Sete anos após fechamento do Theatro Sete de Abril, não há data prevista para início de reformas

Fachada do Theatro Sete de Abril. Imagem: Jôh Pias/Divulgação

O local já foi o segundo maior teatro do Brasil em funcionamento e hoje está há quase uma década fechado.

Por Júlia Müller*

Caminhando pelos ladrilhos portugueses das calçadas de Pelotas, a população faz um encontro diário com muitos dos prédios históricos de cidade. Situado no entorno da Praça Coronel Pedro Osório, o Theatro Sete de Abril foi inaugurado em dezembro de 1833 e hoje se encontra fechado para reformas. Contudo, seu fechamento ocorreu em 2010 por motivos de segurança. Sete anos depois ainda fica a pergunta: E o Sete?

A casa de muitos artistas locais e visitantes passou por diversas reformas (confira o infográfico abaixo) e também foi considerado o segundo mais antigo teatro em funcionamento no Brasil. Para os artistas que, diante da falta de um local adaptado para apresentações e ensaios, fica o sentimento de pesar e indignação. “Fico de corpo e alma partido cada vez que passo lá na frente e vejo ele fechado, imagino a quantidade de história que aquele lugar possui e mais ainda chateado pela quantidade de história que não está ocorrendo por lá”, afirma Fábio Marques, de 33 anos, que atua nas artes cênicas pelotenses há 17 anos.

Completando mais de sete anos em etapas de reformas, artistas jovens da cidade sentem a falta que um teatro municipal faz para quem está em constante contato com o meio das artes cênicas. A estudante Thauane Garcia, de 16 anos, que está há mais de quatro anos inserida no meio teatral, desabafa: “um auditório de escola não chega nem aos pés de um Teatro Municipal, se tivesse contato com o Theatro Sete de abril, mudaria bastante a minha postura teatral. ”

Planejamento da obra

O Theatro Sete de Abril teve suas portas fechadas em 2010, para a alegria da população que esperava uma reforma breve no local. Fechado por conta do possível desabamento da cobertura, o prédio que representa o coração das artes cênicas pelotenses aparenta estar em completo estado de abandono dos pelotenses. No mês de outubro de 2014, foi concluída a última reforma do local. A obra emergencial no telhado sanou problemas como infiltrações, que expunham todo o prédio a umidade e goteiras. A reforma foi realizada com recursos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e uma contrapartida de 10% da Prefeitura. Deste modo, estabilizou-se o Theatro em relação a possíveis novos riscos que pudessem comprometer a estrutura.

O projeto de restauro do Theatro Sete de Abril foi adicionado aos projetos do Plano de Aceleração ao Crescimento (PAC) – Cidades Históricas, no ano de 2013, com um investimento previsto em R$6 milhões para as reformas. Em julho de 2016, seis anos após o fechamento do teatro, o ex prefeito Eduardo Leite apresentou o projeto definitivo de restauro para o Sete. O projeto foi desenvolvido pela Solé Associados, empresa do setor arquitetônico e de engenharias para espaços culturais, visando melhorias na climatização, reparo nas áreas elétricas, cênicas, hidráulicas, estruturais, luminotécnicas e interiores.

Todas as adaptações feitas no projeto serão realizadas a fim de manter a arquitetura do local e trazer novos recursos à população. Como acessibilidade, incluindo plataformas e rampas de acesso ao palco, camarins adaptados e acesso aos camarotes que não faziam parte da estrutura do local. Assim, o teatro conta com a possibilidade de trazer artistas e espectadores cadeirantes ou com mobilidades reduzidas para apreciar os espetáculos e participar de ensaios.

No momento, a fiscal do Projeto de Restauro, Paulina von Laer, diz que a documentação do projeto, após ser encaminhada à Diretoria do PAC – Cidades Históricas, retornou necessitando de algumas mudanças, no início de agosto os documentos deveriam ser novamente encaminhados. Paulina afirma que quanto antes as planilhas retornarem a Pelotas com a aprovação para início da obra, as reformas poderão iniciar. A previsão da obra de restauro do Sete é de 18 a 24 meses.

E a cultura local?

Tombado pelo Iphan em 1972, o Theatro Sete de Abril representa não só um ícone histórico da cidade de Pelotas como também um instrumento que transmite cultura para a população, engrandecendo as práticas teatrais. Muitos artistas pelotenses iniciaram suas carreiras no ramo das artes cênicas a partir do palco do Sete. Como ressalta Teci Pereira, ator há 22 anos, “a primeira vez que pisei neste palco foi o dia em que realmente me senti um artista”.

O Secretário de Cultura, Giorgio Ronna, afirma que, apesar do Theatro ser um equipamento cultural de grande importância, com o seu fechamento, a população pelotense teve a possibilidade de conhecer o teatro de rua, prática até então pouco utilizada em meio a cultura da Princesa do Sul. Um exemplo disso foi o 1º Festival de Teatro de Rua, que ocorreu em outubro de 2015, financiado pela Prefeitura de Pelotas.

Outra ação que a Secretária de Cultura propõe como uma alternativa ao Sete fechado é a equipagem do auditório do Colégio Municipal Pelotense. Em 2016, Pelotas passou por uma consulta com o Conselho Regional de Desenvolvimento da Região Sul (COREDE) em que foi decidido a equipagem do auditório, afim de garantir as companhias de teatro um espaço para ensaios e apresentações. Uma das ideias da Secult é a criação de um Festival Municipal de Teatro Escolar.

Giorgio Ronna conclui que um meio importante para viabilizar projetos culturais em Pelotas é através dos editais propostos pela Secult. O edital do Procultura para o segundo semestre deste ano foi aberto em 17 de agosto, as inscrições podem ser feitas até o dia 25 de setembro pelo link pelotas.com.br/procultura.

*Notícia produzida para a disciplina de Produção da Notícia especial para o Em Pauta

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