O homem que fez o Brasil amar Fórmula 1

Bárbara Vencato / Em Pauta

A minissérie Senna, lançada pela Netflix em novembro de 2024, chega com a missão de retratar a trajetória de um dos maiores ídolos do Brasil. Com seis episódios, a produção, criada por Vicente Amorim e dirigida por ele e Júlia Rezende, é inspirada na vida do tricampeão mundial de Fórmula 1, Ayrton Senna. A série se destaca pela intensidade das cenas de corrida e pela atenção aos detalhes técnicos, mas ao transformar Senna em uma figura quase mitológica, acaba deixando de lado aspectos que poderiam torná-la ainda mais rica e interessante, para além da mera idolatria.

O grande trunfo da minissérie é sua produção cuidadosa. As corridas são recriadas com uma combinação de efeitos práticos e digitais que colocam o espectador dentro dos carros, criando uma sensação de imersão única. A experiência é ainda mais potente graças ao trabalho primoroso de mixagem de som, que traz uma sensação de peso e velocidade às cenas. Além disso, o figurino, a direção de arte e a caracterização dos personagens transportam o público para os anos 80 e 90, trazendo um realismo que poucas produções brasileiras conseguiram alcançar no gênero.

Outro ponto positivo é a fidelidade com que os personagens históricos são retratados. Pâmela Tomé faz uma Xuxa impressionante, capturando seus trejeitos e aparência com precisão. Já Gabriel Louchard brilha como Galvão Bueno, evitando a caricatura e conseguindo transmitir o carisma do narrador, essencial para a construção da imagem de Senna como herói nacional.


Porém, ao tentar cobrir toda a carreira de Ayrton, a série acaba não se aprofundando em momentos chave de sua trajetória. O começo de sua carreira é tratado de forma apressada, sem explorar adequadamente as dificuldades que ele enfrentou para chegar à Fórmula 1. As relações pessoais, como o namoro com Adriane Galisteu, também são tratadas de maneira superficial — uma consequência da participação da família Senna na produção, que claramente influenciou a forma como o piloto é retratado.

O maior desafio da minissérie, no entanto, é sua dificuldade em mostrar Ayrton Senna como um ser humano completo. O espírito competitivo do piloto e seus confrontos com Alain Prost e a mídia britânica são apresentados, mas sempre de maneira que reforçam sua imagem de herói injustiçado. Pouco se explora seus erros ou as consequências de sua obsessão pela vitória. Essa abordagem pode agradar aos fãs mais apaixonados, mas para quem busca uma visão mais equilibrada, a narrativa peca por ser rasa.

Senna é, sem dúvida, uma superprodução que eleva o nível das séries brasileiras, com cenas impactantes e uma recriação impressionante dos anos 80 e 90. A fidelidade aos personagens históricos e a qualidade técnica são seus pontos fortes, mas a série opta por uma abordagem que mitifica o piloto, deixando de lado aspectos mais complexos de sua personalidade. Para os fãs de Ayrton Senna, a experiência será emocionante. Para aqueles que conhecem menos sua história, a série funciona como uma ótima introdução, embora com algumas limitações.

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