Gauchão termina fase inicial e dupla Bra-Pel decepciona

Brasil se recuperou sob o comando de Gustavo Papa, mas fez campanha decepcionante no Gauchão 2019. Imagem: Luís Artur Janes Silva

Por Luís Artur Janes Silva

Na última quarta-feira (20), tivemos o término da primeira fase do Gauchão 2019. Espremido antes do início dos campeonatos nacionais, as quartas de final do Estadual já começaram neste sábado (23). Mas o foco desta reportagem estará concentrado no balanço de tudo o que aconteceu no estágio inicial do certame e suas consequências para o futuro da competição.

OS MELHORES TIMES DO CAMPEONATO (GRÊMIO, INTER, CAXIAS, SÃO LUIZ)

No bloco dos quatro melhores da primeira fase do Gauchão, vimos a confirmação do poderio da dupla Gre-Nal. O Grêmio, mesmo sem utilizar o time titular  em todos os jogos, sobrou da turma e classificou-se com extrema tranquilidade, garantindo o simbólico título da fase inicial.

O Tricolor venceu nove das onze partidas que disputou, empatando as outras duas. No total, o Grêmio não perdeu os últimos 16 jogos de Gauchão dos quais  participou, obtendo 13 vitórias. Mais impressionante que isso, anotou 46 gols nestas partidas. A defesa, quase intransponível, sofreu um gol no Gauchão 2109, na partida contra o Aimoré.

Dispondo de um grupo de jogadores bastante numeroso, o Tricolor teve vários destaques no Gauchão, que deram conta do recado quando atuaram. Assim, Éverton, Juninho Capixaba, Marinho, Pepê, Matheus Anderson e Jean Pyerre mostraram sua qualidade quando acionados. Mas, mesmo que o time do Grêmio sobre no Estadual, ainda restam algumas dúvidas, que residem sobretudo na real capacidade de Luan, que ainda não atua no nível que se espera dele. Outra posição que causa calafrios na torcida é sobre quem será o dono da camisa um, pois nem Paulo Victor e muito menos Júlio César inspiraram grande confiança.

Enquanto isso, o Inter desempenhou de forma satisfatória o papel de segunda força do campeonato. Mesmo com o início claudicante, no qual perdeu duas das quatro primeiras partidas que disputou, o Colorado apostou na continuidade do trabalho que rendeu bons frutos no Brasileirão de 2019 e iniciou uma grande recuperação a partir da 5ª rodada, engrenando cinco vitórias consecutivas. Esta série encerrou com a derrota no polêmico Gre-Nal dos times reservas.

Embalado pela boa campanha na Libertadores e capitaneado por Nico López, o Inter não é o grande favorito no Gauchão, mas pode surpreender o Grêmio, pois no quesito “camisa”, não está atrás do Tricolor.

Enquanto isso, o Caxias mostrou ser a grande força do interior do estado neste Gauchão. Treinado pelo ex-volante Pingo (ex-Grêmio), o Grená da Serra mostrou suas credenciais na rodada inicial do campeonato, quando aplicou sonoros 3×0 no Brasil, em pleno Bento Freitas. Comandado por Rafael Gava (6 gols no certame), e secundado por Foguinho e Júnior Alves, o Caxias cresceu de produção no momento certo da competição, justamente na parte final da primeira fase, quando emendou 4 jogos sem perder. Neste período, o Grená goleou o Juventude, no clássico de Caixas. Atuando no Alfredo Jaconi, o Caxias aplicou três a zero no maior rival.

O São Luiz fechou o grupo dos quatro melhores da primeira fase do Gauchão. A equipe de Ijuí passou por Juventude, Brasil, Pelotas e Novo Hamburgo, times tradicionais do interior e garantiu vantagem de atuar em casa no jogo decisivo das quartas de final do campeonato. No início da competição, a equipe comandada por Paulo Henrique Marques, teve um aproveitamento ruim, porque teve que enfrentar a dupla Gre-Nal na primeira e na quarta rodada do campeonato. Depois disto, teve uma série de cinco vitórias em seis jogos, incluindo triunfos sobre o Juventude (2×3) e Brasil (1×4), fora de casa. Comandado pelo centroavante Marcão, a equipe do norte do estado quer ser a grande surpresa do Gauchão.

QUEREM SURPREENDER NAS QUARTAS (SÃO JOSÉ, AIMORÉ, NOVO HAMBURGO, JUVENTUDE)

O segundo bloco de classificados à fase decisiva do Gauchão 2019, abre com o São José de Porto Alegre, o famoso Zequinha, semifinalista no ano passado e presença constante entre os melhores do Estadual, desde o ano de 2016.

Ao contrário das outras temporadas, o Zequinha fez uma campanha mediana, com cinco vitórias e igual número de derrotas na fase inicial do campeonato. Melhor em casa, ainda assim, o São José fez a diferença fora de seus domínios, quando bateu o Juventude e o rebaixado Avenida. Seu grande trunfo é a continuidade do trabalho do técnico Rafael Jacques e os gols do artilheiro Márcio Jonathan.

O Aimoré, recém-promovido à Divisão Especial, foi outra equipe que confiou no trabalho de um comandante durante toda a competição, no caso, o técnico Gelson Conte. Invicto nas quatro primeiras rodadas, o Aimoré foi o time que “comeu” os adversários pelas beiradas, mostrando alguma força fora de casa, principalmente ao vencer o Xavante, em pleno Bento Freitas (1×3). Além disso, o Índio Capilé foi o único time que vazou a defesa do Grêmio, ainda na segunda rodada do certame, no empate em 1×1. Contando com um grupo de jogadores equilibrado, o Aimoré quer chegar às semifinais, superando o Caxias e confirmar uma campanha que tem tudo para ser histórica.

O Novo Hamburgo, campeão estadual de 2017 e quase rebaixado no ano passado, quer recuperar parte das credenciais obtidas no campeonato retrasado. Comandado por Bolívar, ex-jogador do Inter, vencedor da Libertadores em 2006, o Novo Hamburgo garantiu a vaga com grande campanha no seu estádio. Foram quatro vitórias, que fizeram a torcida esquecer o susto inicial, uma goleada sofrida diante do Grêmio (0x4). Os resultados fracos fora de casa, fizeram com que o time do Vale do Rio dos Sinos tivesse que enfrentar o Inter nas quartas de final. Mas a torcida anilada acredita na façanha da classificação e deposita suas fichas no paraguaio Héctor Bustamante, artilheiro da equipe.

O Juventude desempenhará neste ano, o papel do intruso entre os classificados às quartas de final do Gauchão. Diferente de outras temporadas, quando não raras vezes, era o melhor time do interior. Rebaixado no Brasileirão da Serie B de 2018, não participou da fase decisiva do Estadual no ano passado. Em 2019, fez uma campanha muito fraca em casa durante o Gauchão. Apenas uma vitória, conquistada na última rodada, diante do rebaixado Avenida. Foi com este triunfo que o time garantiu sua vaga nas quartas de final do campeonato. Antes disso, havia sido derrotado 4 vezes nos seus domínios, destacando-se os tropeços diante do Inter (1×2) e no clássico Ca-Ju (0x3). A esperança da torcida é que a tardia mudança de técnico (Marquinhos Santos no lugar de Luiz Carlos Winck) influencie a moral do time, nos duelos contra o quase invencível Grêmio.

DESPEDIDAS DA DIVISÃO ESPECIAL (AVENIDA E VERANÓPOLIS)

Decepção total. Assim, podemos definir a participação dos dois times que acabaram rebaixados à Divisão de Acesso, neste Gauchão de 2019. O Avenida, semifinalista de 2018, não conseguiu repetir a campanha positiva do ano passado e passa pelo seu quarto rebaixamento nos últimos dez estaduais (2010, 2012, 2015 e 2019). O início da campanha, no qual o time fez seis pontos em cinco jogos, fazia crer que o time teria dificuldades, mas poderia permanecer na Divisão Especial. Esta esperança era reforçada pela classificação do Avenida à segunda fase da Copa do Brasil, obtida diante do Guarani de Campinas. Mas o time caiu muito de rendimento após a sua única vitória no Gauchão, dois a um, sobre o Pelotas. Depois disto, goleada impiedosa sofrida perante o Grêmio, desclassificação dramática na Copa do Brasil diante do Corinthians e uma série de seis derrotas consecutivas na parte final da primeira fase do Gauchão. Assim, o vencedor invicto da Copa Wianey Carlet, despediu-se da Divisão Especial. Entre os atletas, o ídolo Alexandre ficou devendo e as principais contratações (Marcos Paraná e Cléverson) fracassaram

Por sua vez, o Veranópolis, que vinha participando de todos os Gauchões desde 1994, fez uma campanha decepcionante e também disputará o Acesso, em 2020. Tendo utilizado dois técnicos durante o Estadual (Sananduva e Hélio Vieira), o pentacolor da Serra não conseguiu vencer na competição, obtendo míseros cinco empates. Desde 2004, que não tínhamos um rebaixado sem vitórias no Gauchão. Único time que perdeu todos os jogos que disputou fora de casa, o Veranópolis só perdeu uma partida no Antônio David Farina. Criticado por ser um clube que se acostumou a disputar apenas o Gauchão, o Veranópolis terá que lutar muito pra voltar ao patamar de outros tempos, principalmente, se levarmos em conta o pequeno tamanho populacional da Terra da Longevidade e a influência que as duplas Gre-Nal e Ca-Ju possuem sobre os aficionados pelo futebol desta comunidade.

ZONA DO LIMBO (OU DA VERGONHA PARA O FUTEBOL PELOTENSE (PELOTAS E BRASIL)

Lamentável. Assim pode ser definida a campanha dos times de Pelotas neste Gauchão. Pela tradição que possuem e pelo ótimo momento do Xavante em competições nacionais, o rendimento no Estadual deste ano foi abaixo de qualquer crítica.

O Pelotas iniciou a competição como um time bem organizado pelo técnico Gavilán. Soube se defender bem durante boa parte do campeonato, mas foi falho no ataque, que não teve uma boa meia cancha para municiá-lo. Alternou poucos bons momentos, caso da vitória contra o Inter, com vários deslizes. Por exemplo, o Pelotas foi o único time que perdeu para o rebaixado Avenida e nas quatro últimas rodadas chegou ao seu limite e fez apenas um ponto na sequência de jogos, mesmo considerando que a maioria dos times que enfrentou na reta final eram melhores. Assim pode ser definida a trajetória do Lobo na competição. Um time sem criatividade, que cedo bateu no teto em relação ao limite que podia apresentar. Afinal, o que esperar de uma equipe que tinha como grande virtude, a bola parada.

Gavilán, que iniciou bem, também atrapalhou-se durante a trajetória áureo-cerúlea no Gauchão, quando não conseguiu fazer a meia cancha jogar em alto nível e, também, quando insistiu na horrorosa legião de jogadores paraguaios, que não mereciam vestir o manto do Lobo. Giménez, El Ogro e Júlio Santa Cruz tiveram atuações constrangedoras. No rescaldo, sobrou apenas o miolo de zaga, com os eficientes Dão e Felipe Chaves, a contenção no meio campo de Makelele, a versatilidade de Germano e a força e velocidade de Jarro no ataque, subutilizada. Em suma, muito pouco para um time que, mesmo que tenha ficado várias rodadas na Zona de Classificação, ainda assim, não pode lamentar a desclassificação.

Já o Brasil pagou pela pré-temporada insuficiente, que fez o time iniciar a competição muito abaixo dos adversários na parte física. Além disso, muitas contratações não corresponderam, mostrando-se pouco afeitos ao futebol gaúcho, ou seja, para alguns faltou bola, para outros faltou fibra e para alguns faltaram ambos. A contratação de Paulo Roberto Santos foi erro crasso. Sem conhecer o futebol gaúcho, o time orientado por ele, parecia estar “desfilando” em campo. Outro fator preocupante foi a derrocada defensiva do Xavante. Apenas Pará se salvou entre os laterais, todos os outros jogadores testados nesta posição alternaram muito e assustaram a torcida. O miolo da defesa também preocupou. Nirley e Leandro Camilo atuaram abaixo da média, Héverton não foi muito melhor e Bruno Aguiar foi de alguma forma consistente, mas pouco atuou. Já o goleiro Carlos Eduardo foi irregular, monstruoso contra Grêmio, Inter e Pelotas, mas cometeu falhas gritantes contra adversários “menores”. Em suma, não passou confiança.

Entre os volantes, Souza fez um arroz com feijão honesto, mas Washington voltou mal, Boquita chegou fora de forma e Leandro Leite tem uma história gigantesca, mas o Brasil precisa de uma camisa 5 mais vigoroso. Na parte ofensiva, Branquinho, Douglas Baggio, Daniel Cruz e Bruno Paulo, que terminou a competição na ascendente, tiveram seus bons momentos, mas não garantiram poder de ataque devastador ao time. Diogo Oliveira parece sentir o peso da idade, mostrando que sabe jogar bola, mas teve poucos momentos em que conseguiu mostrar isso.

Enquanto isso, a camisa 9 continua sendo um problema no Xavante. Michel faz os seus gols, mas quando recua para buscar jogo e ajudar na armação irrita o torcedor. Falta carisma para ele. Quanto a Luiz Eduardo, melhor nem comentar. Um centroavante que não faz gols desde janeiro do ano passado não mostra credenciais para permanecer no elenco rubro-negro.

Assim, o Brasil foi caminhando durante boa parte do campeonato sob a ameaça do rebaixamento. A primeira vitória, conquistada fora de casa contra o Zequinha (1×3), deu esperanças de que o sofrimento para escapar da degola seria menos intenso, mas o vexame diante do São Luiz (1×4), em pleno Bento Freitas, tornou o clássico Bra-Pel ainda mais tenso. Depois do triunfo no clássico (2×1), que garantiu a permanência na Divisão Especial, o empate contra o rebaixado Veranópolis, escancarou as deficiências do time rubro-negro, que também não venceu o Avenida, o outro clube que disputará o Acesso no ano que vem.

QUARTAS DE FINAL – RODADA DE IDA

Neste final de semana, tivemos os jogos de ida das quartas de final do Gauchão 2019. No sábado (23), no estádio Passo D’ Areia, o Zequinha não conseguiu suplantar o São Luiz, no primeiro embate entre os dois times nesta fase decisiva do Estadual. O resultado de zero a zero, transferiu a decisão da vaga para quarta (27), quando as equipes se enfrentam no 19 de Outubro, em Ijuí, a partir das 19:15 horas. Ainda no sábado, o Inter, comandado por Nico López e Sarrafiore, bateu o Novo Hamburgo pelo placar de 2×0, no jogo realizado no estádio do Vale, na Capital do Calçado. Com a classificação encaminhada às semifinais, o Colorado volta a enfrentar o Novo Hamburgo nesta quarta (27), em partida que será realizada no Beira-Rio e iniciará às 21:30 horas.

Neste domingo (24), o Grêmio humilhou o Juventude, em partida que aconteceu no Alfredo Jaconi, em Caxias do Sul. Soberano em campo e atuando boa parte da disputa com um jogador a mais, o Tricolor amassou o Verdão da Serra. Os seis a zero foram construídos na segunda etapa e mostraram que as opções de elenco do Grêmio são mais do que suficientes para “passear” contra os times do interior que participam deste Gauchão. Virtualmente classificado, o Grêmio reencontra o Juventude na próxima quinta-feira (28), em duelo marcado para a Arena de Porto Alegre e que iniciará às 21 horas.

Enquanto isso, o Caxias conseguiu um bom resultado no primeiro confronto contra o Aimoré, acontecido no Cristo Rei, em São Leopoldo. O time da Serra saiu perdendo e empatou o jogo aos 47 minutos da etapa final, com Bruno Alves. Iguais no marcador (1×1), os times voltarão a se enfrentar na quinta (28). A partida da volta acontecerá no estádio Centenário e começará às 19:15 horas.

NUMERALHA DA FASE INICIAL DO GAUCHÃO 2019

Time que fez mais pontos: Grêmio – 29

Time que menos perdeu: Grêmio – Invicto

Time que mais venceu: Grêmio – 9 vitórias

Melhor defesa: Grêmio – 1 gol sofrido

Melhor aproveitamento em casa: Grêmio – 100% (6 vitórias em seis jogos na Arena)

Melhor aproveitamento fora de casa – Grêmio – 73,3% (11 pontos em 15 disputados)

Melhor ataque como mandante: Grêmio – 19 gols

Melhor ataque como visitante: Caxias – 11 gols

Melhor ataque: Grêmio – 29 gols

Times que mais venceram como visitantes: Grêmio, Inter e Juventude – 3 vitórias

Time que fez menos pontos: Veranópolis – 5 pontos

Time que mais perdeu: Avenida – 7 derrotas

Time que menos venceu – Veranópolis – 0 vitória

Pior defesa: Avenida – 20 gols sofridos

Pior Aproveitamento em casa: Juventude – 22,2% (4 pontos em 18 disputados)

Pior Aproveitamento fora de casa: Veranópolis – 5 derrotas em cinco jogos como visitante

Pior ataque como mandante: Brasil, Pelotas e Avenida – 4 gols

Pior ataque como visitante: Novo Hamburgo, Veranópolis e Avenida – 2 gols

Pior ataque: Avenida – 6 gols

Artilheiros da Primeira Fase: Rafael Gava (Caxias) e Marcão (São Luiz) – 6 gols

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