“The Sandman” mantém o espírito dos quadrinhos

Série que estreou em agosto adapta um dos maiores clássicos dos quadrinhos da DC  

Douglas Rafael Duarte    

No dia 5 de agosto, estreou “The Sandman” na plataforma de streaming Netflix.  A produção adapta para as telas a obra de Neil Gaiman, um dos maiores clássicos dos quadrinhos da DC Comics. A série, que já pode ser considerada um sucesso global, acompanha a jornada de Morpheus, o rei do mundo dos sonhos e um dos sete Perpétuos (entidades divinas responsáveis por sentimentos e experiências humanas). Mais do que tudo, é um convite a refletir sobre temas complexos como a morte, eternidade e o propósito da existência humana.

A produção agradou tanto quem não teve qualquer contato com a franquia quanto quem já gostava das aventuras do sombrio Morpheus (ou simplesmente “Sonho”) desde as páginas das HQs. Ostenta a notável pontuação de 87% de avaliação positiva da crítica e 80% do público no site Rotten Tomatoes. De acordo com a plataforma especializada em monitoramento de produtos de streaming FlixPatrol, a série ainda ficou por algumas semanas em primeiro lugar no Top 10 global e nacional, batendo concorrentes de peso como “Stranger Things”.

Tom Sturridge como Morpheus (o Sonho)    Fotos: Divulgação

Sintonia com público

“The Sandman” é uma das tantas histórias em quadrinhos que vêm sendo acompanhadas pelos leitores atuais desde ao longo da infância e da adolescência. Após a notícia de que a obra seria adaptada para as telas, o sentimento de muitos fãs foi o mesmo: um misto de animação e de temor pelo resultado. Afinal, não seria a primeira vez que produções inspiradas em livros ou HQs decepcionariam (quando não desfiguram completamente um personagem ou até um universo inteiro). Definitivamente não foi o caso.

Ao terminar de assistir os 10 episódios da série, pode ficar uma incômoda sensação de se gostar mais da produção cinematográfica do que dos quadrinhos (algo não muito comum). Então, a série é uma motivação para reler as páginas da obra de Gaiman. Os “Prelúdios e noturnos” e “A casa das bonecas” são as histórias escolhidas para serem adaptadas para as telas entre as 75 edições da obra, publicadas entre 1989 e 1996. E a verdade é que o seriado não só preserva o que havia de melhor nos gibis, como melhora alguns aspectos do enredo.

A participação muito próxima do autor, por um lado, pode ter sido um fator primordial para o sucesso da produção. Neil Gaiman ajudou na seleção de elenco, além de escrever ele próprio o roteiro do primeiro episódio juntamente com Allan Heinberg (“Grey’s Anatomy”) e David S. Goyer (trilogia “Cavaleiro das Trevas”). Os aspectos mais marcantes da HQ, como o ambiente sombrio e a mistura de fantasia, terror e temas filosóficos, permitem que o “espírito dos quadrinhos” seja preservado na série.

Por outro lado, a opção por distanciar-se um pouco do universo DC melhora a experiência. A narrativa mais linear e conectada, ao invés da opção por segmentos mais independentes entre si (como ocorria nos quadrinhos), passa uma sensação de continuidade bastante interessante para a história. A divisão do protagonismo entre outros personagens, além de Morpheus, também foi uma ótima escolha.

Diálogos, sonhos e pesadelos

A inserção do Mathew (o Corvo) em mais histórias do que originalmente apresentava a HQ, permitiu o aprofundamento e qualificação de alguns diálogos, como na jornada pelo inferno, por exemplo. É de se destacar ainda a participação de Lucienne (Vivienne Acheampong) na evolução pessoal de Morpheus. Ainda assim, nenhuma decisão foi melhor do que a de dar maior relevância para o personagem Coríntio (Boyd Holbrook de “Narcos”). Além de tapar alguns “furos” na trama original, o pesadelo que fugiu do mundo dos sonhos mostrou-se o vilão perfeito para uma temporada inicial.

É preciso pontuar, no entanto, que nada disso significa um enfraquecimento do personagem principal, muito pelo contrário. Cada diálogo, cada embate, cada antagonismo e cada trama compartilhada com outros indivíduos do seu universo convergem para a afirmação de Morpheus como a figura incomparável e essencial da produção. E a atuação praticamente impecável de Tom Sturridge (“As Vantagens de ser Invisível”) certamente foi decisiva para que o resultado final não fosse de apenas um personagem marcante, mas de toda uma história que funciona muito bem.

O ator, aliás, contou que pediu ajuda para Gaiman na hora de construir o personagem. De acordo com o próprio, uma de suas principais preocupações era saber como a voz de Sonho (uma das mais destacadas formas gráficas da HQ, com seus balões negros), deveria soar. “Neil me falou que ele é a voz dentro da sua cabeça. Ele é a voz que te leva ao sono. A voz que o guia pelos seus sonhos”, relatou Sturridge em entrevista de lançamento da série.

O ator Boyd Holbrook faz o papel de  Coríntio

Profundidade filosófica

O ar soturno e solitário, as dúvidas com relação à complexidade das relações humanas, a perplexidade de Morpheus diante do comportamento dos mortais e tudo mais que configura esse cativante personagem estão devidamente transplantados dos quadrinhos e expressos na atuação de Tom Sturridge. Assim como no ritmo e estilo da narrativa, nos cenários e efeitos especiais e até na caracterização dos personagens. Mais do que tudo, a complexidade está na abordagem dos temas com profundidade filosófica em cada segmento.

Em síntese, “The Sandman” fez melhor nas telas o que já era muito bom nas páginas quadriculadas. A série tem muitos pontos positivos: não perdeu a essência e consertou falhas no enredo sem descaracterizar personagens ou promover mudanças drásticas ou incompatíveis com a trama original. As atuações individuais dos atores (em especial Morpheus, Lúcifer e Coríntio) não deixaram nada a desejar. A introdução (ainda incipiente) da instigante relação de Sonho com seus irmãos (os Perpétuos), em especial com a Morte e o Desejo, e o vasto material das histórias ainda não adaptadas, sugerem que a produção fará ainda mais sucesso no futuro e, provavelmente, marcará época. Para isto, basta não abandonar a receita bem-sucedida da primeira temporada.

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Joyland: Mistério sobre um crime silencioso

Uma história envolvente de jovem apaixonado em parque de diversões assombrado      

Vivian Domingues Mattos   

 

O ano era 1973, um jovem na Carolina do Norte, após passar por uma desilusão amorosa, precisa de uma mudança de vida e decide começar um emprego temporário no parque de diversões Joyland.

Em meio à rotina de trabalho na alta temporada do parque, Devin Jones tem a atenção fisgada pelo passado. A morte de Linda Grey, uma garota assassinada por um serial killer anos atrás, no parque, virou uma lenda urbana. E as histórias de que seu fantasma ainda permanece assombrando Joyland ganham foco no mundo do rapaz.

Com pouquíssimos dados aprofundados sobre o caso, Jones inicia uma investigação por conta própria para esclarecer o quebra-cabeça incompleto sobre o caso de Linda Grey.

A narração do livro “Joyland”, de Stephen King, acontece pelo personagem principal que desenvolve parte da trama sem envolver diálogo com outros personagens. No decorrer da história, as responsabilidades de Davi Jones aumentam gradualmente e, aliado a isso, o leitor pode acompanhar o amadurecimento do personagem diante de cada nova situação.

A leitura é uma boa indicação tanto para quem deseja começar a ler o gênero de terror contemporâneo, quanto para os fãs do autor Stephen King. Caso queira uma sugestão, nunca se arrisque em uma roda gigante durante um temporal.

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Humberto Gessinger faz show da turnê “Não vejo a hora” em Pelotas

Repertório traz um compilado das músicas de seu novo álbum e sucessos consagrados pela banda Engenheiros do Hawaii      

Por Victoria Fonseca   

Humberto Gessinger abriu seu show com “Infinita Highway”  e já contagiou a plateia     Fotos: Gustavo Vara

Em apresentação esperada desde 2020, adiada devido à pandemia de Covid-19, Humberto Gessinger lotou o Theatro Guarany em Pelotas mais uma vez, com seu espetáculo no sábado (dia 15 de outubro). O show faz parte da tour do seu novo álbum “Não Vejo a Hora”. Além das composições inéditas de sua autoria, Gessinger não podia deixar de cantar grandes singles de sua carreira como vocalista na banda Engenheiros do Hawaii, que sempre levam os fãs à euforia.

E foi com a famosa “Infinita Highway” que Humberto abriu o seu show. O que já é de praxe, pois quem acompanha a sua carreira sabe que Gessinger usa a canção também para dar o “boa noite” em toda cidade em que está se apresentando. E, na Princesa do Sul, não foi diferente. O trecho “Eu não vim até Pelotas para desistir agora” foi cantado a plenos pulmões pela plateia.

Produzido pelo próprio Humberto, “Não Vejo a Hora” é o primeiro álbum de inéditas desde “InSULar” (2013), e traz 11 canções autorais gravadas com dois trios. São oito faixas com o clássico trio formado com Rafa Bisogno na bateria, o pelotense Felipe Rotta na guitarra e Humberto no baixo de seis cordas. Nas três músicas acústicas, Gessinger assume a viola caipira, acompanhado por Nando Peters no baixo acústico e Paulinho Goulart no acordeon.

Gessinger também empolga com seu talento de multi instrumentista

Deste modo, o show é dividido em partes. Inicia com as canções de rock com as fortes presenças das guitarras e da bateria. Na metade da apresentação, Humberto convida a dupla Goulart e Peters a assumir o palco, momento que as composições calmas e com presença de características de músicas tradicionalistas gaúchas ganham espaço. Já, na finaleira, Rafa Bisogno e Felipe Rotta voltam a assumir o espaço, momento em que Gessinger canta novamente sucessos da carreira no Engenheiros do Hawaii, como a canção “Eu que não amo você”.

Para os fãs não é novidade, mas aqueles que nunca estiveram em um show de Gessinger podem ter se surpreendido com o seu talento também como multi instrumentista. Em várias canções, Humberto tocava guitarra, teclado e gaita, tudo praticamente simultâneo. Outro aspecto que marca as mudanças de fases no seu show é as trocas de guitarras e de baixo.

Uma das pessoas sentadas na primeira fileira do Guarany para não perder um detalhe da apresentação era a professora de Geografia, Roberta Morales. Fã de Gessinger há 15 anos, ela conta que já foi a três shows, mas que sempre se surpreende com o talento do cantor. “É uma capacidade de se reinventar que só ele tem. Um cantor e um ser humano de inúmeros talentos. Humberto não só canta com maestria como também toca todos esses instrumentos quase que ao mesmo tempo”, comenta.

Com 36 anos de estrada, Gessinger lançou “Não vejo a hora”, seu vigésimo segundo álbum em 2019. Oito DVDs completam a discografia que renderam oito Discos de Ouro, um Disco de Platina e quatro DVDs de Ouro.

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“Rota 66”, clássico de Caco Barcellos vira série de TV

Livro que narra histórico de violência policial da Rota ganha versão para a televisão   

Por Vitor Valente    

Quando se fala em jornalismo literário no Brasil, é impossível deixar de citar o clássico “Rota 66 – A história da polícia que mata”, escrito pelo jornalista Caco Barcellos. Lançado em 1992, faturou no ano seguinte o Prêmio Jabuti, maior honraria da literatura brasileira. A investigação que gerou o livro-reportagem começou após a morte de três jovens de classe média de São Paulo em razão da ação de uma unidade das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), esquadrão de elite da Polícia Militar. Trinta anos depois, a história do livro foi adaptada para a televisão. A série foi lançada pela plataforma de streaming Globoplay no final de setembro e conta com oito episódios.

Criada por Maria Camargo e Teodoro Poppovic, com direção artística de Philippe Barcinski, a série explora o potencial narrativo de uma história cujo tema permanece atual. A investigação obstinada e a pesquisa minuciosa de Caco Barcellos, interpretado na série pelo ator Humberto Carrão, rendeu dezenas de relatos de casos sombrios e devastadores de violência policial. Ao recontar as histórias, o jornalista gaúcho jogou luz sobre eventos que seriam esquecidos e varridos para debaixo do tapete. De outra forma, as versões oficiais dos policiais seriam impunemente tratadas como verdade.

                 Ator Humberto Carrão interpreta o jornalista Caco Barcellos na adaptação para televisão de “Rota 66”                       Foto: Divulgação

A estudante de jornalismo Joanna Manhago conta que após assistir a série, decidiu ler o livro “Rota 66”. “Eu já conhecia o trabalho do Caco, mas ainda não tinha despertado o interesse pela leitura”, explica a estudante. “Quando comecei a assistir a série, achava que ela não abordaria tanto o trabalho do Caco, que seria mais sobre a realidade da polícia em si. [A série] fala muito daquilo também, mas aborda principalmente como o Caco trabalhou na construção do livro. Como jornalista, gostei muito disso, para entender o processo de produção, criação e de estudo”, completa Joanna.

Segundo o especialista em jornalismo literário Eduardo Ritter, o livro “Rota 66” é uma obra fundamental para o gênero no Brasil. “Foi um caso em que o jornalista colocou em prática, de maneira quase que perfeita, algumas premissas do jornalismo literário como a pesquisa, o texto de fôlego, a narrativa criativa e a linguagem”, valoriza Ritter. “Mas, principalmente, um dos pontos que diferencia de outros gêneros da literatura é a apuração. O trabalho do Caco como jornalista, a pesquisa, as consultas a documentos, entrevistas, levou bastante tempo até ele conseguir juntar todo aquele material para escrever o livro. Isso o diferencia”, complementa.

Eduardo Ritter é professor de jornalismo, escritor e colunista   Foto: Reprodução/Internet

O professor Eduardo aponta, ainda, a importância do reconhecimento do nome e da credibilidade de Caco Barcellos para o destaque do trabalho realizado. “O fato de ele ser um repórter conhecido do grande público ajuda, pois muitas vezes o jornalista literário esbarra na questão do reconhecimento midiático, por melhor que seja o trabalho. Excelentes trabalhos literários sofrem com esse obstáculo”, conclui.

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O que esperar do novo título da autora Elena Armas 

Livro segue várias tendências da comédia romântica e traz questões femininas   

 Por Evelise Goulart   

“The Spanish Love Deception”, da autora espanhola Elena Armas, foi lançado mundialmente em fevereiro de 2021. No Brasil, a editora Arqueiro lançou o título em maio de 2022 sob o título “Uma farsa de amor na Espanha”. O livro é um romance “new adult”, que conta um relacionamento falso, tendo como premissas os estilos literários “enemy to lovers” (histórias de parceiros amorosos que se tornam inimigos) e o “slow burn” (narrativas de relacionamentos lentos e gradativos que deixam feridas).

 

O livro conta a história de Catalina “Lina”, uma garota que por causa de uma desilusão amorosa larga sua vida na Espanha para começar de novo nos Estados Unidos. Sua nova vida fica de cabeça para baixo quando precisa voltar à sua cidade natal, para o casamento da irmã. O problema é que ela foi escolhida a madrinha ao lado do seu ex-namorado, irmão do noivo e responsável por seu coração partido.

Lina então decide que não pode comparecer ao casamento sozinha. É, então, que seu “inimigo” e colega de trabalho Aaron entra na história. Ele se oferece para acompanhá-la, mas, em troca, precisa que ela o acompanhe em um evento. Desesperada e sem ter para quem recorrer, Lina aceita a proposta que vai mudar sua vida.

      Elena Armas: da crítica literária no Instagram a um romance best Seller    Foto: Divulgação

Os personagens criados pela autora Elena Armas são cativantes e divertidos. Sua escrita é fluida e prende o leitor. Em inúmeros momentos torcemos para que os protagonistas resolvam seus problemas ou que o “vilão” sofra as consequências de suas ações. Mesmo que não haja um vilão propriamente dito.

Apesar de ser uma comédia romântica, o livro aborda inúmeras pautas relevantes, o machismo é uma constante no decorrer da história. A personagem principal passa por situações difíceis por causa do primeiro relacionamento e, novamente, no local de trabalho nos Estados Unidos.

A escritora nos entrega quase tudo que foi prometido. A melhor parte de todas é a construção lenta do relacionamento de Lina e Aaron. Eles começam com um relacionamento falso, mesmo que uma das partes não esteja fingindo tanto assim. O famoso estilo do “slow burn” está   elaborado, simplesmente, de forma perfeita para os fãs do gênero. Além, é claro, de ser uma comédia romântica daquelas de aquecer o coração e, por ser um “new adult”, tem algumas cenas um tanto picantes.

Os capítulos são maiores do que o que estamos acostumados. Mas, em geral, é um livro muito bom, rápido de ler e que deixa o leitor com um gosto de quero mais e aquele sorrisinho bobo quando termina.

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Dois curtas sobre negritude pelotense na sexta

Com entrada franca serão apresentados dois filmes curta-metragem de Everton Maciel no Cine UFPel

Sexta-feira, dia 14 de outubro, às 16h, e com entrada grátis, o Cine UFPel realiza a exibição de dois filmes curta-metragem do diretor Everton Maciel: ”Fica Ahi Pra Ir Dizendo: 100 anos de Bloco na rua” e “Etnografia da Performance e Agenciamento de uma Charanga: estudos etnomusicológicos sobre a Garra Xavante”. A promoção é uma parceria com o projeto “Som, racialidade e território: perspectivas afrodiaspóricas”. O Cine está localizado na Rua Álvaro Chaves, esquina com a Rua Lobo da Costa (No prédio da Agência da Lagoa Mirim, com entrada pela Álvaro Chaves).

“Fica Ahi Pra Ir Dizendo: 100 anos de Bloco na rua” é um documentário que conta um pouco da história do Clube Negro Pelotas. Este filme apresenta as memórias dos sócios, que falam da Pelotas negra e das formas de resistência desde o princípio da fundação da cidade.

“Etnografia da Performance e Agenciamento de uma Charanga: estudos etnomusicológicos sobre a Garra Xavante” surge a partir da dissertação de Everton realizada no curso de Mestrado em Antropologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). O filme mostra a performance e o saber musical dos integrantes da Garra Xavante, charanga que toca nos jogos de futebol do Grêmio Esportivo Brasil. Este clube esportivo tem como característica uma parcela significativa de torcedores negros e de baixa renda da cidade. O documentário destaca o espaço da educação não formal, mostrando as identidades de quem faz essa música e a relação da charanga com esta Pelotas negra.

Após a exibição, haverá um debate com o diretor Everton Maciel, acompanhado de Daniel Amaro, Rogério Amaro, Tereza Joaquina, Maria Helena Silveira e Celestina Isabel Pinto. A mediação será realizada por Paulo Sevidanes.

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“I Saw the Devil” não é para qualquer um

Filme coloca em questão violência que perpassa uma série de produções cinematográficas     

Por Marco Gavião    

“Ang-ma-reul bo-at-da (악마를 보았다)”, ou em inglês, “I Saw the Devil”, é um filme que particularmente causa divisões. Numa discussão gerada em torno da produção em um grupo de amigos, as opiniões vão desde a avaliação como ótimo ao terrível. A obra, dirigida por Jee-woon Kim, e lançada na Coreia do Sul em 2010, conta a história de Soo-hyun (interpretado por Byung-hun Lee), agente secreto do Serviço de Inteligência Nacional da Coreia do Sul (NIS), que após ter sua noiva assassinada por Kyung-chul (interpretado por Min-sik Choi), um assassino serial, decide partir em uma jornada de vingança.

O fascínio das audiências pela violência no cinema não é algo incomum, começando pelas versões estilizadas, como nas obras de Quentin Tarantino (“Pulp Fiction” e “Bastardos Inglórios”). E segue em uma alternativa mais crua e expositiva, como a que foi popularizada no âmbito do terror pelo subgênero “torture porn”, de filmes como “Jogos Mortais” (James Wan, 2004) e “O Albergue” (Eli Roth, 2004). Geralmente, junto da violência, vem a justificativa para aplicá-la através da simpatia pelo personagem que a provoca. Mesmo com as suas atitudes, o personagem principal não se torna o vilão. E a vingança é o melhor subterfúgio para tal estilo de filme, pois mostra um protagonista inicialmente bondoso e pacífico, partindo numa espiral de violência com o objetivo de fazer justiça com as próprias mãos perante aqueles que fizeram mal a seus entes queridos. Este estilo de narrativa ganhou popularidade tanto nos Estados Unidos, destacando a franquia “Desejo de Matar”, protagonizada por Charles Bronson; quanto em outros países, como a Coreia do Sul.

A Coreia do Sul já tinha uma história anterior com o gênero. Nos anos 2000, no momento que o cinema local ganhou grande notoriedade para o público ocidental, teve algumas das obras que lideraram o movimento em filmes focados na temática da retaliação, como a “Trilogia da Vingança”, de Chan-wook Park (“Mr. Vingança”, “Oldboy” e “Lady Vingança”). E, na mesma toada, ou como um comentário sobre tal temática, foi lançado “I Saw the Devil”.

                Soo-hyun (interpretado por Byung-hun Lee) parte para jornada de vingança depois da morte de sua noiva            Foto: Divulgação

Tendo o entendimento deste contexto, é possível compreender melhor questões que podem ser consideradas falhas do filme, como o tom repetitivo, a violência gráfica, e questões referentes à suspensão de descrença (por exemplo, um personagem a certa altura sofre um sério ferimento, e, ao longo da obra, isso deixa de ser uma questão). O filme é um comentário acerca do gênero na Coreia do Sul, ou, até mesmo, uma sátira. Pode-se enxergar tais questões como propositais, e parte do objetivo a ser alcançado pelo diretor Jee-woon Kim.

Não há contexto prévio, porém, que seja capaz de justificar a maneira como o filme trata suas personagens femininas, e a maneira pela qual a violência física e psicológica lhes é perpetuada ao longo da obra. Beira o fetichismo, e parece não exercer nenhum significado dentro da obra além de causar choque no espectador. Questões semelhantes puderam ser vistas no recentemente lançado “Blonde” (Andrew Dominik, 2022), em que o sofrimento e a exploração do corpo de Marilyn Monroe são expostos da forma mais degradante possível pelo diretor.

O filme tem qualidades, que passam majoritariamente no aspecto técnico. A fotografia sabe muito bem explorar a beleza de alguns de seus cenários, a montagem consegue driblar bem a longa duração do filme, oferecendo um ritmo satisfatório para a perseguição que sustenta o filme, e os efeitos práticos dão verossimilhança à violência mostrada na tela.

Como o título dessa resenha anuncia, não é um filme para todo mundo. Mas não se pode de deixar de comentar a obra, justamente porque outros olhares podem oferecer outras perspectivas acerca do que o filme apresenta. Há possivelmente outras qualidades que talvez possam ser enxergadas.

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Cine UFPel tem duas sessões na sexta-feira

Pela manhã, será apresentado filme de diretores indígenas e à tarde produção nacional selecionada para o Oscar, ambos com entrada franca

Nesta sexta-feira, dia 7 de outubro, às 10h, ocorre no Cine UFPel a sessão comentada do filme “GUATÁ: nomeando rios, nomeando a terra”. À tarde, às 16h, acontece a estreia do longa brasileiro “Marte Um”. Este longa, dirigido por Gabriel Martins, é o filme selecionado para representar o Brasil no Oscar de 2023 na categoria de Melhor Filme Internacional. Já recebeu prêmios no Festival de Gramado e no Festival Sundance 2022. O Cine UFPel fica na Rua Álvaro Chaves quase esquina com a Lobo da Costa, em Pelotas, e a entrada é gratuita.

O documentário de média-metragem “GUATÁ: nomeando rios, nomeando a terra” acompanha os percursos de seus diretores indígenas: Jorge Morinico (Anhetenguá / RS) e Epifanio Chamorro (Arandu / Misiones). O filme surge a partir da experiência do guatá ancestral Mbyá-Guarani, e com isso trata de seu deslocar no mundo criado pelas suas divindades, Nhanderú Heté e Nhandexy. A atividade faz parte da programação do SPMAV, evento organizado pelo Mestrado em Artes Visuais.

O documentário foi criado e produzido em meio a pandemia de Covid-19, e busca acompanhar e mostrar uma das principais qualidades da cultura Mbya-Guarani, o seu caminhar ancestral, que em sua língua denomina de Guatá.

Após a exibição do filme, que dura 55 minutos, haverá um debate com os diretores da obra: Jorge Morinico e Epifanio Chamorro.

Estreia de longa brasileiro

O filme longa brasileiro “Marte Um”, que será apresentado às 16h, é um dos principais lançamentos do cinema brasileiro neste ano. Conta a história de uma família negra de classe média baixa, os Martins, que seguem a vida entre seus compromissos do dia a dia e seus desejos e expectativas. Vivem sob a tensão de um governo conservador que acaba de assumir o poder no País. Em meio a esse cotidiano, Tércia cuida da casa enquanto passa por crises de angústia, Wellington quer ver o filho virar jogador de futebol profissional, Eunice tem um novo amor e o pequeno Deivinho sonha em colonizar Marte.

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Do humor na web, nasce um comunicador

Depois da polêmica brincadeira no lockdown Lyon Dias vai da internet para as ondas do rádio  

Por Tatiane Meggiato  

O humorista Lyon Dias criou, como uma simples brincadeira, a famosa página “Pelotas da Depressão”, que alegrava o Facebook desde 2013 e passou também para o Instagram. Há três anos, ele decidiu mostrar seu rosto e fazer da página sua profissão. Depois de uma polêmica que o fez perder sua página no Instagram, ele também está nas ondas do rádio.

“Pelotas da Depressão” foi criada com a proposta de levar diversão e entretenimento com doses diárias de humor e sarcasmo nas redes sociais. Lyon conta que, apesar do que pensam, não é uma tarefa fácil ir atrás de ideias e criar os conteúdos, dar atenção e responder aos internautas, além das edições. Tudo isso ocupa em torno de 16 horas do seu dia, mas no final é gratificante.  

Depois de todo o sucesso e alcance dos memes, a página “Pelotas da Depressão” se tornou uma empresa com CNPJ, contando com uma equipe comercial, um setor jurídico e um designer. Lyon conta que está orgulhoso, pois o que começou como uma brincadeira, além de ser seu trabalho, gera empregos hoje.  

A polêmica nacional do lockdown

Uma proposta feita por Lyon em agosto de 2020, gerou um vídeo que rapidamente viralizou na internet. Lyon fez um post no Instagram, convidando outros moradores a tocar a sirene do filme “Uma noite de crime” às 20h. E muita gente entrou na brincadeira. Nisso, um morador da cidade escutou e divulgou como se fosse uma ordem da Prefeitura. Em pouco tempo, o vídeo já havia sido espalhado pelo país inteiro, sendo replicado até por deputados federais. A polêmica fez com que o humorista perdesse até sua conta no Instagram.

“Eu não achei que uma brincadeira tomaria aquela proporção. Na hora que vi que estavam culpando a Prefeitura, no mesmo momento, resolvi assumir a culpa de tudo. Até mesmo para que as pessoas vissem que nem tudo que está na internet é verdade e, para mim, foi um aprendizado que ficou na história, pois, com certeza, eu não repetiria a brincadeira”, lembra Lyon.

Desde o ano passado Lyon Dias apresenta o humorístico “Dezcontrolados”

Da web para as ondas do rádio

Não contente apenas com a internet, surgiu a oportunidade de Lyon levar um programa de humor ao ar na emissora de rádio Dez FM 91.9, em junho de 2021. O comunicador conta que sempre gostou muito da área do rádio, inclusive, quando pequeno, brincava de ter um programa. Não pensou duas vezes e, assim, surgiu o “Dezcontrolados”, que passa de segunda a sexta-feira, das 12h às 13h, com sua equipe formada por Lyon, Aline Miranda e Lara Lago.

O programa na rádio também teve um retorno tão positivo que, em junho deste ano, foi apresentado direto da Feira Nacional do Doce (Fenadoce). E, no mês de julho, recebeu o cantor nacional Vitor Kley para uma entrevista.

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Museu do Doce celebra patrimônio imaterial

Trabalho e vida social de Pelotas são marcados pela tradição doceira que é resgatada todos os dias pela instituição     

Por Isabella Barcellos     

        Museu foi criado em parceria do Instituto de Ciências Humanas com Bacharelado em Museologia da UFPel em 2011            Fotos: Divulgação

 

Em meio à agitação cotidiana, entre as idas e vindas nos centros urbanos, é fácil esquecer-se do cenário marcado pela história. A Praça Coronel Pedro Osório, ponto central de Pelotas, é cercada por casarões históricos herdados do século XIX. E um deles é o ponto central de várias reportagens que o site Arte no Sul publicará a partir de agora sobre as tradições doceiras de Pelotas. O Museu do Doce é sediado no casarão número 8, a “Casa do Conselheiro”, construída para servir de lar para a família de Francisco Antunes Maciel, e, hoje, restaurada, serve de abrigo para um acervo rico da história pelotense. Na Rua Félix da Cunha, ao redor da praça principal e ocupando uma das esquinas, encontram-se as instalações do Museu do Doce.

O Museu foi criado no ano de 2011, em parceria com o Instituto de Ciências Humanas e o Bacharelado em Museologia, ambos parte da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Seu acervo é composto por uma série de objetos que têm origem nas tradições doceiras de Pelotas e a região da antiga Pelotas, que estava integrada a outras cidades hoje emancipadas, ou seja, Arroio do Padre, Capão do Leão, Morro Redondo e Turuçu. A instituição reúne peças que se relacionam direta ou indiretamente com essas tradições.

Arquitetura e decoração do prédio restaurado remete à época do início da tradição doceira

 

Todas os itens expostos pela instituição surgiram a partir de doações realizadas pela comunidade. Tendo em conta vários anos de registros, movimentações culturais, estudos de historiografia e conscientização, o local surgiu com a proposta de registrar a história das tradições doceiras de uma maneira interdisciplinar.

Outrora nascidos na elite, os saberes da tradição doceira transpassam a classe, a raça ou a escolaridade de quem as possui. Se a sede do Museu, a “Casa do Conselheiro”, por si mesma, consegue evocar as crenças e o senso estético da elite gaúcha no século XIX, as exposições apresentadas pela curadoria do museu enaltecem as transformações vividas pela cidade, população, economia e pelos próprios doces ao longo das décadas. E essa missão não é cumprida apenas através de atividades presenciais na sede da instituição. Os interessados em conhecer mais sobre o local podem visitar o site oficial e fazer um passeio virtual no espaço ou, até mesmo, fazer um login na conta do Museu do Doce no Instagram. O museu propriamente pode ser visitado na Praça Coronel Pedro Osório, Casarão 8 – Centro de Pelotas, de terça-feira a sábado, das 13h às 18h. Atualmente, não está aberto à visitação nos feriados e domingos.

Objetos remetem ao cotidiano econômico e social da região de Pelotas

O princípio da tradição

Não se pode falar da história do doce em Pelotas sem mencionar o ciclo do charque no extremo sul das terras gaúchas. Charque é o nome que se dá à carne bovina desidratada e salgada e sua produção foi responsável pelo desenvolvimento econômico da antiga Pelotas (que atualmente também contempla as cidades de Arroio do Padre, Morro Redondo, Turuçu e Capão do Leão). O núcleo charqueador surge a partir da combinação de privilégio geográfico (proximidade com a Lagoa dos Patos), cabeças de gado adquiridas a partir da colonização espanhola e a numerosa mão de obra escrava.

A migração de José Pinto Martins do Rio Grande do Norte para as margens do Arroio Pelotas, em 1780, foi a chave para o surgimento do primeiro núcleo saladeril local. A partir de intensa exploração dos recursos agropecuários e da mão de obra tanto escravizada quanto assalariada, a economia do charque passou a enriquecer famílias e deu-se início a uma nova elite. Décadas depois, em 1808, a chegada da família real portuguesa no Brasil iniciou as movimentações de imigrantes europeus por todo o território nacional, e, por consequência, também no sul do País.

Objetos estão relacionados ao dia a dia da fabricação de doces ao longo do tempo

Entre a planície e a Serra do Tapes, pode-se dizer que as tradições doceiras tiveram seu pontapé inicial. Os pilares desse patrimônio surgiram a partir da presença portuguesa e a vinda de famílias de imigrantes com diversas origens, que se utilizaram da horticultura e da fruticultura de suas propriedades para criar as primeiras receitas catalogadas por diversos pesquisadores. Era inicialmente algo requintado, para ser consumido em ocasiões especiais junto de uma mesa decorada com louças caras e pessoas reunidas.

Há muitas influências inter-relacionadas ao longo da história, desde os doces mais finos de mesa (mais urbanos, portugueses com provável trabalho de mão escrava) até os doces coloniais (mais rurais e fortemente influenciados pelos imigrantes franceses, alemães e outras possíveis influências culturais).

Com a decadência iminente do ciclo do charque, as atenções passaram a se voltar para a industrialização local e os doces em conserva tomam espaço enquanto protagonistas. Em seu texto “O Doce na Rua”, o professor Mário Osório Magalhães discorre sobre o assunto: “[Com] a superação dos saladeiros, no início do século, incrementou-se a industrialização, em nossa zona colonial, das frutas de clima temperado; utilizou-se então o pêssego (a fruta mais produzida) não só ao natural: também na forma de doce, de geleia, de conserva, de passa — sem dificuldades, pois já havia aqui, domesticamente, uma tradição doceira”.

A pesquisa contínua e a participação da comunidade levam à melhoria constante do acervo

A partir da modernização, os doces passam a ocupar cada vez mais o dia a dia das pessoas. As receitas passadas de geração para geração começaram a servir como ferramenta de empoderamento financeiro para mulheres e suas famílias. Vender doces era uma das poucas tarefas que podia ser guiada junto aos afazeres domésticos, graças à falta de acesso ao mercado de trabalho. Ingredientes como amêndoas, nozes, açúcar e ameixas eram garantidos nos conhecidos armazéns de secos e molhados enquanto as frutas eram encomendadas da colônia. Com o passar dos anos, a classe média local começou a exigir a presença de doces finos no cardápio de batizados, aniversários, casamentos e outros eventos diversos.

O que celebramos hoje

O maior símbolo de persistência da tradição doceira em Pelotas durante 23 anos consecutivos é a realização da Feira Nacional do Doce. Foi inicialmente organizada pela Prefeitura em 1986. As primeiras edições eram realizadas a cada dois anos, sem uma sede fixa. Atualmente, a organização e gestão do evento anual é liderada pela Câmara de Dirigentes Lojistas da cidade e, além de exaltar as tradições doceiras, tem como objetivo fortalecer o comércio local. A feira reúne comerciantes do setor têxtil, imobiliárias, livreiros, setores da agricultura familiar e artesãos.

Tradição doceira envolve série de objetos que vão desde  fabricação até consumo 

Segundo estudiosos do Curso Tecnólogo Superior em Hotelaria da UFPel, no artigo “A importância do evento Fenadoce para a cidade de Pelotas RS e a percepção dos visitantes sobre 20ª edição”, a sua realização é de suma importância para a economia local e possui grande aprovação de público: “Portanto, considerando o expressivo potencial desse evento, a partir de referenciais e pesquisa com os visitantes, acredita-se que a feira constitui-se em um instrumento de grande relevância para o turismo na cidade de Pelotas. Contudo, a cada edição da Fenadoce, deve-se apresentar novidades em doces e entretenimentos, além de adequações de acessibilidade e de estrutura, conforme o crescimento do público visitante e, por fim, que se finalizem as reformas antes das datas previstas de início de cada evento.”

Acervo está organizado de forma a dar visibilidade para várias etapas históricas

 

Museu do doce: Memórias, Sal e Açúcar

As iniciativas promovidas pela comunidade e pelo corpo de profissionais de pesquisa e educação demonstram cada vez mais a importância da cultura doceira. Contribuem para que a sua valorização como patrimônio imaterial seja cada vez mais do conhecimento de todos os pelotenses e de todo o Brasil.

Citando novamente as palavras de Mário Osório Magalhães: “Açúcar e sal não são, portanto, necessariamente excludentes: pelo contrário, foram complementares para o florescimento desta cidade gaúcha que desabrochou no século XIX. Uma cidade tão única, tão orgulhosa de si mesma a ponto de se autodenominar, ressaltando os conceitos de opulência e cultura, ‘Princesa do Sul’ e ‘Atenas Rio-Grandense’.”

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