“Resenha do Rap”: obra de entusiasta da cultura hip hop pelotense

Por Erick Barreto  

Livro de Gagui IDV relata as vivências de um estilo musical que ganhou o mundo

                               Livro retoma vivências musicais e culturais desde os anos 1990                                      Foto: Luís Fabiano Gonçalves ( Fio da Navalha)

Thiago da Costa Moura, mais conhecido como Gagui IDV, nascido em Pelotas, e apaixonado pela cultura hip hop desde a adolescência, no ano de 2018 escreveu uma grande obra, “Resenha do Rap”, que conta a sua trajetória como crítico da cultura popular.

Em 1970, no estado de Nova York, mais precisamente no sul do Bronx, surge uma nova cultura, o hip hop, uma forma artística e criativa de contornar a extrema violência que assolava a região. Teve um resultado de relevância mundial, diga-se de passagem, pois a cultura não ficou restrita apenas a esse local, ganhou o mundo e atualmente é de relevância incomensurável. No Brasil, depois de 24 anos, em 1994, aos 12 anos de idade, Gagui ouviu em sua vizinhança um estilo musical diferente, uma música falada e não cantada, foi até o local e descobriu que se tratava de Gabriel, o Pensador, rapper, compositor e escritor brasileiro. Nesse momento, Gagui descobriu que estava aficionado por esse tipo de música e nunca mais parou de ouvir.

O autor entrevistou um dos precursores da cultura hip hop: Afrika Bambaataa

Gagui fala que, no mesmo ano que se encantou pela cultura, aderiu a ela por inteiro, mudou o estilo de se vestir, pois a sua identificação com a manifestação popular já era bem grande. E, assim, também conseguiria encontrar outros admiradores da mesma arte, já que a internet ainda não era um meio acessível, a forma de contato era totalmente diferente naquela época.

Na sua trajetória de vida, recorda que a leitura sempre foi um hábito essencial. Começou a publicar seus textos fazendo fanzines, escrevendo em blog, apresentando e produzindo programas de rádio, sendo colunista de diversos sites de hip hop do Brasil. Durante esse período, fez entrevistas com diversos artistas e personalidades da cultura hip hop. Foi um caminho natural até transformar tudo isso em livro e podcast.

Como todo apreciador do rap, o sonho de conhecer uma referência da cultura é um grande desejo, e, dessa forma, podemos dizer que Gagui IDV é um grande privilegiado, pois entrevistou Afrika Bambaataa, precursor da cultura hip hop em Nova York. Esteve diversas vezes com Mano Brown, Thaide, entre muitos outros artistas que fazem o movimento tão respeitado, apreciado e relevante.

Encontro com o músico Mano Brown

O rap, em essência, é um estilo musical que dá voz ao mais negligenciados, que relata a realidade das periferias e, para Gagui, o momento político e social em que vivemos é a hora crucial para expressar a arte de maneira mais incisiva. Mas, como em todo movimento cultural, há vertentes do gênero musical que se preocupam com outras temáticas. E essas outras vertentes são as mais consumidas. Dessa maneira, o fundamento principal, a parte de protestar, mesmo que muitos artistas ainda o façam, fica muitas vezes em segundo plano.

O Rio Grande do Sul é um grande formador de artistas, e não seria diferente em relação ao rap. Gagui explica que o nosso estado tem inúmeros grupos, MCs de estilos bem diversificados e com muito talento. Mas acredita que o desenvolvimento não seja ainda maior, porque a questão geográfica atrapalha bastante. Lembra de Zudizilla, o grande rapper pelotense, que se mudou para São Paulo, e só assim recebeu o seu devido reconhecimento.

 

 

Confraternização literária com Thaíde

O hip hop é também composto por outros elementos, a breakdance e o graffiti.  Para  Gagui, são outras duas artes que saíram das ruas estadunidenses e ganharam o mundo, pois o break será uma nova modalidade olímpica a partir de 2024 e o graffiti está presente nas mais diversas galerias artísticas, em inúmeros lugares no mundo. Ademais, ele relata com humor a sua experiência como b-boy (dançarino de break). Explica que não conseguiu desenvolver o talento com excelência, sente-se um b-boy “frustrado”.

E finalizando, para Gagui, a arte é um caminho árduo até chegar num patamar de grande notoriedade. Segundo ele, o talento nem sempre é suficiente, muitos artistas com uma capacidade enorme ficam pelo caminho, enquanto outros, menos capacitados, despontam como astros da noite para o dia. Fala de um exemplo próximo, o rapper Fill, outro grande artista de Pelotas, de extremo talento, com grande relevância na região, mas que nunca recebeu o devido valor. Muitos danos psicológicos o assolaram levando-o a um fim lastimável.

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