Exercícios de força trazem benefícios ao cérebro e ao bem-estar emocional
Pesquisas recentes indicam que a musculação, além de fortalecer o corpo, pode proteger o cérebro, melhorar a saúde mental e prevenir doenças como o Alzheimer e a depressão.
Por Andrine Teixeira Garcia
Estudos recentes revelam que os benefícios da musculação vão muito além da estética, abrangendo aspectos importantes da saúde mental e neurológica. Um estudo realizado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), comprovou que a musculação protege o cérebro de idosos contra demências, além de promover melhorias na memória e provocar alterações positivas na anatomia cerebral.
Em entrevista concedida a Maria Fernanda Ziegler (Agência FAPESP), Isadora Ribeiro, bolsista de doutorado da FAPESP na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, e primeira autora do artigo, afirmou que “uma característica das pessoas com comprometimento cognitivo leve é que elas têm uma diminuição do volume em algumas regiões cerebrais relacionadas ao desenvolvimento do Alzheimer. Porém, o grupo submetido ao treinamento de força teve o lado direito do hipocampo e do pré-cúneo protegido contra atrofia. Trata-se de um resultado que justifica a importância da prática regular de musculação, sobretudo para pessoas idosas”.
Uma pesquisa preliminar realizada pelo Hospital Huashan da Universidade Fudan, em Xangai, na China, concluiu que atividades físicas trazem benefícios significativos na prevenção de doenças neuropsiquiátricas como depressão, ansiedade e demência. A análise foi realizada a partir de dados de 73 mil pessoas com idade média de 56 anos.
Dr. Scott Russo, diretor do Centro de Pesquisa do Cérebro e Corpo, em Nova Iorque, afirma que exercícios e atividades físicas podem ser capazes de regular a função metabólica e reduzir a inflamação de um subtipo de depressão, o imunometabólico. Cerca de 25% a 30% das pessoas com transtorno depressivo podem se enquadrar neste subtipo, que é caracterizado por inflamação e função metabólica alterada.
Alguns influenciadores digitais do nicho fitness, como Isadora Abraão, têm se destacado por incentivar a prática de musculação não apenas por questões estéticas, mas como uma ferramenta importante para o cuidado com a saúde mental. Esse movimento tem ganhado força e, diante da crescente procura, muitas academias passaram a investir em serviços de apoio psicológico, entendendo que o bem-estar emocional dos alunos também faz parte de uma vida ativa e saudável.
Exercícios físicos geram uma alteração química e na estrutura do cérebro, além do impacto nos mecanismos psicológicos, envolvendo mudanças no comportamento, percepção e pensamentos. Giovânni Costa é psicólogo e aponta que “o treino de força exerce uma influência notável sobre a dinâmica de vários sistemas de neurotransmissores, que são os mensageiros químicos do cérebro”, como a serotonina, conhecida por seu papel na regulação do humor, sono e apetite; a dopamina, sendo essencial para os circuitos de recompensa, prazer, motivação e controle motor; ou a norepinefrina, que está envolvida na resposta ao estresse, no estado de alerta, na atenção e também na regulação do humor.
Além do mais, a musculação promove a sensação de domínio, reforça o aumento da resiliência psicológica, serve como distração construtiva de pensamentos negativos e ciclos de ruminação, promove o senso de realização, conquista e propósito. O educador físico Otávio Legramanti reforça os apontamentos de Costa e acrescenta que, além do mais, a musculação tem como benefícios o aumento da massa muscular, melhora da auto estima, regulação do sono, melhora na coordenação motora e maior disposição para atividades diárias.
Com o avanço das pesquisas na área, a musculação tem se consolidado como uma prática que vai além da estética. Estudos demonstram que seus efeitos positivos sobre a saúde mental e a prevenção de doenças neurológicas reforçam a importância da atividade física regular, especialmente na terceira idade, contribuindo para uma melhor qualidade de vida e maior bem-estar ao longo dos anos.