O fácil acesso na compra de cigarros pode ser um dos fatores que aumenta o uso entre os mais jovens

O aumento no número de jovens fumantes é preocupante. Foto: Gerd Altmann/Pixabay

Por Roberta Muniz

Uma pesquisa do INCA (Instituto Nacional do Câncer), divulgada em 27 de novembro, Dia Nacional de Combate ao Câncer, aponta que apesar da proibição da venda de cigarros a menores de idade no Brasil, os jovens brasileiros com menos de 18 anos têm fácil acesso a eles.

O estudo, publicado no Jornal Brasileiro de Pneumologia, mostra que 86,1% dos fumantes entre 13 e 17 anos que tentaram comprar cigarros nos 30 dias antecedentes à pesquisa, não foram impedidos. Sobre a proporção de sucesso na compra, 82,3% dos jovens entre 13 e 15 anos conseguiram fazê-la sem problemas. Entre os de 16 e 17 anos, o êxito foi de 89,9%.

“Essa é uma situação muito grave, pois o descumprimento da lei que proíbe a venda de cigarros a menores pode ter contribuído para a reversão da tendência histórica de queda na iniciação ao fumo no Brasil. Dados da [pesquisa] PeNSE mostram um aumento na proporção de fumantes entre 13 e 17 anos, de 5,1%, em 2012, para 5,6% em 2015. Essa violação está permitindo que nossos adolescentes se iniciem na dependência à nicotina,” aponta a médica do INCA Tânia Cavalcante, coautora do estudo. 

Alberto* relata que começou a fumar cigarro aos 14 anos, quando um amigo, também menor de idade, lhe ofereceu. O jovem fuma de forma esporádica, mas conta que já comprou cigarros para outras pessoas e que nunca foi impedido ou precisou comprovar ser maior de idade para realizar a compra. “Na quinta-feira passada comprei pra um amigo no posto de gasolina e não me pediram identificação. Vivia comprando pra mãe, pros outros…”, conta.

Ele ainda relata que em uma ocasião, quando tinha 16 anos, comprou além do cigarro, duas cervejas e mesmo em um estabelecimento central e de grande porte, nenhuma identificação lhe foi pedida. E esse é um fato corriqueiro, como conta Rafael Moreira (19), estudante de direito, que em apenas uma ocasião teve seu documento pedido no ato da compra de cigarros. “Sim, sempre comprei sem nenhum problema, inclusive em tabacarias. Até o final do ensino médio eu não fumava todos os dias, mas no fim do terceiro ano virou um hábito”, diz Rafael.

O uso de cigarros entre os jovens é um problema que vem crescendo, mudando a tendência que apontava a queda no número de jovens fumantes e o fácil acesso na compra, aliado ao preço baixo pode ser um dos fatores que aumenta a quantidade de menores fumantes. A falta de fiscalização sobre a lei que proíbe a venda e falta de conhecimentos acerca da mesma, também podem ter contribuído para que os estabelecimentos não peçam a identificação do comprador.

“Eu fumei com 16 anos junto com um amigo da mesma idade, o cigarro era dele. Então, até fazer 18 anos nem fumava com tanta frequência, agora com 19, eu fumo quase todos os dias”, relata Danielle, estudante da UFPel. Além de Danielle, muitos dos outros jovens fumantes que deram o seu depoimento, alegaram que um amigo foi a fonte da influência para o uso do cigarro.

Estefâne Ferreira (23), estudante, relata que possivelmente não teria começado a fumar se não fosse por amigos mais velhos. “Comecei a fumar com 13 anos, porque meus amigos eram mais velhos, então comecei direto num cigarro bem forte. Fumei até os 17, parei por um tempo e voltei com 20”, conta ela que atualmente está há um ano sem fumar. Ela ainda acrescenta: “Talvez não tivesse fumado, pois na minha casa ninguém fumava. Eu cheguei a comprar cigarros uma época, mas pegava muito de amigos meus até os 18”.

“Bom, eu quero continuar sem, pois eu danço e me prejudica demais, morro de medo das recaídas, mas às vezes dá vontade. Eu só não fumo porque eu prometi pra mim, pro meu filho e pro meu namorado que eu não precisava e não preciso disso. Isso que me dá forças”, finaliza Estefâne sobre continuar sem os cigarros em sua vida.

*Nome alterado a pedido do entrevistado menor de idade.

Comentários

comments

Você pode gostar...