Foi aprovada no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) a implementação de uma resolução dos Estados Unidos sobre a Faixa de Gaza, a qual apoia o Plano de Paz para Gaza proposto previamente pelo presidente norte-americano, Donald Trump.
Porém, surge o questionamento da legitimidade desse plano como uma reconstrução humanitária, visto que o mesmo pode ser analisado como um instrumento de aumento de influência e de perpetuação do poder da potência americana no Oriente Médio.
Apresentado em setembro, o “Plano de Paz” de Donald Trump para o conflito vivenciado em Gaza sustentava um cessar-fogo imediato entre Israel e Hamas, visando uma reconstrução futura do território e a garantia de segurança no mesmo. Entretanto, apesar de o acordo estar em vigor, Israel manteve contínua sua onda de ataques, sob a justificativa de que o Hamas havia violado primeiramente o cessar-fogo. A partir disso, Israel violou cerca de 500 vezes o cessar-fogo, causando a morte de mais de 300 civis, sendo 67 desses civis, crianças (Al Jazeera, 2025).
Apesar disso, a resolução do plano proposto como um legitimador dessa “paz” passou sem grandes entraves no Conselho de Segurança, com 13 votos a favor dos 15 membros e 2 abstenções – da Rússia e China, respectivamente. A resolução proposta pelos Estados Unidos propõe que os Estados Membros componham um “Conselho de Paz” para supervisionar a reconstrução e a recuperação econômica de Gaza, auxiliando na desmilitarização do território (CNN, 2025). A aprovação deste plano pela ONU gera controvérsias sobre sua legitimidade, visto que a atuação direta da Organização no conflito vem sendo construída sobre um apoio humanitário e não sobre esforços coordenados para deter a escalada militar de Israel, sendo muitas vezes vista como um instrumento da hegemonia estadunidense, em decorrência do poder de veto no Conselho de Segurança, cujos os Estados Unidos utilizaram para vetar seis vezes uma resolução de cessar-fogo que havia sido unanimemente votada a favor pelos demais Estados (UN News, 2025).
Dessa maneira, é possível perceber como um cessar-fogo só é aprovado e colocado em ação quando parte de um interesse americano. Em documentos vazados pelo Washington Post anteriormente, se apresenta uma Gaza futurista sob tutela dos Estados Unidos por 10 anos. O chamado “Gaza Reconstitution, Economic Acceleration and Transformation Trust” (GREAT) foi um projeto arquitetado por consultores americanos e israelenses, com auxílio do Instituto de Mudança Global de Tony Blair. O projeto visava construir cidades modernas e inteligentes do zero, desconsiderando as heranças históricas das cidades – antes dos ataques de Israel – que ali se faziam presentes, e apresentava ainda uma condição de “realocação voluntária” da população, que receberia cinco mil dólares para realocação no exterior e subsídios (BBC, 2025).
Logo, o plano acima mencionado, nitidamente motivado por interesses econômicos e expansionistas de influência no Oriente Médio – visto que, de acordo com a ONU, serão necessários cerca de 70 bilhões de dólares para reconstruir Gaza –, vai em contramão com a reconstrução pacífica e humanitária que alegadamente a Organização afirma querer construir com a implementação da resolução de “Paz” proposta por Trump. Urge, assim, uma reflexão sobre os interesses genuinamente representados nesse cessar-fogo e o papel da ONU como um instrumento da hegemonia americana na perpetuação desse conflito.
Referências:
Al Jazeera. “Stuck in Gaza’s limbo: Palestinians struggle to live amid Israel’s attacks.” 26 nov. 2025. Disponível em: <https://www.aljazeera.com/features/2025/11/26/stuck-in-gazas-limbo-palestinians-struggle-to-live-amid-israels-attacks>. Acesso em: 26 nov. 2025.
BBC News. “The battle over Gaza’s future: Why no-one can agree on the rebuild.” 07 nov. 2025. Disponível em: <https://www.bbc.com/news/articles/cj41y42qxq8o>. Acesso em: 26 nov. 2025.
CNN Brasil. “Conselho de Segurança da ONU aprova plano dos EUA para Faixa de Gaza.” 17 nov. 2025. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/conselho-de-seguranca-da-onu-aprova-plano-dos-eua-para-faixa-de-gaza/>. Acesso em: 26 nov. 2025.
ONU News. “Resolução sobre cessar-fogo em Gaza é vetada no Conselho de Segurança” 04 jun. 2025. Disponível em: <https://news.un.org/pt/story/2025/06/1849201> Acesso em: 26 nov. 2025.
ONU News. “Grupo de avaliação calcula que reconstrução de Gaza custará US$ 70 bilhões.” 14 out. 2025. Disponível em: <https://news.un.org/pt/story/2025/10/1851243>. Acesso em: 26 nov. 2025.
* Maria Eduarda Motta é pesquisadora do LabGRIMA
