Bibliotheca Pública Pelotense: Patrimônio cultural da região

Por Paulo Marques     

Instituição é mantida pelas contribuições dos associados e conta com um museu histórico

Prédio é um destaque arquitetônico do Centro Histórico da cidade de Pelotas

A Bibliotheca Pública Pelotense é considerada um centro de referência cultural da região sul do Rio Grande do Sul, sendo uma instituição sem fins lucrativos e sem qualquer vínculo com o poder público, mantida através das contribuições dos seus associados e pela sociedade civil organizada. Além do acervo de livros, conta com um museu histórico e realiza eventos culturais periodicamente.

Fundada em 14 de novembro de 1875, através de uma assembleia que reuniu 45 pessoas da sociedade civil de Pelotas, instalou-se inicialmente na parte térrea de um sobrado na esquinas das ruas General Victorino e General Neto. O modesto acervo, doado pela comunidade, registrava 960 volumes. Três anos depois, em 1878, foi lançada a pedra fundamental e iniciada a construção do prédio próprio que hoje abriga a Bibliotheca, na Praça Coronel Pedro Osório. Mais uma vez, foi a organização da comunidade que angariou doações para a aquisição dos materiais de construção, através de contribuições financeiras da elite social da época e da população pelotense de um modo geral, arrecadando dinheiro em bazares e quermesses. O primeiro piso do atual prédio histórico de estilo eclético foi concluído em 1888.

Instituição completa 146 anos de existência interagindo constantemente com vida cultural da região

Ao longo dos seus 146 anos de existência, a Bibliotheca Pública Pelotense sediou o Clube Abolicionista, a Sociedade Beethoven, a Banda União Democrata, a Sociedade Terpsychore, que no início do século 20, proporcionou a realização da 1ª Exposição de Belas Artes da então Província do Rio Grande do Sul, em benefício da construção do Asilo de Mendigos e do 1º Congresso Rural do Rio Grande do Sul. Ainda, ao longo do tempo, emprestou suas instalações para a Escola Prática de Comércio e a Escola de Artes e Ofícios, origem da Escola Técnica Federal, hoje integrada ao IFSul; a Associação Comercial, a Faculdade de Direito, o Conservatório de Música, a Escola de Belas Artes, a Sociedade de Cultura Artística, a Orquestra Sinfônica, o Clube de Cinema, o Instituto Histórico e Geográfico, a Academia Sul-Riograndense de Letras, a Escola Louis Braille e a Câmara de Vereadores.

Fundada para atuar como centro multicultural de caráter regional, a Bibliotheca Pública de Pelotas possui um grande número de peças e documentos relacionados à memória histórica da Região Sul, tendo o Museu Histórico e Bibliográfico como parte integrante da casa. Além do museu, o espaço também abriga um acervo destinado ao público infantil, a Biblioteca Infanto-juvenil Érico Veríssimo, que desenvolve atividades de incentivo à leitura, como “A hora do faz de conta”, suspenso atualmente pelo período da pandemia.

Além de todas as contribuições para o desenvolvimento da literatura na região, a instituição também chegou a oferecer cursos gratuitos de alfabetização para adultos, em um tempo em que o ensino formal não contemplava toda população. Além disso, realizou inúmeras conferências e palestras com nomes relevantes dos mais diferentes campos do conhecimento humano, assim como ofereceu ao público pelotense memoráveis concertos musicais, festivais de dança e diversas exposições de obras artísticas.

Uma das exposições  artísticas anteriores ao período da  pandemia  Foto: Reprodução Facebook

Atualmente, a instituição é presidida por Lisarb Crespo da Costa e possui um conselho diretor composto por onze integrantes, além de um conselho fiscal e um quadro de funcionários que dão seguimento à missão institucional da Bibliotheca, que é o de proporcionar o desenvolvimento cultural da comunidade, por meio da promoção da arte, cultura e lazer, ofertando acesso livre e gratuito à informação e a todos os seus serviços, projetos e ações culturais.

A Bibliotheca segue à disposição da comunidade, com acesso público, universal e gratuito a todo seu acervo, que conta com mais de duzentos mil títulos. A consulta ao acervo no local é livre e a possibilidade de retirada dos livros por empréstimo é restrito aos associados. Os interessados em associar-se devem preencher uma ficha cadastral e pagar a primeira mensalidade. É possível optar por duas categorias: “Estudante”, devendo ter vínculo com alguma instituição de ensino e que dá direito a retirar até dois livros para empréstimo domiciliar pelo período de 15 dias; ou “Efetivo”, dando direito a retirar até quatro livros para empréstimo domiciliar com prazo de trinta dias. O custo da mensalidade é de R$ 10,00 e R$ 20,00, respectivamente. Os usuários em geral e associados podem ter acesso à Bibliotheca e ao Museu Histórico de segunda à sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 17h.

O Museu Histórico

O Museu Histórico da Bibliotheca Pública Pelotense foi criado em janeiro de 1904, tendo sido revitalizado em 2003. O museu valoriza as peças de maior significado histórico, como o lenço Farroupilha, o sinete da República Rio-Grandense, o revólver que teria causado o ferimento mortal em Solano Lopez na Guerra do Paraguai, entre outros objetos que contam a história da região sul. Com acesso gratuito ao público, até o início do período de pandemia o Museu Histórico atendia cerca de doze mil pessoas ao ano e contava com uma diversa agenda de exposições e eventos, como a Semana Indígena, Primavera dos Museus, Dia do Patrimônio, Semana das Crianças, Outubro Rosa, Feira do Livro e Semana da Consciência Negra. Também, o museu contava com visitas mediadas especializadas para crianças de dois a 11 anos das redes públicas e privadas de ensino. No local destinado ao museu se encontra ainda o Espaço de Arte Mello da Costa.

Exposição artística virtual realizada pela Bibliotheca       Foto: Reprodução Facebook

 

Os enfrentamentos do período de pandemia

A Bibliotheca Pública Pelotense também teve que se adaptar às restrições impostas pela pandemia da Covid19. As visitas foram suspensas durante o período mais crítico do distanciamento social e atualmente é possível o acesso a um número limitado de frequentadores e com as devidas medidas de proteção. O Baú de Trocas, em que um leitor troca o seu livro por outro, retornou em julho de 2021. Já, o museu histórico encontra-se aberto para visitações, mas apenas para duas pessoas de cada vez. As atividades culturais e as exposições passaram a ser virtuais neste período de pandemia e ainda não há previsão para a retomada de forma presencial. No entanto, as atividades da Bibliotheca seguem a todo vapor, tendo, por exemplo, no último mês de agosto, sido realizada uma extensa programação relacionada ao Dia do Patrimônio, como o evento “Cidades em Transe: Patrimônios, conflitos e contranarrativas urbanas”, que contou com uma série de palestras e mesas redondas. Também, está em pleno desenvolvimento o projeto: “O que aprendemos com a pandemia?”, com a exposição em forma virtual de obras que retratam o momento por qual estamos passando. Além disso, exposições virtuais nas áreas de literatura, artes plásticas, entre outras, podem ser encontradas nas mídias sociais da instituição. Para os artistas que tenham interesse em participar de uma exposição virtual, podem entrar em contato através do email museuhistorico@bibliotheca.org.br. 

As atualizações sobre as atividades da Bibliotheca Pública Pelotense e as suas exposições virtuais podem ser acessadas na página da instituição no Facebook ou ainda no site do Museu Histórico.

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Eva e Isabel, Isabel e Eva

 

Por Milena Schivittez     

Livro de Isabel Allende entrelaça aspectos biográficos na arte de contar histórias

 

         Lançado em 1987, romance representa mulheres latinas                Imagem: Divulgação 

Duas mulheres, latinas, itinerantes, que viram na contação de histórias uma chance de tornar a existência mais tolerável. De um lado, Isabel Allende, prima do ex-presidente chileno Salvador Allende, filha de diplomata, que viu sua família partir para o exílio logo após o golpe militar que instaurou a ditadura de Pinochet. Allende nasceu no Peru, mudou-se para o Chile, se exilou na Venezuela e depois migrou para os Estados Unidos. Viveu em tantos locais que não se considera pertencente a um só, apenas cidadã da América do Sul.

Do outro lado, “Eva Luna”, a personagem feminina mais icônica de Isabel. Filha de uma mãe branca e sem pátria e um pai indígena. Nascida sem lenço e sem documento, Eva não tinha um lar fixo, ou uma família, ou até mesmo uma certidão de nascimento. Era de lugar nenhum e, ao mesmo tempo, de todos os lugares.

As histórias de Eva e Isabel se entrelaçam, ainda que Isabel nunca tenha falado abertamente que se inspirou em si mesma para escrever Eva Luna.

Lançado em 1987, o romance, que podemos chamar de tragicômico, exibe uma protagonista tão singular e, ao mesmo tempo, tão universal que podemos enxergar um pouco de Eva nas trajetórias de nossas mães, avós e bisavós. Isabel tem o dom de representar, acima de qualquer coisa, a mulher latina, com suas particularidades, vivências e bagagens.

Narrado em primeira pessoa, acompanhamos Eva em seus percalços desde muito antes de nascer, começando pela infância de sua mãe, Consuelo, uma jovem órfã que nunca soube de onde veio. Consuelo foi criada nas Missões, passou pelo convento e depois foi entregue para ser empregada na casa de um médico estrangeiro. Nessa casa conheceu um nativo sul-americano, que, na beira da morte, implorou por alguns segundos de prazer. Assim foi concebida nossa protagonista, que recebeu o nome de Eva Luna em homenagem à vida e à tribo de seu pai. Consuelo não tinha dinheiro, bens ou sobrenome, então passou a Eva aquilo que tinha de mais sagrado: o dom de contar histórias.

Após ficar órfã, ainda criança, Eva foi entregue pela madrinha para trabalhar em casas de família. Não aprendeu a ler e escrever até os 15 anos, quando encontrou alguém disposto a ensiná-la. Foi empregada, babá, acompanhante de senhoras. Morou com solteiros, casados, imigrantes, comerciantes, militares e donos de bordel. Cada capítulo de sua vida se emaranhava a suas narrativas inventadas e, em certo momento, fica difícil distinguir se o acontecimento era verídico ou uma versão estendida, dramatizada pela própria Eva.

Ao longo da narrativa, Isabel vai emprestando seus personagens à sua protagonista para que ela possa torná-los personagens de suas próprias histórias, com desfechos trágicos, situações mirabolantes e uma pitada de realismo fantástico, outra característica semelhante entre Allende e Eva.

Em um certo momento, Eva Luna ganha a obra “As Mil e Uma Noites”, cujos contos ela leu e releu diversas vezes. Não é à toa que o enredo chama tanto a atenção de Eva, pois, assim como Sherazade, ela também contava histórias para sobreviver, mesmo que de forma simbólica.

          Isabel Allende viu sua família partir para o exílio logo após o golpe militar no Chile          Foto: Lori Barra/Divulgação

Ficção X Realidade

Com uma escrita poética, recheada de comentários cômicos, Isabel constrói um país sul-americano sem nome, assolado por uma ditadura, entre os anos 50 e 60, com jovens idealistas e dispostos a lutar por um sistema político mais igualitário. Ela representa fielmente os guerrilheiros inspirados pela Revolução Cubana, já que a própria autora conheceu Che e Fidel. Ela dá forma aos estudantes, sindicalistas, jornalistas e acadêmicos que foram às ruas pela volta da democracia. Allende retrata um lugar que poderia ser o Brasil, mas também a Argentina, Uruguai, Chile e qualquer outro país da América do Sul, não porque generaliza ou se utiliza de estereótipos para descrever esse local, mas porque realça os aspectos semelhantes da história de nosso continente e de nós mesmos.

Ainda que “Casa dos Espíritos” seja o romance mais conhecido de Isabel Allende e, consequentemente, o livro que fez a autora alcançar o prestígio, “Eva Luna” nos entrega uma trajetória nada simplista para menos de 300 páginas, com personagens que fogem da dicotomia entre o bom e o mau e, principalmente, apresenta uma das melhores protagonistas da literatura latino-americana.

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Cine Dunas fecha após 16 anos de atividades

Por Vitor Valente    

O último cinema de calçada da região, no Cassino, não resistiu ao longo período fechado devido à pandemia

           Fachada do Cine Dunas é parte da paisagem para milhares de pessoas que passeiam pela Avenida Rio Grande              Foto: Arquivo/Cine Dunas

“Tenham todos e todas um ótimo filme, porque vocês e o Cassino merecem”. Não há quem tenha passado pelo Cassino e pelo Cine Dunas que não reconheça o mantra repetido vigorosamente ao início de cada nova sessão. A história do casal de professores Janete Jarczeski e Cleyton Abreu, fundadores do cinema, ajudou a moldar a cultura da cidade do Rio Grande. A oportunidade de vivenciar uma experiência cinematográfica livre dos grandes centros comerciais, como os shoppings, sempre foi um deleite para os cinéfilos da cidade. O tempo criou laços tão fortes com a comunidade, tanto é que as mobilizações em apoio financeiro à instituição mantiveram o Cine Dunas vivo por mais de um ano, mesmo que sem a magia da sétima arte em sua tela.

No dia 2 de maio de 2021, a esperança de dias melhores deu lugar a um sentimento agridoce de orgulho pela história construída combinado com a tristeza pelo inevitável fim. “A ousadia foi a marca da boniteza da história do Cine Dunas. Nessa caminhada houve momentos prósperos e difíceis e quem acompanhou um pouco, ao menos, sabe do esforço e da criatividade para superar os obstáculos”, afirmou a orgulhosa equipe na nota de despedida. Ainda que a pandemia, a ascensão do streaming e as grandes redes de cinema tenham abreviado a história, o diferencial de um pequeno cinema de rua, criado pela ousadia de um casal apaixonado pela arte e pela cidade em que vivem, está na relação humana com a comunidade que participou ativamente da história do primeiro ao último segundo. Porque o Cassino merecia, merece e mereceu.

Ao longo da carta de despedida, os proprietários destacam a paixão que sempre os moveu para manter as atividades do Cine Dunas, mas ressaltam a necessidade de tratar a situação de uma forma racional. “A lucidez que nos move nesse momento, nos inunda de gratidão infinita pela amorosidade recebida da comunidade e pelo reconhecimento da trajetória do Cine Dunas, bem como de todo apoio e generosidade despendidos. Essa mesma lucidez nos aponta que é a hora da razão tomar cena”, destacam.

O Cine Dunas passa a viver na memória daqueles que tiveram o privilégio de caminhar pela calçada da Avenida Rio Grande, esquina com a Rua Uruguaiana, no Cassino, e adentraram em um mundo mágico em que a paixão pela cultura importava mais do que qualquer outra coisa. Além disso, será construído um memorial dedicado ao cinema no Campus Carreiros da Universidade Federal do  Rio Grande (FURG), que recebeu a doação de parte do acervo. “De certa forma nos sentimos com o coração apertado, por ter essa decisão de não mais reabrir o cinema devido à conjuntura atual no país, mas ficamos confortados em saber que ele está sendo recebido com muito carinho, zelo e responsabilidade. Isto nos alegra”, declarou Janete Jarczeski.

Equipamentos foram doados pelo Cine Dunas à Universidade Federal do Rio Grande       Foto: Fernando Halal

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“Rio Imenso”: Andréia Pires escreve livro artesanal no período pandêmico

Por Ana Caroline Rossetto e Milene Louzada       

Conjunto de contos experimentais retrata cenário rio-grandino  

Publicação tem uma elaboração gráfica diferenciada com técnicas manuais

O livro ‘Rio Imenso’ é de autoria da jornalista, editora e escritora Andréia Pires e começou a ser elaborado entre os anos de 2013 a 2018, como um conjunto de contos experimentais tanto em seu conteúdo como na sua forma gráfica de apresentação. As narrativas foram feitas a partir de um exercício de criação literária para a composição de histórias mais longas.

O modo de descrição se baseou em composições breves em que a autora testou narradores e modos de contar, organização de tempo e espaço, nuances de personagens e conflitos, e temas principais como a cidade de Rio Grande, deslocamento, o ser mulher, e a relações geracionais – como a de avós e avôs e netas(os). Após os três primeiros contos escritos, Andréia se concentrou na pesquisa sobre representações do município na literatura brasileira contemporânea; o nome “Rio Imenso” surgiu em referência ao potencial rio-grandino, como um modo de homenagear a cidade natal da autora e o local onde mora até hoje.

O título “Rio Imenso” deu o tom para o projeto que estava se construindo ao lado da criação do romance “O céu riscado na pele”, também de autoria de Andréia, utilizado como tese de doutorado em Escrita Criativa. A dissertação da escritora foi finalizada em 2016, contudo, outros contos inspirados na vivência da cidade foram sendo criados e se estabelecendo ao longo dos anos seguintes. A ideia inicial era fechar o projeto de “Rio Imenso” com um livro, porém a autora não tinha certeza de como e nem quando isso seria viável, sendo que seu lançamento se deu apenas no ano de 2020.

O livro não foi desenvolvido a partir dos processos tradicionais de publicação. Diferente de outras obras, não passou pela impressão em escala, já que a concepção gráfica do projeto é da própria autora e os exemplares finalizados à mão por ela. Andréia realiza a impressão e a montagem do miolo, assim como as dobras, costuras, bordados, colagem das capas e todos os acabamentos do livro. A autora afirma que essa construção é um aprendizado autoral interessante, pois nenhuma obra se repete e cada um deles tem uma história secundária por trás, um vínculo pessoal, pois, além de tudo, é ela quem cuida das encomendas e envios, conversando com os leitores.

A produção artesanal já era uma vontade de Andréia, juntamente com a editora Concha, e o período pandêmico contribuiu para que esse desejo se tornasse realidade. Com as mudanças no ano de 2020, todo o planejamento foi alterado e os encontros presenciais cancelados, abrindo a oportunidade da criação da obra em casa, confirmando “que um projeto literário artesanal poderia ser interessante, coerente com o cenário, mais econômico, inovador e criativo”, destaca Andréia Pires.

Sobre a autora e o significado da obra

Neste novo livro, Andréia Pires dá continuidade às ideias da sua pesquisa de doutorado

Andréia Pires é escritora, editora e jornalista. Licenciada em Letras – Português/Espanhol, na Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e bacharel em Comunicação Social – Jornalismo, na Universidade Católica de Pelotas (UCPel), mestre em Letras – História da Literatura, também na FURG e doutora em Letras – Escrita Criativa, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), que resultou na tese e no romance inédito “O céu riscado na pele”, vencedor do edital Procultura 2019 de Rio Grande, no segmento Literatura.

A escritora é idealizadora e responsável pela curadoria dos livros e projetos da Concha Editora. Como docente, atua em cursos livres, aulas particulares, workshops, mentorias e oficinas de escrita criativa. E também é servidora pública concursada pela FURG, no setor de redação jornalística.

O projeto de “Rio Imenso” começou despretensiosamente como prática de escrita para aperfeiçoar a concepção do romance, aos poucos foi ganhando lugar de afeição pela autora e marcando assim uma fase importante do seu trabalho criativo. “Nos últimos anos, primeiro de forma intuitiva e depois deliberada, representação e representatividade de Rio Grande e de mulheres rio-grandinas na literatura foi pauta central dos meus estudos e escritos, quase uma militância, um propósito ao que devo continuar me dedicando, mas por outras perspectivas e nuances, outras frentes de ação”, destaca a escritora.

Representatividade de Rio Grande

Andréia sentiu que as questões femininas de Rio Grande não estavam representadas na literatura nacional e buscou contar histórias com protagonismo de mulheres rio-grandinas e na maneira de viver dos moradores da cidade. E foi nesse movimento pessoal e artístico que surgiu a Concha Editora, a fim de colaborar com a divulgação de produções literárias de Rio Grande.

As narrativas que compõem o livro, como já foi descrito, propõem a identificação de quem mora na cidade mais antiga do Estado. Para Luisa Mello, estudante de Letras – Inglês na FURG, a aproximação com a sua realidade fez com que a experiência de leitura da obra fosse melhor. “Foi muito interessante ler o livro e reconhecer os lugares que são falados. A ambientação é muito boa e essa representatividade é de aquecer o coração”, conta.

E como as narrativas de ‘Rio Imenso’ retratam histórias passadas de gerações em gerações, a avó de Luisa, Shirlei de Souza também experimentou a leitura do livro e se sentiu representada. “Me senti muito bem lendo o livro, porque é uma pessoa daqui falando da nossa cidade. Fiquei muito emocionada com as partes que falam do Cassino e da praia porque lembrei de quando minha mãe levava eu e meus irmãos pra tomar banho de praia. É bom a gente ler coisas que se passam em lugares que a gente conhece”, afirma. 

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Raízes femininas resistem e crescem no samba gaúcho

Por Ester Caetano        

Glau Barros coordena o projeto Sambaobá, que dá visibilidade às mulheres sambistas

De uma ancestralidade musical, a cantora Glau Barros já carregava nas veias a arte, a religiosidade, a serenata, o batuque e o gaiteiro. No ano passado, ela foi destacada com o Prêmio Açorianos de disco do ano e artista revelação local pela gravação de Brasil Quilombo, lançado em 2019. Vinda de uma família que sempre teve um olhar atento à sua inclinação cultural e a incentivou a seguir nas artes, hoje, por uma inquietação, tem uma busca incessante por encontrar mulheres sulistas no samba, e, desse desejo, nasceu o projeto Sambaobá-Raízes femininas do samba.

O Sambaobá tem como proposta mapear a presença de mulheres compositoras e artistas mulheres que têm no gênero samba seu fazer artístico, elencando e evidenciando o legado cultural das diferentes regiões do Rio Grande do Sul a que pertencem. A proposta também quer desmistificar a visão masculina sobre o fazer samba.

     Cantora recebeu o Prêmio Açorianos de melhor disco em 2020 e luta por maior presença das compositoras                  Fotos: Luis Ferreirah

O projeto é focalizado em cinco cidades fora da região metropolitana do Rio Grande do Sul, que são Gravataí, Pelotas, Uruguaiana, São Borja e Rio Grande. Glau, no início de sua pesquisa, conta que sentiu a necessidade de estar próxima das narrativas femininas no samba do interior, nos lugares que ela já tinha passado, tido contato e deixado seus encantos em forma de apresentações. As cidades ainda são escolhidas pelas suas musicalidades, pela presença das mulheres que fazem arte, contatos de músicos com quem já trabalhou e cidades que têm uma presença marcante no Carnaval, clubes sociais negros e outros elementos que constituem a cultura negra gaúcha.

Mesmo a artista indo às cidades com raízes africanas fortes, percebeu  que talvez não teria tão presente as características em todas, como acontece em São Borja, uma localidade em que as pessoas não negras abraçam os costumes dos povos africanos e as pessoas negras deixam de ser protagonistas de suas próprias vivências. Glau conta que não é um erro ou um problema mas “justamente um apagamento”. “Na verdade, é que, às vezes, a apropriação das nossas raízes culturais, da nossa cultura afro diaspórica, é abraçada não por nós, até porque a gente não quer, às vezes, por falta de condições de dar seguimento a uma carreira artística. E a coisa da grana, uma estrutura que nos coloca à margem de diversas formas, é bastante forte na questão da cultura”, revela.   

O projeto já era algo pensado pela artista antes da pandemia, a ideia era mergulhar nas mais variadas experiências que cada lugar poderia proporcionar, tendo um encontro com outra mulheres sambistas. Mas, com a pandemia, a situação foi outra. Tornou-se necessário fazer “um trabalho de formiga” para conseguir os resultados da pesquisa, que começaram a ser divulgados através de lives no mês de julho deste ano. Pelo Instagram,  foram cinco “ao vivos” em que Barros apresentou as cantoras, intérpretes e instrumentistas. O estudo foi completado por uma produção de podcasts com as entrevistas realizadas pela cantora e foi encerrado com a execução de um samba autoral.

Artistas participantes

Pelotas ficou representada pela dupla de cantoras e compositoras, Daniela Brizolara e Dena Vargas, conhecidas como  Dani & Dena que compartilham há 13 anos os palcos da cidade do doce e região cantando samba, MPB e também participando de festivais renomados. Uruguaiana esteve presente através da cantora Patrícia Di Guyan, que começou sua carreira no Rio de Janeiro, cantando em pequenos bares, mas hoje desenvolve uma intensa participação na vida cultural de Uruguaiana, promovendo e realizando shows que buscam divulgar o samba.

Drika Carvalho, musicista e cantora representa Gravataí, é autora do projeto MPB Samba que traz uma releitura do melhor MPB e do samba de raiz. Já, de Rio Grande, está a Gil Colares, que iniciou profissionalmente como cantora aos 18 anos e hoje já ganhou espaço na cena musical abrindo shows nacionais de renomes. Luciara Batista foi a última a ser entrevistada. A cantora, compositora, produtora cultural e afro influencer é de Canoas e a única intérprete mulher do Carnaval canoense e de Porto Alegre. É idealizadora do Projeto Samba da Roda de Saia que reúne amigos e familiares através do samba. 

O Sambaobá carrega a essência de dar visibilidade às narrativas de mulheres no samba. Glau conta que, por muito tempo, as mulheres foram postas nos lugares subalternos por uma visão machista. Não tiveram espaços para mostrar seus talentos e composições. “Na escola, ou, enfim,  na roda de samba, ela dança, na roda de samba ela canta uma ou duas músicas. As mulheres estão, em um ambiente como as escolas de samba, em outros lugares, não na realização das letras, compondo e criando. Muitas das vezes, estão na cozinha, na dança, mas não na cabeça e na direção decidindo”, expõe a cantora.

Ela complementa que hoje já se presencia o movimento de mulheres sendo valorizadas, tirando suas composições da gaveta e conseguindo se empoderar diferentemente do que acontecia nos primórdios. “Antigamente, a gente buscava uma história como a da Dona Ivone, que é a mais simbólica que a gente tem, nossa referência maior. Ela não podia assinar um samba, eles nem ouviam, eles nem liam seu samba, sabendo que era de uma mulher. Ela tinha que passar para um primo que chegava lá ‘ó eu tenho esse samba aqui’. Eu estou conseguindo isso hoje, me sinto até privilegiada de assistir esse movimento de fortalecimento das nossas narrativas feitas por nós mesmas”, descreve.

Glau afirma que o samba é genuinamente brasileiro, ter mulheres como protagonistas é exaltar uma ancestralidade que construiu lutas e que hoje elas têm como resultado o poder de fazer samba. “É resistência, luta, um movimento, é uma mistura da das nossas culturas, da nossa ancestralidade”, conclui.

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“Morrer e viver na peste”: trilogia de livros analisa epidemias ao longo da história

Por Douglas Rafael Duarte   

Fábio Vergara Cerqueira é o idealizador e coordenador da obra lançada pela UFPel

Professor congregou vários estudiosos para falarem sobre as epidemias ao longo do tempo

Em março de 2020, o professor da UFPel (Universidade Federal de Pelotas) Fábio Vergara Cerqueira, preocupado com a desinformação que cercava o surgimento do novo coronavírus, considerou que era papel dele e de outros historiadores falarem sobre as epidemias ao longo da história. Em diálogo com o atual secretário de Cultura de Porto Alegre, Gunther Axt, nasceu a proposta da trilogia “Morrer e viver na Peste”, uma série de textos de estudiosos sobre epidemias que assolaram Pelotas e o mundo.

“Conversávamos sobre as várias epidemias ao longo da história e sobre como seria importante a população ter mais informações sobre outros surtos epidêmicos acontecidos no passado”, conta Vergara. “Uma vez concebida a proposta do livro, achei que poderíamos ir além, e propormos uma trilogia, enfocando também a epidemia na Arte, bem como na Literatura e Cinema”, complementa Fábio, o coordenador da coleção.

Com prefácio do ex-Reitor da UFPel, o infectologista Pedro Hallal, a coleção foi pensada como forma de contribuir para a compreensão do momento dramático vivido por toda a humanidade desde a eclosão da pandemia da Covid-19, doença causada pela propagação do vírus SARS-CoV-2. Um dos objetivos da publicação é instrumentalizar profissionais da imprensa, gestores, administradores e educadores com informações sobre epidemias.

“Trazemos, para além dos aspectos médicos, os vários exemplos de como as enfrentamos, como as pensamos, como inclusive nossa imaginação é mobilizada a engendrar soluções, ou mesmo a tomar medidas discriminatórias terríveis e de pouco efeito concreto para combater as doenças”, relata Vergara. “Vemos que as várias formas de ignorância são sempre o pior remédio”, afirma.

Lançados pela Editora da UFPel, os dois primeiros volumes de “Morrer e viver na Peste” (Epidemia na História e Epidemia na Arte) estão disponíveis em formato e-book de acesso livre e gratuito. Em breve, o terceiro e último volume (Epidemia na Literatura e Cinema) também será disponibilizado.

Primeiro volume trata de abordagens históricas de pandemias inclusive na região de Pelotas

Volume I – A epidemia na História

Organizado pelo coordenador de toda a coleção, Fábio Vergara, juntamente com Gunther Axt e Renata Brauner Ferreira, o primeiro volume da obra traz em suas 454 páginas, 26 textos (além do prefácio, do prólogo e da introdução) abordando diversos surtos pandêmicos e seus muitos aspectos ao longo da história.

“A AIDS foi chamada de ‘peste gay’, assim, hoje, alguns, contaminados pela xenofobia, ainda insistem em falar do novo coronavírus como o ‘vírus chinês’. Parece que não aprendemos! Mas informar-se sobre a história certamente pode nos ajudar muito”, afirma Fábio.

A publicação pode ser baixada gratuitamente em formato e-book através deste link.

Volume II – A Epidemia na Arte

Organizado por Lauer dos Santos, Roberto Heinden e Larissa Patron, o segundo volume contém 141 páginas. Nelas estão a Introdução e outros oito textos abordando as epidemias a partir da arte.

“Houve, inicialmente, um sentido de urgência, de tentar responder ao momento e o que estava acontecendo. Havia muitas reações de artistas e pessoas ligadas à cultura, mas era importante convidar pessoas que estivessem refletindo sobre isso ou que já tivessem pensado sobre questões correlatas, como o caso da Aids”, relata Lauer.

A publicação pode ser baixada gratuitamente em formato e-book através deste link.

Volume III – A Epidemia na Literatura e Cinema

O terceiro e último volume da coleção ainda está no prelo. Organizado por Daniele Gallindo e Eduardo Marks de Marques, ele abordará os surtos epidêmicos a partir da Literatura e Cinema. “Tem muita coisa produzida que tem como pano de fundo epidemia, noções de fim de mundo. O tema parece assombrar a humanidade”, comenta Daniele.

Assim que estiver concluído, ele também poderá ser baixado em formato e-book de forma livre e gratuita no repositório da Editora da UFPel.

O repositório pode ser acessado através deste link.

Pelotas

Pelotas é o cenário para alguns dos textos presentes da obra. Três dos vinte e seis textos que compõem o primeiro volume da coleção são “A tuberculose e os seus pés de lã”, de Lorena Gill; “Epidemia e sociedade: Pelotas sob o domínio da Gripe Espanhola em 1918”, de Renata Brauner Ferreira; e “Vida e morte em tempos de escravidão: um estudo de caso sobre as doenças que assolavam a população escravizada na cidade de Pelotas em fins do período escravista”, de Fernanda Oliveira e Angela Pomatti.

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“Resenha do Rap”: obra de entusiasta da cultura hip hop pelotense

Por Erick Barreto  

Livro de Gagui IDV relata as vivências de um estilo musical que ganhou o mundo

                               Livro retoma vivências musicais e culturais desde os anos 1990                                      Foto: Luís Fabiano Gonçalves ( Fio da Navalha)

Thiago da Costa Moura, mais conhecido como Gagui IDV, nascido em Pelotas, e apaixonado pela cultura hip hop desde a adolescência, no ano de 2018 escreveu uma grande obra, “Resenha do Rap”, que conta a sua trajetória como crítico da cultura popular.

Em 1970, no estado de Nova York, mais precisamente no sul do Bronx, surge uma nova cultura, o hip hop, uma forma artística e criativa de contornar a extrema violência que assolava a região. Teve um resultado de relevância mundial, diga-se de passagem, pois a cultura não ficou restrita apenas a esse local, ganhou o mundo e atualmente é de relevância incomensurável. No Brasil, depois de 24 anos, em 1994, aos 12 anos de idade, Gagui ouviu em sua vizinhança um estilo musical diferente, uma música falada e não cantada, foi até o local e descobriu que se tratava de Gabriel, o Pensador, rapper, compositor e escritor brasileiro. Nesse momento, Gagui descobriu que estava aficionado por esse tipo de música e nunca mais parou de ouvir.

O autor entrevistou um dos precursores da cultura hip hop: Afrika Bambaataa

Gagui fala que, no mesmo ano que se encantou pela cultura, aderiu a ela por inteiro, mudou o estilo de se vestir, pois a sua identificação com a manifestação popular já era bem grande. E, assim, também conseguiria encontrar outros admiradores da mesma arte, já que a internet ainda não era um meio acessível, a forma de contato era totalmente diferente naquela época.

Na sua trajetória de vida, recorda que a leitura sempre foi um hábito essencial. Começou a publicar seus textos fazendo fanzines, escrevendo em blog, apresentando e produzindo programas de rádio, sendo colunista de diversos sites de hip hop do Brasil. Durante esse período, fez entrevistas com diversos artistas e personalidades da cultura hip hop. Foi um caminho natural até transformar tudo isso em livro e podcast.

Como todo apreciador do rap, o sonho de conhecer uma referência da cultura é um grande desejo, e, dessa forma, podemos dizer que Gagui IDV é um grande privilegiado, pois entrevistou Afrika Bambaataa, precursor da cultura hip hop em Nova York. Esteve diversas vezes com Mano Brown, Thaide, entre muitos outros artistas que fazem o movimento tão respeitado, apreciado e relevante.

Encontro com o músico Mano Brown

O rap, em essência, é um estilo musical que dá voz ao mais negligenciados, que relata a realidade das periferias e, para Gagui, o momento político e social em que vivemos é a hora crucial para expressar a arte de maneira mais incisiva. Mas, como em todo movimento cultural, há vertentes do gênero musical que se preocupam com outras temáticas. E essas outras vertentes são as mais consumidas. Dessa maneira, o fundamento principal, a parte de protestar, mesmo que muitos artistas ainda o façam, fica muitas vezes em segundo plano.

O Rio Grande do Sul é um grande formador de artistas, e não seria diferente em relação ao rap. Gagui explica que o nosso estado tem inúmeros grupos, MCs de estilos bem diversificados e com muito talento. Mas acredita que o desenvolvimento não seja ainda maior, porque a questão geográfica atrapalha bastante. Lembra de Zudizilla, o grande rapper pelotense, que se mudou para São Paulo, e só assim recebeu o seu devido reconhecimento.

 

 

Confraternização literária com Thaíde

O hip hop é também composto por outros elementos, a breakdance e o graffiti.  Para  Gagui, são outras duas artes que saíram das ruas estadunidenses e ganharam o mundo, pois o break será uma nova modalidade olímpica a partir de 2024 e o graffiti está presente nas mais diversas galerias artísticas, em inúmeros lugares no mundo. Ademais, ele relata com humor a sua experiência como b-boy (dançarino de break). Explica que não conseguiu desenvolver o talento com excelência, sente-se um b-boy “frustrado”.

E finalizando, para Gagui, a arte é um caminho árduo até chegar num patamar de grande notoriedade. Segundo ele, o talento nem sempre é suficiente, muitos artistas com uma capacidade enorme ficam pelo caminho, enquanto outros, menos capacitados, despontam como astros da noite para o dia. Fala de um exemplo próximo, o rapper Fill, outro grande artista de Pelotas, de extremo talento, com grande relevância na região, mas que nunca recebeu o devido valor. Muitos danos psicológicos o assolaram levando-o a um fim lastimável.

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Entre Facas e Segredos: União do suspense e comédia com elenco de peso

 Por Helena Isquierdo Rocha    

 O enredo à moda antiga com uma adaptação moderna conquistou o público

         

Produção foi lançada em 2019 e conta com a presença de Jamie Lee Curtis entre os atores    Fotos: Divulgação

“Entre Facas e Segredos” (“Knives Out”) é a união inusitada dos gêneros que mais fazem sucesso entre o público: suspense, drama e comédia.  O filme do diretor Rian Johnson faz uma homenagem às famosas obras de Agatha Christie e as envolventes histórias do detetive Sherlock Holmes, com a narrativa escrita a partir da tradicional pergunta: “Quem é o assassino?”. E pra completar o combo de sucesso, o elenco não podia ser outro. O longa conta com grandes nomes, como Daniel Craig, Jamie Lee Curtis, Chris Evans, Christopher Plummer, Katherine Langford, Jaeden Martell e Ana de Armas.

Os familiares de Harlan Thrombey disputam a fortuna após sua morte e tornam-se ainda mais suspeitos

A história se desdobra a partir da morte do famoso escritor Harlan Thrombey (Christopher Plummer), que acontece logo após sua festa de aniversário de 85 anos – quando toda a família estava presente. Harlan teve muito sucesso durante sua vida e acumulou uma grande fortuna, o que acabou afastando os familiares.

A versão inicial do caso indica que ele cometeu suicídio, mas a partir da investigação realizada pelo detetive Benoit Blanc (Daniel Craig), surgem pistas de que, na verdade, pode ter ocorrido um assassinato. É dessa forma que todos se tornam suspeitos, e o público passa a descobrir as versões de cada um e a relação que tinham com Harlan Thrombey.

Personalidades irreverentes em excelentes interpretações atuam ao longo da história

O filme apresenta um clássico jogo de rato e gato, no qual o público visualiza a reconstrução de todos os acontecimentos, e recebe pistas, reviravoltas e armações. É impossível controlar o instinto de tentar prever os próximos acontecimentos e duvidar de cada um que apresenta sua história.

Será muito difícil encontrar críticas negativas em relação ao filme. O principal ponto que conquista quem assiste é a união do suspense e da comédia. Ao mesmo tempo em que se fica intrigado e ansioso para descobrir a verdade, ainda pode-se dar boas risadas.

Assista o trailer legendado aqui.

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Reggae da Be Livin enfrenta pandemia

Por Ester do Nascimento Caetano

A banda pelotense encontrou uma válvula de escape nos recursos dos auxílios emergenciais

A pandemia mudou o cotidiano e remodelou a vida em todas as esferas. O presencial virou online, e, mais do que querer a vida normal de volta, terminar essa aflição estando vivo, vem sendo o mais desejado. A forma de viver se tornou uma só em muitos lares. A casa se reverteu em trabalho, escola, academia e, para desopilar, até em palco de shows. Nesta remodelação, entram as lives, em que a classe artística, uma das mais afetadas e primeira a paralisar, conseguiu encontrar uma válvula de escape e, no meio das telas, emergir para o novo modo de fazer cultura. A banda pelotense de reggae Be Livin é um exemplo de como foi a luta dos músicos para encontrar alternativas.

No país, na área econômica da cultura, a renda diminuiu significativamente no ano passado, 48,8% dos agentes culturais perdeu 100% da sua receita desde o segundo semestre de 2020. Os dados são da pesquisa Percepção dos Impactos da Covid-19 nos setores cultural e criativo do Brasil.

Em todo o mundo foram severas as medidas de isolamento para o segmento, porém o Brasil demorou para criar uma política nacional de cultura em meio à pandemia. Atualmente, estão sendo repassados aos profissionais da cultura os recursos da Lei Aldir Blanc (LAB), a qual foi gravemente impactada com as constantes mudanças na chefia da pasta da Secretaria Especial da Cultura. 

No final do ano de 2020, o Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural, que monitora a evolução econômica da indústria criativa do Brasil com dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), apresentou que um em cada dois profissionais da cultura perdeu trabalho. Mas, com o auxílio da LAB, profissionais conseguiram ter uma forma de escape para as suas produções.

Banda encontra alternativas

A banda de reggae pelotense Be Livin foi uma dessas na categoria da reinvenção. Criada em 2004, nunca tinha passado por um momento tão catastrófico como esse, acostumada a se apresentar com públicos de milhares de pessoas. Chegou até abrir show para grandes bandas como a ex-banda de reggae O Rappa, no Espaço das Américas, em São Paulo. Tornar as vozes que ecoam em um show nos comentários de uma live foi uma das contrariedades enfrentadas pela banda.

O vocalista Fredo diz que o importante é sempre manter o foco na continuidade do trabalho artístico

A Be Livin, atualmente, é formada por cinco integrantes, Eduardo Freda (vocal), Pedro Moraes (bateria), Diego Pereira (baixo e teclados), Guilherme Rocha (teclados) e Rogers Lemes (guitarras e violões). Com foco, reunindo-se em um mesmo propósito e intenção, acreditam que podem ultrapassar diversas crises como a pandemia. Mas, no Brasil, existem problemas pendentes que se aglutinam com a calamidade na saúde. O vocal Freda conta que os artistas, sobretudo os de reggae, na sociedade ainda são vistos com menosprezo e descaso. “Claro que existem outros tantos desafios, como as condições que envolvem tu seres músico, independente, e de um segmento que, hoje, no Brasil, ainda é underground. Mas o lance mesmo é a galera ter o mesmo foco, porque isso vai ajudar muito a banda a ter êxito”, revela o cantor.

Para o guitarrista Rogers Lemes, com todos os percalços, é indiscutível que a Lei Aldir Blanc, juntamente com o edital Movimento Prêmio da Cultura Pelotense, levantou a banda Be Livin. Com os recursos, eles conseguiram produzir, durante a pandemia, um minidocumentário, videoclipe e um novo single intitulado de “Oração e Luz”.

Mesmo Lemes considerando a LAB um importante alicerce para os artistas na atualidade, ele acredita que a Lei pode ser mais abrangente e mais bem divulgada, “engendrando novos segmentos artísticos, saberes populares e a arte da periferia em geral”.

    Ao longo de sua trajetória a Be Livin tem feito shows também em outros estados do País          Fotos: Divulgação

Como em sua música de maior significado, a banda tenta “Um dia” fazer da arte um encontro para se libertar dos pensamentos negativos e dos males a que se foi acometido. Há muitos caminhos a percorrer, há muita batalha a se travar, há muito preconceito e falta de incentivo para a classe artística. “Podemos dizer que falta muito suporte e incentivo. Digamos que todos estão se reinventando naquilo que está ao alcance, pois se tratando do artista autoral de reggae no Brasil, a cena toda, que já era frágil em termos estruturais e financeiros, ficou ainda mais abalada nos tempos atuais”, afirma o tecladista Guilherme Rocha.

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Livro retrata cotidiano arroio-grandense durante pandemia

Por Douglas Rafael Duarte    

“Grande Sentimento” reúne contos, ilustrações e fotos de autoria da jornalista Victória Salomão

A jornalista Victória Salomão lançou no dia 14 de junho em live no seu perfil no Instagram, o livro de contos “Grande Sentimento”. A publicação reúne fotos, ilustrações e 20 contos sobre o cotidiano de diferentes personagens de Arroio Grande, no interior gaúcho, durante a pandemia. A obra pode ser adquirida em edição impressa e digital.

Natural de Rio Grande, Victória considera-se “arroio-grandense de coração”. Apaixonada por jornalismo literário e escritora há alguns anos, a autora mudou-se para Arroio Grande pensando em passar “só uns três meses de pandemia” ao lado dos pais. Como infelizmente não foi dessa forma que aconteceu, Victória aproveitou o período de um ano em que esteve no município para contar, de forma literária e muito criativa, o cotidiano e as peculiaridades da “Cidade Simpatia”.

Victória Salomão trabalha com comunicação política, mas  não quer parar de escrever literatura Foto: Arquivo Pessoal

O título do livro “Grande Sentimento”, já havia sido escolhido antes da obra ser concluída. Segundo a autora, a inspiração veio da frase de Albert Camus no livro “A Peste” (1947): “Agora, sei que o homem é capaz de grandes ações. Mas se não for capaz de um grande sentimento, não me interessa”.

Sobre a referência ela ainda acrescenta: “Isso me impactou de alguma forma. A epidemia era o tema do livro de Camus. E realmente é um grande sentimento que está nos unindo agora, neste momento. Muito mais do que o contexto, muito mais do que o medo e o luto, tem alguma coisa a mais que está nos unindo”, afirma Salomão.

Atualmente, vivendo em Brasília, onde trabalha com comunicação política, a autora relata que tenta não abandonar o hábito de escrever literatura. A paixão começou na adolescência e já lhe proporcionou grandes experiências, como conhecer o ídolo Chico Buarque. Em 2019, um conto de sua autoria inspirado na obra do cantor rendeu um convite para participar como autora da Festa Literária de Santa Teresa, no Rio de Janeiro.

“Sempre que eu penso em parar de escrever, embora não faça tanto sentido monetariamente, essa lembrança me dá vontade de escrever”, comenta Victória.

Como comprar?

O preço da versão física da obra, publicada pela Gráfica Acanhada de Arroio Grande, custa R$ 35,00. Já a versão digital sai por apenas R$ 15,00. Em ambos os casos o contato para a compra deve ser feito através do email salomaovictoria@gmail.com.

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