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“Um salto na minha vida pessoal”: conheça o programa de mobilidade acadêmica da UFPel

Essa pauta faz parte da #série: Conhecendo o NUPROP

O programa de mobilidade acadêmica da Universidade Federal de Pelotas existe como parte do Convênio Nacional Andifes (Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), do qual a UFPel é membro desde 2011. O convênio é responsável por determinar as regras e disposições sobre a mobilidade acadêmica de alunos de graduação entre as instituições de ensino superior federais.

No presente momento, os discentes que já concluíram 20% do curso e não contam com, no máximo, duas reprovações nos últimos dois períodos letivos podem aplicar para o programa de mobilidade nacional em sistema de fluxo contínuo. No entanto, segundo o Núcleo de Programas e Projetos, esse processo deve levar em conta um período de 30 dias do início do período letivo da instituição federal de ensino superior para a devida tramitação entre os núcleos responsáveis das instituições.

Esse processo, originalmente, seguia um calendário de submissão que considerava intervalos de janelas temporais para aplicação no primeiro e segundo semestre; contudo, em 2022, devido à pandemia de Covid-19, este regulamento segue temporariamente suspenso.

O ingresso e a orientação acerca do programa de mobilidade acadêmica é realizado junto ao Núcleo de Programas e Projetos (Nuprop), localizado fisicamente no campus Anglo e digitalmente no endereço nuprop.ufpel@gmail.com.

Como funciona o processo de aplicação para a mobilidade acadêmica?

Os alunos da UFPel que desejam realizar a mobilidade acadêmica, além de se encaixar nos requisitos descritos acima, precisam seguir os seguintes passos:

  • Elaborar um Plano de Estudos, documento que analisa, junto ao coordenador do curso de origem da UFPel, os planos e ementas (fornecidos pela Instituição de Ensino Superior receptora) das disciplinas desejadas em outra IES. O Plano de Estudos traça as condições de equivalência para as atividades a serem realizadas na mobilidade e deve ser assinado pelo coordenador e pelo aluno para firmar a garantia de aproveitamento. Ao mesmo tempo, nessa etapa, o aluno deve se atentar a regras que possam vir da IES receptora.
  • Aprovado o Plano de Estudos, o aluno deverá apresentar: Atestado de Matrícula e Histórico Escolar (podem ser emitidos pelo Cobalto ou através da Coordenação de Registros Acadêmicos da Pró-Reitoria de Ensino/CRA-PRE), Cópia do RG e CPF e Requerimento específico da IES receptora (caso houver).
  • Uma vez apresentados os documentos, o colegiado do curso de origem do aluno dá início a um processo SEI do tipo “graduação: mobilidade acadêmica nacional”, com os documentos digitalizados e anexados em formato PDF junto a uma Solicitação de Mobilidade (PRE Solicitação de Mobilidade Andifes). Por sua vez, os dados inseridos na solicitação devem ser revisados pelo coordenador e pelo aluno interessado.

É fundamental que esse processo ocorra com pelo menos 30 dias antes do início do período das atividades da disciplina referente à mobilidade acadêmica na IES de destino. Uma vez analisada a solicitação e deferida, a Universidade emitirá uma Carta de Apresentação do Discente à IES receptora, sondando a possibilidade de matrícula.

Toda  a verificação do andamento desse processo fica a cabo do aluno interessado, que pode consultar o Nuprop para atualizações. Lembrando também, que o Nuprop está sempre a postos para tirar maiores dúvidas para além do abordado nesta publicação.

Agora que já conheces um pouco mais de como funciona a mobilidade acadêmica na sua forma administrativa, o Nuprop te convida a conhecer como acontece esse processo na prática e o poder de transformação dessa experiência na vida acadêmica e pessoal dos alunos.

Para isso, conversamos com dois discentes dos cursos de graduação, respectivamente do Direito e da Enfermagem, para recontar como a mobilidade acadêmica mudou as suas vidas.

 

Vamos lá?

Juliano Barreto (25) e Bárbara Spessatto (26) são alunos que viveram intensamente seus cursos na Universidade Federal de Pelotas. Ele, natural de Itamaraju, no sul da Bahia, e ela de Porto Alegre, capital do estado, encontraram na UFPel o início de uma trajetória que ganharia fronteiras para além da região sul do estado e representaria um “salto na minha vida pessoal”, segundo Juliano.

 

O despertar do interesse na mobilidade acadêmica

Para Juliano, tudo começou a partir de uma conversa com uma amiga a respeito da possibilidade de estudar na UnB em Brasília. Para eles, aproveitar a proximidade que a Universidade Nacional tem do cenário político e jurídico federal se mostravam um grande atrativo para a mudança, no entanto, o protagonismo de Curitiba no mesmo âmbito aliado às perspectivas do curso de Direito na Universidade Federal do Paraná (UFPR) também pesavam na sua prospecção.

Analisados os currículos dos cursos, encaminhadas as cartas de intenção e recebidas as cartas de aceite, Curitiba prevaleceu pelo conhecimento prévio de Juliano da cidade e de amigos curitibanos – Juliano é ex-aluno de Engenharia Química na Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Ponta Grossa, a 114km de Curitiba, nesse período, teve oportunidade de frequentar diversas vezes a capital paranaense.

“Tudo começou com uma amiga comentando da gente estudar em Brasília. Eu nem lembro como ela comentou, se ela já sabia o que era mobilidade ou se ela já queria estudar em Brasília. Aí eu comecei a pesquisar e vi que, de fato, tinha mobilidade. No começo de 2019 começou esse assunto, a gente começou a conversar e não que eu achasse que fosse uma coisa que ia se concretizar, de fato, eu tinha um pouco de dúvida. E aí, lá para a metade do ano eu comecei, de fato, a me aplicar naquele processo e tudo mais. Porque você tem um prazo, né? Eu acho que para o segundo semestre você precisa pedir até meados de abril ou maio [como eram os intervalos de inscrição para mobilidade acadêmica antes da pandemia] e para o ano seguinte você precisa pedir até final de outubro. Então eu precisava estar com tudo pronto, já ter pedido à Universidade para ter o aceite deles. Mas acho que foi nesse tempo, na verdade, de uns 6 meses, mais um pouco, para poder surgir essa ideiazinha pequena na cabeça até ela se desenvolver, de fato, pra começar a trabalhar no que precisava ser feito.”, reconta Juliano.

Por fim, a proximidade com Pelotas também se tornou um diferencial decisivo, uma vez que a UFPR também fica localizada na mesma região.

Para Bárbara, o processo também seguiu de acordo com suas particularidades. Natural de Porto Alegre e discente da área da saúde. Além do conhecimento e vínculo com a capital gaúcha, Bárbara, já próxima à conclusão do seu curso, viu a oportunidade de realizar estágios em áreas de interesses não disponíveis no Hospital Universitário da UFPel. 

Sendo assim, a escolha de poder passar uma temporada mais próxima à família e ainda assim participar da oferta de estágios que não seriam disponíveis em Pelotas, a fizeram despertar o interesse no programa de mobilidade para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Segundo ela: “Foi assim, dois motivos [que chamaram a atenção para a mobilidade acadêmica]. O primeiro: porque minha família é da capital [Porto Alegre]. Então, pela questão de estar mais perto da família, né? E o segundo: poder concluir a graduação, no caso, os últimos estágios finais, que no caso, a enfermagem tem dois. Que são na área de atenção básica e na área hospitalar. Então, são dois semestres de estágios. Portanto, o fato de poder estar mais perto da minha família, mas principalmente de poder ter oportunidade de ir para um outro hospital, outro local, que tivesse mais opções de poder cursar os estágios. Porque o meu estágio hospitalar foi dentro de uma oncologia pediátrica, né? Coisa que não existe em Pelotas, então eu pude fazer o meu estágio final, na área hospitalar, no hospital das clínicas de Porto Alegre. Como eu fui aluna, nesse período, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a UFRGS, eu pude cursar o meu estágio final lá. Então, foi uma experiência muito gratificante porque era uma área que eu sempre tive interesse, mas dentro do hospital que a UFPel tem, que é o Hospital Escola, não tinha essa área alí”.

A convivência e a recepção dos alunos nas instituições escolhidas

A chegada em uma nova cidade é sempre desafiadora, a condição de ‘estrangeiro’ pode resultar em diferentes perspectivas para jovens discentes, além disso, ingressar em uma nova comunidade acadêmica, diferente da de origem não necessariamente torna esse momento mais fácil, mas o acolhimento e abertura ao novo ambiente universitário são elementos chave na materialização de um bom período de mobilidade.

Portanto, o diálogo próximo aos núcleos que coordenam os programas de mobilidade de cada instituição são tão especiais. Mas isso, por si só, não basta. Uma boa estratégia, é participar ativamente da realidade acadêmica. Para isso, Juliano e Bárbara dão dicas de como isso foi um diferencial para eles:

“Acontecia de eu fazer matérias do terceiro e do quarto, ou do quinto ano, e fazer de manhã e de noite. Eram diversos grupos, e os grupos de whatsapp deles são divididos em dois. Eles têm um grupo de conversa e um grupo de mural de avisos. Tem também os representantes de turma que são três ou quatro pessoas e eles são muito solícitos. Então assim, isso me ajudou bastante para poder ter integração, às vezes tirar dúvida de como funcionava. Acho que no começo alí para poder me integrar à plataforma de “à distância” eu também tive uma dificuldade, mas acredito que é uma dificuldade que todo mundo teve, né? De poder se acostumar e se habituar com isso, mas assim, em tudo que eu enfrentei de problemas, eu acho que eu consegui apoio para tentar resolver aquela situação de forma facilitada. Mesmo o contato com a coordenação, como aluno em mobilidade, que às vezes eu precisava de documentos que às vezes eu não tinha acesso pelo sistema, ou precisar fazer a matrícula na correção de matrícula porque já não vinha matrícula automática, como eu era aluno de mobilidade. Disciplinas, provas, matérias, os drives, eu tinha os cadernos, às vezes, escritos que algum aluno digitava a matéria da aula, tipo, ia ter acesso mais facilmente. Mas isso foi muito por causa da estrutura que aqui [UFPR] tem na Universidade, e tudo que eu tive conhecimento que eles podiam me propiciar, porque talvez em alguns lugares seja muito difícil essa questão de inserção na turma, com os colegas alí, de amizades.” reconta Juliano.

Sobre o acolhimento na mobilidade em Porto Alegre, Bárbara reconta que “Foi bem tranquilo. Eu achei que eu fui muito bem recepcionada pelos professores, pelo pessoal que trabalha na questão da mobilidade em si, né? Porque a gente sabe que tem muitos trâmites de currículo, de equivalência de carga horária, pelo simples fato de que a UFPel tem um currículo muito particular no curso de Enfermagem. Então, assim, a questão de ter feito equivalência, a aceitação dos créditos, eu achei tudo muito tranquilo, achei que o pessoal foi muito acolhedor, também em relação às dúvidas, sempre se mostrou atencioso no que eu precisasse, né? Até em função da pandemia, que ficou por um tempo essa questão de “a gente vai para campo de estágio ou não vai?”. Eles foram sempre muito receptivos e muito claros com a gente. Eu tive uma colega minha que fez também para a UFRGS, mas ela fez em outra área hospitalar, mas a gente fez a mobilidade juntas.”

O impacto da pandemia no período da mobilidade

O grande desafio da mobilidade nos últimos anos foi, sem dúvidas, a pandemia de Covid-19. Embora alguns cursos tenham sido mais atingidos que outros, sobretudo nas atividades práticas, como é o caso da Bárbara, e a possibilidade de não poder realizar atividades de campo no estágio no hospital das clínicas por um certo período de tempo. De uma forma geral, a pandemia afetou o ensino superior como um todo.

Nesse período, marcado pelo distanciamento social, vacinação e isolamento, a realização de atividades durante a mobilidade ficou limitada, em boa parte, ao ensino remoto, bem como também a impossibilidade de algumas atividades presenciais, principalmente na área da extensão, se fizeram um imperativo devido à crise sanitária.

É fato, que o aluno tem liberdade para escolher as atividades que deseja engajar para além das disciplinas escolhidas na mobilidade. No entanto, o relato de Juliano e Bárbara são preciosos no tocante aos impactos da pandemia durante a vivência fora da UFPel:

“Acho que o pior foi enfrentar mesmo aquele baque da pandemia, de ficar em casa e tudo mais, mas quanto à faculdade, de ficar me sentindo perdido ou deslocado, eu não senti, mas principalmente porque eu já tinha uma experiência com a cidade, já tinha amigos pessoais aqui e porque eu não tava morando sozinho. Porque senão, com certeza, morando sozinho, num lugar desconhecido, no meio da pandemia, teria sido muito difícil. E até no meio do começo da pandemia, eu acho que era maio, começo de junho, eu não tinha perspectiva de voltar a ter aula presencial e aí eu fui para Bahia, porque não tinha muito sentido de eu ficar aqui, sabe? Porque eu só tinha custos, eu não aproveitava a cidade, eu não desenvolvia nenhuma atividade que necessitasse da minha presença aqui. Então, eu terminei voltando pra Bahia.” relata Barreto

Para Bárbara, como dito anteriormente, a pandemia impactou diretamente nos estágios obrigatórios: “Antes de fazer a mobilidade acadêmica, eu tive que cumprir uma carga horária de estágio na UFPel para equivaler ao currículo lá da UFRGS. Daí aconteceu que toda aquela questão, teve uma lei, um decreto, que fez com que o pessoal da área da saúde pudesse se formar com 75% da carga horária, né? [portaria 374 de 3 de abril de 2020 do Ministério da Educação] Não precisava cumprir os 100%, então eu fiz, tanto na atenção básica, quanto na hospitalar eu fiz a carga horária de 75% do requisitado. Então, a pandemia acabou de certa forma atrasando os campi, porque logo de início quando deu o “boom” da pandemia, deu uma paralisada, digamos assim, para ver até onde era seguro colocar o estagiário, o acadêmico, dentro do ambiente hospitalar. Até que ponto o hospital se respaldava pelo aluno, mas logo quando as coisas foram mais acordadas, que se viu que era possível ir para campo de estágio, enfim, tomando os cuidados, usando os EPIs corretos, era possível sim, daí ficou um pouco de acordo com o que o aluno se sentia seguro em participar. No início, eu fiquei parada uns 15 a 20 dias e aí logo depois eu retornei e foi super tranquilo”

 

A transformação da mobilidade na graduação

Tanto para Juliano como para Bárbara, o período de mobilidade representou mudanças significativas no caminho da graduação. Para ambos, a estada em outra instituição de ensino teve papel significativo na escolha dos temas para os seus trabalhos de conclusão de curso.

O papel de cada universidade escolhida também foi fundamental na criação de ambientes acadêmicos que possibilitassem particularidades impossíveis de serem exploradas apenas na UFPel.

Para Juliano, esse caminho o levou a definir seu tema de TCC no contato com imigrantes venezuelanos no âmbito da Justiça Federal. Após estágio na Defensoria Pública da União (DPU), Barreto trabalha hoje como trainee em um escritório da capital paranaense.

Descreve: “eu estagiava com imigrantes venezuelanos que tavam vindo para o país, que estavam em situação irregular e a gente tinha que ajuizar ações. E esse tipo de experiência, principalmente esse tema, eu não conseguiria no interior, sabe? Em Pelotas eu não conseguiria esse público porque a competência da Justiça Federal para ajuizar esse tipo de demanda e para julgar é nas capitais. Então eu não poderia ter acesso a esse tipo de conteúdo aí. Também foi isso que desencadeou o meu tema de TCC, que eu fiz sobre migração venezuelana, abertura de fronteiras, questão humanitária, por causa disso.”

Já para Spessatto, o contato com um quadro de profissionais diferentes foi determinante para o desenvolvimento da sua coleta de dados para o TCC.

“Meu TCC foi uma coleta de dados. Ela ocorreu de forma virtual, mas digamos que o local de coleta, né? Os profissionais que eu coletei as informações, foram profissionais do local onde eu fiz meu estágio final. Eu tive também professores da UFRGS que me acolheram no meu TCC. Então, meu TCC teve participação também das professoras do curso de enfermagem da UFRGS juntamente com as professoras do curso de enfermagem da UFPel. Foi construído de certa forma em conjunto. Foi uma experiência muito boa porque a gente aprende a ter novas visões, novos olhares com pessoas de conhecimentos diferentes, né? Então foi muito bacana.” 

Um convite aos alunos da UFPel

Por fim, e não menos importante, Juliano e Bárbara, além de contribuir com seus relatos pessoais, deixam um convite para os alunos da UFPel que desejam procurar pela experiência da mobilidade acadêmica.

“A mensagem que eu deixo é ‘vai e faz!’, porque se você tem o mínimo de vontade e de interesse por aquilo, eu tenho certeza que não vai ser decepcionante. Seja porque você vai conseguir atingir sonhos e questões que você almeja, seja porque você vai adicionar experiências de vida e adicionar um grande conhecimento e sabedoria também. Porque a cultura, pessoas novas, um local novo são muito enriquecedores como uma questão pessoal nossa. Então, isso pode trazer vários frutos, talvez desenvolver novas habilidades que você não sabe que você tem, inclusive interesse por outras áreas do conhecimento, locais de pesquisa e novos acessos a educação que a gente pode desenvolver na mobilidade.” diz Juliano.

“Quando as pessoas logo em seguida que eu fiz mobilidade acadêmica, algumas pessoas vieram atrás querendo saber “como que você fez?”. As pessoas ficaram curiosas, né? E eu falei “nossa, vai atrás que é uma experiência muito boa!”. Eu acho, que é isso, de tu poder ver uma nova realidade, né? Estar inserido em um outro local, às vezes o local tem um campo de trabalho maior, daí você já dá uma olhada de como é o mercado de trabalho. Às vezes são profissionais com mais tempo de experiência, ou você tem a possibilidade de aprender sobre alguma área que muitas vezes estar em Pelotas acaba sendo limitante de certa forma. Então, todo dia era uma nova experiência e no final foi muito enriquecedor.” aponta Bárbara.

Publicado em 10/08/2022, na categoria Notícias.