Projeto Pinípedes do Sul: a comunidade em prol da vida marinha

Conheça mais dessa ação mantida pela Petrobras que, através da educação ambiental, busca preservar os animais marinhos do litoral do Sul do país

Por Matheus Garcia

Atividades de preservação da vida marinha no Sul do país. Imagem: Divulgação/Projeto Pinípedes do Sul.

Conscientização ambiental. Nada mais é do que a construção de senso crítico em relação aos prejuízos causados pela exploração irregular do meio ambiente pelos seres humanos. E em tempos nos quais a ação do homem vem degradando cada dia mais a biodiversidade do planeta, ações que trabalhem a importância de preservar os ecossistemas para a perpetuação de todas as espécies, inclusive a nossa, são essenciais.

Aqui no Sul do Brasil, por exemplo, existe um projeto que atua há cerca de um ano e meio e visa reduzir as ameaças contra os pinípedes – mamífero marinho que habita o litoral do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Fazem parte da superfamília dos pinípedes as focas, as morsas, os leões, elefantes e lobos-marinhos. A grande maioria deles vive nos oceanos e se alimenta de cefalópodes (polvos e lulas, por exemplo) e peixes. Algumas espécies de pinípedes são ameaçadas pela pesca irregular e pelo lixo marinho. Por isso, a partir das atividades de preservação desses animais, realizadas há 30 anos pelo Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (NEMA), ONG situada na praia do Cassino, surgiu o projeto Pinípedes do Sul.

A ação se mantém através de patrocínio do Programa Petrobras Socioambiental, da Petrobras, e é coordenada pelo ecólogo Sérgio Estima. Uma de suas principais atividades é o monitoramento ambiental dos Refúgios de Vida Silvestre do Molhe Leste, na cidade de São José do Norte, no litoral sul do estado, e da Ilha dos Lobos, em Torres, no litoral norte. Também é feito monitoramento de praia em quase todo o litoral do RS, dividindo-o em duas regiões: a norte – uma faixa de 135 km, que vai da parte norte da Barra de Rio Grande até a Barra da Lagoa do Peixe; e a sul – com extensão de 225 km, que compreende a área sul da Barra de Rio Grande, indo até a Barra do Chuí.

Mas o grande foco do projeto é a educação ambiental dos moradores das cidades costeiras: os pescadores e, principalmente, seus descendentes. Por isso, estão sendo realizadas palestras, exibição de vídeos e atividades psicofísicas e artísticas – como modelagem em argila – para crianças e adolescentes das escolas da rede pública de ensino dos municípios de Rio Grande, São José do Norte, Santa Vitória do Palmar, Torres, Passo de Torres, no RS, e Laguna, em SC.

A equipe de trabalho é formada por um coordenador científico, técnicos e um grupo de educação ambiental, responsável por realizar as atividades nas escolas. A ação também aceita a participação de voluntários, em sua maioria alunos de universidades de todo o país, inclusive cumprindo estágio curricular.

Essa inserção na comunidade é vista pelo projeto como bastante positiva, já que vem fazendo a nova geração entender a realidade enfrentada pelos pais pescadores e a biodiversidade com que eles se deparam no cotidiano de trabalho. Para a coordenadora de comunicação do Pinípedes do Sul, Manuela Soares, o retorno dado pela comunidade para as atividades é uma via de mão dupla. “Com o projeto, contribuímos para a conservação dos ecossistemas marinhos e costeiros do RS e também apresentamos orientações para que as comunidades tradicionais convivam em harmonia com as espécies que encontram no dia a dia”, disse a jornalista.

 

AS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELO PINÍPEDES DO SUL 

Uma das oficinas que está acontecendo neste momento é a de plantio e compostagem com as turmas de ensino fundamental da Escola Ramiz Galvão, em Rio Grande. A composteira foi construída no pátio do colégio e recicla resíduos orgânicos, onde minhocas e microrganismos transformam restos de verduras, frutas e legumes utilizados na merenda escolar em adubo para a própria horta. Até agora, existem seis canteiros, onde foram plantadas pelas crianças, com a ajuda das técnicas do projeto, mudas de couve, rúcula, beterraba, tomate, alface e diversos chás e temperos, que serão para o consumo de todos da escola. “Ações como essa permitem o envolvimento de toda a comunidade escolar diante de uma causa importante, dialogando com os princípios de um ambiente mais saudável e autossustentável”, salientou Kamila Debian, técnica de educação ambiental do Pinípedes do Sul.

O projeto também realiza embarques de observadores de bordo – já foram feitos oito até agora – e desenvolve junto aos pescadores o espaço Sala do Pescador, localizado no Armazém A5 do Porto Histórico de Rio Grande. Essa atividade é fruto de uma parceria firmada entre a ação e a Superintendência do Porto de Rio Grande (SUPRG). Todas as segundas, quartas e sextas-feiras, é montado um ambiente para diálogo e troca de experiências com os pescadores e, também, para a discussão de informações relevantes sobre a conservação dos pinípedes e tartarugas, além das leis vigentes em torno da pesca.

SAIBA COMO PROTEGER OS PINÍPEDES 

Um fato curioso vem acontecendo nos últimos tempos na cidade de Rio Grande: a aparição frequente de leões-marinhos no cais do porto, próximo ao Mercado Público Municipal, tendo bastante interação dos animais com a população. “Eles se deitam e descansam neste local, que eles compreendem como estratégico para sua alimentação”, falou Manuela. Segundo o projeto, essa incidência está cada vez mais comum. Já são sete as espécies de pinípedes que ocorreram no RS. Os que mais surgem são os leões e os lobos-marinhos – aqui, o lobo-marinho-do-sul.

Para a proteção dos animais marinhos e segurança do próprio ser humano, o projeto traz uma série de orientações à população, caso alguém se depare com um pinípede fora d’água:

 

  • Ligue para o NEMA (53 3236-2420) ou para o CRAM-FURG (53 3231-3496) para fazer uma ocorrência. Os profissionais destas instituições são capacitados para lidar com qualquer tipo de situação relacionada a animais marinhos;
  • Mantenha distância: por mais que os animais marinhos aparentem simpatia, eles são mamíferos silvestres e podem ser perigosos;
  • Não alimente: a alimentação destes animais é baseada em peixes que eles mesmos caçam e consomem;
  • Não deixe lixo na praia: os pinípedes e tartarugas podem confundí-lo com comida;
  • Afaste animais domésticos dos pinípedes: este contato pode não ser positivo para ambos.

Mais informações no site www.pinipedesdosul.com.br. O projeto dura até o fim deste ano, quando cumprirá o tempo máximo de dois anos de execução.

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