Jornalista do Al Jazeera é assassinada durante confronto na Cisjordânia

Shireen Akleh foi baleada na cabeça enquanto cobria o conflito em um campo de refugiados em Jenin

Por Rafaela Stark / Em Pauta

Jornalista palestina Shireen Abu Akleh assassinada por forças de segurança de Israel

No último dia 11, a jornalista palestina Shireen Abu Akleh morreu após ser atingida na cabeça por um tiro. O disparo teria vindo das forças israelenses, segundo outros repórteres presentes no local. A confirmação da morte veio do Ministério da Saúde da Palestina e do próprio Al Jazeera.

A tensão entre as duas nações do Oriente Médio dura mais de sete décadas, desde a partilha de terras realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1948. Shireen foi assassinada em mais um dos inúmeros confrontos israelo-palestino. De acordo com o canal de notícias, o disparo foi feito pelos soldados do exército israelense, durante uma operação em um campo de refugiados em Jenin. Já o primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett, afirma que o tiro veio de armas palestinas.

Funcionários da Agence France-Presse, que estavam no local, declaram que não havia palestinos armados na área, que a repórter vestia um colete de imprensa quando foi atingida na cabeça, logo após ver um de seus colegas se ferir. Apesar das fortes acusações, o exército israelita reitera que não atacou jornalistas.

Mas por que atos violentos como esse continuam acontecendo?

A criação do Estado de Israel foi realizada a custa de territórios palestinos, segundo os relatores independentes do Conselho de Direitos Humanos da ONU, Michael Lynk e Balakrishnan Rajagopal, aproximadamente 700 mil colonos israelenses habitam assentamentos ilegais na Jerusalém Oriental e em toda Cisjordânia.

Ativista palestina Hyatt Omar

A ativista da causa palestina, Hyatt Omar, comenta que ainda no ano de 2022, a ONU não toma nenhuma medida a respeito das práticas ilegais no Oriente Médio. Ela também frisa que a organização “não reconhece o território pós 1967 porque isso envolve uma ocupação ilegal, a mesma que parece ser esquecida por muitos”, além dos mais de 6 milhões de refugiados que não possuem o direito de voltar as terras que pertenceram a suas famílias.

Temos palestinos dentro de seu próprio território que não possuem liberdade nem sequer para andar em estradas específicas ou livre locomoção, sendo obrigados a parar em “postos de controle militar”, também conhecidos como checkpoints, que não deveriam estar em território Palestino. ” – Hyatt Omar.

Além disso, o uso de forças é desproporcional, enquanto Israel usufrui de um arsenal com tecnologia de ponta cedido pelos Estados Unidos, a Palestina possui armamentos obsoletos, praticamente inúteis em relação aos rivais. Em maio de 2021, durante mais um conflito, sete israelenses foram mortos, contra mais de 100 vítimas palestinas e 700 feridos na cidade de Gaza.

Não obstante os confrontos letais, Israel tem grande controle de recursos essenciais para o Estado. O professor de história Ricardo Machado ressalta que “os israelenses detêm controle sobre recursos naturais, até sobre a água” e que “não parecem estar dispostos a ceder essa posse aos árabes”. O historiador também chama a atenção para a cidade de Jerusalém, que segundo ele, não será cedida “sob nenhuma hipótese, pelo Estado de Israel”.

A guerra que se arrasta a 74 anos vem ceifando inúmeras vidas, há um ano, durante bombardeios na Faixa de Gaza, mais de 60 crianças perderam suas vidas. Da mesma maneira que Shireen, jovens, adultos e idosos têm tido seus ciclos interrompidos pela brutalidade dos combates. Durante o funeral da jornalista, que foi atendido por milhares de pessoas, a polícia de Israel agrediu fisicamente os indivíduos que carregavam o caixão, além de utilizarem bombas de efeito moral na multidão. Vale destacar que o cortejo fúnebre foi realizado em Jerusalém Oriental, território palestino.

População protesta contra assassinato de jornalista

Apesar dos constantes ataques e desrespeitos cometidos, engana-se quem pensa que a situação enfraquece a luta palestina, Hyatt explica sua visão sobre seus semelhantes:

Eu não vejo o povo palestino como um povo que precisa de salvação, eu vejo o povo palestino como o povo mais forte que tem, que resiste à uma ocupação militar e ao mesmo tempo ainda encontra motivos para sorrir, e acho que isso acaba sendo ainda mais impactante. ”

Mesmo depois de quase 30 anos dos Acordos de Paz de Oslo, mediados durante o governo Clinton após a Primeira Intifada, os conflitos não diminuíram, pelo contrário, apenas se intensificaram. O professor de Geografia Cleber Damasceno acredita que essa situação “vai perdurar por muito tempo ainda”, visto que os acordos entre as nações não obtiveram efeitos significativos a longo prazo.

Embora o cenário não apresente evidentes melhoras, considerando os constantes ataques a sangue frio aos palestinos, a luta se intensifica a cada dia. Atos pró-palestina e protestos em apoio acontecem em diversos lugares do mundo, como em Toronto, no Canadá, onde Hyatt mora e compartilha os eventos através de seu perfil no Instagram. Ela enfatiza: Seguiremos lutando de cabeça erguida para melhorar nossa situação e passar isso adiante para as futuras gerações, sempre lutando por uma Palestina livre.

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