Look novo é pré-treino?
Como a cultura do consumismo afetou o mundo do esporte
Laís Zanella/ Da Hora

Influencers fitness defendem que ter roupas novas aumenta a motivação? Imagens captadas dos perfis púbicos das influencers
Uma tendência recente no TikTok brasileiro tem chamado atenção: influenciadoras fitness mostram roupas novas, algumas vezes ainda na embalagem de envio, com frases sugerindo que vestir um “look novo” aumentaria a motivação para a prática de exercícios físicos.
O pré-treino, tradicionalmente, é um tipo de suplemento desenvolvido para ser consumido antes de uma atividade física, geralmente com cafeína, beta alanina ou outras substâncias que aumentam energia corporal e circulação sanguínea. É usado para melhorar a eficiência de um treino ou para trazer disposição a quem pratica.
Nos incontáveis artigos sobre como a magreza está “de volta”, publicados nos últimos anos, vemos os autores creditando a renovação neste padrão de beleza à volta do uso de remédios e sua explosão de mercado, às dezenas de influenciadoras removendo implantes de silicone e o procedimento ‘BBL’, à volta das dietas extremas apelidadas de detoxes e cuttings e ao ressurgimento das tendências de moda dos anos 2000. No entanto, a nova tendência é diferente da de 25 anos atrás, a magreza extrema e não saudável do ‘heroine chic’ (em referência à droga) foi substituída por um ideal de corpo tonificado, definido por músculos aparentes e um percentual de gordura reduzido. A busca pelo corpo ideal não é uma novidade, mas a estética dominante se transforma com o tempo.
A ideia de que estamos todas buscando uma aparência homogênica não é nova, a escritora Jia Tolentino criou o termo “Instagram Face” em 2019, em um texto para o New Yorker e Olivia Petter retoma o assunto em abril de 2024 para o Independent UK. Mas, há uma diferença fundamental entre um rosto ‘instagramável’ e um corpo musculoso com baixa gordura: enquanto o primeiro pode ser alcançado por intervenções estéticas e cosméticos, o segundo exige tempo livre para treinos intensos, uma dieta rigorosamente planejada e uma rotina que permita essa disciplina.
Com a obsessão por corpos magros e definidos, cresce também o mercado de produtos que prometem auxiliar nessa busca. Suplementos como proteínas, estimulantes, termogênicos, creatina e vitaminas se tornaram itens comuns no cotidiano de quem treina. Além disso, há um aumento na procura por equipamentos específicos, como calçados, relógios, cintos, straps e roupas esportivas – produtos que muitas vezes são vendidos como incentivos à disciplina e aos resultados.
Os números refletem isso. Nos últimos 5 anos as buscas por “Creatina”, um suplemento usado para aumento de força e resistência, subiram em 460% segundo o Google Trens. As buscas por “Pré-treino”, 564%. Por “Roupa de treino” 207%. No ano passado, a Track & Field (T&F) teve um crescimento de 45% nas vendas de roupas e acessórios para corrida e de 60% na comercialização de alimentos voltados para praticantes de esportes. Segundo a Scanntech, as vendas de suplementos alimentares cresceram significativamente em 2024, registrando um aumento de 39,3% no faturamento e 17,8% no volume de vendas até julho.
Após a pandemia de Covid-19, em 2020, houve um aumento significativo na adesão a atividades físicas, impulsionado por uma maior preocupação com a saúde e mais tempo disponível durante o isolamento. Não há dúvidas de que essa popularização dos esportes traz benefícios – afinal, mais pessoas se exercitando significa menos consumo de remédios controlados e menos sobrecarga nos sistemas de saúde.
No entanto, surge uma questão: muitas vezes, os gastos com esses produtos são justificados como um investimento em saúde e bem-estar. Mas quanto dinheiro deveríamos realmente precisar gastar para nos manter saudáveis? E quão glorificado e romantizado deveria ser esse consumo?