Redeiras: como a moda sustentável feita por mulheres impacta a comunidade pelotense

Ressignificando escamas de peixe e redes de pesca que seriam queimadas, descartadas ou enterradas na areia, o coletivo Rendeiras defende o poder da moda ecológica.

Bolsa feita com rede de pescar camarão, descartada pelo pescador, recortada em fio e trabalhada no tear manual

por Gabriella Militão Cazarotti/Em Pauta

 

Um grupo de dez artesãs da Colônia de Pescadores São Pedro Z3 – RS, viu no lixo o que apenas o olhar atento da arte pode ver, a oportunidade de transformá-lo em acessórios de moda únicos. Assim nasce o Rendeiras.

A formação do grupo contou com orientação do Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Sul (Sebrae/RS), e desde 2008 novas coleções são lançadas em parceria com designers de todas as regiões do Brasil.

Nem sempre o artesanato fez parte da vida dessas mulheres. Diva Francisca, que participa do Redeiras desde o princípio, conta seu processo de aprendizagem com as outras artesãs: “eu aprendi o tear com a Angela e agora eu faço bolsas no tear. No começo foi difícil, mas agora eu já trabalho melhor”. Anos de experiência e parceria se transmitem nas confecções.

O processo de reciclagem

Para chegar no produto final, o material reciclado passa por várias pessoas. O projeto emprega cerca de 25 famílias da região, que realizam essas etapas, gerando oportunidade e renda no ramo da reciclagem.

A rede de pescar camarão é utilizada pelo pescador em torno de seis safras.

Quando chegam ao fim de sua vida útil, são recolhidas e entregues às famílias que fazem a limpeza do conteúdo em um procedimento minucioso.

O material passa por uma triagem onde se descarta as partes inutilizadas, seguido pela higienização e diversas lavagens. Após, é cortado e transformado em “fios” para a tecelagem.

As escamas passam por um processo parecido: a limpeza do conteúdo é feita em um procedimento demorado: as escamas são lavadas com sabão em pó e amaciante, e colocadas de molho diversas vezes.

Inovação e criatividade

O artesanato feito com escamas de peixe não é novidade, mas o Redeiras aprimorou técnicas de confecção e aprendeu a cortar e mudar o formato da matéria prima, oferecendo um produto diferente ao mercado.

Rosani Schiller conta o diferencial em relação às outras biojoias: “como nós usamos a escama da corvina, que é mais dura e resistente, nós cortamos e mudamos os formatos para redonda, vazada, quadrada ou retangular”.

O grupo acredita que a moda sustentável vai além de garrafas plásticas. À reciclagem deve ganhar novas versões e se atualizar junto com as tendências de moda.

Biojoia feita com prata e escamas de peixe recortadas e lixadas manualmente

De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), apenas 13% dos resíduos sólidos urbanos vão para a reciclagem, sendo que 30% a 40% são considerados próprios para reaproveitamento. Karine Portela, artesã na empresa, tem consciência sobre o impacto do Redeiras na comunidade.

Antes do projeto, as redes ficavam na beira da praia ou eram queimadas. Agora não mais, antes de jogar fora o pessoal dá pra gente”. Ela acredita que o sucesso do coletivo se dá pelo material inusitado, “É o diferencial do nosso trabalho. O material é diferente. As pessoas ficam impressionadas ao ver o que nós fazemos com as redes que antes ficavam largas nas praias.”

A loja física do Redeiras se localiza na Praça Sete de Julho, 173, Banca 43

Mercado Público de Pelotas, Centro, Pelotas – Rio Grande do Sul. Site: redeiras.com.br

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