Série “Better Call Saul” encerra ciclo criado em “Breaking Bad”

História do advogado Saul Goodman reaparece em uma narrativa profunda e eletrizante

Por Vitor Valente

                Saul Goodman e Kim Wexler vivem uma relação visceral com muitos altos e baixos             Fotos: Divulgação

A série “Breaking Bad” (2008-2013), produzida pela AMC, levou ao ar 62 episódios que formam um conjunto de cinco temporadas extremamente aclamadas. A combinação de personagens profundos e bem construídos, roteiro perfeitamente amarrado e uma estética que lembra as produções de cinema, faz com que a história de Walter White (Bryan Cranston) pareça insuperável para muitos. É importante contextualizar a magnitude desta série que antecedeu “Better Call Saul” (2015-2022), para que o feito da produção de Vince Gilligan seja devidamente estimado. O spin-off protagonizado por Bob Odenkirk alcançou um patamar de, no mínimo, igualdade em relevância e qualidade em relação à série original.

A premissa de “Better Call Saul” é contar a história do irreverente e trambiqueiro advogado Saul Goodman. O personagem foi apresentado na segunda temporada de “Breaking Bad” e foi um dos coadjuvantes mais influentes na história de Walter White, contribuindo diretamente na construção da persona do aterrorizante Heisenberg. A expansão desse universo passava a ideia de um personagem secundário, relegado às sombras da obra original. O drama criado por Vince Gilligan e Peter Gould, entretanto, superou as expectativas do público e da crítica em geral.

O primeiro episódio da série, lançado em 2015, apresenta uma versão diferente do Saul que conhecíamos em “Breaking Bad”. A diferença é tão grande que acaba despertando a curiosidade de entender como, o agora, Jimmy McGill se transformou no parceiro de crime de White. Não é apenas o nome que muda, mas também as motivações e intenções. A característica que não muda é a malandragem. O bem-intencionado e trabalhador Jimmy não resiste às oportunidades de utilizar artifícios moralmente questionáveis para atingir os objetivos próprios e de seus clientes.

O que é quase consenso é o fato de que Jimmy, apesar de controverso, mostra aspectos que o tornam o que chamamos de “bom malandro”. E são justamente estas características que geram tanta empatia e simpatia pelo advogado. Estigmatizado pelos erros de seu passado como Slippin’ Jimmy, um golpista barato que fora pego em meio aos seus pequenos delitos, é inevitável a sensação de envolvimento e torcida pelo sucesso do protagonista. Conhecer o outro lado de Saul, indo além da personalidade fanfarrona do coadjuvante de “Breaking Bad”, faz com que o público esqueça a gravidade dos crimes que o personagem possa cometer.

A seriedade nos negócios é uma marca de Gus Fring e Mike Ehrmantraut

Personagens evoluem na nova série

Outros personagens da produção original, como Mike Ehrmantraut (Jonathan Banks) e Gus Fring (Giancarlo Esposito) ganham muito mais protagonismo, o que permite um aprofundamento sobre as suas histórias, razões e motivações para a vida no crime. Personagens muito fortes e relevantes na história de “Breaking Bad” se tornam ainda melhores conforme crescem em importância e tempo de tela. As participações de Mike e Gus mudam as percepções pré-existentes de suas figuras.

Além disso, “Better Call Saul” é brilhante na inserção de pessoas que não aparecem diretamente na série anterior. Os casos mais relevantes são os de Kim Wexler (Rhea Seehorn), Chuck McGill (Michael McKean), Howard Hamlin (Patrick Fabian) e Nacho Vargas (Michael Mando). Os três primeiros são ligados diretamente a Jimmy, enquanto Nacho tem maior importância nos núcleos de Mike e Gus Fring. As adições de personagens originais provocam curiosidade e desejo de conhecê-los e entender os motivos que os tiraram da trama de “Breaking Bad”.

Não há dúvida de que o ápice das tramas envolvendo Saul, Mike e Gus acontecem na série da AMC. Entretanto, o desenvolvimento de suas personalidades, os problemas enfrentados e as adversidades superadas pelo trio alteram a percepção sobre uma história que havia sido encerrada em 2013. Ao assistir “Better Call Saul”, fica fácil entender por que Walter White e Jesse Pinkman (Aaron Paul) pareciam bandidos tão amadores se comparados à velha guarda do crime organizado. O spin-off é perfeito na construção dos personagens, fecha todas as arestas do roteiro e magistralmente melhora o que já era quase perfeito, chegando ao ponto de superar “Breaking Bad”. É uma obra obrigatória para os fãs de televisão e de drama.

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