longo de suas galerias internas.

Arquitetura embeleza paisagem urbana de Pelotas       Foto: Ronaldo Luis

Começava assim a atual história de um projeto que, mesmo modernizado, deixou de atender às necessidades da comunidade.  O local era muito frequentado pela comunidade e visitantes. Porém a população, comercial e consumidora, inicialmente recusou a obra, tendo o local passado por longo período sem a procura de locatários.

Com o tempo, a frequentação ao Mercado voltou gradativamente, tendo em vista os serviços comerciais e turísticos, além das suas atrações culturais especialmente aos fins de semana. O Mercado Público continua sendo um lugar de lazer e compras até hoje, sobrevivendo ao tempo apesar dos erros administrativos e das lojas concorrentes. Junto à beleza plástica da obra arquitetônica do empreendimento, é dada a devida importância para a cultura grega, onde momentos mágicos se manifestam ao contemplar a estátua do deus Mercúrio, localizada na entrada sul do prédio. O período pós-pandemia promete uma nova retomada do Mercado Público com um lugar especial para a cultura da região.

           Atuais instalações modernizadas do Mercado                Fotos: Ronaldo Luis

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Comédia promove empatia e reflexão  

Por Julya Bartz Boemeke Schemechel    

O diretor Vicente Villanueva lida com os transtornos compulsivos de maneira divertida

Quando optamos por assistir um filme de comédia, logicamente procuramos por uma que possa nos arrancar boas risadas do início ao fim. No filme “Toc toc” a história entrega comédia juntamente com uma reflexão sobre os Transtornos Compulsivos Obsessivos (TOC). O filme espanhol do diretor Vicente Villanueva (disponível na Netflix) é uma adaptação de uma peça francesa e foi lançado em 2017.  

No consultório, seis pacientes que possuem TOC aguardam impacientemente atendimento de um doutor muito requisitado e especializado na área. O primeiro paciente sofre da síndrome de Tourette e assusta os demais por conta de seu “tique”. Ao longo do filme, ele explica como funciona a síndrome e como é a sua rotina convivendo com ela. E isso acontece também com os outros pacientes, que cansam de esperar o doutor atrasado. Além da Tourette, o filme fala também sobre Aritmomania (transtorno no qual o indivíduo precisa contar tudo em sua volta repetidas vezes; angústia com os números), compulsão por limpeza, além do TOC de verificação, onde a pessoa precisa conferir inúmeras vezes se trancou a porta ao sair de casa, por exemplo. 

Personagens compartilham comicamente suas dificuldades na sala de espera do consultório    Foto: Divulgação

Em primeiro momento, a impressão que passa é que se trata de uma comédia apelativa, que recorre a palavrões para chamar a atenção. Mas conforme entramos na história e entendemos mais sobre os personagens, cada detalhe chama a atenção e é aí que o humor aparece. O filme busca mostrar os transtornos e suas dificuldades de uma maneira descontraída e ao mesmo tempo delicada. Graças a isso, o espectador consegue “entrar” na vida de quem possui TOC e entender melhor como o preconceito atrapalha e prejudica a vida dos mesmos. 

“Toc toc” transmite uma mensagem muito importante através de uma comédia respeitosa: os Transtornos Compulsivos Obsessivos são mais comuns do que imaginamos. E as pessoas que convivem com eles enfrentam batalhas diárias. Cabe a cada um buscar conhecer melhor sobre e respeitar. 

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Personagens de “Breaking Bad” perguntam sobre seu futuro

Por Matheus William Müller Ruckert   

Produção estadunidense lançada em 2008 tem como base princípios do mundo do crime e conceitos da química avançada

Se você é um daqueles poucos que não conhece nada a respeito da série de TV norte-americana “Breaking Bad”, lançada em 2008, e dirigida por Vince Gillian, bom você realmente está perdendo muito em não assistir esta obra. Afirmo isso pela pouca porcentagem de pessoas que dizem ter olhado e não terem gostado do que viram. Sua aceitação na Netflix é de 96%. A maioria abraça a série desde o início, apegando-se aos personagens e pela curiosidade e dúvida de querer saber o que irá acontecer com eles num futuro próximo ou distante.

Jesse Pinkman (Aaron Paul) e Walter White (Bryan Cranston) são os dois  personagens principais da série

Os dois personagens principais, Walter e Jesse, têm o papel de ditar o rumo da história, sendo eles os principais causadores e afetados dos eventos e problemáticas da narrativa. Walter White (Bryan Cranston) é um ótimo entendedor e professor de química, porém frustrado com sua vida atual, pois a condição financeira de sua família não estava indo bem. Para contornar a situação, ainda trabalhava numa lava jato para custear os gastos da sua família. E também tinha recém-descoberto um câncer que limitaria sua trajetória a apenas mais dois meses de vida restantes. Já Jesse Pinkman (Aaron Paul) é um ex-aluno de Walter, porém agora ele é pequeno traficante de metanfetamina. E os destinos destes dois se cruzam de uma maneira bem peculiar. É óbvio que você vai ter que assistir para saber já que isto é uma resenha e não um resumo da história.

Além destes dois personagens principais mencionados, ainda temos a participação de diversos outros coadjuvantes, como a família de Walter, sua esposa Skyler (Anna Gunn) e seu filho Walter White Jr (Rj Mitte), a família da irmã de Skyler, a Marie Schrader (Betsy Brandt) e seu marido oficial do departamento de narcóticos cunhado de Walter, Hank Schrader (Dean Norris). Toda a história é narrada em um total de cinco temporadas, com mais ou menos 12 episódios cada, tendo seu término lá em 2013.

               Os destinos destes dois personagens se cruzam de uma maneira bem peculiar             Foto: Divulgação  

Roteiro

Bom, esta é realmente é uma obra muito coesa e dramática, tendo como base princípios do mundo do crime e conceitos da química avançada. O roteiro aplica muito bem os seus personagens na trama e os usa com proficiência ao encaminhá-los a caminhos pouco prováveis, mas muito realísticos.  São condizentes com os acontecimentos ao redor. É tudo muito bem calculado e pensado com epifanias e reviravoltas todo o momento. Uma química incrível é formada ao nos aproximar dos personagens e de seus destinos e como isso vai se desenrolar. No fim, vai valer cada episódio assistido, até mesmo aquele da mosca cujo teve uma boa repercussão na época e não vou dizer o motivo.

“Breaking Bad” tem uma legião de fãs por todo o mundo e é, até hoje, considerado e visto como um dos melhores seriados de ação e investigação já feitos. Isso é muito pela perspectiva em que direciona os personagens. Nos apegamos mais como certos “vilões” da história, mas jamais negligenciando e esquecendo as suas motivações e porque fazem o que fazem. Já o caráter e a personalidade de cada personagem vão ditar como estes irão atuar para que o roteiro vá para frente. São desenvolvidas tramas e reviravoltas chocantes, que nos fazem ficar vidrados nos acontecimentos ao longo da narrativa.

Bom, quando quiser e tiver curiosidade e tempo, disponha para assistir esta série, que é tanto linear quanto megalomaníaca. Essas são qualidades que definem bem o rumo do roteiro, que é cheio de acordos, tiros, tramas familiares e muita, mas muita metanfetamina, para vender e usar. Tudo depende de que local e papel os personagens estarão designados a estar e cumprir em cada momento, pois, sim, cada momento aqui importa e é relevante, isto é “Breaking Bad”.

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Mostra “Cinema Coletivo” ocorre até dia 24 de junho

Por Danieli Schiavon e Luíza Mattea    

Evento promovido pelo Cine UFPel acontece quinzenalmente sempre às quintas-feiras pelo canal no Youtube do projeto

Card de divulgação da Mostra                 Imagem: Reprodução / Facebook

Até o dia 24 de junho, o Cine UFPel está promovendo a Mostra “Cinema Coletivo: diálogos com funções motores do audiovisual”. O evento destaca os profissionais imprescindíveis na execução de filmes, mas que nem sempre estão presentes nos tradicionais debates. Os diálogos são abertos à comunidade e ocorrerão quinzenalmente, nas quintas-feiras, a partir das 19h30min, no canal no Youtube do projeto. Ao longo da programação, cada convidado vai indicar um filme que colaborou e o link da obra será disponibilizado ao público durante sete dias antes da data marcada. Os debates serão mediados por um professor do curso de Cinema e Audiovisual da UFPel. 

O Cine UFPel é um projeto elaborado pelo curso de Cinema e Audiovisual, que desde 2015 exibe filmes de forma gratuita para a comunidade em geral. Atualmente, a equipe do Cine UFPel conta com a coordenadora Cíntia Langie e dois bolsistas, Leonardo da Rosa e Rebeca Franco dos Santos. Com a pandemia, o espaço físico do projeto, localizado na agência da Lagoa Mirim, em Pelotas, precisou ser fechado, uma vez que todo o ensino presencial foi paralisado. Devido ao distanciamento social da covid-19, o projeto passou a ter mostras on-line. Em 2020, além de uma mostra de curtas, foi realizado o evento “Cine UFPel convida”, que contou com filmes escolhidos por coletivos selecionados pelos participantes. 

“O que mais impactou o desenvolvimento do Cine UFPel foi o fechamento da nossa sala, onde tínhamos um controle da qualidade de exibição e podíamos transmitir as obras de forma coletiva. A sala de cinema era um encontro, uma possibilidade de ver um filme no telão grande, com todas as pessoas ao redor”. 

Assim, no início do semestre, os participantes do grupo fizeram uma reunião para decidir como seriam realizados os eventos de 2021. A ideia inicial veio de Leonardo, que sugeriu uma mostra focada em funções que nem sempre estão nos debates. A partir disso, a equipe começou a desenvolver melhor a programação, tirando os planos do papel. Entre os convidados, o grupo buscou profissionais que atuam no mercado de cinema no Brasil. 

“O objetivo é dar visibilidade para essa tradição, essa peculiaridade coletiva da profissão. Cinema se faz com coletividade e existem funções que são fundamentais, mas que nem sempre são valorizadas. Mais do que isso, as pessoas nem sempre conhecem o que faz um platô, por exemplo. Por isso, buscamos trazer uma perspectiva diferente, para variar um pouco do modelo já tão desgastado na pandemia de apenas exibir filmes e debates”, conta Cíntia. 

A mostra foi pensada para ser realizada durante a pandemia, com um formato totalmente on-line. A programação escolhida tem o intuito de diminuir as barreiras geográficas, convidando para o debate pessoas de diferentes lugares do Brasil. O processo de organização da mostra foi realizado por meio de e-mails, além da criação de um grupo no WhatsApp com a pessoa que vai estar no debate, o mediador e a equipe para facilitar as decisões e trocar informações. O material de divulgação é feito pelos bolsistas do projeto. Card, texto, publicação no Instagram e Facebook, envio por email. Os encontros são marcados sempre meia hora antes, a fim de gerar um engajamento entre os participantes. Assim, quando os debates iniciam, os convidados já estão mais à vontade para conversar e compartilhar ideias.

 Primeiro debate ocorreu no dia 22 de abril       Foto: Reprodução / YouTube

“Estamos tendo que lidar a partir das telas, que são as janelas para o mundo. A nossa divulgação sempre foi uma divulgação espontânea, gratuita e virtual, então a gente já tinha essa expertise de fazer divulgação via Facebook, via Instagram, o que não muda muito com a pandemia, porque a gente se fala pelo WhatsApp, combina o que tem que fazer e lança nas redes sociais”, explica Cíntia.  

Programação

O primeiro dia de evento, que ocorreu na data de 22 de abril, contou com a participação de Carolina Silvestrin, assistente de direção, roteirista e diretora no mercado de cinema. Ao longo da conversa, a profissional contou sobre sua experiência como assistente de direção no longa “Legalidade”, dirigido por Zeca Brito, em 2019. 

No final do mês, dia 29 de abril, foi a vez de Eloisa Soares, assistente de câmera, e o Nicolau Saldanha, video assist, abordarem o longa “Domingo”, de Clara Linhart e Fellipe Gamarano Barbosa, produzido em 2018. Durante o debate, a dupla falou um pouco sobre sua experiência no decorrer do filme, além de destacarem também trabalhos anteriores.  

Já no dia 13 de maio, a programação contou com Clara Trevisan, que falou sobre sua experiência como assistente de animação no filme “Subsolo”, de Erica Maradona e Otto Guerra, de 2020. Ao longo da conversa, a profissional também falou sobre sua trajetória em outros trabalhos.

No dia 27 de maio, a conversa foi com o platô e assistente de produção, Marcos Perello, que participou da construção do filme “Beijo no Asfalto”, de Murilo Benício, lançado em 2018.

Take do documentário “Democracia em Vertigem”, indicado ao Oscar em 2020     Foto: Divulgação

No dia 10 de junho, o debate foi com Jacqueline Almeida, assistente de montagem que participou do filme “Democracia em Vertigem”, de Petra Costa, lançado em 2019. O documentário retrata os bastidores  do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o julgamento do ex-presidente Lula e o pleito que elegeu o presidente Jair Bolsonaro. O filme foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário em Longa-Metragem.

A programação da Mostra se encerra com o bate-papo com os assessores executivos e gerentes de lançamento, Letícia Santinon e Bernardo Lessa. No último debate, a temática terá um destaque especial à distribuidora Vitrine Filmes. Mais informações podem ser encontradas no Facebook do Cine UFPel.

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