Religião e comunidade: como pessoas transformaram terreiras em instituições eméritas reconhecidas

Saiba a história das três instituições eméritas com base em religiões de matrizes africanas que começaram apenas com um instinto de empatia e mudança

Por Maria Clara Sousa / Agência Em Pauta

Templo Escola de Umbanda Farol de Lei recebe honra de Instituição Emérita. Créditos: Facebook T.E.U Farol de Lei

Indicados pela vereadora Cristina Oliveira, do Partido Democrático Trabalhista (PDT) na sessão solene alusiva de 211 anos da cidade de Pelotas, o Templo Escola de Umbanda Farol de Lei recebeu o título de Instituição Emérita. Atualmente, apenas três organizações que possuem religião de matrizes africanas como base já receberam essa homenagem. “Vamos tentar ajudar as pessoas” diz Maurício D’Ogum, pai de santo do Farol de Lei

A Mãe Adri D’Iansã e Pai Maurício D’Ogum começaram seu próprio terreiro em 2020 por um chamado espiritual, Maurício conta que fugiu o máximo que pode, mas ao perceber as terreiras fechando no meio da pandemia, ele sabia que a hora tinha chegado. O T.E.U começou como um projeto e a ideia era ajudar o máximo de pessoas possível, as giras eram feitas de forma online e existia um dia específico para o tratamento de Magia Divina (ajuda espiritual).

Uma das primeiras casas que abrigou o Templo Escola de Umbanda Farol de Lei. Foto por: Maria Clara Morais Sousa

Quase um ano após a abertura do Farol de Lei, a mãe Adri começa o Projeto Juraci com distribuição de cestas básicas para famílias de baixa renda e roupa para quilombos da cidade. E, após a pandemia começar a flexibilizar, Adri iniciou com a ideia de levar comida para as pessoas em situação de rua na localidade da Praça Pedro Osório, porém ela percebeu que muitos desses já estavam assistidos, então ela levou o seu Café com Axé para o Pronto Socorro.

“Boa parte de quem está no hospital é por causalidades” ela afirma “na pressa é difícil lembrar de pegar comida ou até carteira”, dessa forma, o terreiro oferece um café quentinho, pão com queijo e presunto como forma de assistência.

Mãe Adri D’Iansã em gira de atendimento. Foto: Divulgação/Facebook

Atualmente o T.E.U possui sete turmas de teologia, duas de Magia Divina, o segundo encontro das Mulheres Sagradas planejado e participa do Conselho Municipal do Povo do Terreiro na parte da Comissão da Educação. “A ideia é virar um Instituto” almeja Maurício, que sempre teve como motivação levar conhecimento para os que procuram.

A esquina de Axé e Manifestações Populares

Um pouco antes, na sessão solene de Pelotas do ano passado (2022), quem recebeu essa homenagem era a Associação Municipal de Umbanda, Kimbanda e Cultos Afros Brasileiro (AMUKCAB) concedida pelo vereador Paulo César Coitinho dos Santos.

Placa da Esquina de Axé e Manifestações Populares. Foto por: Rodrigo Chagas

A associação foi responsável pelo pedido da tão famosa “Esquina do Axé e das Manifestações Populares” com a justificativa de ter um espaço para realizar campanhas sociais e outras atividades. O local foi rebatizado em janeiro do mesmo ano e contou com a presença da prefeita Paula Mascarenhas.

Na época, Daiana Barros, presidente da associação, disse “Para algumas pessoas é só uma placa, mas não é só isso, pois nela está escrito que na esquina do Mercado Central, junto à Prefeitura de Pelotas, temos o reconhecimento de que existe nesta cidade um espaço para que as pessoas possam dizer: vamos dar as mãos, vamos olhar para o lado, vamos trazer o nosso Axé e as nossas vozes, mas sempre com respeito de entender os direitos e os deveres que temos”.

“Religião inclusiva, cheia de empatia, que abraça, que aconchega, sabe?” profere Gisa Elena, Ialorixá do CBTT

A Comunidade Beneficente Tradicional de Terreiro Caboclo Rompe Ilê Axé de Xangô e Oxalá (CBTT) foi a precursora dessa consagração. Em 2019, a instituição foi reconhecida como emérita pela vereadora Daiane Dias.

São várias atividades realizadas no terreiro como: atendimento médico, aulas de reforço, curso de costura, distribuição de comida, oficinas de reaproveitamento de alimentos, aulas musicais e aulas de capoeira. Mesmo assim, Gisa Elena diz “Eu não cheguei em nem metade do que eu quero fazer”.

Livros escolares usados nas aulas de reforço do CBTT. Foto por: Maria Clara Morais Sousa

Muitos dos médicos e terapeutas que atendem são amigos da mulher e oferecem atendimento gratuito. As aulas de costura são para garantir a renda de mulheres e tirar meninas da rua. Já as aulas de reforço, foram o marco inicial da trajetória da comunidade e são administradas pela mesma que cuida da entidade.

Gisa afirma ter uma visão diferente de terreiro, ela afirma que “Se nosso entorno, nosso bairro está bem, nosso terreiro está fortalecido”. Assim, começa olhando para a questão social também, “para as pessoas verem que uma casa de religião de matriz africana faz e pode fazer pela e para a comunidade”.

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