Luta pela igualdade em solo gaúcho: o racismo no Rio Grande do Sul

Por Monique Heemann

 

Imagem: Divulgação

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O funcionário público Gilberto Gomes, 67, conhece racismo muito além das definições dos dicionários. Entre sorrisos orgulhosos, conta que foi um dos primeiros negros a frequentar o Café Aquários, tradicional ponto de Pelotas, no final da década de 1960. “Ninguém nunca disse que não deveria entrar, então continuei indo e continuo até hoje”, salienta.

A discriminação racial, que tem sido pauta recorrente não só no Estado, traz à tona uma pergunta que interessa particularmente aos gaúchos: será que lidamos com o racismo da mesma forma que o resto do país?

Gomes tinha amigos de todas as classes e etnias no bairro onde morava, em Pelotas. Para ele, a maior evidência de discriminação não estava nas relações próximas, no bairro, na escola; estava, principalmente, nos clubes da cidade, que eram divididos entre brancos e negros. “Nos anos 1970, ao tomar posse, o diretor de um clube de futebol de Pelotas resolveu acabar com a separação entre as festas de brancos e negros. Então, reuniu os dois grupos na mesma ocasião, mas colocou uma corda no meio”, lembra.

O tom despreocupado dá leveza às declarações de Gomes, sentado ao lado do amigo Félix Barbosa. Mesmo quando o assunto volta a ficar sério, o semblante de ambos permanece tranquilo, mas não abranda. “O problema do racismo no Brasil é ser muito dissimulado”, conclui Barbosa.

Ele tem razão. Um estudo feito pela Universidade de São Paulo (USP) e comandado pela psicóloga Sylvia Nunes aponta que a discriminação no Brasil está cada vez mais velada, mas ainda existe e é persistente.

O sambista e estudioso do assunto Jarbas Lazzari acredita que o Rio Grande do Sul possui peculiaridades na forma de lidar com o racismo. “Eu não diria que somos mais racistas”, conclui. Mas concorda que o esteriótipo do gaúcho fortemente ligado à imagem do imigrante europeu permanece. “No Estado, a história dos negros e o racismo têm elementos próprios”, destaca.

Para o historiador e professor da UFPel, Adhemar Lourenço, o Rio Grande do Sul lida bem com o problema. Segundo ele, os gaúchos pensam suas posições – como política e religião – como questões pessoais, não discutíveis no âmbito público. “Os gaúchos sabem respeitar as diferenças”, afirma.

Gilberto comenta que hoje pode ir ao lugar que quiser. Dele e do amigo Barbosa o preconceito não arranca a alegria. Mas ainda há muito o que conquistar.

 

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